Velha TAP transforma-se e nem o nome escapa

30-08-2017
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Desde que começou a falar-se na possibilidade de reverter o processo de privatização da transportadora nacional que se multiplicam os anúncios de alterações na estratégia da companhia aérea. Com as contas a refletirem o crescimento da empresa em diversos mercados internacionais, a TAP tem-se reinventado como uma companhia em tudo diferente. Há novas rotas, novos aviões, novos nomes e até novas tarifas para combater as low cost.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Exemplo disso é o que tem acontecido na TAP. Depois de ter sido privatizada e de, mais tarde, ter sido revertido todo o processo, já muito mudou na companhia aérea portuguesa. Mudou quem manda, mudou quem decide, mudaram algumas das rotas, mudaram as condições para quem viaja. E vai até mudar o nome.

A notícia foi dada este mês e a alteração entra em vigor já em setembro, com o primeiro avião a incluir a designação TAP Air Portugal. A ideia, segundo a empresa, fpo tornar mais fácil a associação da marca a uma companhia aérea em território norte-americano, onde a transportadora tem tentado reforçar o crescimento.

Mas esta mudança de nome é apenas uma gota de água no oceano de alterações que têm sido feitas nos últimos tempos. Prova disso é o plano estratégico para dez anos e as mudanças nos órgãos da empresa. Numa comunicação interna aos colaboradores, a TAP esclareceu que «para a Comissão Executiva e, consequentemente, para o Conselho de Administração, entra no lugar de Trey Urbahn, Antonoaldo Neves». Falamos de um novo responsável que, até aqui, era presidente da Azul Linhas Aéreas, também controlada pelo empresário David Neeleman.

As ligações da companhia brasileira de Neeleman à transportadora portuguesa são, aliás, mais comuns do que se possa pensar. Desde que a TAP começou a mudar com a entrada de acionistas privados e uma posição do grupo HNA, a companhia tem apostado em novas rotas e em reestruturações que parecem estar a dar folgo não apenas à TAP, mas também à companhia aérea de David Neeleman, a Azul, que conseguiu este ano a tão desejada estreia na bolsa: não foi sequer à terceira, foi mesmo preciso ir à quarta, mas a Azul conseguiu finalmente entrar nas cotadas. No arranque das negociações valia 21,97 reais, mais 4,62% que os 21 reais por título a que o IPO foi consumado. A operação permitiu um encaixe de 456 milhões de euros. Recorde-se que a Azul é uma das maiores companhias aéreas do Brasil, mas as contas estavam a ser, nos últimos anos, um problema.

O casamento entre TAP e Azul parece estar a ser bom para ambos os lados. As contas da brasileira melhoraram, com a receita operacional da transportadora de Neeleman, em 2016, a ser de 6,67 mil milhões de euros, o que representou um crescimento de 6,6% em comparação com 2015. E as contas da TAP também melhoraram. De acordo com os dados divulgados em março pela empresa, a companhia aérea conseguiu interromper, no ano passado, dois anos de prejuízos: 2014, com 46 milhões de euros e, 2015, com 99 milhões. Em 2016, a TAP conseguiu então regressar aos lucros com 34 milhões de euros. No entanto, a transportadora aérea também revelou que a holding continua no vermelho por causa da operação de manutenção no Brasil.

Manutenção pressiona

De acordo com o Relatório e Contas, a TAP SGPS, que detém todas as atividades do grupo, obteve um prejuízo de 27,7 milhões de euros em 2016, o que compara com perdas de 156 milhões de 2015.

Mas há coisas que não mudaram. A pesar nas contas ficou a TAP - Manutenção e Engenharia Brasil, que de acordo com o Relatório e Contas, registou um prejuízo de 31,9 milhões de euros em 2016, face aos 40,2 milhões de euros de perdas em 2015.

A verdade é que o negócio no Brasil tem sido tema nos últimos tempos e não apenas pelo peso que tem nas contas da transportadora portuguesa. Em abril do ano passado, as suspeitas de crimes de administração danosa, participação económica em negócio, tráfico de influência, burla qualificada, corrupção e branqueamento levaram uma equipa do Ministério Público (MP) e de inspetores da PJ a realizarem buscas às instalações da TAP e da Parpública.

De acordo com nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), «os factos em investigação estão relacionados com o negócio de aquisição da empresa de manutenção e engenharia VEM».

