Pratinho de Couratos

24-06-2020
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Não é para
ser aplicada contra o carteirista (tl;dr)

A mesa dos
sonhos posta, o noivo dessabia, Wittgenstein: “Não podemos pensar em nenhum
objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros”, a noiva
sabia-la-toda-à-Baudelaire: “Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie
de feitiçaria evocatória”. Quinta-feira, 14 de novembro de 1940. “Sonho
desfeito ou casamento que não se realiza. O sr. Manuel Lopes devia casar-se
hoje, com uma cabeleireira de nome Berta Ferreira Dias. Namoravam-se há dois anos,
tendo o noivo alugado e mobilado uma casa em Marvila. Hoje esperou-a a pé firme
no Registo Civil. Já passava muito da hora, quando se decidiu a saber o que se
passava. Soube, então, que a rapariga havia fugido com outro, tendo ido, ontem,
à casa de Marvila, donde tirou vários objetos e algum dinheiro.” O pobre sr.
Manuel Lopes, endrominado na lábia da rapariga, não foi a meças, e aprendeu à
porta do Registo Civil a dura lição que a “mulher” - tal como o “escaravelho”
wittgensteiniano - apreende-se usando-a e expondo-nos ao seu uso. “Suponhamos
que cada pessoa tem uma caixa dentro da qual está uma coisa a que chamamos «escaravelho».
Nenhuma pessoa pode ver o que está na caixa da outra; e cada pessoa diz que só
sabe o que é um escaravelho pela perceção do seu escaravelho. – Aqui seria
possível que cada pessoa tivesse uma coisa diferente na sua caixa. Podemos até
conceber que a coisa na caixa estivesse em transformação contínua. – Mas se a
palavra «escaravelho» tivesse, no entanto, um emprego para estas pessoas? –
Então este emprego não seria o de uma designação de uma coisa. A coisa na caixa
não pertence de todo ao jogo de linguagem; nem sequer como um simples algo, porque a caixa também pode estar
vazia.” (Wittgenstein, “Investigações filosóficas”). [1]

Noutro
casamento, entre o homem e o seu líder, sonhar é mais fácil ainda, mais
descomplicado que abrir uma lata de Fanta. “Dias que passei no esgoto dos sonhos / Onde o
sórdido dá as mãos ao sublime / Onde vi o necessário onde aprendi / Que só
entre os homens e por eles / Vale a pena sonhar.” (Alexandre O’Neill, “O tempo
sujo”). A razão lusitana desse fenómeno epiloga nos seus líderes, a excelência
vestida de competência, subsidiados pela luz de presença do negócio público, rasgam
as vestes, calejam o dedo, pela salvaguarda. O parlamentar Leitão Amaro: “Este
caso das ofertas da Galp é só mais um ato, é um ato que revela um padrão de
promiscuidade que mancha este governo das esquerdas, (na Assembleia, do seu
lado esquerdo, outro grande parlamentar, Hugo Soares, ulula: Muito bem!), esta
promiscuidade, esta proximidade excessiva, potencia a captura do poder político
pelo poder económico. Isso é democraticamente inaceitável, vou terminar sr.
presidente, esta promiscuidade, e a proteção que o primeiro-ministro e o
governo concedem a este caso, é um convite à continuidade dessas relações promíscuas.”
(setembro 2016) [2]. Colmata ação deputar contra
gift economy com previsões corretíssimas, este Leitão Amaro: “O governo
não está no caminho para cumprir as suas contas, pior, já não está, pelos
vistos, em tempo para corrigir a política orçamental pra este ano. (No
quiosque, nesse dia, leu Leitão a capa do jornal Público: “FMI diz que “já é
tarde para tomar medidas que corrijam défice de 2016”. Subir Lall, chefe de
missão do FMI a Portugal, diz em entrevista que foco do governo tem de já estar
em 2017, com “todas as opções em cima da mesa”. Fundo quer redução mais rápida
dos funcionários públicos). São sinais preocupantes, mas eu queria dizer,
também, igualmente, que ainda mais preocupante, é que os números que hoje
sabemos desmentem a propaganda do primeiro-ministro que não durou 24 horas.” (setembro
2016).

Um
parlamentário constrói valor, planta a possibilidade de facilidades, assacando.
José Moreira da Silva: “Nunca me passou pela cabeça que Mariana Mortágua se
convertesse, verdadeiramente na ministra das Finanças deste governo, mas isso
diz muito sobre a estratégia, responsabilidade orçamental e desenvolvimento
económico que o atual governo tomou. Obviamente isso configura um enorme
retrocesso e uma preocupação para todos os portugueses. O que precisamos não
é de syrizar, o que precisamos é de reformar (…). Eu espero que o
Partido Socialista pondere seriamente ehh ehh relativamente à estratégia que
quer prosseguir, os portugueses não merecem ser colocados perante uma
circunstan… uma circunstância como esta, que é ter uma estratégia de
desenvolvimento económico e de responsabilidade orçamental que é na prática
anacrónica que nos faz recuar à causa da crise.” (setembro 2016). [3]

Julho. 1984.
Segunda-feira, 2 “impressionante. O grande atleta português Fernando Mamede
após ter batido por duas vezes o recorde europeu dos 10 000 metros
sagrou-se, em Estocolmo, recordista mundial. Feito notável que fica a
constituir mais um marco de orgulho do nosso atletismo. Saúde-se igualmente
Carlos Lopes que fez uma prova extraordinária batendo também o recorde que
desde junho de 1978 pertencia ao queniano Henry Rono. Mamede e Lopes dois
atletas de valor singular. Duas grandes certezas para os Jogos Olímpicos de Los
Angeles. Mamede conseguiu aos 32 anos uma proeza que ambicionava há três anos:
tornar-se recordista mundial dos 10 000 metros, depois de por duas vezes
ter batido o recorde da Europa da distância. O atleta sportinguista bateu a
anterior marca que pertencia a Henry Rono com 27.22.4 minutos desde 1978 numa
corrida em que esteve, aparentemente, derrotado. Aos sete quilómetros, Lopes
assumiu o comando da prova e em cada volta ia aumentando o seu avanço. Mas
Mamede recuperou essa desvantagem na parte final e a duas voltas do fim
ultrapassou Lopes para se isolar e ganhar destacado com cerca de 30 metros de
vantagem. Lopes, por seu lado, ao cortar a meta no tempo de 27.22.48 minutos
também bateu o anterior recorde mundial, sendo agora os dois portugueses os
melhores de sempre nos 10 000 metros. Classificação. 1.º Fernando Mamede,
Portugal, 27.13.81 minutos; 2.º Carlos Lopes, Portugal, 27.17.48; 3.º Mark
Nemow, EUA, 27.40.56. (…). O novo recordista mundial dos 10 mil metros disse
ainda que por esta ter sido a sua primeira corrida na distância, esta época,
«não esperava bater o recorde do mundo, pois ainda não me encontro no meu
melhor». Em relação aos Jogos Olímpicos, Mamede afirmou, interrogado sobre as
suas possibilidades em ganhar uma medalha que «o meu nome ainda não está
inscrito na medalha». «Os Jogos Olímpicos são uma competição totalmente
diferente destes meetings e os
atletas lutam única e exclusivamente para conquistarem uma medalha», prosseguiu.
Fernando Mamede salientou igualmente que está agora a preparar-se «física e
psicologicamente para tentar ganhar uma medalha nas Olimpíadas de Los
Angeles».”

Quarta-feira,
4 de julho “enquanto garante às agências noticiosas que «a proposta dos
socialistas em matéria de segurança interna é muito semelhante à dos
sociais-democratas», o ministro da Justiça, Rui Machete, propõe a criação de um
tribunal permanente de instrução criminal. Este tribunal, diz o ministro,
«teria a particularidade de estar permanentemente disponível para autorizar ou
indeferir buscas domiciliárias ou escutas telefónicas». (…). Rui Machete disse
que a solução do Tribunal Permanente de Instrução Criminal, que considerou
«perfeitamente viável, ainda que com alguns inconvenientes técnicos», salvaguarda,
por um lado, as questões de celeridade e eficácia da investigação criminal e
protege, por outro, os aspetos das liberdades e direitos os cidadãos. (…). «É
uma solução que tem vantagens uma vez que, embora seja mais onerosa, é mais
simples de obter e mais transparente». (…). «Penso que vale mais a pena ir para
uma solução que tem alguns aspetos de menor eficácia e maior custo do que ir
para soluções que têm outras vantagens, mas que no estádio atual da nossa
história custam mais a ser inteiramente percebidas». (…). Rui Machete sublinhou
que a necessidade desta lei é indiscutível no que respeita à segurança interna
e afirmou que o governo teve a «coragem de a apresentar num país que vive com o
síndroma da PIDE». «Sob a capa desse síndroma da PIDE, têm-se, no entanto,
cometido as maiores atrocidades, tem havido escutas, pessoas estiveram detidas
sem culpa formada por longos períodos, houve simulacro de fuzilamentos e
mandados de captura foram passados em branco». (…). «Se se pensa que é preciso
que morra bastante gente para se ter a lei, eu prefiro que se evite a morte de
pessoas e se tenha a lei». Para além disso, recordou, a Lei de Segurança
Interna é aplicada a casos de terrorismo, criminalidade de alta violência e
droga, «não é para ser aplicada contra o carteirista». (…). Recordou que esta
terceira versão da Lei de Segurança Interna determina no seu articulado que a
sua aplicação seja sempre controlada por um juiz. «Há soluções que aqui ou ali
são menos felizes que outras. Pois bem, substituem-se, suscitam-se
alternativas, isso é perfeitamente aceitável», disse. «O que não é aceitável é
a posição que o PCP tomou, pois não tem nenhuma legitimidade para falar sobre
direitos fundamentais e ninguém está disposto a aceitar lições do PCP nesta matéria
depois do que ele fez em 1975», prosseguiu. Ao vincar que o governo está aberto
a alterações e que o próprio executivo as poderá apresentar, Rui Machete disse
que a Lei de Segurança Interna é uma lei que não se apresenta no parlamento
para que este diga ámen. «Não há dúvida que há alterações a fazer para que se
tornem físicos os direitos fundamentais, de modo a que eles deixem de ser
coisas míticas que pomos na Constituição e nos esquecemos logo, há que
torná-los vivos e integrá-los na nossa realidade quotidiana».”       

Segunda-feira,
9 de julho “uma enfermeira sueca de 21 anos, Yvonne Ryding, ganhou
hoje 26 mil contos (175 000 dólares), um apartamento por um ano em Nova Iorque,
um automóvel desportivo, um barco, um relógio de diamantes e uma montanha de
roupa, ao ser escolhida, em Miami, Miss Universo 84. Yvonne, que é loura, tem
olhos azuis e mede um metro e setenta de altura, declarou à imprensa que gosta
de trabalhar com idosos e incapacitados, e aconselhou as mulheres de todo o
mundo «a manterem os dois pés bem assentes na terra e a tentarem fazer felizes as
outras pessoas». O segundo e terceiro lugares foram conquistados por uma sul-africana
e por uma venezuelana ambas com 19 anos.” [4] 

Sexta-feira,
13 de julho “os preços dos combustíveis vão ser novamente aumentados à meia-noite
de hoje, pela terceira vez desde que tomou posse o governo de Mário Soares. Desde
a gasolina normal ao gás de cidade todos os combustíveis verão os seus preços
agravados entre 2,6 % (caso da gasolina super) e 17 % (caso do fuel óleo). Como
justificação para mais esta subida, a segunda este ano, o ministério da
Indústria e Energia referiu esta manhã, em comunicado, a «política de extinguir
gradualmente os subsídios ainda existentes em alguns combustíveis» e a
«revalorização do dólar em 7,1 % desde a última revisão dos preços». (…).
Gasolina super 99$00, mais 2,6 % (custava 97$00); normal 96$00, mais 4,3 % (92$00);
petróleo iluminante 58$00, mais 3,5 %; petróleo carburante 59$00; gasóleo
60$00, mais 7,1 % (56$00 preço antigo e 46$00 antes de 1 de fevereiro); fuel
óleo 27$00 o quilo, 17 % de aumento; butano no revendedor 66$00 o quilo, mais
11,8 %; butano no consumidor 68$00, mais 11,4 %; propano no revendedor 66$60,
mais 11,2 %; propano no consumidor 69$00, mais 11,4 %; propano canalizado
69$00, mais 11,4 %; gás da cidade 22$30 o metro cubico (20$00 o preço antigo).”
[5] 

Sábado, 14
de julho “está a suscitar natural curiosidade a iniciativa de «agitação e
propaganda» que a Juventude Socialista decidiu desencadear, amanhã, na praia do
Meco, a sul da Fonte da Telha, a favor da legalização do naturismo em Portugal.
Nus, os jovens militantes da JS tentarão recolher, junto dos banhistas,
assinaturas para um documento em que se reclama a legalização do naturismo,
documento que será posteriormente entregue às autoridades do Estado e aos
partidos com assento na Assembleia da República. A JS, que está a desenvolver
um considerável esforço de «aggiornamento» da sua problemática, tem-se
destacado pela defesa da despenalização das drogas leves, pelas posições
liberais em relação ao serviço militar obrigatório e por uma atitude antiblocos
em matéria de desarmamento.” [6]

Quarta-feira,
18 de julho “uma estanha «crise de autoridade» parece tolher, atualmente, as
iniciativas da Câmara Municipal de Lisboa e particularmente o seu presidente
Krus Abecassis. São três os exemplos que poderemos sintetizar em poucas
palavras: a demolição do Monumental prossegue apesar de uma decisão do Supremo
Tribunal Administrativo em sentido contrário; o Panda Bingo mantém-se aberto
apesar de uma decisão camarária que mandava encerrá-lo (embora admitindo que se
mantivesse aberto); o Centro Comercial Gália mantém as portas abertas apesar de
os proprietários não terem cumprido uma intimidação de obras. O caso do
Monumental é flagrante: entregue a ordem de embargo da demolição, os
trabalhadores prosseguiriam sob a alegação de que havia partes que ameaçavam
derrocada. Mas já lá vão muitas semanas e parece que nunca mais acaba essa
ameaça. (…). Quanto ao Bingo Panda, de nada terá servido o coro de protestos
dos moradores e da Junta de Freguesia, com o reconhecimento inicial de que era
uma má aposta, aquela, naquele local. O próprio secretário de Estado do
Ambiente terá manifestado o seu desagrado pela situação, o que levou Abecassis
a «espernear».”   

Quinta-feira,
19 de julho “em 1983, a criminalidade em Portugal aumentou 32,9 % em relação ao
ano anterior, tendo atingido o valor mais elevado dos últimos oito anos.
Segundo a Polícia Judiciária, os homicídios consumados continuam a registar um
aumento preocupante com um acréscimo de 32,3 % e de 88,1 % em relação a 1982 e
1981, respetivamente. Por outro lado, os assaltos a bancos, embora tenham
sofrido uma diminuição de 26,7 %, continuam com um número elevado (33), só ultrapassado,
nos últimos seis anos, pelo ocorrido em 1982, em que se registaram 45
participações. Os assaltos a estações de correio e vagões-correio registaram um
acréscimo de 100 % em relação ao ano anterior, enquanto os assaltos a outros
estabelecimentos de crédito registaram o mesmo valor de 1982. Quanto aos atos
terroristas e crimes contra o Estado aumentaram, em 1983 segundo a PJ, 15,9 %
em relação ao ano anterior. Nos atos terroristas e crimes contra o Estado, a
Polícia Judiciária considera as injúrias, resistência ou desobediência às
autoridades, evasão e motim de presos, usurpação de funções, declarações e
testemunhos falsos, abuso e excesso de poder, corrupção, peculato, contra a
integridade física de pessoal diplomático, contra a segurança do Estado, rapto
para tomada e detenção de reféns, detenção e tráfico de armas de fogo proibidas
e outros não especificados. Os processos que até 1982 eram incluídos na rubrica
«terrorismo» passaram a ser subdivididos pelas rubricas «contra a vida, a
integridade física e a liberdade de pessoas», «contra a segurança de
equipamentos coletivos», «crimes com emprego de engenhos explosivos ou meios
incendiários», «crimes com emprego de substâncias tóxicas ou corrosivas» e
«terrorismo». Em 1980 foi em número de 3003 os atos terroristas e crimes contra
o Estado, número que subiu para 3827 em 1981, 4638 em 1982 e 5376 em 1983. A
maior rubrica dos crimes contra o Estado são as injúrias, resistência ou
desobediência às autoridades, com 5593 casos participados, em 1983, à Polícia
Judiciária. A seguir vêm as declarações e testemunhos falsos, o abuso e o
excesso de poder, a corrupção (62 casos) e o peculato. Contra a segurança do
Estado foram participados 28 casos em 1980, três em 1981 e dois em 1983. Foram
63 os processos que, no ano passado, deram entrada na Judiciária respeitantes a
crimes de abuso de liberdade de imprensa. Em 1980, o seu número foi de 149, em
81 de 94 e em 82 de 112. No que respeita aos casos de tráfico de droga o seu
número foi de 626 em 1983, contra 352 em 1980, 396 em 1981 e 469 em 1982. Os
casos de consumo foram, segundo a PJ, de 640 em 1983, 693 em 1982, 637 em 1981
e 521 em 1980.”

Sexta-feira,
20 de julho “a atual detentora do título de Miss América, Vanessa Williams, recebeu
hoje um prazo de 72 horas para renunciar à coroa por ter posado nua para uma
série de fotografias eróticas a ser publicadas pela revista Penthouse. Vanessa
Williams, a primeira negra norte-americana a conquistar aquele título, foi
intimidada a devolver a coroa pelos organizadores do concurso, depois de ter
sido anunciada a intenção de revista Penthouse de publicar
na sua próxima edição fotos da Miss nua, em atitudes de sexo explicito com
outra mulher, Amy Geier Wessell. (…). As fotos, que surgirão
publicadas no número de agosto da revista, foram realizadas meses antes da
eleição pelo fotógrafo Tom Chiapel, de quem Vanessa era secretária. (…). Em dez
páginas, mostra também fotos a cores da Miss com o presidente Reagan, e
acenando para os seus fãs.” [7]

Terça-feira,
24 de julho “no novo espaço físico no pavilhão da Feira Internacional de
Lisboa, atua o grupo Weather
Report, distinguido ao longo dos últimos dez anos como a
melhor formação elétrica de jazz. O
concerto será às 22 horas.” Entraram no palco com uma hora de atraso. Motivo:
antes de receberem o cachet não haveria música para ninguém. Sem Jaco
Pastorius, tocaram Wayne Shorter (saxofone), Joe Zawinul (teclados), Victor
Bailey (baixo), José Rossy (percussão) e Omar Hakim (bateria).

