Sexo desprotegido aumenta VIH acima dos 50 anos

16-12-2018
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Sete em cada dez portugueses consideram que a resistência a usar o preservativo (71%) e a falta de cuidado e de informação (67%) são os principais motivos para o crescente número de casos de infeção por vírus da imunodeficiência humana (VIH) entre as pessoas com mais de 50 anos, revela a sondagem Expresso/GFK sobre o conhecimento e os comportamentos de risco dos portugueses perante o VIH e a sida. Esta aversão dos baby-boomers portugueses ao preservativo é confirmada pelos próprios: mais de três quartos dos inquiridos com mais de 55 anos reconhecem que a proliferação do VIH entre os mais velhos se deve, de facto, à resistência em usar este meio de prevenção de infeções sexualmente transmissíveis.

ALERTA AOS CINQUENTÕES

Embora 86% dos portugueses considerem que o preservativo é “completamente” obrigatório no primeiro encontro sexual com um novo parceiro, os entrevistados na faixa etária dos 55 aos 64 anos estão menos convictos desta regra universal: 7% respondem que depende, 6% só se ambos estiverem de acordo, 3% assumem que muitas vezes não exigem o preservativo e acima de 1% reconhecem que não o usam “de todo”.

Outro sinal de alerta é o facto de metade dos portugueses nunca ter feito o teste do VIH e apenas 5% controlarem regulamente se estão ou não infetados, sobretudo quando têm novos parceiros sexuais. O descontrolo agrava-se nos mais velhos: entre os inquiridos com 65 anos ou mais, 59% respondem que nunca fizeram o teste, 15% que raramente o fizeram e 4% nem sabem se alguma vez o fizeram.

O balanço divulgado esta semana pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a evolução da infeção VIH e sida destaca, precisamente, a crescente proporção de novos diagnósticos nas pessoas com 50 anos ou mais observada na última década em Portugal e que, no último ano, atingiu uma das mais altas percentagens a nível europeu (28%). A esmagadora maioria será de heterossexuais, homens cujo diagnóstico chega tarde por não terem sequer a perceção dos riscos que correm. Este facto, lê-se no relatório, “tem consequências negativas, tanto para a saúde individual como para a disseminação da infeção, por contribuir para a manutenção das cadeias de transmissão. Assim, torna-se necessária a implementação de estratégias que contribuam para o diagnóstico atempado destes casos”.

Convidada a comentar esta resistência dos mais velhos em usar o preservativo, a diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH e Sida, Isabel Aldir, destaca a “falta de perceção de se estar a correr um risco e, consequentemente, a não identificação da necessidade de se utilizarem medidas preventivas”. Já Ricardo Fernandes, diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) e porta-voz da Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites, refere ser “importante garantir que os cuidados de saúde primários, onde estas pessoas se deslocam com maior frequência, proponham o rastreio mais amiúde”.

Aliás, a propósito do rastreio do VIH, a sondagem revela que 87% dos entrevistados consideram que este deve ser universal.

BEIJOS, INSETOS E WC?

A sondagem revela igualmente como, 35 anos após o diagnóstico do primeiro caso de infeção em Portugal, este vírus ainda baralha os portugueses.

Primeiro, quando questionados sobre se VIH e sida são a mesma coisa, 66% ainda respondem que são iguais, embora esta doença possa ser evitada se o vírus for tratado a tempo. “Não deixa de ser surpreendente que, mais de três décadas após o aparecimento desta doença, a maioria da população da amostra continue a considerar que VIH e sida são sinónimos. É função de todos nós continuar a promover a literacia, informando que ter VIH significa que se é portador do vírus e ter sida significa que já há doença causada pelo vírus”, diz Isabel Aldir.

Inquiridos sobre as formas de transmissão do VIH, 95% referem a partilha de seringa, 92% o sexo vaginal, 87% a partilha de material de tatuagens não esterilizado, 83% o sexo anal e 59% o sexo oral. De notar que 5% dos inquiridos ainda temem as casas de banho partilhadas, 11% as picadas de insetos, 12% o beijo e 46% o desporto de contacto, através do suor ou sangue. “Estes resultados comprovam que os níveis de perceção e de conhecimento dos riscos estão muito aquém do desejado. Apesar da transmissão sexual estar justamente focada, ainda é estranho que mais de 28% admitam formas de transmissão desajustadas como beijo, WC e picada de insetos”, comenta Maria Antónia de Almeida Santos, vice-presidente da comissão parlamentar de saúde.