A compra da VEM ocorreu em 2005 e resultou em prejuízos que pesam ainda hoje nas contas. O caso está a ser investigado pela PGR desde que, em 2014, foi feita uma denúncia anónima. A denúncia incidia no processo de privatização da TAP, que falhou em 2012 e que terminou com o fim da proposta apresentada por Germán Efromovich. No entanto, o SOL sabe que se abordava também a compra da unidade de manutenção no Brasil à Varig, empresa que tinha sido presidida entre 1996 e 2000 por Fernando Pinto e que naquela altura estava falida. Um dos problemas que tem vindo a ser levantado é o facto de o negócio ter avançado sem o aval do Ministério das Finanças.

Lacerda Machado abre guerra

O nome de Diogo Lacerda Machado, conhecido por ser o melhor amigo de António Costa, também gerou polémica e voltou às luzes da ribalta com a sua nomeação para integrar o conselho de administração da TAP, depois de ter sido apontado pelo primeiro-ministro para negociar a reversão da privatização da companhia aérea. Aparentemente imune às críticas da oposição, o advogado afastou as acusações, considerando-as «uma pouca vergonha» e acenando apenas com o sentido de serviço público. «Tenho imenso orgulho naquilo que ajudei a fazer. Foi com sentido de serviço público. Os factos mostram que foi possível reconfigurar a privatização da TAP para um modelo em que os privados investem o mesmo, mas ficam com 45% do capital da empresa, em vez de 61%. É o mesmo sentido de serviço público que me levou a aceitar e suponho que a ser convidado».

Mas as críticas por parte do PSD, que acusa Lacerda Machado de ser responsável pelo buraco da TAP, não pararam de surgir. «O dr. Diogo Lacerda Machado está intimamente ligado ao problema financeiro da TAP. Como administrador da Geocapital, foi responsável pelo buraco enorme da empresa de manutenção no Brasil», referiu o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Luís Leite Ramos.

E não foi apenas o PSD que mostrou descontentamento. Também o PCP veio dizer que considerava a nomeação de Lacerda Machado criticável: «Os nomes indicados para a TAP, onde se inclui Miguel Frasquilho, quadro do PSD que esteve ligado ao BES e à política de privatizações de anteriores governos, e Lacerda Machado, ligado a discutíveis opções de gestão da TAP, entre outros, merecem crítica do PCP».

Desde que começou a falar-se na possibilidade de reverter o processo de privatização da transportadora nacional que se multiplicam os anúncios de alterações na estratégia da companhia aérea. Com as contas a refletirem o crescimento da empresa em diversos mercados internacionais, a TAP tem-se reinventado como uma companhia em tudo diferente. Há novas rotas, novos aviões, novos nomes e até novas tarifas para combater as low cost.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Exemplo disso é o que tem acontecido na TAP. Depois de ter sido privatizada e de, mais tarde, ter sido revertido todo o processo, já muito mudou na companhia aérea portuguesa. Mudou quem manda, mudou quem decide, mudaram algumas das rotas, mudaram as condições para quem viaja. E vai até mudar o nome.

A notícia foi dada este mês e a alteração entra em vigor já em setembro, com o primeiro avião a incluir a designação TAP Air Portugal. A ideia, segundo a empresa, fpo tornar mais fácil a associação da marca a uma companhia aérea em território norte-americano, onde a transportadora tem tentado reforçar o crescimento.

Mas esta mudança de nome é apenas uma gota de água no oceano de alterações que têm sido feitas nos últimos tempos. Prova disso é o plano estratégico para dez anos e as mudanças nos órgãos da empresa. Numa comunicação interna aos colaboradores, a TAP esclareceu que «para a Comissão Executiva e, consequentemente, para o Conselho de Administração, entra no lugar de Trey Urbahn, Antonoaldo Neves». Falamos de um novo responsável que, até aqui, era presidente da Azul Linhas Aéreas, também controlada pelo empresário David Neeleman.

As ligações da companhia brasileira de Neeleman à transportadora portuguesa são, aliás, mais comuns do que se possa pensar. Desde que a TAP começou a mudar com a entrada de acionistas privados e uma posição do grupo HNA, a companhia tem apostado em novas rotas e em reestruturações que parecem estar a dar folgo não apenas à TAP, mas também à companhia aérea de David Neeleman, a Azul, que conseguiu este ano a tão desejada estreia na bolsa: não foi sequer à terceira, foi mesmo preciso ir à quarta, mas a Azul conseguiu finalmente entrar nas cotadas. No arranque das negociações valia 21,97 reais, mais 4,62% que os 21 reais por título a que o IPO foi consumado. A operação permitiu um encaixe de 456 milhões de euros. Recorde-se que a Azul é uma das maiores companhias aéreas do Brasil, mas as contas estavam a ser, nos últimos anos, um problema.