Quinta-feira,
26 de julho «dois músicos partem para uma viagem»: ela iniciou-se em Munique,
durante o verão de 1982, e continua em Lisboa, dois anos depois. Os músicos são
Chick Corea e Friedrich Gulda, os
pianistas que esta tarde, a partir das 18h30, entram em diálogo no teatro S.
Luís.” Preço 1300$00. “Às 21h30, no mesmo local, sobe ao palco um outro duo: os
brasileiros Egberto
Gismonti e Naná Vasconcelos. [Preço 700$00]. Gismonti dispensa apresentações.
Quanto a Naná Vasconcelos diremos apenas que ele é considerado o mais brilhante
percussionista contemporâneo brasileiro. Os dois concertos integram-se no X
Festival de Música da Costa do Estoril, que amanhã continua, no parque Palmela,
em Cascais, com a atuação da Banda da Força Aérea.”

Segunda-feira,
30 de julho “três bombeiros feridos, ainda que sem gravidade, e cerca de três
mil contos de prejuízo, não cobertos pelo seguro, é o balanço do incêndio que,
cerca das 16h30, destruiu o salão de festas e toda a cobertura da centenária e
popular Sociedade Filarmónica dos Alunos de Apolo, na rua Silva Carvalho, em
Campo de Ourique. O fogo, de origem criminosa, segundo os diretores da
agremiação, e provocado por um curto-circuito, de acordo com um porta-voz do
Batalhão de Sapadores Bombeiros, consumiu uma potente aparelhagem sonora, 120
cadeiras e mesas e os artifícios utilizados durante os bailes e os famosos
concursos de dança ali realizados.” [8]

Terça-feira,
31 de julho “a partir de amanhã, cada português deve mais seis contos ao
estrangeiro da assinatura colocada pelo ministro Ernâni Lopes, no contrato de
empréstimo de 400 milhões de dólares concedidos por um consórcio formado por 27
bancos internacionais, liderado pelo Lloyds Bank International e pelo
Industrial Bank of Japan. Em moeda portuguesa, a estes 400 milhões de dólares
correspondem uns 60 milhões de contos, ou seja, em números absolutos, o maior
empréstimo jamais contraído pela República Portuguesa. São essencialmente
norte-americanos, ingleses e japoneses os bancos que formam este consórcio, mas
dele fazem também parte árabes, franceses, alemães, belgas, suíços e
luxemburgueses. O ministro das Finanças disse na cerimónia, realizada esta
manhã em Lisboa, que este «contrato de financiamento» constitui «mais um passo
no caminho da recuperação da nossa economia» e que «estamos agora a ultrapassar
a fase de estabilização iniciada há um ano, com vista a conter o pronunciado
desequilíbrio externo e interno». Ernâni Lopes garantiu aos banqueiros
internacionais que a metas traçadas pelo governo estavam a ser cumpridas e até
ultrapassadas.”  

____________________

[1] Kate Winslet:
“Fui vítima de assédio sexual e não quero voltar a sentir-me assim.” Depois de
séculos de dolorida existência, a mulher, desacorrentou-se. De ligeira
e espontânea na escolha do seu amor, volveu-se profunda e refletida que, aliado
ao fim dos casamentos arranjados pelos pais, baniu a violência doméstica para
sempre.

[2] O poder económico também não tem boa impressão do Leitão
em geral. “Em entrevista à Renascença, o empresário Alexandre Soares dos Santos
sustenta que Cavaco deve moderar as conversações e revelar aos portugueses as
razões da falta de compromisso. «Devia depois informar os portugueses sobre o
que é que discutiram. O Presidente é o único que é eleito por sufrágio
universal e é a essas pessoas que ele tem a obrigação de informar». Sobre as
famosas «divergências insanáveis» entre o primeiro-ministro, Pedro Passos
Coelho, e o líder do PS, António José Seguro, o presidente da Fundação Francisco
Manuel dos Santos é duro: «São lamentáveis essas frases até porque essas mesmas
pessoas em particular não dizem isso e eu falo com conhecimento de causa». «O
problema é que esses senhores já há muito tempo deviam ter feito o acordo e
agora, como estão em vésperas de eleições, não querem acordo nenhum e não
percebem que se não houver um acordo a dez anos no mínimo, para ser cumprido
qualquer que seja o partido que ganhe as eleições, nós não vamos a parte
nenhuma», critica. «Os partidos políticos são daqueles que mais têm contribuído
para o atraso em que Portugal entrou».“

[3] Em 2014, no festival SXSW, “Swine” p/ Lady Gaga.

[4] 1.ª finalista
Leticia Snyman. A 2.ª finalista, Carmen María
Montiel, quatro anos depois levava uma murraça no estômago. “Na
madrugada de 6 de julho de 2013, Carmen María Montiel, jornalista e Miss
Venezuela 1984, viu-se envolvida numa situação que gerou um escândalo público
que a levou ao olho do furacão durante anos. A ex-rainha da beleza embarcou com
o marido, o médico venezuelano Alex
Lechin, e a sua filha adolescente, num voo que partira de
Houston para Bogotá, a fim de participar num evento privado para o qual tinham
sido convidados. «O voo saiu um pouco antes da meia-noite, eu estava do lado da
janela, pedi ao assistente de bordo, Samuel Oliver, uma almofada, ele disse-me
que o que me podia dar eram dois cobertores, mas, ao usá-los senti que me
picavam, foi quando decidi deitar-me no ombro do meu marido e ele,
repentinamente, golpeou-me, eu forçava as suas mãos para trás, mas ele chamou o
empregado que acabou envolvendo-se, tudo se intensificou», contou Carmen a NAD.
O sr. Lechin queixava-se ao assistente que a ex-miss invadia o seu espaço, que
estava bêbeda e que começou a atacá-lo. «O assistente de bordo dava-lhe razão,
dizia que tinha visto tudo, eu tentava que me ouvissem, mas o meu marido pôs-se
histérico, exagerava com a sua conduta para encobrir o que tinha feito». A
menor, que na época tinha 14 anos, presenciou tudo, inclusive quando duas
pessoas vestidas à civil cooperaram para algemá-la de «forma selvagem e ilegal»
por, aparentemente, provocar o problema que fez com que o piloto desse meia
volta e regressasse ao aeroporto internacional de Houston. «Inventaram-se
muitas coisas, que estava bêbeda, que batia e gritava com toda a gente, isso é
completamente falso». (…). No passado 2 de outubro [2015], a jornalista foi
absolvida de todas as acusações. Provou-se que Alex Lechin provocou toda a cena
para prejudicar a esposa, que nesse momento estava em liberdade condicional
após um incidente doméstico ocorrido no final de 2011, assim podia manipulá-la
para um divórcio que estava iminente. Além disso, provou-se que o voo regressou
devido ao mau tempo.” Entrevista: “A
primeira vez que o meu marido, o doutor Alex E. Lechin, me deu um murro no
abdómen em 1988, percebi que tinha cometido um grande erro. Tínhamos acabado de
mudar-nos da Venezuela para os Estados Unidos, para que ele pudesse fazer a sua
formação médica na escola de medicina Bowman Gray da Universidade Wake Forest,
eu não falava uma palavra de inglês nem conhecia vivalma. Eu não sabia, aos 21
anos, que este foi apenas o começo de um ciclo muito escuro e torcido de
abusos. Ameaçaram-me e forçaram-me fisicamente a tomar as receitas médicas
escolhidas pelo meu marido, fui espancada e tratada pelo mesmo médico / marido
de maneira que ninguém notava, inclusive fui estrangulada e Alex, que é
pneumologista, podia examinar-me e reanimar-me. Alex não queria que me
divorciasse dele, estava muito preocupado com a sua reputação médica e estado
financeiro, assim que esforçou-se muito para ocultar o abuso de drogas. Ele fez
o que pôde para desacreditar-me, para que me sentisse presa e continuar casada
com ele. Nunca tive confiança em mim mesma para ir-me embora. Tudo isto, no
entanto, chegou ao fim na noite do voo da United International de Houston para
a Colômbia.”

[5] Desde 1968,
Portugal, um país moderno. Selfbanco. “É mais
uma inovação nossa: a última palavra em serviço permanente e ultrarrápido. A
qualquer hora do da ou da noite, basta meter o cartão na máquina, compor pelas
teclas o seu número de identificação, para receber instantaneamente o dinheiro,
dentro dum envelope!... Desde, claro, que tenha conta no nosso banco. Mas quem
a não tem?” “Inauguração da primeira máquina, em maio, na dependência dos
Restauradores Banco Português do Atlântico.”   

[6] Na altura,
o secretário-geral da JS era José
Apolinário, atual secretário de Estado das Pescas, não há
vestígios desta ação de propaganda, de certeza que não envolveu mulheres
jotinhas, a mulher portuguesa recata o seu pudding
apenas para o esposo, não atraiçoaria, a jusante, futuro consorte. Um dos
desfardados seria Laurindo Correia. “A sua adesão ao modo de vida naturista
começou na sua juventude. Foi nessa altura que, fazendo parte do Secretariado
Nacional da Juventude Socialista, se destacou na implementação de uma campanha
nacional pela «legalização» do naturismo que, mesmo no pós 25 de Abril,
continuava a ser perseguido pelas autoridades marítimas, tendo havido vários
incidentes na zona do Meco e da Bela Vista, hoje praias oficialmente dedicadas
à prática da nudez coletiva.”

[7] Sucedeu-lhe,
nos sete meses restantes de mandato, Suzette Charles,
nascida Suzette DeGaetano, a 2 de março de 1963 em Mays Landing, New Jersey. Atriz
e cantora “em 1993,
assinou pela RCA Records e gravou com os produtores britânicos de topo, Mike
Stock e Pete Waterman, lançando o seu single
de estreia, «Free To Love
Again», em agosto desse ano. O single
atingiu o número 58 na UK Singles Chart. Outras canções foram gravadas com
Stock e Waterman, incluindo «After You’re Gone», «Don’t Stop (All The Love You
Can Give)», «Every Time We Touch», «What The Eye Don't See»
e «Just For A Minute».”
Como atriz participou em 1988 na telenovela de estudo sociológico do ser norte-americano,
“The Young and the
Restless”.

[8] Entre essas danças houve bailes de punk rock. “No
documentário Meio Metro de Pedra, de Eduardo Morais, Francisco Dias, um dos
«historiadores oficiosos» que ajudam a contar a «nossa» história do rock, distingue os Faíscas mais «classe
média», a tocarem um «rockabilly speedado», dos Aqui
d’el-Rock «mesmo das ruas», «punk a sério». Paulo Pedro
Gonçalves, membro fundador dos Faíscas e mais tarde dos Corpo Diplomático e
Heróis do Mar, tem uma visão diferente, que nos explica, a partir de Londres:
«os Faíscas foram a primeira banda punk portuguesa. Os Aqui d’el-Rock
apareceram mais ou menos na mesma altura mas não eram uma banda punk. Em
Inglaterra na altura teriam sido considerados pub rock como os Dr. Feelgood ou
Ian Dury and The Kilburns. Os Faíscas tinham a atitude, a música, as letras, a
imagem e a vontade de derrubar o status quo. Tínhamos um ‘following’ punk, uma
fanzine, invadimos os palcos do rock português para nos deixarem tocar,
criávamos situações de caos, destruição e de anarquia. O nosso lema era ‘violar
o sistema’. Éramos verdadeiros Situacionistas». Óscar Martins, dos Aqui d’el-Rock,
explica no mesmo documentário que a diferença podia passar por o seu grupo
alinhar mais com a sonoridade americana e menos com a atitude cultivada nas
escolas de arte que talvez animasse um pouco mais a abordagem dos Faíscas. Retoma
Gonçalves: «do punk apareceram os Xutos, ainda com o Zé Leonel, os Minas & Armadilhas, do Paulo
Borges, a Anamar, UHF e outras bandas que agora não me lembro. Nós também
tocávamos com o nome Jô Jô Benzovac & Os Rebeldes porque não havia nenhuma
banda punk que pudesse fazer a nossa primeira parte. Nos Alunos de Apolo
entrámos com meias de seda na cabeça e vestidos de fatos completos dos anos 40.
Tocamos um set de rock 'n' roll (Elvis, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee
Lewis) depois saímos do palco, vestimos uns amigos com a nossa roupa, meias de
seda, vieram ao palco tiraram as meias, agradeceram ao público e nós começámos
o set dos Faíscas». As memórias de Paulo Pedro Gonçalves são coincidentes com
as de Gimba, que também esteve nos Alunos de Apolo na noite de 13 de janeiro de
1979, que marcou a estreia ao vivo dos Xutos & Pontapés: «na sala do baile
era a maior loucura, estava lá uma banda, os Jô Jô Benzovac & Os Rebeldes, a
tocar todo aquele reportório ‘Rock Around The Clock’, ‘Tutti Frutti’... E na
parede estava aquela frase do Frank Sinatra, qualquer coisa como ‘o rock and
roll é uma música feita por cretinos e para cretinos’, qualquer coisa assim.
Aquilo era um baile punk, porque o punk estava mesmo no auge. Nessa altura
havia muito Friganor na cabeça do pessoal, era a droga da moda. Lembro-me que
os Faíscas até se mordiam todos. A dança era feita de encontrões, chutos e
pontapés mesmo». «Os Faíscas foram uma fagulha que quando pegou fogo, ardeu
intensamente», explica-nos Paulo Pedro Gonçalves. «Durou pouco, talvez um ano.
Não tivemos disco, apenas uma maqueta gravada na Rádio Comercial, mas servimos
de inspiração a muita gente e fomos a base espiritual e intelectual dos Corpo
Diplomático e Heróis Do Mar». Numa coisa, as memórias de todos
parecem ser coincidentes: o 25 de Abril foi determinante para a imposição do
punk. «Vivíamos num país onde podias falar abertamente», conta Paulo Pedro
Gonçalves sobre o Portugal pós-revolucionário. «Mas embora o 25 de Abril nos
tenha dado a liberdade de expressão, por outro lado vivíamos um pouco às cegas.
Cinquenta anos de fascismo não se sacodem como água duma gabardina. Portugal em
1977 não era bem uma democracia. Andava a fazer experiências com a democracia
enquanto procurava uma identidade e uma direção».”

“De forma
muito circunscrita a Lisboa era restrita em termos temporais, os concertos vão
continuando. Na edição da Música & Som de janeiro de 1979, Trindade Santos
relata o concerto dos Faíscas na Sociedade Os Alunos de Apolo em 12 de dezembro
de 1978 da seguinte forma: «O milhar de participantes do vigésimo quinto
aniversário do Rock and Roll, realizado na Sociedade Os Alunos de Apolo no
passado dia 12, chorou e rangeu os dentes com a fúria da onda punk que
desvirtuou as sonoridades a cuja comemoração intentava proceder-se. (…)
Tendo-me retirado pelas três da manhã fiquei sem saber: 1) Se os punks iam
acabar de escaqueirar a mobília; 2) Se a vizinhança continuaria numa de não
pregar olho absolutamente; 3) Se a Direção da Sociedade tinha conseguido manter
frio o sangue que vinha esquentando ao longo de ene provocações». Em abril de
1979, ocorre mais um concerto emblemático e fundador no Liceu D. Pedro V. A
reportagem deste concerto motivou Pedro Ferreira da edição de maio da Música
& Som desse mesmo ano ao seguinte comentário: «Há quem não tome o fenómeno Punk a sério. O
recente concerto no Liceu D. Pedro V, em Lisboa, pôs uma vez mais em causa essa
atitude. O Punk tem uma
vitalidade própria, como prova o aparecimento de novos (poucos, é pena) grupos
do género, como o Raios e Coriscos, o Minas & Armadilhas SARL e o Xutos e
Pontapés, que atuaram conjuntamente com o Aqui d’el-Rock no Liceu referido. (…)
Voltando ao concerto, foi significativo um dos verdadeiros rebeldes ter pedido
o microfone para dar um grito; no fundo, o denominador comum daquela malta era
o grito de ‘estamos vivos’. Mas a comunicação entre o grupo no estrado e a
audiência era unívoca, porque o som nebuloso e esmagador apagava a contestação,
o pluralismo, ao mesmo tempo que criava a atmosfera intemporal do milagre: o
cigarro que se pede, a cerveja que se bebe, os teus olhos nos meus olhos…
milagre afetivo, comunicação outra entre indivíduos flutuando nas nuvens de
ruído amigo, milagre musicalmente passivo, milagre na superfície… o Punk à
superfície do milagre!».”