Mais divididos estão os portugueses sobre a transmissão vertical entre mãe e filho. Mais de metade dos entrevistados (55%) consideram que uma mulher grávida que vive com a infeção por VIH não a transmite ao filho, desde que receba o tratamento e o vírus esteja controlado. Enquanto 22% não sabem o que responder e 21% não duvidam de que a mãe transmite sempre o VIH ao bebé.

São ainda 32% os inquiridos que afirmam que o VIH é mais comum entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgénero contra apenas 4% nos heterossexuais (ver gráfico). “Apesar de só 4% das pessoas terem respondido corretamente, o facto de 57% terem respondido que “é igual” revela consciência de que o VIH atinge todas as populações e, provavelmente, uma maior perceção de risco”, diz Ricardo Fernandes. Para Isabel Aldir e Maria Antónia de Almeida Santos é importante que os portugueses já tenham separado o VIH da orientação sexual de cada um.

Segundo o INSA, a maioria dos casos diagnosticados nos anos mais recentes ocorre em homens, por transmissão sexual, principalmente heterossexual. “Contudo, ao observar exclusivamente os casos dos homens, verifica-se um aumento do número de casos em homens que fazem sexo com outros homens, atualmente já a maioria dos novos diagnósticos do sexo masculino. Estes casos destacam-se pela idade jovem, tendo constituído 80% dos novos casos com diagnóstico nos últimos cinco anos, em homens entre os 15 e os 29 anos de idade”, lê-se no relatório.

E O ESTIGMA SOCIAL?

Questionados sobre se teriam uma relação com uma pessoa infetada com VIH, 35% dos inquiridos têm dúvidas, 29% respondem que sim, mas sem contacto físico, e 9% não. E aceitariam que um filho tivesse uma relação pessoal com alguém infetado com VIH? 43% dizem “não sei, depende”, 22% “sim, mas preferia que não houvesse contacto físico” e 13% não. Se os próprios entrevistados desta sondagem estivessem infetados com VIH, 4% não contariam a ninguém e 10% teriam dúvidas em revelar o seu estado a quem quer que fosse.

No campo profissional, a discriminação é menor já que 81% contratariam e 87% trabalhariam com alguém infetado com VIH. Mas persistem 13%, que “provavelmente” e 6% que “de certeza” não dariam emprego a alguém com VIH. E 13% que “provavelmente” e 1% que “de certeza” se sentiriam incomodados ou desconfortáveis em trabalhar com alguém com VIH (ver gráfico).

Convidado a comentar esta última questão, Ricardo Fernandes explica que o estigma associado à infeção pelo VIH ainda é enorme: “O facto de 13% das pessoas provavelmente se sentirem desconfortáveis em trabalhar com alguém com VIH não tem qualquer fundamento científico e é um grave exemplo do que leva à discriminação”. Para Isabel Aldir, “as questões do estigma e discriminação associados a esta doença têm vindo a esbater-se e esta resposta é bastante animadora. Ainda assim, há um caminho a fazer para que, num futuro breve, questões como esta nem sejam entendidas como necessárias de se colocarem”.

VIVER COM A DOENÇA

Três quartos dos entrevistados na sondagem — que é parte do projeto do Expresso em parceria com a Gilead para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a Sida (que se comemora hoje) e a Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites (que terminou ontem) — consideram que é possível viver com qualidade de vida tendo VIH: 50% consideram que sim, mudando radicalmente hábitos e dieta e 26% que é igual a uma pessoa que não esteja infetada. A maioria (54%) acredita mesmo que, nos dias de hoje, é possível viver mais de 20 anos após o diagnóstico e tratamento do VIH.

O sector público sai melhor na fotografia do que o privado no esforço feito para atenuar os efeitos da doença nas pessoas que vivem com VIH em Portugal: 43% dos inquiridos afirmam que os empregadores não fazem o suficiente contra 35% no Estado (ver gráfico).

Para Maria Antónia de Almeida Santos, “atendendo ao fornecimento de meios de diagnóstico e tratamento gratuitos, quer a infetados com VIH quer a doentes com sida, é estranho que só cerca de 8% reconheçam que o Estado faz o suficiente. Eis, portanto, razões para aumentar a divulgação sobre a implementação das medidas promovidas pelo Estado social”. Já para Ricardo Fernandes ainda há muito que fazer: “É necessário definir políticas mais claras de prevenção, rastreio e tratamento do VIH. É urgente aumentar o acesso às novas tecnologias de prevenção, tais como a profilaxia pré-exposição (PrEP) de forma a diminuir o número de infeções, bem como apostar em formas inovadoras de rastreio e ligação aos cuidados de saúde nas comunidades mais afetadas”.