O casamento entre TAP e Azul parece estar a ser bom para ambos os lados. As contas da brasileira melhoraram, com a receita operacional da transportadora de Neeleman, em 2016, a ser de 6,67 mil milhões de euros, o que representou um crescimento de 6,6% em comparação com 2015. E as contas da TAP também melhoraram. De acordo com os dados divulgados em março pela empresa, a companhia aérea conseguiu interromper, no ano passado, dois anos de prejuízos: 2014, com 46 milhões de euros e, 2015, com 99 milhões. Em 2016, a TAP conseguiu então regressar aos lucros com 34 milhões de euros. No entanto, a transportadora aérea também revelou que a holding continua no vermelho por causa da operação de manutenção no Brasil.

Manutenção pressiona

De acordo com o Relatório e Contas, a TAP SGPS, que detém todas as atividades do grupo, obteve um prejuízo de 27,7 milhões de euros em 2016, o que compara com perdas de 156 milhões de 2015.

Mas há coisas que não mudaram. A pesar nas contas ficou a TAP - Manutenção e Engenharia Brasil, que de acordo com o Relatório e Contas, registou um prejuízo de 31,9 milhões de euros em 2016, face aos 40,2 milhões de euros de perdas em 2015.

A verdade é que o negócio no Brasil tem sido tema nos últimos tempos e não apenas pelo peso que tem nas contas da transportadora portuguesa. Em abril do ano passado, as suspeitas de crimes de administração danosa, participação económica em negócio, tráfico de influência, burla qualificada, corrupção e branqueamento levaram uma equipa do Ministério Público (MP) e de inspetores da PJ a realizarem buscas às instalações da TAP e da Parpública.

De acordo com nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), «os factos em investigação estão relacionados com o negócio de aquisição da empresa de manutenção e engenharia VEM».

A compra da VEM ocorreu em 2005 e resultou em prejuízos que pesam ainda hoje nas contas. O caso está a ser investigado pela PGR desde que, em 2014, foi feita uma denúncia anónima. A denúncia incidia no processo de privatização da TAP, que falhou em 2012 e que terminou com o fim da proposta apresentada por Germán Efromovich. No entanto, o SOL sabe que se abordava também a compra da unidade de manutenção no Brasil à Varig, empresa que tinha sido presidida entre 1996 e 2000 por Fernando Pinto e que naquela altura estava falida. Um dos problemas que tem vindo a ser levantado é o facto de o negócio ter avançado sem o aval do Ministério das Finanças.

Lacerda Machado abre guerra

O nome de Diogo Lacerda Machado, conhecido por ser o melhor amigo de António Costa, também gerou polémica e voltou às luzes da ribalta com a sua nomeação para integrar o conselho de administração da TAP, depois de ter sido apontado pelo primeiro-ministro para negociar a reversão da privatização da companhia aérea. Aparentemente imune às críticas da oposição, o advogado afastou as acusações, considerando-as «uma pouca vergonha» e acenando apenas com o sentido de serviço público. «Tenho imenso orgulho naquilo que ajudei a fazer. Foi com sentido de serviço público. Os factos mostram que foi possível reconfigurar a privatização da TAP para um modelo em que os privados investem o mesmo, mas ficam com 45% do capital da empresa, em vez de 61%. É o mesmo sentido de serviço público que me levou a aceitar e suponho que a ser convidado».

Mas as críticas por parte do PSD, que acusa Lacerda Machado de ser responsável pelo buraco da TAP, não pararam de surgir. «O dr. Diogo Lacerda Machado está intimamente ligado ao problema financeiro da TAP. Como administrador da Geocapital, foi responsável pelo buraco enorme da empresa de manutenção no Brasil», referiu o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Luís Leite Ramos.

E não foi apenas o PSD que mostrou descontentamento. Também o PCP veio dizer que considerava a nomeação de Lacerda Machado criticável: «Os nomes indicados para a TAP, onde se inclui Miguel Frasquilho, quadro do PSD que esteve ligado ao BES e à política de privatizações de anteriores governos, e Lacerda Machado, ligado a discutíveis opções de gestão da TAP, entre outros, merecem crítica do PCP».

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