na sala de cinema

“Fast Times at Ridgemont
High” (1982), real. Amy Heckerling, c/ Sean Penn,
Jennifer Jason Leigh, Judge Reinhold … sob o título local «Viver depressa»
estreado quinta-feira, 26 de julho de 1984 no cinema Roma. “Um grupo de
estudantes do secundário, no sul da Califórnia, curte as suas matérias mais
importantes: sexo, drogas e rock ‘n’ roll.”
Factos: “para a sua cena de masturbação, Judge Reinhold trouxe para o plateau
um dildo avantajado, sem o conhecimento do resto do elenco, para esgalhar. A expressão de horror e náusea de Phoebe Gates
é bastante real.” “Durante as filmagens, Sean Penn entrou tanto na personagem
que apenas respondia por Spicoli. Na verdade, na porta do seu camarim estava a
placa «Spicoli» em vez de «Sean Penn».” “No início do filme, logo depois de Mr.
Hand mandar Spicoli para a receção por chegar atrasado à aula, ele distribui um
teste surpresa. Depois de o enunciado ser distribuído, os alunos chegam-no ao nariz
e inalam profundamente. Isto era um ritual
popular nas escolas dos anos 60, 70 e princípio de 80, como as fotocopiadoras
eram muito caras, então usavam-se duplicadores a álcool. Os duplicadores a
álcool utilizavam uma cera colorida como «tinta» e um solvente intoxicante,
mistura de álcool isopropílico e metanol, como agente de transferência para
imprimir a tinta no papel. Estes solventes por vezes demoravam a secar, daí os
alunos usarem-nos como uma pedrada de curta duração.” “Nicolas Cage aparece sob
o nome Nicolas Coppola pela primeira e única vez.” “Cage fartou-se de azucrinar
o resto do elenco, gabando-se do seu famoso tio Francis Ford Coppola. Disse a
todos os outros jovens atores que ele seria famoso mais rápido do que qualquer
um deles, porque ele tinha contactos. Depois de algumas semanas disto, o elenco
retaliou fazendo imitações de Robert Duvall em «Apocalypse Now» (1979), o que
finalmente fez com que Cage parasse de se vangloriar da sua célebre família.”
“Quando Brad está a lavar o Buick
LeSabre vê-se um
autocolante «Springsteen» no para-choques traseiro. Pamela Springsteen, irmã de
Bruce, também entra no filme.” “Stalker / (Сталкер)” (1979), real. Andrei
Tarkovsky, c/ Alisa Freyndlikh, Aleksandr Kaydanovskiy, Anatoliy Solonitsyn … estreado sexta-feira, 6 de julho de 1984 no Quarteto
sala 3 [1]. “O «Stalker» (Aleksandr Kaydanovskiy) trabalha numa
área pouco clara num futuro indefinido como guia que conduz as pessoas através
da «Zona», uma vizinhança na qual as leis normais da realidade já não se
aplicam plenamente. A Zona contém um lugar chamado o «Quarto», dito conceder os
desejos de qualquer um que lá entre. A
área contendo a Zona é selada pelo governo e grandes perigos existem dentro dela.” Factos: “de acordo com o
sonoplasta do filme, Vladimir Sharun, três membros da equipa (incluindo o
realizador Andrei Tarkovsky) morreram como consequência de contaminação química
encontrada no local de filmagem, na Estónia.” “A Zona do filme foi inspirada no
acidente nuclear que ocorreu em Ozyorsk, Oblast de Cheliabinsk, em 1957. Várias centenas de
quilómetros quadrados ficaram poluídos pela chuva radioativa e abandonados. Não
havia menção desta «zona proibida» na época.” “A poesia de Arseny Tarkovsky
(pai do realizador) inspira muito deste filme.” [2] “Il gatto” (1977), real. Luigi Comencini, prod. Sergio Leone,
mus. Ennio Morricone, c/ Ugo Tognazzi, Mariangela Melato, Michel Galabru … sob
o título local “Aqui há gato” estreado quarta-feira, 1 de junho de 1983 no
Quarteto sala 2. “Os gananciosos irmãos Amedeo e Ofelia Pegoraro herdaram um
velho condomínio no centro de Roma, no qual habitam e do qual tiram o seu
sustento, cobrando as magras rendas dos decrépitos apartamentos. Depois de
receberem uma atraente oferta financeira pela venda do edifício, com a condição
de que esteja livre de pessoas e coisas, tentam convencer, por todos os meios à
disposição, os inquilinos a deixarem os seus apartamentos e mudarem-se para
outro lugar. “Voyage of the Damned” (1976), real. Stuart Rosenberg, c/
Faye Dunaway, Oskar Werner, Lee Grant … sob o título local “A viagem dos
malditos” estreado quinta-feira, 21 de julho de 1983 no Império. “Baseado em
eventos reais, este filme conta a história da viagem do MS St. Louis, em 1939,
que partiu de Hamburgo transportando 937 judeus da Alemanha, alegadamente, para
Havana, Cuba. Os passageiros, tendo visto e sofrido o crescente antissemitismo
na Alemanha, perceberam que esta poderia ser a sua única hipótese de escapar.” Factos: “embora este filme seja
baseado num facto real, o destino dos passageiros do MS St. Louis não é
complemente exato. Enquanto no filme, apenas dois passageiros são autorizados a
desembarcar em Cuba, na realidade 29 foram autorizados. Em cima disso, enquanto
o filme diz aos espetadores que no fim, mais de 600 dos 937 passageiros morreram
durante a guerra ou em campos de concentração, os historiadores estimam que a
maioria dos passageiros sobreviveram à guerra e aos campos, com cerca de 200
mortos e 700 sobreviventes.” “Mitchell” (1975), real. Andrew V. McLaglen, c/ Joe Don
Baker, Martin Balsam, John Saxon … sob o título local “Força de intervenção
antidroga” estreado quinta-feira, 21 de abril de 1983 no Politeama e no Cine
Portela. “Um advogado mafioso chamado Walter Deaney (John Saxon) mata um ladrão na sua
casa. Só um heterodoxo detetive chamado Mitchell (Joe Don Baker) acredita que
Deaney é culpado de algo mais que legítima defesa, mas o chefe Albert Pallin (Robert Phillips)
diz-lhe que Deaney é procurado por «por cada uma das leis no código» e,
portanto, é «propriedade do FBI». Para manter Mitchell afastado de Deaney, o
chefe ordena-lhe que vigie a casa de James Arthur Cummings (Martin Balsam), um
homem rico com ligações à mafia, cuja «grande cena» é importação e exportação
de mercadoria roubada. Inicialmente, Mitchell está-se nas tintas para Cummings
e concentra-se prioritariamente em Deaney. Mas interessa-se depois de Cummings
descobrir que Salvatore Mistretta (Morgan Paull), primo do mafioso seu
protetor, Tony Gallano (Harold J. Stone), está a trazer um carregamento de
heroína roubada do México sem o consentimento de Cummings.” “Carne bollente”, em inglês,
“The Rise of the Roman Empress” (1987), real. Riccardo Schicchi,
c/ Cicciolina, John Holmes, Tracey Adams … sob o título local “As loucuras da
deputada” estreado segunda-feira, 4 de janeiro de 1988 no Olímpia. “A pornodiva
conhecida mundialmente como Cicciolina debutou finalmente como deputada no
parlamento italiano. Uma mulher excitante que enfrenta a vida através do sexo.
Este vídeo é a consagração de Cicciolina como estrela da pornografia. A força e
poder sexual desta mulher só é comparável ao seu carisma político-porno, que
lhe permitiu colocar as suas carnudas e perfeitas nádegas num assento da Câmara
dos deputados. Por último lhe dizemos que a ardente e erótica Cicciolina já tem
aberta a urna para que veja esta obra-prima do erotismo.” “Cicciolina interpreta uma
artista condenada por obscenidade no seu espetáculo exótico. A sua sentença,
alternativa à cadeia, o advogado encontrou um buraco na lei, é fazer trabalho
comunitário, consistindo em visitas domiciliárias para ajudar pessoas com
problemas psicológicos, o filme termina na inevitável orgia.” [3]

___________________

[1] “Com base na premissa postulada por
Paul Ricoeur no primeiro volume de «Tempo e Narrativa», de acordo com a qual «a
narrativa atinge o seu pleno significado quando se torna uma condição da
existência temporal» (1994, p. 36), que, de modo genérico, tenta explicar o
domínio dos meios narrativos, assim como, no que consiste a sua essência
significativa – tendo aplicação em esferas distintas: cinematográfica ou
literária, por exemplo – é possível fazer uma aproximação com as aceções de Tarkovsky
a respeito da arte cinematográfica, pois, consoante o que o diretor manifesta
em «Esculpir o Tempo», o cinema possui o tempo como matéria-prima. Ou seja, um
filme é o produto da escolha, sequenciamento e união de diversos registros
temporais que dão forma e significado fílmicos a uma narrativa. Quer dizer, os
filmes de Tarkovsky exprimem uma rutura do cinema europeu, sobretudo o
soviético, com as tendências de imagem-ação do cinema americano no qual
principalmente a ação constrói a existência temporal da narrativa, gerando as suas
intrigas. De acordo com Deleuze, a mise-en-scène
e o tempo são os principais aliados de Tarkovsky nesse distanciamento; ele
ainda coloca que, ao encarar demasiadamente cedo «um conjunto de fenómenos:
amnésia, hipnose, alucinação, delírio, visões de moribundos e, sobretudo,
pesadelo e sonho», (Gilles Deleuze, «A
imagem-tempo» pdf, 2005,
p. 71), o cinema soviético aproximou-se de tendências de outros movimentos
europeus, tais como: futurismo, construtivismo, formalismo, expressionismo
alemão, surrealismo, etc., e viu nisso um meio de «atingir um mistério do
tempo, de unir a imagem, o pensamento e a câmara no interior de uma
‘subjetividade automática’, em oposição à conceção demasiado objetiva dos
americanos» (idem, ibid.).”

[2] Arseny Tarkovsky em “8
Ícones”. “O Verão
partiu / E nunca devia ter vindo. / Será quente o sol / Mas não pode ser só
isto. // Tudo veio para partir, / Nas minhas mãos tudo caiu, / Corola de cinco
pétalas, / Mas não pode ser só isto. // Nenhum mal se perdeu, / Nenhum bem foi
em vão, / À luz clara tudo arde / Mas não pode ser só isto. // Agarra-me a vida
/ Sob a sua asa intacto, / Sempre a sorte do meu lado, / Mas não pode ser só
isto. // Nem uma folha se consumiu / Nem uma vara quebrada... / Vidro límpido é
o dia, / Mas não pode ser só isto.”

[3] Cicciolina visitará várias vezes
Lisboa, um caldeirão de cultura, no qual todos querem cair para serem uns
Obélixes das artes, das ciências e palpites. “Ça va
être ta fête” (1960), real. Pierre Montazel, c/ Eddie
Constantine, Barbara Laage, Stefan Schnabel … sob o título local “Eddie em
Lisboa” estreado sexta-feira, 28 de abril de 1961 no Condes, “um rigoroso exclusivo
deste cinema e não será apresentado, em qualquer outro, antes de outubro”. “Eddie
Constantine interpreta o agente secreto John Larvis (ou John Lewis na versão em
inglês) que se desloca a Lisboa numa missão especial para encontrar Marc
Lemoine, um agente duplo desaparecido, que tem em sua posse informações
importantes, que lhe podem custar a sua vida. Em Lisboa, Larvis é ameaçado por
um gangue violento e envolve-se com uma jovem jornalista francesa, Michèle
Laurent, interpretada por Barbara Laage. O chefe dos Serviços Secretos acaba
por que lhe contar que Lemoine nunca existiu. Mas tal informação não significa
o fim da sua missão em Lisboa, pois é a partir daí que começam os seus
verdadeiros problemas.
Rodado em Lisboa, o filme tem cenas
gravadas no Aeroporto de Lisboa, no Hotel Ritz e nas Avenidas Novas, sendo um
dos figurantes o então jovem António Homem Cardoso, que se tornou um dos mais
famosos fotógrafos portugueses das últimas décadas.”

no aparelho de televisão

“Magazine Sete” (1980-81), programa de atualidades transmitido
aos domingos, pelas 17h00, na RTP 1. O episódio de 8 de fevereiro de 1981 continha
uma entrevista com António José Saraiva, pai do famoso autor, professor, jornalista,
arquiteto, José António Saraiva. Sobre ela escreveu Mário Castrim: “A outra
conversa foi com António José Saraiva, uma pessoa que se compraz em chafurdar
na confusão. Assim ficamos a saber, os dois acontecimentos que muito influíram
nele: maio de 68 e mais recentemente uma viagem à América «onde o capital
atingiu o seu máximo desenvolvimento, o capital é uma força cega, sem pátria,
sem projeto, sem pessoa, sem nada e no entanto, é surpreendente que tenha
produzido um país que entre todas as coisa é muito belo, Nova Iorque sobretudo
é belíssima com os seus maravilhosos arranha-céus, etc.» Mas para se ver o grau
de confusão que o pobre homem atingiu, repare-se no seguinte discurso que me
dispenso de comentar, pois seria desnecessária crueldade: «É muito difícil
prever a evolução da sociedade mercantilista. O que é certo é que não será a
evolução prevista por nenhum dos que fizeram previsões. O sistema mercantil é
criticado desde a Idade Média. O seu desaparecimento foi antevisto por várias
pessoas, foi enunciada a sua queda iminente por Marx há cento e trinta anos, ou
coisa que o valha e ele subsiste e não se vê qualquer alternativa. Não há
qualquer alternativa, quer dizer a sociedade mercantil é um processo automático
que só pode ser substituído por um processo voluntarista o qual processo não
consegue comandar a realidade. Há coisas para o que o homem não está preparado.
O próprio homem não é o que ele pensa que é nem o que ele deve ser. O próprio
homem funciona como um boneco de um filme, independentemente dele e obedece a
leis que nós não conhecemos realmente. A sociedade mercantil tal como está não
pode subsistir, mas não há alternativa para ela».” [1]
“La famillie Vialhe” (1984), minissérie francesa
baseada nos dois primeiros livros, “Des grives aux loups” e “Les palombes ne
passeront plus”, de uma saga regionalista de Claude Michelet, c/ Maurice
Barrier, Suzanne Carra, Bruno Devoldère … transmitida às quintas-feiras pelas
20h30, na RTP 2, de 3 de abril / 8 de maio de 1986. 1.º episódio: uma série
francesa de seis episódios baseada na obra de Claude Michelet que pretende
contar a história de uma aldeia de França de 1900, através, da história de uma
família nela residente, a família Vialhe. Saint-Libéral-sur-Diamond, a pequena
aldeia, é então uma terra que parecia parada. 1899. Véspera de Natal. Dois
miúdos, Pierre-Edouard Vialhe e Léon Dupeuch colocam armadilhas nos campos
próximos da pequena aldeia de Saint-Libéral. Dias depois, a mãe de Léon dá à
luz a pequena Mathilde. É o primeiro de janeiro de 1990. 2.º episódio: verão de
1909. Pierre volta do serviço militar, recusa-se a aceitar a tirania do pai e,
sai de casa. A vítima passa a ser a filha mais nova, Berthe. Verão de 1944.
Assassínio de Jaurès, mobilização geral, a guerra. A povoação adapta-se às
dificuldades e Berthe que, entretanto, atinge a maioridade, foge de casa.
Jean-Edouard e a mulher ficam sozinhos na quinta. 3.º episódio: finalmente, a
guerra termina. Mathilde Dupeuch e Pierre-Edouard Vialhe casam-se contra
vontade do pai. A morte repentina da mãe, Marguerite Vialhe, reúne por alguns
dias os três filhos junto do pai. 4.º episódio: 1930. Os tempos mudam em
Saint-Libéral: surge um outro comboio, é instalada a eletricidade e aparecem
novas e mais modernas máquinas agrícolas. Léon Dupeuch, agora presidente da Câmara,
faz um bom casamento. Para os agricultores os tempos são cada vez mais
difíceis. 5.º episódio: quando começa a guerra são muitos os refugiados que
chegam a Saint-Libéral e cedo se começa a fazer sentir o rigor da ocupação.
Todas as noites, os Vialhe, incluindo Louise que, entretanto, viera para junto da
família, se reúne ansiosa à volta da telefonia para ouvir as notícias. 6.º
episódio: no verão de 1945, Jacques chega a Saint-Libéral depois de ter passado
quatro anos numa quinta na Alemanha como prisioneiro de guerra. A tensão entre
ele e o pai é grande: acha os métodos agrícolas utilizados pelo pai muito
antiquados e engravida uma rapariga. Entretanto, Berthe que fugira de um campo
de concentração vai retomando aos poucos o gosto pela vida. Paul é morto numa emboscada
na guerra da Argélia. “Cristo si è fermato a Eboli” (1979), real. Francesco Rosi, c/ Gian Maria Volontè,
Paolo Bonacelli, Alain Cuny … minissérie italiana em quatro episódios transmitida
aos sábados pelas 22h00, na RTP 2, de 22 de março / 12 de abril de 1986. “Carlo
Levi (Gian Maria Volontè), intelectual antifascista, foi condenado a três anos
de prisão na sua cidade, Turim, em 1935, é forçado a retirar-se para Aliano,
uma aldeia remota na Lucânia. Aqui o escritor tenta entrar nos mecanismos que
controlam a sociedade campesina e perceber a miséria que a aflige, não só
económica, mas também cultural. Encontra, de facto, uma sociedade dominada
ainda pela superstição e tradições pagãs, onde a burguesia é dona tendo em
cheque a gente pobre. Licenciado em medicina mas sem nunca ter exercido a
profissão médica, Levi coloca-se à disposição da população mais pobre e conquista
a sua confiança, tornando-se seu médico.” “Der Zauberberg” (1982),
real.
Hans W. Geissendörfer, c/ Werner Eichhorn, Rod Steiger, Marie-France Pisier … adaptação
alemã da novela de Thomas Mann, sob o título local “A montanha mágica”
transmitida às quintas-feiras pelas 22h55, na RTP 1, de 26 de setembro
/ 24 de outubro de 1985. 1.º episódio: Hans Castorp, de 23 anos, vai visitar o
seu primo Joachim Ziemßen que se encontra internado num conhecido sanatório em
Davos. Hans planeava ficar junto do primo durante três semanas, acaba por se
deixar lá ficar. Para sua grande surpresa acabou por encontrar um grupo de
filósofos, jogadores e sonhadores. E quase sem dar por isso, Hans penetra na
vida dessa sociedade decadente. 3.º episódio: o fim de uma sociedade que conduz
a um descontrolo cada vez maior e a crescentes excessos parece inevitável. 4.º
episódio: Hans Castorp vê-se cada vez mais envolvido na atmosfera que se vive
no sanatório e a sua ligação com Clawdia Chauchat é agora uma realidade. Mas,
um dia Clawdia desaparece sem deixar qualquer rasto. Castorp está convencido
que ela há de voltar, pois essa é a ordem natural de quem deixa a Montanha
Mágica. Dois outros doentes tentam cativar Castorp para o seu grupo:
Settembrini e Naptha. Só que Castorp fica um pouco baralhado com as suas
personalidades tão diferentes. Entretanto, Joachim Ziemßen, o primo de Hans,
resolve ir-se embora do sanatório, sem ainda estar curado. Decorrido um ano ele
acaba por voltar, mas agora são nulas as suas esperanças de vida. Hans Castorp,
que passou sete anos da sua vida num sanatório, acaba por se ver envolvido pelo
ambiente que o rodeia. Entretanto, eclode a Primeira Guerra Mundial. “Call to Glory”
(1984-1985), real. Ronald M. Cohen, c/ Craig T. Nelson, Cindy Pickett,
Elisabeth Shue … série americana sob o título local “Horizontes de glória”
transmitida às quintas-feiras pelas 19h55, na RTP 2, de 24 de outubro de 1985 / 9 de janeiro
de 1986. 1.º episódio: é uma série dramática sobre a Força Aérea
norte-americana que se desenrola no período conturbado da década de sessenta.
Anunciada como «uma série espetacular, diferente de tudo o que a televisão tem
apresentado até agora», a série tem a caraterística singular de apresentar em
contraponto o drama das famílias dos pilotos que, em terra, apenas podem
aguardar, com esperança, o seu regresso. O primeiro episódio introduz Raynor
Sarnac, coronel da Força Aérea e principal personagem da série, durante uma
missão secreta a Cuba, para obter provas fotográficas da instalação de uma base
soviética de mísseis nucleares apenas a 90 milhas da costa dos EUA. 2.º
episódio: o coronel Raynor Sarnac tem que optar por uma oferta lucrativa de uma
empresa privada ou por um lugar importante na Força Aérea, na Califórnia. 3.º
episódio: o coronel Raynor Sarnac é informado que um ex-piloto da Força Aérea
está a vender uma história ultrassecreta a uma revista e recebe ordens
superiores para o deter. Entretanto, sua filha Jackie tenta impedir o filho de
um dos maiores amigos do pai de fugir num barco de pesca prestes a partir para
o Alasca. 4.º episódio: o coronel Raynor Sarnac aproveita os poucos momentos de
convívio familiar para saber dos últimos projetos dos filhos e Wesley convida-o
mesmo para um musical que vai ter na escola. Sarnac que promete estar presente
no dia da festa vai ver de repente os seus compromissos alterados quando o
general Connors o destaca para uma missão secreta em Manila. 5.º episódio: um
dos filhos do coronel Sarnac chega a casa ferido no rosto em virtude de,
juntamente com um amigo também filho de um oficial da Força Aérea, ter lutado
com uns jovens racistas. E logo toda a família Sarnac vai ficar envolvida na
questão. 6.º episódio: a pedido do presidente Kennedy, o coronel Sarnac vai a
Saigão em missão secreta, embora oficialmente o motivo da sua visita se
relacione com o apoio prestado pela Força Aérea americana, ele vai, na
realidade, fazer o ponto da situação política vietnamita e o conflito entre
budistas de católicos. 7.º episódio: o coronel Raynor vê-se colocado numa
situação embaraçosa quando tem de ir dar o seu testemunho sobre a segurança de
um novo avião desenhado por um dos seus maiores amigos. 8.º episódio: o coronel
Raynor Sarnac e o oficial japonês Sakomoto são forçados a saltar de paraquedas
quando durante os treinos o avião tem uma grande avaria. Em plena montanha e
num isolamento total, ambos lutam pela sua sobrevivência. Mas, apesar das
diferenças culturais e pessoais, Sarnac apercebe-se de que afinal têm muito em
comum. 9.º episódio: o coronel Sarnac irá ajudar um colega e amigo num transe
difícil que lhe poderá custar uma promoção na carreira. 10.º episódio: uma
repórter curiosa é encarregada de escrever um artigo sobre a vida de um piloto
de experiências e o coronel Sarnac é escolhido para o efeito. A jornalista
começa a querer entrar em área exclusivamente da competência militar e o
coronel Sarnac sente-se pressionado. 11. Raynor e Vanessa ajudam um casal amigo
a ultrapassar uma crise que eles próprios já haviam enfrentado e que ameaçou
destruir o seu casamento e que é causado pelas exigências que advêm da
profissão desempenhada pelos oficiais da Força Aérea. 12.º episódio: um dos
melhores pilotos da base morre, devido a um erro técnico, ao fazer um teste em
que consegue bater um recorde de altitude. Obrigado a substitui-lo na
experiência seguinte, por ser seu chefe, o coronel Sarnac vai enfrentar um
pesado temporal.