Sete em cada dez portugueses consideram que a resistência a usar o preservativo (71%) e a falta de cuidado e de informação (67%) são os principais motivos para o crescente número de casos de infeção por vírus da imunodeficiência humana (VIH) entre as pessoas com mais de 50 anos, revela a sondagem Expresso/GFK sobre o conhecimento e os comportamentos de risco dos portugueses perante o VIH e a sida. Esta aversão dos baby-boomers portugueses ao preservativo é confirmada pelos próprios: mais de três quartos dos inquiridos com mais de 55 anos reconhecem que a proliferação do VIH entre os mais velhos se deve, de facto, à resistência em usar este meio de prevenção de infeções sexualmente transmissíveis.

ALERTA AOS CINQUENTÕES

Embora 86% dos portugueses considerem que o preservativo é “completamente” obrigatório no primeiro encontro sexual com um novo parceiro, os entrevistados na faixa etária dos 55 aos 64 anos estão menos convictos desta regra universal: 7% respondem que depende, 6% só se ambos estiverem de acordo, 3% assumem que muitas vezes não exigem o preservativo e acima de 1% reconhecem que não o usam “de todo”.

Outro sinal de alerta é o facto de metade dos portugueses nunca ter feito o teste do VIH e apenas 5% controlarem regulamente se estão ou não infetados, sobretudo quando têm novos parceiros sexuais. O descontrolo agrava-se nos mais velhos: entre os inquiridos com 65 anos ou mais, 59% respondem que nunca fizeram o teste, 15% que raramente o fizeram e 4% nem sabem se alguma vez o fizeram.

O balanço divulgado esta semana pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a evolução da infeção VIH e sida destaca, precisamente, a crescente proporção de novos diagnósticos nas pessoas com 50 anos ou mais observada na última década em Portugal e que, no último ano, atingiu uma das mais altas percentagens a nível europeu (28%). A esmagadora maioria será de heterossexuais, homens cujo diagnóstico chega tarde por não terem sequer a perceção dos riscos que correm. Este facto, lê-se no relatório, “tem consequências negativas, tanto para a saúde individual como para a disseminação da infeção, por contribuir para a manutenção das cadeias de transmissão. Assim, torna-se necessária a implementação de estratégias que contribuam para o diagnóstico atempado destes casos”.

Convidada a comentar esta resistência dos mais velhos em usar o preservativo, a diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH e Sida, Isabel Aldir, destaca a “falta de perceção de se estar a correr um risco e, consequentemente, a não identificação da necessidade de se utilizarem medidas preventivas”. Já Ricardo Fernandes, diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) e porta-voz da Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites, refere ser “importante garantir que os cuidados de saúde primários, onde estas pessoas se deslocam com maior frequência, proponham o rastreio mais amiúde”.

Aliás, a propósito do rastreio do VIH, a sondagem revela que 87% dos entrevistados consideram que este deve ser universal.

BEIJOS, INSETOS E WC?

A sondagem revela igualmente como, 35 anos após o diagnóstico do primeiro caso de infeção em Portugal, este vírus ainda baralha os portugueses.

Primeiro, quando questionados sobre se VIH e sida são a mesma coisa, 66% ainda respondem que são iguais, embora esta doença possa ser evitada se o vírus for tratado a tempo. “Não deixa de ser surpreendente que, mais de três décadas após o aparecimento desta doença, a maioria da população da amostra continue a considerar que VIH e sida são sinónimos. É função de todos nós continuar a promover a literacia, informando que ter VIH significa que se é portador do vírus e ter sida significa que já há doença causada pelo vírus”, diz Isabel Aldir.

Inquiridos sobre as formas de transmissão do VIH, 95% referem a partilha de seringa, 92% o sexo vaginal, 87% a partilha de material de tatuagens não esterilizado, 83% o sexo anal e 59% o sexo oral. De notar que 5% dos inquiridos ainda temem as casas de banho partilhadas, 11% as picadas de insetos, 12% o beijo e 46% o desporto de contacto, através do suor ou sangue. “Estes resultados comprovam que os níveis de perceção e de conhecimento dos riscos estão muito aquém do desejado. Apesar da transmissão sexual estar justamente focada, ainda é estranho que mais de 28% admitam formas de transmissão desajustadas como beijo, WC e picada de insetos”, comenta Maria Antónia de Almeida Santos, vice-presidente da comissão parlamentar de saúde.