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[1] Portugal,
ávido povo consumidor de cultura: “Arden
Anderson and Norma Murphy” (1972), de John de Andrea na coleção Berardo. Do
mesmo John de Andrea, “Joan” (1987), no
Minneapolis Institute of Arts.

na aparelhagem stereo

Na família,
a doce esposa, insubstituível metade da célula-base das sociedades eretas. “Foi
durante um jantar de beneficência que Kate Middleton confessou que não tem
muito jeito para cozinhar. «O William tem de aguentar os meus cozinhados»,
afirmou a duquesa de Cambridge aos chefs.
Segundo a revista People, o príncipe entrou na brincadeira e disse: «É
por isso que estou tão magro». O jantar de gala, que decorreu em Houghton Hall, foi
confecionado pelos «melhores chefs do
mundo», Galton Blackiston, Sat Bains, Claude Bosi, Tom Kerridge e Mark Edwards.” [1]

“A cantora
Daniela Mercury esteve presente com a esposa, Malu Verçosa, na festa do 27.°
Prémio da Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em
entrevista ao site Ego, durante a
passagem pela passadeira vermelha, Daniela revelou que deseja aumentar a
família. «A vontade é grande. Não descarto isso, de engravidar ou da Malu
engravidar por nós. A imprensa não me viu grávida, né? Mas cá entre nós, é mais
fácil a Malu engravidar. Aliás, é uma boa ameaça. Se ela não engravidar, então
quem vai engravidar sou eu», brincou a cantora. Bem-humorada, Malu entrou na
brincadeira. «Ela me ameaça, se você não engravidar eu engravido. Quer
muito ter uma filha ou filho que venha da minha barriga. Ela é louca, né?», disse.” [2]

Uma das
principais funções de uma esposa é ir ao frigorífico buscar uma cerveja bem fresquinha,
e se for japonesa, a cervejola, ainda melhor. Kirin Nodogoshi: “O primeiro gole
é muito refrescante, saboroso todavia bastante light. É um pouco «verde» e tem um leve sabor frutado com
insinuações de casca de limão, também. Termina com um ligeiro amargor e travo
imaculado.” Pub.: “The North Wind and the Sun” (2016),
real. Minoru
Mamoru Shinsuke (實守 信介), c/ Konno Anzuminami (今野杏南), Katayama MoeYoshi (片山萌美) … para a cerveja
Kirin Nodogoshi , na campanha publicitária: “Kirin estudantes
Nodogoshi ensolarado Nodogoshi (KIRIN のどごし生 晴れのどごし)”. Deus Google traduz: “Kirin Brewery Co.,
Ltd. (Presidente Isozaki IsaoNori) tem, desde o seu lançamento em abril de
2005, dispõe de um enorme volume de vendas no novo mercado género renovada
«Kirin Nodogoshi », sequencialmente desde o início de fevereiro de
2013, bens manufaturados switch. Por mais acima da «esperteza» e «Nodogoshi»
das vendas totais de seu lançamento até dezembro do ano passado superou 120
bilhões de cigarros (latas de 350ml equivalente) «Kirin Nodogoshi »,
a nova expansão está prevista vamos continuar a conduzir fortemente o mercado
de género.”

A família
portuguesa encontra-se em frente da
televisão. Futebol e cerveja. Golo! O maior cronista português, Ricardo
Quaresma, sumariza: “Feliz pelo golo: sim, mas foi um país inteiro que
marcou, eu fui apenas o mensageiro da vossa vontade. Agora é
continuar, com humildade, trabalho, respeito pelo adversário, concentração e
muita vontade de vencer. Acredito que Deus continua a caminhar comigo. Obrigado
pelo vosso carinho.”

Crónicas nos
anos 80:

█ “Dancing on Plato’s Tomb” (1988) ♫ “Marginal” (1991), p/
Universal Congress Of. “É um agrupamento
americano de jazz, de Los Angeles,
formado em 1986. O projeto foi iniciado por Joe Balza, e continuou a
desenvolver a sua fusão de free jazz e punk rock após a sua
banda anterior, os Saccharine Trust, ter feito
uma pausa. A abordagem dos Congress ao free
jazz valeu-lhes comparações com Ornette Coleman, embora o
grupo aponte Albert
Ayler como sua fonte primária de inspiração.” █ “Holy Joe” (1980) ♫ “Eternally Yours” (1984),
p/ Laughing Clowns. “Formados em Sydney em abril
de 1979 como um grupo de rock, soul, jazz avant-garde por Bob
Farrell no saxofone, Ed Kuepper na guitarra e voz (ex-Kid Galahad and the Eternals,
The Saints), Ben
Wallace-Crabbe no baixo e Jeffrey Wegener na bateria (ex-The Saints, The Last Words, Young Charlatans). No
final de 1978, Kuepper saiu da banda punk
The Saints, em Londres – para onde eles se tinham mudado – devido a uma
discussão com o colega Chris Bailey quanto à direção futura. Kuepper preferia
«material menos comercial, mais intelectual» como no terceiro álbum da banda, «Prehistoric Sounds»
(outubro 1978). Quando Kuepper regressou à Austrália em 1978, ponderou
reformar-se da indústria musical, no entanto, retomou contacto com dois amigos
da velha guarda, Farrell e Wegener, numa festa, e eles persuadiram-no a formar
uma nova banda. Tanto Farrell como Wegener tinham ligações aos Saints: Wegener
foi um dos primeiros membros em 1975, e Farrell foi um dos Flat Top Four, que
fizeram coros em «Kissin’
Cousins» para o álbum de estreia «(I'm) Stranded» (fevereiro 1977). Ben
Wallace-Crabbe tinha tocado numa banda de Melbourne, The Love, com Wegener, e
completou a formação inicial. Um single
sugerido pelos The Saints, «Laughing Clowns» / «On
the Waterfront», para a EG Records não foi gravado por causa das divergências
de opinião entre Kuepper e Bailey. Cada faixa apareceu noutro lugar: «On the
Waterfront» no primeiro EP dos Saints pós-Kuepper, «Paralytic Tonight, Dublin
Tomorrow» (março 1980) e «Laughing Clowns» forneceu o nome da nova banda de
Kuepper e um miniálbum homónimo de seis faixas em maio daquele ano. Os Laughing
Clowns estrearam-se em agosto de 1979, enfrentando imediatamente a confusão e
antipatia dos fãs dos Saints que esperavam um som punk mais abrasivo. O musicólogo australiano Ian McFarlane observou
que «parte do problema era que o som da banda desafiava a categorização. Tendo
de superar rótulos tão ridículos como jazz-punk
… era variado, porém melancólico, por vezes melódico e dissonante. Variava do rock e soul ao jazz avant-garde».
O álbum «Prehistoric Sounds» só teve edição local pela EMI em 1979, assim, os Laughing
Clowns tocavam várias faixas desse disco nos seus primeiros concertos –
incluindo «The Prisoner» e «Swing for the Crime». Mais tarde nesse ano, o primo
de Ben e antigo guitarrista da versão de Melbourne dos Crime & the City
Solution, Dan Wallace-Crabbe (também ex-The Love), juntou-se ao grupo no
piano.”

█ “Gimme
Gimme Good Lovin’” (1984), p/ Helix. “Em 1984, a banda canadiana de hair metal,
Helix, viu-se em Hollywood, aos pinotes, no meio de uma filmagem, com algumas roliças
bombardas de cabelo volumoso da década de 80, para um Miss Rock Fantasy 1984,
uma paródia de um concurso de beleza, enquanto fazia playback da sua garrida versão de «Gimme Gimme Good Lovin’»,
dos Crazy Elephant – filmaram duas versões, incluindo uma
para adultos, estrelando uma Traci
Lords
menor de idade – mas quando eles apareceram no Night Flight, pouco
depois de o videoclip começar a ser transmitido no programa, o vocalista Brian
Vollumer lastimou ter feito um vídeo tão sexista. Vollumer diz: «O vídeo «Gimme
Gimme Good Lovin’» que basicamente foi proibido por causa do seu sexismo… uh,
olhando para trás, em retrospetiva, provavelmente era sexista e estamos
tratando de distanciarmo-nos disso. Estamos a aprender com os nossos erros.
Provavelmente, o vídeo fez correr tanta tinta, porque nunca foi transmitido.
Estavam sempre a perguntar-me nas entrevistas sobre o vídeo, então, nesse
aspeto, foi dinheiro bem gasto».”
█ “Queen of the Night”
(1985) ♫ “Touch My Soul” (1986), p/
Camomilla. Ítalo-disco produzido por Luigi
Piergiovanni. Uma das cantoras é Tiziana Rivale. █ “Love In Siberia” (1986),
p/ Laban. “Foi um duo de synthpop dos anos 80 composto por Lecia Jønsson e Ivan Pedersen.
Ambos nascidos na Dinamarca, cantavam originalmente em dinamarquês antes de se deslocalizarem
para edições na língua inglesa. Tiveram limitado sucesso internacional com o lançamento
de dois álbuns, bem como os singles
«Love In Siberia» e «Caught
By Surprise». O duo formou-se em 1982, e nesse ano gravou a canção «Hvor Ska' Vi Sove I Nat?»
(Where Shall We Sleep Tonight?), uma versão de «Sarà perché ti amo», de
Ricchi e Poveri. Um agente chamado Cai Leitner ouviu a canção e, dois dias
depois, era lançada como single. Eles
gravaram outra versão nesse ano chamada «Jeg Kan Li’ Dig Alligevel»
(I Love You Anyway), originalmente cantado pelo grupo pop alemão Hot Shot como «Angel From Paradise». Em
1986 editaram «Love In Siberia» que se manteve quatro semanas no Billboard Hot
100, alcançando o n.º 88.”

█ “Political
Woman” (1987) p/ Cicciolina. Cantora e atriz
com forte implantação em Portugal, conquistada pelas suas múltiplas visitas,
sendo até possível comer Linguado
à Cicciolina no The Lingerie Restaurant, em Albufeira. “O conceito de
refeições servidas em trajes menores, já testado no norte do país, chega agora
ao Algarve. O restaurante, com capacidade para 90 pessoas, oferece sabores
afrodisíacos, servidos por empregados e empregadas de mesa praticamente despidos.
«É um novo conceito de restauração que aposta num ambiente descontraído,
quase familiar, mas muito divertido», garante Luís de Almeida, um dos
proprietários. «Para além disso, temos refeições de qualidade, porque se
queremos que voltem, é importante que comam bem», acrescenta. (…). «Nós
tentámos adaptar o pessoal ao ambiente e pôr à mesa pessoas já com alguma
experiência, mas não é tarefa fácil chegar ao pé de alguém que já trabalha como
empregado de mesa e dizer-lhe para se despir. Até para arranjar bom pessoal
para um restaurante normal já é difícil, quanto mais para aqui!», confessa Luís
de Almeida, do The Lingerie Restaurant, em Albufeira.”

Sábado,
5 de dezembro de 2015 “Cicciolina está de regresso a Portugal. A antiga estrela
pornográfica, de 64 anos, vai estar este sábado noite, pelas 22h00, no Santiago
Alquimista, em Lisboa, para apimentar a festa Soft Porn. «As pessoas têm prazer
a ir a estas festas e em conhecerem-me», afirma ao Correio da Manhã Cicciolina,
que diz ainda ser uma estrela mundial. «Eu não desapareci. Sou um ícone
mundial. Trabalho em todo o mundo e as pessoas conhecem-me», acrescenta a
atriz, que foi estrela da pornografia nos anos 70 e 80 e também deputada em
Itália. Cicciolina promete diversão, mas não revela o que vai fazer na festa topless: «É ultra secreto».”, em Correio
da Manhã 05-12-2015. “Soft Porn. Eles disseram ao que iam e o nome da festa
também não enganava ninguém. Com todo o staff,
e quem mais quisesse, em topless.
Assim mesmo. Tocaram os DJ DMA, Mad Mac e PALMADA, Cicciolina também apareceu
e, claro, «voltou a fazer das suas» - como dizia um pivô de telejornal dos anos
80, num vídeo que por estes dias se tornou viral de quando Ilona Staller, então
apelidada de pornodeputada, fez uma visita à Assembleia da República e,
impedida de entrar na sala, subiu à bancada diplomática e mostrou os seus seios
aos deputados. No sábado passado, no Santiago Alquimista, não foi muito
diferente. Faltaram só os deputados [3]. O
primeiro Soft Porn no ano passado, com Ana
Malhoa depois de várias festas topless no Purex.”, na revista Tabu no
jornal Sol n.º 485. “A entrada custa 10 €. Se preferir comprar no recinto,
passa para 12 €.”
“Na festa, marcaram presença algumas figuras públicas, como Maya Booth, Tiago
Froufe, Luís Simões, Manuel Moreira e ainda o casal Paula Lobo Antunes e Jorge
Corrula.”

Sexta-feira,
13 de novembro de 1987 “a artista porno italiana Cicciolina, também
deputada pelo Partido Radical, atua no dia 19 no Coliseu dos Recreios de Lisboa
num show erótico de mais de uma hora [4]. (…). A
artista-deputada vem acompanhada por algumas cobras, com as quais vai
contracenar, e uma equipa de técnicos de som e de iluminação para montar o
espetáculo numa arena, disse fonte do Tal & Qual. Ilona Staller, de nome
artístico Cicciolina esteve em Lisboa no dia 8 de outubro como deputada do
Partido Radical italiano, juntamente com o líder daquele agrupamento político,
Marco Panella. (…). No mês passado, em Lisboa, vários repórteres fotográficos e
jornalistas aguardaram em vão que a deputada mostrasse pelo menos um pouco do
seios, mas tanto ela como Marco Panella salientaram encontrar-se em Portugal
apenas para promover o futuro Partido Radical Europeu. Desta vez, segundo a
mesma fonte do semanário Tal & Qual, «não há Panella que a segure, ela vai
mesmo mostrar tudo». Na redação, o semanário tem recebido «várias chamadas
telefónicas de feministas que protestam contra tal tipo de espetáculo»,
referiu. Outros telefonemas são de pessoas que consideram a atuação de
Cicciolina um «atentado à moral pública», adiantou. Na terça-feira, um homem
telefonou para o jornal tentando saber em que dia chega a artista e em que
hotel fica hospedada. «Disse que tinha uns assuntos a tratar com ela», explicou
a mesma fonte. Cicciolina concede dia 18 uma conferência de imprensa numa boîte
de Lisboa, onde vai «mostrar o que lhe apetecer», conclui a mesma fonte do
jornal patrocinador da sua vinda a Portugal.” [5]

Quinta-feira,
15 de setembro de 1988 “Cicciolina voltou a suplantar Ilona Staller. Na
verdade, a deputada italiana foi ao parlamento norueguês mas não logrou ser
recebida por nenhum dos seus pares de Oslo. Então, a atriz fez-se turista e
exibiu um dos seus símbolos preferidos: o seio esquerdo. Mas fê-lo frente a um
quadro que representa os fundadores da democracia norueguesa. O presidente do
parlamento considerou que se trata de uma prova de mau gosto. Um funcionário
pôs Cicciolina fora do parlamento norueguês o que mereceu o elogio do seu
presidente.”

____________________

[1] Kate Middleton corporifica a independente mulher moderna. Larisa, 1,73 m, 51 kg, 87-60-89, sapatos 37,
nascida a 22 de maio de 1983 em Volzhsky, Rússia. “Larisa é uma rapariga muito
interessante, ela tem um aspeto muito particular. Nascida em Volzhsky sempre
quis viver em Volgograd e ser muito famosa entre homens poderosos. Quando
Larisa veio ter com Galitsin era muito triste e nervosa – ela estava casada.
Tinha relações difíceis com o marido. Ele era um tipo muito esquisito e o matrimónio
não durou muito. Agora ela vive com a irmã mais velha. A sua irmã é realmente
bonita e costumava ser uma das modelos mais lindas de Grig. Larisa admira-a e
sempre acalentou um sonho: fazer sexo com a irmã, mas sempre foi interdito. A
única coisa que Larisa pode fazer é partilhar um homem com a sua irmã, terem
relações sexuais os três juntos. Ajuda Larisa a estar mais perto da sua
deslumbrante irmã e dá-lhe oportunidade de tocar-lhe o corpo perfeito, a pele.
Então, Larisa é lésbica no seu íntimo, e não gosta nada de homens. Ela tem
muitos amantes mas usa-os como brinquedos, eles sustentam-na e dão-lhe
presentes. Na verdade, Larisa gosta de mulheres, da sua irmã e especialmente da
Valentina.
Ela gosta de posar com Valentina. Larisa sempre pediu ao Grig Galitsin para
tirar fotos dela com Valentina. E durante as sessões sempre se atirou à
Valentina.” Entrevista: P: “Quais
pensas que são os teus melhores atributos?”, Larisa: “Os olhos.” P: “Cor
favorita?”, Larisa: “Amarelo.” P: “Programas de TV favoritos, lista de nomes”,
Larisa: “Okna” P: “Livros
favoritos, lista de títulos”, Larisa: “Lolita por Nabokov.” P: “Filmes favoritos,
lista de títulos”, Larisa: “Кавказская пленница (2014), What Women Want (2000) ” P:
“Revistas favoritas, lista de nomes”, Larisa: “Cosmopolitan.” P: “Música favorita,
lista de títulos”, Larisa: “Madonna, Elton John.” P: “Altura favorita do dia,
porquê?”, Larisa: “À tardinha, posso encontrar-me com os meus amigos e
divertir-me.” P: “Qual é a tua formação? Curso?”, Larisa: “Estudante, de
crédito e finanças.” P: “Falas outras línguas? Se assim for, diz-me algo nessa
língua”, Larisa: “Inglês.”, P: “Lugar favorito para viajar, relaxar ou visitar”,
Larisa: “O Mar Negro.” P: “Quais foram os locais que visitaste?”, Larisa:
“Visitei bastantes cidades russas.” P: “Qual é o teu feriado preferido? (Natal,
dia dos namorados, dia de ação de graças, etc.)”, Larisa: “O dia de aniversário.”
P: “Comida favorita, lanches, doces”, Larisa: “Peixe, fruta e azeitonas.” P:
“Qual é o teu carro de sonho?”, Larisa: “Um carro desportivo branco.” P: “Qual
é o teu emprego de sonho?”, Larisa: “Dona de loja de perfumes.” P: “Descreve o
teu lugar favorito para fazer compras”, Larisa: “Lojas de comida e boutiques.” P:
“Assistes a desporto, se sim, quais são as tuas equipas favoritas?”, Larisa:
“Adoro patinagem artística.” P: Praticas algum desporto ou outras atividades?
Explica”, Larisa: “No verão jogo voleibol. Também jogo bowling.” P: “Quais são os teus passatempos?”, Larisa: “Coleciono
estatuetas.” P: “Preferência de bebidas, alcoólicas e não alcoólicas”, Larisa:
“Sumo de ananás e cocktails de Baileys.” P: “Ocupação?”, Larisa: “Contabilista.”
P: “Tens algum animal de estimação?”, Larisa: “Gato siberiano Lyalya.” P: “Estado
civil?”, Larisa: “Solteira.” P: “Nada se mete entre mim e…”, Larisa: “Entre mim
e a minha irmã.” P: “O meu pior hábito é…”, Larisa: “Chego sempre atrasada.” P:
“A única coisa que não suporto é…”, Larisa: “Quando os meus amigos me traem.”
P: “Que animal melhor descreve a tua personalidade e porquê?”, Larisa: “O gato,
porque por um lado sou simpática e bonita, mas ao mesmo tempo tenho um caráter
perverso.” P: “As pessoas que me conheceram no liceu pensavam que eu era…”,
Larisa: “Rapariga tímida e recatada.” P: “Como é que descontrais ou passas o
teu tempo livre?”, Larisa: “P: “Relaxo em casa, vou ao ginásio ou discotecas.
No verão gosto de ir à praia.” P: “Qual foi o momento mais feliz da tua vida?”,
Larisa: “Houve muitos deles e é-me difícil escolher apenas um.” P: “Quais são as
tuas esperanças e sonhos”, Larisa: “Quero ser feliz e alcançar tudo por mim
própria.” P: “O melhor conselho que já me deram foi…”, Larisa: “Perdoar aqueles
que me ofenderam, mas nunca mais encontrar-me com eles.” P: “O pior conselho
que me deram…”, Larisa: “Nunca me preocupar comigo mas com os outros.” P: “Que
tipo de cuecas usas, se algumas”, Larisa: “Biquíni, a maior parte do tempo.” P:
“Homem ou mulher ideal”, Larisa: “Ainda não conheci uma pessoa ideal” P: “O
tamanho importa? Qual é a tua medida ideal?”, Larisa: “O tamanho importa! Mas
depende da pessoa.” P: “Descreve a tua primeira vez (pormenores, local, pensamentos,
satisfação, etc.)”, Larisa: “Aconteceu com o meu amado. Ele fez tudo
gentilmente e não me magoou. Foi na sua casa no meu aniversário. Mas não tive
prazer nenhum.” P: “O que te excita?”, Larisa: “Uma pessoa deve irradiar energia
sexual positiva.” P: “O que te desliga?”, Larisa: “Teimosia, grosseria,
desarrumação.” P: “O que te faz sentir mais desejada?”, Larisa: “Quando sinto
que a pessoa precisa de mim.” P: “Melhor maneira de te dar um orgasmo”, Larisa:
“Apenas ser meigo.” P: “Qual foi o teu melhor ou mais prazeroso orgasmo?”,
Larisa: “As suas doces palavras de amor e a paixão que ele sentiu fez-me vir
maravilhosamente.” P: “Masturbas-te? Com que frequência? (dedo, brinquedos ou
ambos)”, Larisa: “Às vezes acontece no banho com a ajuda do chuveiro.” P: “Qual
foi o teu primeiro fetiche, se algum?”, Larisa: “Com o meu urso de peluche.” P:
“Qual é o lugar mais exótico ou invulgar em que fizeste sexo? Ou onde gostarias
que fosse?”, Larisa: “Na natureza e numa piscina.” P: “Posição sexual favorita,
porquê?”, Larisa: “O 69 e quando ele fica por baixo, gosto de olhar nos seus olhos.”
P: “Descreve um dia típico da tua vida”, Larisa: “Nos fins de semana levanto-me
às 10h00, tomo o pequeno almoço e, ou vou para o ginásio, ou vou fazer compras.
Se estou a trabalhar, levanto-me às 7h30. Ao anoitecer, descanso em casa ou
nalgum local com amigos.” P: “Tens alguma curiosidade sexual que gostasses de
explorar ou tivesses explorado? Por favor, descreve com pormenores (rapariga /
rapariga, voyeurismo, etc.)”, Larisa: “Às vezes gosto de raparigas, mas não
mais do que uma mera curiosidade.” P: “Descreve em detalhe a tua fantasia
sexual favorita”, Larisa: “Um agradável serão romântico com o meu namorado.
Escondemo-nos bem longe onde ninguém nos possa encontrar. Apenas desfrutamos um
do outro e não nos limitamos de forma alguma.” P: “Conta-nos a tua ideia de um
encontro de fantasia”, Larisa: “Algures num grande chalé com uma pessoa que
precisasse de mim. Há um jantar romântico com velas.” P: “Se pudesses ser
fotografada de qualquer forma, em qualquer cenário, qual escolhias? O que te
faria sentir mais desejada, mais sensual?), Larisa: “Gostaria de ser
fotografada num descapotável branco com a minha irmã.” Sites: {jeuneart}
{The Nude} {Which Pornstar}. Obra
fotográfica: {fotos1}.

[2] “A História da urbanização 3700 a.C.
– 2000 d.C.”

[3] Quinta-feira, 19 de novembro de 1987. “Cicciolina
foi hoje à tarde ao parlamento onde desnudou os seios durante alguns segundos,
os suficientes para gerar o escândalo de que todos falam. Mas se nas bancadas
do CDS e do PSD os protestos choveram, nas outras já os sorrisos foram comuns.
Dizia um deputado comunista momentos depois, nos corredores de S. Bento: «Para
a próxima vez avisem-me, porque como a minha bancada está por baixo da galeria
dos diplomatas não consegui ver nada». Natália Correia (PRD), a quem a
pornodeputada italiana abraçou efusivamente nos Passos Perdidos, terá mesmo
afirmado que «se existe em Itália um Papa porque não há de existir uma
Cicciolina?» Aconteceu por volta das 17 horas e, à noite, no espetáculo ao
Coliseu, Cicciolina anunciava: «Estive no vosso parlamento, para saber como os
deputados se comportavam diante de Cicciolina. Os vossos democratas-cristãos
ficaram muito escandalizados». De facto, a exibição da pornodeputada provocou
fortes protestos do deputado do CDS Nogueira de Brito*,
que afirmou que tal espetáculo ofendia a dignidade da Assembleia da República.
A deputada e atriz porno chegou de surpresa ao palácio de S. Bento e procurou
entrar na sala de sessões, o que não lhe foi permitido pelos funcionários de
serviço, que a conduziram, após autorização dos líderes dos grupos
parlamentares, à galeria reservada ao corpo diplomático. Um jornalista que a acompanhava
terá afirmado que Ilona Staller se deslocava à Assembleia da República a
convite de Helena Roseta, deputada independente pelo PS, e de Luís Martins,
eleito pelo PSD. O facto foi desmentido pela primeira, imediatamente após o
intervalo regimental que pôs cobro ao incidente, afirmando que o assunto tinha,
de facto, sido falado na Comissão da Condição Feminina da Assembleia da
República a semana passada e que a proposta para tal partira de Luís Martins.
No entanto, ela não vingou por oposição da maioria da Comissão, incluindo da
própria Helena Roseta. Natália Correia havia sido favorável. (…). O presidente da
Assembleia da República, Vítor Crespo, condenou o procedimento da visitante e
congratulou-se pelo facto de a Comissão Parlamentar da Condição Feminina da
Assembleia não estar envolvida na questão. Vítor Crespo disse que o
procedimento de Cicciolina «não é próprio nem adequado à seriedade dos nossos
propósitos, porque as instituições parlamentares estão ao serviço do bem-estar
e do progresso dos cidadãos, não aceitando envolvimento em quaisquer atos
de promoção pública». Referia-se ao espetáculo à noite, no Coliseu, e a verdade
é que Cicciolina
se fazia acompanhar, no parlamento, por uma equipa de fotógrafos e de televisão
já informada do que ia acontecer. Foi uma pedrada no marasmo da sessão, que
decorria árida e sonolentamente.” 

__

* Natália Correia cantou este emurchecido bracarense. “Estava
o Parlamento em tédio morno / Do Processo Penal a lei moendo / Quando carnal a
deputada porno/ Entra em S. Bento. Horror! Caso tremendo! // Leda à tribuna dos
solenes sobe / A lasciva onorevole Cicciolina / E seus pares saudando ali
descobre / O botão rosado da tetina. // Para que dos pais da Pátria o pudor
vença, / Do castro bracarense o verbo chispa: / «Cesse a sessão em nome da
decência / Antes que a Messalina mais se dispa.».”

[4] Quinta-feira, 19 de novembro de 1987, espetáculo de Cicciolina
no Coliseu dos Recreios, rua Portas de Santo Antão, n.º 96. “Surgiu no meio de
fumo, cantando as estrofes pacifistas de um conhecido tema de Sting, que apela
à concórdia entre os Estados Unidos e a União Soviética. E enquanto cantava,
segurando o microfone ao alto, o vestido rosa de Cicciolina descaia deixando
ver os seios mais famosos da Europa. Foi hoje no Coliseu, e a pornodiva ia
perguntando, a este e àquele elementos do público: «Conheces as posições do
amor? Queres ser um Cicciolino radical?» Ao longo do espetáculo, Cicciolina
desafiou alguns homens a entrarem na arena, do Coliseu, à volta da qual se
dispunham as cadeiras. Lá ir iam, apesar do susto**.
Depois, a deputada erótica deitava-se sobre eles, afagava-lhes a cara com os
seios e… Tentava abrir-lhes as braguilhas. Ora, aí é que elas
doeram, porque minha gente, os machos portugueses são muito tímidos.
Que não, que não, deixa-me ir embora. Pronto: a grande piada da noite estava
sugerida. As palmas, os assobios e as gargalhadas dependiam dos maiores avanços
ou das recusas que aconteciam. Havia quem afastasse a cara quando Cicciolina se
aproximava com os seus lábios vermelhos, e havia quem gostasse do aconchego dos
seus seios e lá escondesse a cara por longos momentos, ou esquecesse o que
fazia a mão. Mais gozado foi o rapazola que se gabava de preferir uma
determinada posição do Kamasutra. E Cicciolina não teve meias medidas: «Ai é?
Mostra lá». Deixou despojar-se, mas no momento da verdade, madonna mia, desmotivou-se. É mais a garganta que a verdade, olá se
é. Bilhetes caros, muitos casais de senhoras e senhores bem instalados na vida,
muitos jovens e caras conhecidas dos meios do teatro, da cultura e da política.
Tudo muito diferente dali do Bar
25***, e até o espetáculo, apresentado como hard, teve os seus laivos de suavidade.
(…). Cicciolina continua ainda a ser Ilona Staller, e enquanto se sentava ao
colo das suas vítimas das primeiras filas, vestida apenas com umas botas de
cano alto e um corpete que lhe deixava os seios em riste, fazia propaganda do
Partido Radical, que está a inscrever militantes portugueses com vista à
extensão do partido transnacional europeu no nosso país. O erotismo político,
ou a política erótica, é novidade e confunde os espíritos. Por isso, Luís
Mendão, secretário-geral da Associação Radical portuguesa, e um dos dirigentes
do Partido Radical de Itália, Andreani, distribuíram à entrada. Também eles botaram
faladura no espetáculo da Cicciolina. Menos divertidos, mas igualmente
silenciosos, foram os momentos em que a estrela porno usou os mais diversos
objetos, como correntes, chicote e sexos de vidro translucido para algumas
demonstrações das suas badaladas virtualidades. Mas mesmo isso não era para
valer, ficando-se pelas sugestões. Muito contida a Cicciolina. Nós preferimos a
parte em que Cicciolina desfez uma rosa em si própria. Ou cantou, em playback, «faz-se um bom vinho».”

__

** Um desses
aterrorizados seria José António Saraiva. “Ouve «Let It Be»,
come cozido à portuguesa e o seu filme é «Rocco e os seus irmãos», de Luchino
Visconti. Já pendurou na parede do gabinete um poster da Claudia
Schiffer. Quase fugiu do Coliseu dos Recreios quando
Cicciolina chamou alguém para o palco e desatou a despi-lo. Teve medo de ser o
próximo. Descende de uma família de homens. Quis perceber as mulheres em «As
Herdeiras de Adriano Gentil» (Oficina do Livro), um romance que circunda
personagens femininas. Na altura, em 2006, garantiu que teria sucesso
internacional. Não, senhor. Suspeita-se que, ao contrário do que disse, nunca
estará na calha da Academia Sueca. Um editor decepa-lhe as ilusões: «Mais
depressa os peixes tocam saxofone do que José António Saraiva vai, alguma vez,
receber o Nobel». A exposição incomoda-o, mas coloca-se a jeito. No raiar do
Sol saiu-lhe esta: «O projeto prevê que sejamos líderes em três anos. Mas eu espero
que sejamos em seis meses». As suas previsões falharam. O Sol viu céu nublado. Redigiu
crónicas que mostravam, como recorda fonte próxima, o seu lado pacóvio:
comprou um casaco a imitar pele numa bomba de gasolina e não sabia como é que
uma entidade bancária poderia ter o seu número de telemóvel. Numa outra
concluiu que pela forma como um rapaz colocava os pés no chão, cruzava as mãos
e inclinava a cabeça, seria homossexual. Vozes zangadas não mandam recados: «Se
ele não tivesse sido diretor não teria tido nada seu publicado em jornais». José
António Saraiva só podia ter sido diretor. Não saberia ser mandado, ironiza um
familiar. É inseguro. E para puxar mais a verdade ao texto é narcisista. Bem-educado.
Cavalheiro, egocêntrico, provocador, controverso, observador do quotidiano e
admirador de Jorge Jesus, com quem comunga um ego do tamanho extra large e a teimosia. Possui uma faceta institucional e uma de cara
de pau. Concorda que a sua última obra, digamos obra, é uma provocação. (…). Fala
em tom soprano baixo, mesmo se mostarda lhe atinge a narina, a voz, garante
gente que o ouviu durante anos a fio, mantém-se apagada de convicção. Os olhos,
os olhos de José António Paula Saraiva nunca encaram os olhos dos outros.
Desvia-os para baixo. Será por timidez ou por temer o que Pessoa previu: são os
espelhos da alma. Um antigo colaborador lembra-se de algo sem um pingo de
sentimento de culpa: «JAS [José António Saraiva] foi gozado, e muito, por
alguns jornalistas, sobretudo pelo abcesso de ego e pela semelhança existente
entre os seus editoriais e as crónicas com exercícios de 4ª classe». Ainda
assim, com tanto gozo, poucos o enfrentavam. Aliás, havia uma corte que o
bajulava. Mas algo salvava o homem que às sextas-feiras, dia de
fecho do Expresso, mandava vir arroz à valenciana do restaurante Xenu: a
generosidade. Se soubesse que algum funcionário passava por um problema pessoal,
não hesitava em ajudar. «Que Deus o ajude», brinca uma ex-secretária. (…). Ódios
teve alguns. O de estimação, é o jornalista que o substituiu na direção do
Expresso em 2005. No blogue Escrever é Triste, Henrique Monteiro dispensa
poesia. Ali, José António Saraiva é batizado de «mentiroso», «energúmeno»,
«calhandreiro». Henrique Monteiro toca num assunto sério: «Este homem… Mata a
relação de confiança que um jornalista, um diretor de jornal ou um responsável
por um jornal deve ter com as fontes». Em tempos idos, durante uma discussão,
Saraiva enganou-se e chamou Isabel a Henrique. (…). Aos 15 anos, no Natal, vai
a Paris visitar o pai. Após dois dias de viagem de comboio, bateu à porta da
casa e ninguém atendeu. Dormiu nas escadas. Enregelou. Na manhã seguinte, Maria
Lamas dir-lhe-ia que o pai iria despedir-se de um amigo na estação dos
comboios. E seria aí que sentiu umas mãos nas suas costas; encontrava,
finalmente, o pai. Acabado o liceu seguiu-se o curso de arquitetura.”, na revista
Domingo, no Correio da Manhã, 09-10-2016.

*** O peepodromo, rua
Portas de Santo Antão, 96, quando abriu, custava uma moeda de 25$00 que,
introduzida numa ranhura, dava acesso, por exemplo, ao show da Diana ou, nos
primórdios, ao da primeira artista da casa, a deliciosa Celeste Bandeira. Naqueles
tempos, a inflação não dormia, cedo 25$00 não cobriam lucro e despesas com as
artistas, muitas delas estudantes universitárias, e as moedas foram
substituídas por fichas compradas pelo valor sucessivamente atualizado, embora
o bar mantivesse no nome a referência às esfumadas moedas de 25 paus.