Mais divididos estão os portugueses sobre a transmissão vertical entre mãe e filho. Mais de metade dos entrevistados (55%) consideram que uma mulher grávida que vive com a infeção por VIH não a transmite ao filho, desde que receba o tratamento e o vírus esteja controlado. Enquanto 22% não sabem o que responder e 21% não duvidam de que a mãe transmite sempre o VIH ao bebé.

São ainda 32% os inquiridos que afirmam que o VIH é mais comum entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgénero contra apenas 4% nos heterossexuais (ver gráfico). “Apesar de só 4% das pessoas terem respondido corretamente, o facto de 57% terem respondido que “é igual” revela consciência de que o VIH atinge todas as populações e, provavelmente, uma maior perceção de risco”, diz Ricardo Fernandes. Para Isabel Aldir e Maria Antónia de Almeida Santos é importante que os portugueses já tenham separado o VIH da orientação sexual de cada um.

Segundo o INSA, a maioria dos casos diagnosticados nos anos mais recentes ocorre em homens, por transmissão sexual, principalmente heterossexual. “Contudo, ao observar exclusivamente os casos dos homens, verifica-se um aumento do número de casos em homens que fazem sexo com outros homens, atualmente já a maioria dos novos diagnósticos do sexo masculino. Estes casos destacam-se pela idade jovem, tendo constituído 80% dos novos casos com diagnóstico nos últimos cinco anos, em homens entre os 15 e os 29 anos de idade”, lê-se no relatório.

E O ESTIGMA SOCIAL?

Questionados sobre se teriam uma relação com uma pessoa infetada com VIH, 35% dos inquiridos têm dúvidas, 29% respondem que sim, mas sem contacto físico, e 9% não. E aceitariam que um filho tivesse uma relação pessoal com alguém infetado com VIH? 43% dizem “não sei, depende”, 22% “sim, mas preferia que não houvesse contacto físico” e 13% não. Se os próprios entrevistados desta sondagem estivessem infetados com VIH, 4% não contariam a ninguém e 10% teriam dúvidas em revelar o seu estado a quem quer que fosse.

No campo profissional, a discriminação é menor já que 81% contratariam e 87% trabalhariam com alguém infetado com VIH. Mas persistem 13%, que “provavelmente” e 6% que “de certeza” não dariam emprego a alguém com VIH. E 13% que “provavelmente” e 1% que “de certeza” se sentiriam incomodados ou desconfortáveis em trabalhar com alguém com VIH (ver gráfico).

Convidado a comentar esta última questão, Ricardo Fernandes explica que o estigma associado à infeção pelo VIH ainda é enorme: “O facto de 13% das pessoas provavelmente se sentirem desconfortáveis em trabalhar com alguém com VIH não tem qualquer fundamento científico e é um grave exemplo do que leva à discriminação”. Para Isabel Aldir, “as questões do estigma e discriminação associados a esta doença têm vindo a esbater-se e esta resposta é bastante animadora. Ainda assim, há um caminho a fazer para que, num futuro breve, questões como esta nem sejam entendidas como necessárias de se colocarem”.

VIVER COM A DOENÇA

Três quartos dos entrevistados na sondagem — que é parte do projeto do Expresso em parceria com a Gilead para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a Sida (que se comemora hoje) e a Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites (que terminou ontem) — consideram que é possível viver com qualidade de vida tendo VIH: 50% consideram que sim, mudando radicalmente hábitos e dieta e 26% que é igual a uma pessoa que não esteja infetada. A maioria (54%) acredita mesmo que, nos dias de hoje, é possível viver mais de 20 anos após o diagnóstico e tratamento do VIH.

O sector público sai melhor na fotografia do que o privado no esforço feito para atenuar os efeitos da doença nas pessoas que vivem com VIH em Portugal: 43% dos inquiridos afirmam que os empregadores não fazem o suficiente contra 35% no Estado (ver gráfico).

Para Maria Antónia de Almeida Santos, “atendendo ao fornecimento de meios de diagnóstico e tratamento gratuitos, quer a infetados com VIH quer a doentes com sida, é estranho que só cerca de 8% reconheçam que o Estado faz o suficiente. Eis, portanto, razões para aumentar a divulgação sobre a implementação das medidas promovidas pelo Estado social”. Já para Ricardo Fernandes ainda há muito que fazer: “É necessário definir políticas mais claras de prevenção, rastreio e tratamento do VIH. É urgente aumentar o acesso às novas tecnologias de prevenção, tais como a profilaxia pré-exposição (PrEP) de forma a diminuir o número de infeções, bem como apostar em formas inovadoras de rastreio e ligação aos cuidados de saúde nas comunidades mais afetadas”.

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