[5] José
António Saraiva recorda Cicciolina. “Há 30 anos veio a Portugal uma
conhecida porno star italiana de nome Illona Staller, vulgo Cicciolina, que era
deputada do Partido Radical Italiano, um partido supostamente de esquerda. Para
além de um espetáculo erótico no Coliseu de Lisboa, a que assisti, Cicciolina
visitou o Parlamento português - onde, de uma galeria, fez questão de mostrar
os seios. Mais ou menos por essa época, o CDS convidou várias figuras
conhecidas fora da área política para integrarem as suas listas de deputados.
Uma delas era Manuela Moura Guedes. Escrevi então uma crónica onde dizia que
Moura Guedes era uma «Cicciolina à portuguesa». O artigo não tinha qualquer
intenção de dizer que a jornalista fazia atentados à moral pública. Nada disso.
Entre Manuela Moura Guedes e Cicciolina só havia a coincidência de terem ambas
a boca grande. A ideia do artigo era outra: dizer que o objetivo do CDS era o
mesmo do Partido Radical Italiano ao candidatar Cicciolina - caçar votos à
custa de pôr nas listas pessoas sem qualquer experiência política mas com projeção
mediática. Na semana seguinte à publicação do artigo, um jornalista de O
Independente disse-me em jeito de confidência que Paulo Portas - então diretor
do jornal - fizera um editorial arrasador contra mim. Um texto implacável e
violentíssimo. Temi o pior. Embora não desgoste de polémicas, sinto-me mal
quando elas ultrapassam determinados limites. E a agressividade de Portas,
aliada ao tema em causa, propiciavam isso. Quando O Independente me chegou às
mãos, abri-o à procura do texto, mas não o encontrei. Folheei o jornal de trás
para a frente e da frente para trás, mas continuei sem o encontrar. E, mais
intrigante ainda, constatei que não havia editorial. Concluí que, à última
hora, Portas deverá ter achado o texto tão violento que decidira retirá-lo.
Imagino como seria… Depois de Cicciolina, já houve políticos em toda a parte
que se despiram. Recentemente, Joana
Amaral Dias surgiu nua
nas vésperas das eleições legislativas, alegadamente para exibir a gravidez mas
de facto para chamar as atenções e ganhar votos. Saiu-se mal, pois os seus correligionários
não gostaram e os eleitores não lhe ligaram: o Agir teve 0,38% dos votos. E a
partir desse dia Joana Amaral Dias desapareceu, talvez arrependida por ter dado
um passo tão arriscado. Eis senão quando Isabel Moreira, deputada socialista
militante da causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero), surge numa
rede de «encontros». Além disso, publicou no Facebook fotos em bikini em poses
provocantes e até em topless (embora
tapando os seios com as mãos). (…). Mas por que razão juntei numa crónica
Cicciolina, Joana Amaral Dias, Isabel Moreira e o cartaz
do BE? Porque Cicciolina, Joana Amaral Dias, Isabel Moreira e o cartaz quiseram
desafiar as convicções, a moral vigente, os preconceitos, as crenças - e com
isso chamar as atenções sobre si próprios. Pode gostar-se mais ou menos, mas
não houve propriamente nenhum crime. Os puritanos sentiram-se ofendidos e os
católicos magoados ou indignados. Ora, não sendo eu puritano nem católico, não
me senti pessoalmente atacado. Posso ter-me sentido incomodado com o incómodo
dos outros, o que é diferente. O que constato é que, em todos estes casos, os
tiros saíram pela culatra: Cicciolina não foi reeleita, Joana Amaral Dias
desapareceu, Isabel Moreira escondeu-se e Catarina Martins reconheceu que o
cartaz foi um «erro».” José António Saraiva, na revista B.I. no jornal Sol n.º
497.

Não é para
ser aplicada contra o carteirista (tl;dr)

A mesa dos
sonhos posta, o noivo dessabia, Wittgenstein: “Não podemos pensar em nenhum
objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros”, a noiva
sabia-la-toda-à-Baudelaire: “Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie
de feitiçaria evocatória”. Quinta-feira, 14 de novembro de 1940. “Sonho
desfeito ou casamento que não se realiza. O sr. Manuel Lopes devia casar-se
hoje, com uma cabeleireira de nome Berta Ferreira Dias. Namoravam-se há dois anos,
tendo o noivo alugado e mobilado uma casa em Marvila. Hoje esperou-a a pé firme
no Registo Civil. Já passava muito da hora, quando se decidiu a saber o que se
passava. Soube, então, que a rapariga havia fugido com outro, tendo ido, ontem,
à casa de Marvila, donde tirou vários objetos e algum dinheiro.” O pobre sr.
Manuel Lopes, endrominado na lábia da rapariga, não foi a meças, e aprendeu à
porta do Registo Civil a dura lição que a “mulher” - tal como o “escaravelho”
wittgensteiniano - apreende-se usando-a e expondo-nos ao seu uso. “Suponhamos
que cada pessoa tem uma caixa dentro da qual está uma coisa a que chamamos «escaravelho».
Nenhuma pessoa pode ver o que está na caixa da outra; e cada pessoa diz que só
sabe o que é um escaravelho pela perceção do seu escaravelho. – Aqui seria
possível que cada pessoa tivesse uma coisa diferente na sua caixa. Podemos até
conceber que a coisa na caixa estivesse em transformação contínua. – Mas se a
palavra «escaravelho» tivesse, no entanto, um emprego para estas pessoas? –
Então este emprego não seria o de uma designação de uma coisa. A coisa na caixa
não pertence de todo ao jogo de linguagem; nem sequer como um simples algo, porque a caixa também pode estar
vazia.” (Wittgenstein, “Investigações filosóficas”). [1]

Noutro
casamento, entre o homem e o seu líder, sonhar é mais fácil ainda, mais
descomplicado que abrir uma lata de Fanta. “Dias que passei no esgoto dos sonhos / Onde o
sórdido dá as mãos ao sublime / Onde vi o necessário onde aprendi / Que só
entre os homens e por eles / Vale a pena sonhar.” (Alexandre O’Neill, “O tempo
sujo”). A razão lusitana desse fenómeno epiloga nos seus líderes, a excelência
vestida de competência, subsidiados pela luz de presença do negócio público, rasgam
as vestes, calejam o dedo, pela salvaguarda. O parlamentar Leitão Amaro: “Este
caso das ofertas da Galp é só mais um ato, é um ato que revela um padrão de
promiscuidade que mancha este governo das esquerdas, (na Assembleia, do seu
lado esquerdo, outro grande parlamentar, Hugo Soares, ulula: Muito bem!), esta
promiscuidade, esta proximidade excessiva, potencia a captura do poder político
pelo poder económico. Isso é democraticamente inaceitável, vou terminar sr.
presidente, esta promiscuidade, e a proteção que o primeiro-ministro e o
governo concedem a este caso, é um convite à continuidade dessas relações promíscuas.”
(setembro 2016) [2]. Colmata ação deputar contra
gift economy com previsões corretíssimas, este Leitão Amaro: “O governo
não está no caminho para cumprir as suas contas, pior, já não está, pelos
vistos, em tempo para corrigir a política orçamental pra este ano. (No
quiosque, nesse dia, leu Leitão a capa do jornal Público: “FMI diz que “já é
tarde para tomar medidas que corrijam défice de 2016”. Subir Lall, chefe de
missão do FMI a Portugal, diz em entrevista que foco do governo tem de já estar
em 2017, com “todas as opções em cima da mesa”. Fundo quer redução mais rápida
dos funcionários públicos). São sinais preocupantes, mas eu queria dizer,
também, igualmente, que ainda mais preocupante, é que os números que hoje
sabemos desmentem a propaganda do primeiro-ministro que não durou 24 horas.” (setembro
2016).

Um
parlamentário constrói valor, planta a possibilidade de facilidades, assacando.
José Moreira da Silva: “Nunca me passou pela cabeça que Mariana Mortágua se
convertesse, verdadeiramente na ministra das Finanças deste governo, mas isso
diz muito sobre a estratégia, responsabilidade orçamental e desenvolvimento
económico que o atual governo tomou. Obviamente isso configura um enorme
retrocesso e uma preocupação para todos os portugueses. O que precisamos não
é de syrizar, o que precisamos é de reformar (…). Eu espero que o
Partido Socialista pondere seriamente ehh ehh relativamente à estratégia que
quer prosseguir, os portugueses não merecem ser colocados perante uma
circunstan… uma circunstância como esta, que é ter uma estratégia de
desenvolvimento económico e de responsabilidade orçamental que é na prática
anacrónica que nos faz recuar à causa da crise.” (setembro 2016). [3]

Julho. 1984.
Segunda-feira, 2 “impressionante. O grande atleta português Fernando Mamede
após ter batido por duas vezes o recorde europeu dos 10 000 metros
sagrou-se, em Estocolmo, recordista mundial. Feito notável que fica a
constituir mais um marco de orgulho do nosso atletismo. Saúde-se igualmente
Carlos Lopes que fez uma prova extraordinária batendo também o recorde que
desde junho de 1978 pertencia ao queniano Henry Rono. Mamede e Lopes dois
atletas de valor singular. Duas grandes certezas para os Jogos Olímpicos de Los
Angeles. Mamede conseguiu aos 32 anos uma proeza que ambicionava há três anos:
tornar-se recordista mundial dos 10 000 metros, depois de por duas vezes
ter batido o recorde da Europa da distância. O atleta sportinguista bateu a
anterior marca que pertencia a Henry Rono com 27.22.4 minutos desde 1978 numa
corrida em que esteve, aparentemente, derrotado. Aos sete quilómetros, Lopes
assumiu o comando da prova e em cada volta ia aumentando o seu avanço. Mas
Mamede recuperou essa desvantagem na parte final e a duas voltas do fim
ultrapassou Lopes para se isolar e ganhar destacado com cerca de 30 metros de
vantagem. Lopes, por seu lado, ao cortar a meta no tempo de 27.22.48 minutos
também bateu o anterior recorde mundial, sendo agora os dois portugueses os
melhores de sempre nos 10 000 metros. Classificação. 1.º Fernando Mamede,
Portugal, 27.13.81 minutos; 2.º Carlos Lopes, Portugal, 27.17.48; 3.º Mark
Nemow, EUA, 27.40.56. (…). O novo recordista mundial dos 10 mil metros disse
ainda que por esta ter sido a sua primeira corrida na distância, esta época,
«não esperava bater o recorde do mundo, pois ainda não me encontro no meu
melhor». Em relação aos Jogos Olímpicos, Mamede afirmou, interrogado sobre as
suas possibilidades em ganhar uma medalha que «o meu nome ainda não está
inscrito na medalha». «Os Jogos Olímpicos são uma competição totalmente
diferente destes meetings e os
atletas lutam única e exclusivamente para conquistarem uma medalha», prosseguiu.
Fernando Mamede salientou igualmente que está agora a preparar-se «física e
psicologicamente para tentar ganhar uma medalha nas Olimpíadas de Los
Angeles».”

Quarta-feira,
4 de julho “enquanto garante às agências noticiosas que «a proposta dos
socialistas em matéria de segurança interna é muito semelhante à dos
sociais-democratas», o ministro da Justiça, Rui Machete, propõe a criação de um
tribunal permanente de instrução criminal. Este tribunal, diz o ministro,
«teria a particularidade de estar permanentemente disponível para autorizar ou
indeferir buscas domiciliárias ou escutas telefónicas». (…). Rui Machete disse
que a solução do Tribunal Permanente de Instrução Criminal, que considerou
«perfeitamente viável, ainda que com alguns inconvenientes técnicos», salvaguarda,
por um lado, as questões de celeridade e eficácia da investigação criminal e
protege, por outro, os aspetos das liberdades e direitos os cidadãos. (…). «É
uma solução que tem vantagens uma vez que, embora seja mais onerosa, é mais
simples de obter e mais transparente». (…). «Penso que vale mais a pena ir para
uma solução que tem alguns aspetos de menor eficácia e maior custo do que ir
para soluções que têm outras vantagens, mas que no estádio atual da nossa
história custam mais a ser inteiramente percebidas». (…). Rui Machete sublinhou
que a necessidade desta lei é indiscutível no que respeita à segurança interna
e afirmou que o governo teve a «coragem de a apresentar num país que vive com o
síndroma da PIDE». «Sob a capa desse síndroma da PIDE, têm-se, no entanto,
cometido as maiores atrocidades, tem havido escutas, pessoas estiveram detidas
sem culpa formada por longos períodos, houve simulacro de fuzilamentos e
mandados de captura foram passados em branco». (…). «Se se pensa que é preciso
que morra bastante gente para se ter a lei, eu prefiro que se evite a morte de
pessoas e se tenha a lei». Para além disso, recordou, a Lei de Segurança
Interna é aplicada a casos de terrorismo, criminalidade de alta violência e
droga, «não é para ser aplicada contra o carteirista». (…). Recordou que esta
terceira versão da Lei de Segurança Interna determina no seu articulado que a
sua aplicação seja sempre controlada por um juiz. «Há soluções que aqui ou ali
são menos felizes que outras. Pois bem, substituem-se, suscitam-se
alternativas, isso é perfeitamente aceitável», disse. «O que não é aceitável é
a posição que o PCP tomou, pois não tem nenhuma legitimidade para falar sobre
direitos fundamentais e ninguém está disposto a aceitar lições do PCP nesta matéria
depois do que ele fez em 1975», prosseguiu. Ao vincar que o governo está aberto
a alterações e que o próprio executivo as poderá apresentar, Rui Machete disse
que a Lei de Segurança Interna é uma lei que não se apresenta no parlamento
para que este diga ámen. «Não há dúvida que há alterações a fazer para que se
tornem físicos os direitos fundamentais, de modo a que eles deixem de ser
coisas míticas que pomos na Constituição e nos esquecemos logo, há que
torná-los vivos e integrá-los na nossa realidade quotidiana».”       

Segunda-feira,
9 de julho “uma enfermeira sueca de 21 anos, Yvonne Ryding, ganhou
hoje 26 mil contos (175 000 dólares), um apartamento por um ano em Nova Iorque,
um automóvel desportivo, um barco, um relógio de diamantes e uma montanha de
roupa, ao ser escolhida, em Miami, Miss Universo 84. Yvonne, que é loura, tem
olhos azuis e mede um metro e setenta de altura, declarou à imprensa que gosta
de trabalhar com idosos e incapacitados, e aconselhou as mulheres de todo o
mundo «a manterem os dois pés bem assentes na terra e a tentarem fazer felizes as
outras pessoas». O segundo e terceiro lugares foram conquistados por uma sul-africana
e por uma venezuelana ambas com 19 anos.” [4] 

Sexta-feira,
13 de julho “os preços dos combustíveis vão ser novamente aumentados à meia-noite
de hoje, pela terceira vez desde que tomou posse o governo de Mário Soares. Desde
a gasolina normal ao gás de cidade todos os combustíveis verão os seus preços
agravados entre 2,6 % (caso da gasolina super) e 17 % (caso do fuel óleo). Como
justificação para mais esta subida, a segunda este ano, o ministério da
Indústria e Energia referiu esta manhã, em comunicado, a «política de extinguir
gradualmente os subsídios ainda existentes em alguns combustíveis» e a
«revalorização do dólar em 7,1 % desde a última revisão dos preços». (…).
Gasolina super 99$00, mais 2,6 % (custava 97$00); normal 96$00, mais 4,3 % (92$00);
petróleo iluminante 58$00, mais 3,5 %; petróleo carburante 59$00; gasóleo
60$00, mais 7,1 % (56$00 preço antigo e 46$00 antes de 1 de fevereiro); fuel
óleo 27$00 o quilo, 17 % de aumento; butano no revendedor 66$00 o quilo, mais
11,8 %; butano no consumidor 68$00, mais 11,4 %; propano no revendedor 66$60,
mais 11,2 %; propano no consumidor 69$00, mais 11,4 %; propano canalizado
69$00, mais 11,4 %; gás da cidade 22$30 o metro cubico (20$00 o preço antigo).”
[5] 

Sábado, 14
de julho “está a suscitar natural curiosidade a iniciativa de «agitação e
propaganda» que a Juventude Socialista decidiu desencadear, amanhã, na praia do
Meco, a sul da Fonte da Telha, a favor da legalização do naturismo em Portugal.
Nus, os jovens militantes da JS tentarão recolher, junto dos banhistas,
assinaturas para um documento em que se reclama a legalização do naturismo,
documento que será posteriormente entregue às autoridades do Estado e aos
partidos com assento na Assembleia da República. A JS, que está a desenvolver
um considerável esforço de «aggiornamento» da sua problemática, tem-se
destacado pela defesa da despenalização das drogas leves, pelas posições
liberais em relação ao serviço militar obrigatório e por uma atitude antiblocos
em matéria de desarmamento.” [6]

Quarta-feira,
18 de julho “uma estanha «crise de autoridade» parece tolher, atualmente, as
iniciativas da Câmara Municipal de Lisboa e particularmente o seu presidente
Krus Abecassis. São três os exemplos que poderemos sintetizar em poucas
palavras: a demolição do Monumental prossegue apesar de uma decisão do Supremo
Tribunal Administrativo em sentido contrário; o Panda Bingo mantém-se aberto
apesar de uma decisão camarária que mandava encerrá-lo (embora admitindo que se
mantivesse aberto); o Centro Comercial Gália mantém as portas abertas apesar de
os proprietários não terem cumprido uma intimidação de obras. O caso do
Monumental é flagrante: entregue a ordem de embargo da demolição, os
trabalhadores prosseguiriam sob a alegação de que havia partes que ameaçavam
derrocada. Mas já lá vão muitas semanas e parece que nunca mais acaba essa
ameaça. (…). Quanto ao Bingo Panda, de nada terá servido o coro de protestos
dos moradores e da Junta de Freguesia, com o reconhecimento inicial de que era
uma má aposta, aquela, naquele local. O próprio secretário de Estado do
Ambiente terá manifestado o seu desagrado pela situação, o que levou Abecassis
a «espernear».”   

Quinta-feira,
19 de julho “em 1983, a criminalidade em Portugal aumentou 32,9 % em relação ao
ano anterior, tendo atingido o valor mais elevado dos últimos oito anos.
Segundo a Polícia Judiciária, os homicídios consumados continuam a registar um
aumento preocupante com um acréscimo de 32,3 % e de 88,1 % em relação a 1982 e
1981, respetivamente. Por outro lado, os assaltos a bancos, embora tenham
sofrido uma diminuição de 26,7 %, continuam com um número elevado (33), só ultrapassado,
nos últimos seis anos, pelo ocorrido em 1982, em que se registaram 45
participações. Os assaltos a estações de correio e vagões-correio registaram um
acréscimo de 100 % em relação ao ano anterior, enquanto os assaltos a outros
estabelecimentos de crédito registaram o mesmo valor de 1982. Quanto aos atos
terroristas e crimes contra o Estado aumentaram, em 1983 segundo a PJ, 15,9 %
em relação ao ano anterior. Nos atos terroristas e crimes contra o Estado, a
Polícia Judiciária considera as injúrias, resistência ou desobediência às
autoridades, evasão e motim de presos, usurpação de funções, declarações e
testemunhos falsos, abuso e excesso de poder, corrupção, peculato, contra a
integridade física de pessoal diplomático, contra a segurança do Estado, rapto
para tomada e detenção de reféns, detenção e tráfico de armas de fogo proibidas
e outros não especificados. Os processos que até 1982 eram incluídos na rubrica
«terrorismo» passaram a ser subdivididos pelas rubricas «contra a vida, a
integridade física e a liberdade de pessoas», «contra a segurança de
equipamentos coletivos», «crimes com emprego de engenhos explosivos ou meios
incendiários», «crimes com emprego de substâncias tóxicas ou corrosivas» e
«terrorismo». Em 1980 foi em número de 3003 os atos terroristas e crimes contra
o Estado, número que subiu para 3827 em 1981, 4638 em 1982 e 5376 em 1983. A
maior rubrica dos crimes contra o Estado são as injúrias, resistência ou
desobediência às autoridades, com 5593 casos participados, em 1983, à Polícia
Judiciária. A seguir vêm as declarações e testemunhos falsos, o abuso e o
excesso de poder, a corrupção (62 casos) e o peculato. Contra a segurança do
Estado foram participados 28 casos em 1980, três em 1981 e dois em 1983. Foram
63 os processos que, no ano passado, deram entrada na Judiciária respeitantes a
crimes de abuso de liberdade de imprensa. Em 1980, o seu número foi de 149, em
81 de 94 e em 82 de 112. No que respeita aos casos de tráfico de droga o seu
número foi de 626 em 1983, contra 352 em 1980, 396 em 1981 e 469 em 1982. Os
casos de consumo foram, segundo a PJ, de 640 em 1983, 693 em 1982, 637 em 1981
e 521 em 1980.”

Sexta-feira,
20 de julho “a atual detentora do título de Miss América, Vanessa Williams, recebeu
hoje um prazo de 72 horas para renunciar à coroa por ter posado nua para uma
série de fotografias eróticas a ser publicadas pela revista Penthouse. Vanessa
Williams, a primeira negra norte-americana a conquistar aquele título, foi
intimidada a devolver a coroa pelos organizadores do concurso, depois de ter
sido anunciada a intenção de revista Penthouse de publicar
na sua próxima edição fotos da Miss nua, em atitudes de sexo explicito com
outra mulher, Amy Geier Wessell. (…). As fotos, que surgirão
publicadas no número de agosto da revista, foram realizadas meses antes da
eleição pelo fotógrafo Tom Chiapel, de quem Vanessa era secretária. (…). Em dez
páginas, mostra também fotos a cores da Miss com o presidente Reagan, e
acenando para os seus fãs.” [7]

Terça-feira,
24 de julho “no novo espaço físico no pavilhão da Feira Internacional de
Lisboa, atua o grupo Weather
Report, distinguido ao longo dos últimos dez anos como a
melhor formação elétrica de jazz. O
concerto será às 22 horas.” Entraram no palco com uma hora de atraso. Motivo:
antes de receberem o cachet não haveria música para ninguém. Sem Jaco
Pastorius, tocaram Wayne Shorter (saxofone), Joe Zawinul (teclados), Victor
Bailey (baixo), José Rossy (percussão) e Omar Hakim (bateria).

Quinta-feira,
26 de julho «dois músicos partem para uma viagem»: ela iniciou-se em Munique,
durante o verão de 1982, e continua em Lisboa, dois anos depois. Os músicos são
Chick Corea e Friedrich Gulda, os
pianistas que esta tarde, a partir das 18h30, entram em diálogo no teatro S.
Luís.” Preço 1300$00. “Às 21h30, no mesmo local, sobe ao palco um outro duo: os
brasileiros Egberto
Gismonti e Naná Vasconcelos. [Preço 700$00]. Gismonti dispensa apresentações.
Quanto a Naná Vasconcelos diremos apenas que ele é considerado o mais brilhante
percussionista contemporâneo brasileiro. Os dois concertos integram-se no X
Festival de Música da Costa do Estoril, que amanhã continua, no parque Palmela,
em Cascais, com a atuação da Banda da Força Aérea.”

Segunda-feira,
30 de julho “três bombeiros feridos, ainda que sem gravidade, e cerca de três
mil contos de prejuízo, não cobertos pelo seguro, é o balanço do incêndio que,
cerca das 16h30, destruiu o salão de festas e toda a cobertura da centenária e
popular Sociedade Filarmónica dos Alunos de Apolo, na rua Silva Carvalho, em
Campo de Ourique. O fogo, de origem criminosa, segundo os diretores da
agremiação, e provocado por um curto-circuito, de acordo com um porta-voz do
Batalhão de Sapadores Bombeiros, consumiu uma potente aparelhagem sonora, 120
cadeiras e mesas e os artifícios utilizados durante os bailes e os famosos
concursos de dança ali realizados.” [8]

Terça-feira,
31 de julho “a partir de amanhã, cada português deve mais seis contos ao
estrangeiro da assinatura colocada pelo ministro Ernâni Lopes, no contrato de
empréstimo de 400 milhões de dólares concedidos por um consórcio formado por 27
bancos internacionais, liderado pelo Lloyds Bank International e pelo
Industrial Bank of Japan. Em moeda portuguesa, a estes 400 milhões de dólares
correspondem uns 60 milhões de contos, ou seja, em números absolutos, o maior
empréstimo jamais contraído pela República Portuguesa. São essencialmente
norte-americanos, ingleses e japoneses os bancos que formam este consórcio, mas
dele fazem também parte árabes, franceses, alemães, belgas, suíços e
luxemburgueses. O ministro das Finanças disse na cerimónia, realizada esta
manhã em Lisboa, que este «contrato de financiamento» constitui «mais um passo
no caminho da recuperação da nossa economia» e que «estamos agora a ultrapassar
a fase de estabilização iniciada há um ano, com vista a conter o pronunciado
desequilíbrio externo e interno». Ernâni Lopes garantiu aos banqueiros
internacionais que a metas traçadas pelo governo estavam a ser cumpridas e até
ultrapassadas.”  

____________________

[1] Kate Winslet:
“Fui vítima de assédio sexual e não quero voltar a sentir-me assim.” Depois de
séculos de dolorida existência, a mulher, desacorrentou-se. De ligeira
e espontânea na escolha do seu amor, volveu-se profunda e refletida que, aliado
ao fim dos casamentos arranjados pelos pais, baniu a violência doméstica para
sempre.

[2] O poder económico também não tem boa impressão do Leitão
em geral. “Em entrevista à Renascença, o empresário Alexandre Soares dos Santos
sustenta que Cavaco deve moderar as conversações e revelar aos portugueses as
razões da falta de compromisso. «Devia depois informar os portugueses sobre o
que é que discutiram. O Presidente é o único que é eleito por sufrágio
universal e é a essas pessoas que ele tem a obrigação de informar». Sobre as
famosas «divergências insanáveis» entre o primeiro-ministro, Pedro Passos
Coelho, e o líder do PS, António José Seguro, o presidente da Fundação Francisco
Manuel dos Santos é duro: «São lamentáveis essas frases até porque essas mesmas
pessoas em particular não dizem isso e eu falo com conhecimento de causa». «O
problema é que esses senhores já há muito tempo deviam ter feito o acordo e
agora, como estão em vésperas de eleições, não querem acordo nenhum e não
percebem que se não houver um acordo a dez anos no mínimo, para ser cumprido
qualquer que seja o partido que ganhe as eleições, nós não vamos a parte
nenhuma», critica. «Os partidos políticos são daqueles que mais têm contribuído
para o atraso em que Portugal entrou».“

[3] Em 2014, no festival SXSW, “Swine” p/ Lady Gaga.

[4] 1.ª finalista
Leticia Snyman. A 2.ª finalista, Carmen María
Montiel, quatro anos depois levava uma murraça no estômago. “Na
madrugada de 6 de julho de 2013, Carmen María Montiel, jornalista e Miss
Venezuela 1984, viu-se envolvida numa situação que gerou um escândalo público
que a levou ao olho do furacão durante anos. A ex-rainha da beleza embarcou com
o marido, o médico venezuelano Alex
Lechin, e a sua filha adolescente, num voo que partira de
Houston para Bogotá, a fim de participar num evento privado para o qual tinham
sido convidados. «O voo saiu um pouco antes da meia-noite, eu estava do lado da
janela, pedi ao assistente de bordo, Samuel Oliver, uma almofada, ele disse-me
que o que me podia dar eram dois cobertores, mas, ao usá-los senti que me
picavam, foi quando decidi deitar-me no ombro do meu marido e ele,
repentinamente, golpeou-me, eu forçava as suas mãos para trás, mas ele chamou o
empregado que acabou envolvendo-se, tudo se intensificou», contou Carmen a NAD.
O sr. Lechin queixava-se ao assistente que a ex-miss invadia o seu espaço, que
estava bêbeda e que começou a atacá-lo. «O assistente de bordo dava-lhe razão,
dizia que tinha visto tudo, eu tentava que me ouvissem, mas o meu marido pôs-se
histérico, exagerava com a sua conduta para encobrir o que tinha feito». A
menor, que na época tinha 14 anos, presenciou tudo, inclusive quando duas
pessoas vestidas à civil cooperaram para algemá-la de «forma selvagem e ilegal»
por, aparentemente, provocar o problema que fez com que o piloto desse meia
volta e regressasse ao aeroporto internacional de Houston. «Inventaram-se
muitas coisas, que estava bêbeda, que batia e gritava com toda a gente, isso é
completamente falso». (…). No passado 2 de outubro [2015], a jornalista foi
absolvida de todas as acusações. Provou-se que Alex Lechin provocou toda a cena
para prejudicar a esposa, que nesse momento estava em liberdade condicional
após um incidente doméstico ocorrido no final de 2011, assim podia manipulá-la
para um divórcio que estava iminente. Além disso, provou-se que o voo regressou
devido ao mau tempo.” Entrevista: “A
primeira vez que o meu marido, o doutor Alex E. Lechin, me deu um murro no
abdómen em 1988, percebi que tinha cometido um grande erro. Tínhamos acabado de
mudar-nos da Venezuela para os Estados Unidos, para que ele pudesse fazer a sua
formação médica na escola de medicina Bowman Gray da Universidade Wake Forest,
eu não falava uma palavra de inglês nem conhecia vivalma. Eu não sabia, aos 21
anos, que este foi apenas o começo de um ciclo muito escuro e torcido de
abusos. Ameaçaram-me e forçaram-me fisicamente a tomar as receitas médicas
escolhidas pelo meu marido, fui espancada e tratada pelo mesmo médico / marido
de maneira que ninguém notava, inclusive fui estrangulada e Alex, que é
pneumologista, podia examinar-me e reanimar-me. Alex não queria que me
divorciasse dele, estava muito preocupado com a sua reputação médica e estado
financeiro, assim que esforçou-se muito para ocultar o abuso de drogas. Ele fez
o que pôde para desacreditar-me, para que me sentisse presa e continuar casada
com ele. Nunca tive confiança em mim mesma para ir-me embora. Tudo isto, no
entanto, chegou ao fim na noite do voo da United International de Houston para
a Colômbia.”

[5] Desde 1968,
Portugal, um país moderno. Selfbanco. “É mais
uma inovação nossa: a última palavra em serviço permanente e ultrarrápido. A
qualquer hora do da ou da noite, basta meter o cartão na máquina, compor pelas
teclas o seu número de identificação, para receber instantaneamente o dinheiro,
dentro dum envelope!... Desde, claro, que tenha conta no nosso banco. Mas quem
a não tem?” “Inauguração da primeira máquina, em maio, na dependência dos
Restauradores Banco Português do Atlântico.”   

[6] Na altura,
o secretário-geral da JS era José
Apolinário, atual secretário de Estado das Pescas, não há
vestígios desta ação de propaganda, de certeza que não envolveu mulheres
jotinhas, a mulher portuguesa recata o seu pudding
apenas para o esposo, não atraiçoaria, a jusante, futuro consorte. Um dos
desfardados seria Laurindo Correia. “A sua adesão ao modo de vida naturista
começou na sua juventude. Foi nessa altura que, fazendo parte do Secretariado
Nacional da Juventude Socialista, se destacou na implementação de uma campanha
nacional pela «legalização» do naturismo que, mesmo no pós 25 de Abril,
continuava a ser perseguido pelas autoridades marítimas, tendo havido vários
incidentes na zona do Meco e da Bela Vista, hoje praias oficialmente dedicadas
à prática da nudez coletiva.”

[7] Sucedeu-lhe,
nos sete meses restantes de mandato, Suzette Charles,
nascida Suzette DeGaetano, a 2 de março de 1963 em Mays Landing, New Jersey. Atriz
e cantora “em 1993,
assinou pela RCA Records e gravou com os produtores britânicos de topo, Mike
Stock e Pete Waterman, lançando o seu single
de estreia, «Free To Love
Again», em agosto desse ano. O single
atingiu o número 58 na UK Singles Chart. Outras canções foram gravadas com
Stock e Waterman, incluindo «After You’re Gone», «Don’t Stop (All The Love You
Can Give)», «Every Time We Touch», «What The Eye Don't See»
e «Just For A Minute».”
Como atriz participou em 1988 na telenovela de estudo sociológico do ser norte-americano,
“The Young and the
Restless”.

[8] Entre essas danças houve bailes de punk rock. “No
documentário Meio Metro de Pedra, de Eduardo Morais, Francisco Dias, um dos
«historiadores oficiosos» que ajudam a contar a «nossa» história do rock, distingue os Faíscas mais «classe
média», a tocarem um «rockabilly speedado», dos Aqui
d’el-Rock «mesmo das ruas», «punk a sério». Paulo Pedro
Gonçalves, membro fundador dos Faíscas e mais tarde dos Corpo Diplomático e
Heróis do Mar, tem uma visão diferente, que nos explica, a partir de Londres:
«os Faíscas foram a primeira banda punk portuguesa. Os Aqui d’el-Rock
apareceram mais ou menos na mesma altura mas não eram uma banda punk. Em
Inglaterra na altura teriam sido considerados pub rock como os Dr. Feelgood ou
Ian Dury and The Kilburns. Os Faíscas tinham a atitude, a música, as letras, a
imagem e a vontade de derrubar o status quo. Tínhamos um ‘following’ punk, uma
fanzine, invadimos os palcos do rock português para nos deixarem tocar,
criávamos situações de caos, destruição e de anarquia. O nosso lema era ‘violar
o sistema’. Éramos verdadeiros Situacionistas». Óscar Martins, dos Aqui d’el-Rock,
explica no mesmo documentário que a diferença podia passar por o seu grupo
alinhar mais com a sonoridade americana e menos com a atitude cultivada nas
escolas de arte que talvez animasse um pouco mais a abordagem dos Faíscas. Retoma
Gonçalves: «do punk apareceram os Xutos, ainda com o Zé Leonel, os Minas & Armadilhas, do Paulo
Borges, a Anamar, UHF e outras bandas que agora não me lembro. Nós também
tocávamos com o nome Jô Jô Benzovac & Os Rebeldes porque não havia nenhuma
banda punk que pudesse fazer a nossa primeira parte. Nos Alunos de Apolo
entrámos com meias de seda na cabeça e vestidos de fatos completos dos anos 40.
Tocamos um set de rock 'n' roll (Elvis, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee
Lewis) depois saímos do palco, vestimos uns amigos com a nossa roupa, meias de
seda, vieram ao palco tiraram as meias, agradeceram ao público e nós começámos
o set dos Faíscas». As memórias de Paulo Pedro Gonçalves são coincidentes com
as de Gimba, que também esteve nos Alunos de Apolo na noite de 13 de janeiro de
1979, que marcou a estreia ao vivo dos Xutos & Pontapés: «na sala do baile
era a maior loucura, estava lá uma banda, os Jô Jô Benzovac & Os Rebeldes, a
tocar todo aquele reportório ‘Rock Around The Clock’, ‘Tutti Frutti’... E na
parede estava aquela frase do Frank Sinatra, qualquer coisa como ‘o rock and
roll é uma música feita por cretinos e para cretinos’, qualquer coisa assim.
Aquilo era um baile punk, porque o punk estava mesmo no auge. Nessa altura
havia muito Friganor na cabeça do pessoal, era a droga da moda. Lembro-me que
os Faíscas até se mordiam todos. A dança era feita de encontrões, chutos e
pontapés mesmo». «Os Faíscas foram uma fagulha que quando pegou fogo, ardeu
intensamente», explica-nos Paulo Pedro Gonçalves. «Durou pouco, talvez um ano.
Não tivemos disco, apenas uma maqueta gravada na Rádio Comercial, mas servimos
de inspiração a muita gente e fomos a base espiritual e intelectual dos Corpo
Diplomático e Heróis Do Mar». Numa coisa, as memórias de todos
parecem ser coincidentes: o 25 de Abril foi determinante para a imposição do
punk. «Vivíamos num país onde podias falar abertamente», conta Paulo Pedro
Gonçalves sobre o Portugal pós-revolucionário. «Mas embora o 25 de Abril nos
tenha dado a liberdade de expressão, por outro lado vivíamos um pouco às cegas.
Cinquenta anos de fascismo não se sacodem como água duma gabardina. Portugal em
1977 não era bem uma democracia. Andava a fazer experiências com a democracia
enquanto procurava uma identidade e uma direção».”

“De forma
muito circunscrita a Lisboa era restrita em termos temporais, os concertos vão
continuando. Na edição da Música & Som de janeiro de 1979, Trindade Santos
relata o concerto dos Faíscas na Sociedade Os Alunos de Apolo em 12 de dezembro
de 1978 da seguinte forma: «O milhar de participantes do vigésimo quinto
aniversário do Rock and Roll, realizado na Sociedade Os Alunos de Apolo no
passado dia 12, chorou e rangeu os dentes com a fúria da onda punk que
desvirtuou as sonoridades a cuja comemoração intentava proceder-se. (…)
Tendo-me retirado pelas três da manhã fiquei sem saber: 1) Se os punks iam
acabar de escaqueirar a mobília; 2) Se a vizinhança continuaria numa de não
pregar olho absolutamente; 3) Se a Direção da Sociedade tinha conseguido manter
frio o sangue que vinha esquentando ao longo de ene provocações». Em abril de
1979, ocorre mais um concerto emblemático e fundador no Liceu D. Pedro V. A
reportagem deste concerto motivou Pedro Ferreira da edição de maio da Música
& Som desse mesmo ano ao seguinte comentário: «Há quem não tome o fenómeno Punk a sério. O
recente concerto no Liceu D. Pedro V, em Lisboa, pôs uma vez mais em causa essa
atitude. O Punk tem uma
vitalidade própria, como prova o aparecimento de novos (poucos, é pena) grupos
do género, como o Raios e Coriscos, o Minas & Armadilhas SARL e o Xutos e
Pontapés, que atuaram conjuntamente com o Aqui d’el-Rock no Liceu referido. (…)
Voltando ao concerto, foi significativo um dos verdadeiros rebeldes ter pedido
o microfone para dar um grito; no fundo, o denominador comum daquela malta era
o grito de ‘estamos vivos’. Mas a comunicação entre o grupo no estrado e a
audiência era unívoca, porque o som nebuloso e esmagador apagava a contestação,
o pluralismo, ao mesmo tempo que criava a atmosfera intemporal do milagre: o
cigarro que se pede, a cerveja que se bebe, os teus olhos nos meus olhos…
milagre afetivo, comunicação outra entre indivíduos flutuando nas nuvens de
ruído amigo, milagre musicalmente passivo, milagre na superfície… o Punk à
superfície do milagre!».”

na sala de cinema

“Fast Times at Ridgemont
High” (1982), real. Amy Heckerling, c/ Sean Penn,
Jennifer Jason Leigh, Judge Reinhold … sob o título local «Viver depressa»
estreado quinta-feira, 26 de julho de 1984 no cinema Roma. “Um grupo de
estudantes do secundário, no sul da Califórnia, curte as suas matérias mais
importantes: sexo, drogas e rock ‘n’ roll.”
Factos: “para a sua cena de masturbação, Judge Reinhold trouxe para o plateau
um dildo avantajado, sem o conhecimento do resto do elenco, para esgalhar. A expressão de horror e náusea de Phoebe Gates
é bastante real.” “Durante as filmagens, Sean Penn entrou tanto na personagem
que apenas respondia por Spicoli. Na verdade, na porta do seu camarim estava a
placa «Spicoli» em vez de «Sean Penn».” “No início do filme, logo depois de Mr.
Hand mandar Spicoli para a receção por chegar atrasado à aula, ele distribui um
teste surpresa. Depois de o enunciado ser distribuído, os alunos chegam-no ao nariz
e inalam profundamente. Isto era um ritual
popular nas escolas dos anos 60, 70 e princípio de 80, como as fotocopiadoras
eram muito caras, então usavam-se duplicadores a álcool. Os duplicadores a
álcool utilizavam uma cera colorida como «tinta» e um solvente intoxicante,
mistura de álcool isopropílico e metanol, como agente de transferência para
imprimir a tinta no papel. Estes solventes por vezes demoravam a secar, daí os
alunos usarem-nos como uma pedrada de curta duração.” “Nicolas Cage aparece sob
o nome Nicolas Coppola pela primeira e única vez.” “Cage fartou-se de azucrinar
o resto do elenco, gabando-se do seu famoso tio Francis Ford Coppola. Disse a
todos os outros jovens atores que ele seria famoso mais rápido do que qualquer
um deles, porque ele tinha contactos. Depois de algumas semanas disto, o elenco
retaliou fazendo imitações de Robert Duvall em «Apocalypse Now» (1979), o que
finalmente fez com que Cage parasse de se vangloriar da sua célebre família.”
“Quando Brad está a lavar o Buick
LeSabre vê-se um
autocolante «Springsteen» no para-choques traseiro. Pamela Springsteen, irmã de
Bruce, também entra no filme.” “Stalker / (Сталкер)” (1979), real. Andrei
Tarkovsky, c/ Alisa Freyndlikh, Aleksandr Kaydanovskiy, Anatoliy Solonitsyn … estreado sexta-feira, 6 de julho de 1984 no Quarteto
sala 3 [1]. “O «Stalker» (Aleksandr Kaydanovskiy) trabalha numa
área pouco clara num futuro indefinido como guia que conduz as pessoas através
da «Zona», uma vizinhança na qual as leis normais da realidade já não se
aplicam plenamente. A Zona contém um lugar chamado o «Quarto», dito conceder os
desejos de qualquer um que lá entre. A
área contendo a Zona é selada pelo governo e grandes perigos existem dentro dela.” Factos: “de acordo com o
sonoplasta do filme, Vladimir Sharun, três membros da equipa (incluindo o
realizador Andrei Tarkovsky) morreram como consequência de contaminação química
encontrada no local de filmagem, na Estónia.” “A Zona do filme foi inspirada no
acidente nuclear que ocorreu em Ozyorsk, Oblast de Cheliabinsk, em 1957. Várias centenas de
quilómetros quadrados ficaram poluídos pela chuva radioativa e abandonados. Não
havia menção desta «zona proibida» na época.” “A poesia de Arseny Tarkovsky
(pai do realizador) inspira muito deste filme.” [2] “Il gatto” (1977), real. Luigi Comencini, prod. Sergio Leone,
mus. Ennio Morricone, c/ Ugo Tognazzi, Mariangela Melato, Michel Galabru … sob
o título local “Aqui há gato” estreado quarta-feira, 1 de junho de 1983 no
Quarteto sala 2. “Os gananciosos irmãos Amedeo e Ofelia Pegoraro herdaram um
velho condomínio no centro de Roma, no qual habitam e do qual tiram o seu
sustento, cobrando as magras rendas dos decrépitos apartamentos. Depois de
receberem uma atraente oferta financeira pela venda do edifício, com a condição
de que esteja livre de pessoas e coisas, tentam convencer, por todos os meios à
disposição, os inquilinos a deixarem os seus apartamentos e mudarem-se para
outro lugar. “Voyage of the Damned” (1976), real. Stuart Rosenberg, c/
Faye Dunaway, Oskar Werner, Lee Grant … sob o título local “A viagem dos
malditos” estreado quinta-feira, 21 de julho de 1983 no Império. “Baseado em
eventos reais, este filme conta a história da viagem do MS St. Louis, em 1939,
que partiu de Hamburgo transportando 937 judeus da Alemanha, alegadamente, para
Havana, Cuba. Os passageiros, tendo visto e sofrido o crescente antissemitismo
na Alemanha, perceberam que esta poderia ser a sua única hipótese de escapar.” Factos: “embora este filme seja
baseado num facto real, o destino dos passageiros do MS St. Louis não é
complemente exato. Enquanto no filme, apenas dois passageiros são autorizados a
desembarcar em Cuba, na realidade 29 foram autorizados. Em cima disso, enquanto
o filme diz aos espetadores que no fim, mais de 600 dos 937 passageiros morreram
durante a guerra ou em campos de concentração, os historiadores estimam que a
maioria dos passageiros sobreviveram à guerra e aos campos, com cerca de 200
mortos e 700 sobreviventes.” “Mitchell” (1975), real. Andrew V. McLaglen, c/ Joe Don
Baker, Martin Balsam, John Saxon … sob o título local “Força de intervenção
antidroga” estreado quinta-feira, 21 de abril de 1983 no Politeama e no Cine
Portela. “Um advogado mafioso chamado Walter Deaney (John Saxon) mata um ladrão na sua
casa. Só um heterodoxo detetive chamado Mitchell (Joe Don Baker) acredita que
Deaney é culpado de algo mais que legítima defesa, mas o chefe Albert Pallin (Robert Phillips)
diz-lhe que Deaney é procurado por «por cada uma das leis no código» e,
portanto, é «propriedade do FBI». Para manter Mitchell afastado de Deaney, o
chefe ordena-lhe que vigie a casa de James Arthur Cummings (Martin Balsam), um
homem rico com ligações à mafia, cuja «grande cena» é importação e exportação
de mercadoria roubada. Inicialmente, Mitchell está-se nas tintas para Cummings
e concentra-se prioritariamente em Deaney. Mas interessa-se depois de Cummings
descobrir que Salvatore Mistretta (Morgan Paull), primo do mafioso seu
protetor, Tony Gallano (Harold J. Stone), está a trazer um carregamento de
heroína roubada do México sem o consentimento de Cummings.” “Carne bollente”, em inglês,
“The Rise of the Roman Empress” (1987), real. Riccardo Schicchi,
c/ Cicciolina, John Holmes, Tracey Adams … sob o título local “As loucuras da
deputada” estreado segunda-feira, 4 de janeiro de 1988 no Olímpia. “A pornodiva
conhecida mundialmente como Cicciolina debutou finalmente como deputada no
parlamento italiano. Uma mulher excitante que enfrenta a vida através do sexo.
Este vídeo é a consagração de Cicciolina como estrela da pornografia. A força e
poder sexual desta mulher só é comparável ao seu carisma político-porno, que
lhe permitiu colocar as suas carnudas e perfeitas nádegas num assento da Câmara
dos deputados. Por último lhe dizemos que a ardente e erótica Cicciolina já tem
aberta a urna para que veja esta obra-prima do erotismo.” “Cicciolina interpreta uma
artista condenada por obscenidade no seu espetáculo exótico. A sua sentença,
alternativa à cadeia, o advogado encontrou um buraco na lei, é fazer trabalho
comunitário, consistindo em visitas domiciliárias para ajudar pessoas com
problemas psicológicos, o filme termina na inevitável orgia.” [3]

___________________

[1] “Com base na premissa postulada por
Paul Ricoeur no primeiro volume de «Tempo e Narrativa», de acordo com a qual «a
narrativa atinge o seu pleno significado quando se torna uma condição da
existência temporal» (1994, p. 36), que, de modo genérico, tenta explicar o
domínio dos meios narrativos, assim como, no que consiste a sua essência
significativa – tendo aplicação em esferas distintas: cinematográfica ou
literária, por exemplo – é possível fazer uma aproximação com as aceções de Tarkovsky
a respeito da arte cinematográfica, pois, consoante o que o diretor manifesta
em «Esculpir o Tempo», o cinema possui o tempo como matéria-prima. Ou seja, um
filme é o produto da escolha, sequenciamento e união de diversos registros
temporais que dão forma e significado fílmicos a uma narrativa. Quer dizer, os
filmes de Tarkovsky exprimem uma rutura do cinema europeu, sobretudo o
soviético, com as tendências de imagem-ação do cinema americano no qual
principalmente a ação constrói a existência temporal da narrativa, gerando as suas
intrigas. De acordo com Deleuze, a mise-en-scène
e o tempo são os principais aliados de Tarkovsky nesse distanciamento; ele
ainda coloca que, ao encarar demasiadamente cedo «um conjunto de fenómenos:
amnésia, hipnose, alucinação, delírio, visões de moribundos e, sobretudo,
pesadelo e sonho», (Gilles Deleuze, «A
imagem-tempo» pdf, 2005,
p. 71), o cinema soviético aproximou-se de tendências de outros movimentos
europeus, tais como: futurismo, construtivismo, formalismo, expressionismo
alemão, surrealismo, etc., e viu nisso um meio de «atingir um mistério do
tempo, de unir a imagem, o pensamento e a câmara no interior de uma
‘subjetividade automática’, em oposição à conceção demasiado objetiva dos
americanos» (idem, ibid.).”

[2] Arseny Tarkovsky em “8
Ícones”. “O Verão
partiu / E nunca devia ter vindo. / Será quente o sol / Mas não pode ser só
isto. // Tudo veio para partir, / Nas minhas mãos tudo caiu, / Corola de cinco
pétalas, / Mas não pode ser só isto. // Nenhum mal se perdeu, / Nenhum bem foi
em vão, / À luz clara tudo arde / Mas não pode ser só isto. // Agarra-me a vida
/ Sob a sua asa intacto, / Sempre a sorte do meu lado, / Mas não pode ser só
isto. // Nem uma folha se consumiu / Nem uma vara quebrada... / Vidro límpido é
o dia, / Mas não pode ser só isto.”

[3] Cicciolina visitará várias vezes
Lisboa, um caldeirão de cultura, no qual todos querem cair para serem uns
Obélixes das artes, das ciências e palpites. “Ça va
être ta fête” (1960), real. Pierre Montazel, c/ Eddie
Constantine, Barbara Laage, Stefan Schnabel … sob o título local “Eddie em
Lisboa” estreado sexta-feira, 28 de abril de 1961 no Condes, “um rigoroso exclusivo
deste cinema e não será apresentado, em qualquer outro, antes de outubro”. “Eddie
Constantine interpreta o agente secreto John Larvis (ou John Lewis na versão em
inglês) que se desloca a Lisboa numa missão especial para encontrar Marc
Lemoine, um agente duplo desaparecido, que tem em sua posse informações
importantes, que lhe podem custar a sua vida. Em Lisboa, Larvis é ameaçado por
um gangue violento e envolve-se com uma jovem jornalista francesa, Michèle
Laurent, interpretada por Barbara Laage. O chefe dos Serviços Secretos acaba
por que lhe contar que Lemoine nunca existiu. Mas tal informação não significa
o fim da sua missão em Lisboa, pois é a partir daí que começam os seus
verdadeiros problemas.
Rodado em Lisboa, o filme tem cenas
gravadas no Aeroporto de Lisboa, no Hotel Ritz e nas Avenidas Novas, sendo um
dos figurantes o então jovem António Homem Cardoso, que se tornou um dos mais
famosos fotógrafos portugueses das últimas décadas.”

no aparelho de televisão

“Magazine Sete” (1980-81), programa de atualidades transmitido
aos domingos, pelas 17h00, na RTP 1. O episódio de 8 de fevereiro de 1981 continha
uma entrevista com António José Saraiva, pai do famoso autor, professor, jornalista,
arquiteto, José António Saraiva. Sobre ela escreveu Mário Castrim: “A outra
conversa foi com António José Saraiva, uma pessoa que se compraz em chafurdar
na confusão. Assim ficamos a saber, os dois acontecimentos que muito influíram
nele: maio de 68 e mais recentemente uma viagem à América «onde o capital
atingiu o seu máximo desenvolvimento, o capital é uma força cega, sem pátria,
sem projeto, sem pessoa, sem nada e no entanto, é surpreendente que tenha
produzido um país que entre todas as coisa é muito belo, Nova Iorque sobretudo
é belíssima com os seus maravilhosos arranha-céus, etc.» Mas para se ver o grau
de confusão que o pobre homem atingiu, repare-se no seguinte discurso que me
dispenso de comentar, pois seria desnecessária crueldade: «É muito difícil
prever a evolução da sociedade mercantilista. O que é certo é que não será a
evolução prevista por nenhum dos que fizeram previsões. O sistema mercantil é
criticado desde a Idade Média. O seu desaparecimento foi antevisto por várias
pessoas, foi enunciada a sua queda iminente por Marx há cento e trinta anos, ou
coisa que o valha e ele subsiste e não se vê qualquer alternativa. Não há
qualquer alternativa, quer dizer a sociedade mercantil é um processo automático
que só pode ser substituído por um processo voluntarista o qual processo não
consegue comandar a realidade. Há coisas para o que o homem não está preparado.
O próprio homem não é o que ele pensa que é nem o que ele deve ser. O próprio
homem funciona como um boneco de um filme, independentemente dele e obedece a
leis que nós não conhecemos realmente. A sociedade mercantil tal como está não
pode subsistir, mas não há alternativa para ela».” [1]
“La famillie Vialhe” (1984), minissérie francesa
baseada nos dois primeiros livros, “Des grives aux loups” e “Les palombes ne
passeront plus”, de uma saga regionalista de Claude Michelet, c/ Maurice
Barrier, Suzanne Carra, Bruno Devoldère … transmitida às quintas-feiras pelas
20h30, na RTP 2, de 3 de abril / 8 de maio de 1986. 1.º episódio: uma série
francesa de seis episódios baseada na obra de Claude Michelet que pretende
contar a história de uma aldeia de França de 1900, através, da história de uma
família nela residente, a família Vialhe. Saint-Libéral-sur-Diamond, a pequena
aldeia, é então uma terra que parecia parada. 1899. Véspera de Natal. Dois
miúdos, Pierre-Edouard Vialhe e Léon Dupeuch colocam armadilhas nos campos
próximos da pequena aldeia de Saint-Libéral. Dias depois, a mãe de Léon dá à
luz a pequena Mathilde. É o primeiro de janeiro de 1990. 2.º episódio: verão de
1909. Pierre volta do serviço militar, recusa-se a aceitar a tirania do pai e,
sai de casa. A vítima passa a ser a filha mais nova, Berthe. Verão de 1944.
Assassínio de Jaurès, mobilização geral, a guerra. A povoação adapta-se às
dificuldades e Berthe que, entretanto, atinge a maioridade, foge de casa.
Jean-Edouard e a mulher ficam sozinhos na quinta. 3.º episódio: finalmente, a
guerra termina. Mathilde Dupeuch e Pierre-Edouard Vialhe casam-se contra
vontade do pai. A morte repentina da mãe, Marguerite Vialhe, reúne por alguns
dias os três filhos junto do pai. 4.º episódio: 1930. Os tempos mudam em
Saint-Libéral: surge um outro comboio, é instalada a eletricidade e aparecem
novas e mais modernas máquinas agrícolas. Léon Dupeuch, agora presidente da Câmara,
faz um bom casamento. Para os agricultores os tempos são cada vez mais
difíceis. 5.º episódio: quando começa a guerra são muitos os refugiados que
chegam a Saint-Libéral e cedo se começa a fazer sentir o rigor da ocupação.
Todas as noites, os Vialhe, incluindo Louise que, entretanto, viera para junto da
família, se reúne ansiosa à volta da telefonia para ouvir as notícias. 6.º
episódio: no verão de 1945, Jacques chega a Saint-Libéral depois de ter passado
quatro anos numa quinta na Alemanha como prisioneiro de guerra. A tensão entre
ele e o pai é grande: acha os métodos agrícolas utilizados pelo pai muito
antiquados e engravida uma rapariga. Entretanto, Berthe que fugira de um campo
de concentração vai retomando aos poucos o gosto pela vida. Paul é morto numa emboscada
na guerra da Argélia. “Cristo si è fermato a Eboli” (1979), real. Francesco Rosi, c/ Gian Maria Volontè,
Paolo Bonacelli, Alain Cuny … minissérie italiana em quatro episódios transmitida
aos sábados pelas 22h00, na RTP 2, de 22 de março / 12 de abril de 1986. “Carlo
Levi (Gian Maria Volontè), intelectual antifascista, foi condenado a três anos
de prisão na sua cidade, Turim, em 1935, é forçado a retirar-se para Aliano,
uma aldeia remota na Lucânia. Aqui o escritor tenta entrar nos mecanismos que
controlam a sociedade campesina e perceber a miséria que a aflige, não só
económica, mas também cultural. Encontra, de facto, uma sociedade dominada
ainda pela superstição e tradições pagãs, onde a burguesia é dona tendo em
cheque a gente pobre. Licenciado em medicina mas sem nunca ter exercido a
profissão médica, Levi coloca-se à disposição da população mais pobre e conquista
a sua confiança, tornando-se seu médico.” “Der Zauberberg” (1982),
real.
Hans W. Geissendörfer, c/ Werner Eichhorn, Rod Steiger, Marie-France Pisier … adaptação
alemã da novela de Thomas Mann, sob o título local “A montanha mágica”
transmitida às quintas-feiras pelas 22h55, na RTP 1, de 26 de setembro
/ 24 de outubro de 1985. 1.º episódio: Hans Castorp, de 23 anos, vai visitar o
seu primo Joachim Ziemßen que se encontra internado num conhecido sanatório em
Davos. Hans planeava ficar junto do primo durante três semanas, acaba por se
deixar lá ficar. Para sua grande surpresa acabou por encontrar um grupo de
filósofos, jogadores e sonhadores. E quase sem dar por isso, Hans penetra na
vida dessa sociedade decadente. 3.º episódio: o fim de uma sociedade que conduz
a um descontrolo cada vez maior e a crescentes excessos parece inevitável. 4.º
episódio: Hans Castorp vê-se cada vez mais envolvido na atmosfera que se vive
no sanatório e a sua ligação com Clawdia Chauchat é agora uma realidade. Mas,
um dia Clawdia desaparece sem deixar qualquer rasto. Castorp está convencido
que ela há de voltar, pois essa é a ordem natural de quem deixa a Montanha
Mágica. Dois outros doentes tentam cativar Castorp para o seu grupo:
Settembrini e Naptha. Só que Castorp fica um pouco baralhado com as suas
personalidades tão diferentes. Entretanto, Joachim Ziemßen, o primo de Hans,
resolve ir-se embora do sanatório, sem ainda estar curado. Decorrido um ano ele
acaba por voltar, mas agora são nulas as suas esperanças de vida. Hans Castorp,
que passou sete anos da sua vida num sanatório, acaba por se ver envolvido pelo
ambiente que o rodeia. Entretanto, eclode a Primeira Guerra Mundial. “Call to Glory”
(1984-1985), real. Ronald M. Cohen, c/ Craig T. Nelson, Cindy Pickett,
Elisabeth Shue … série americana sob o título local “Horizontes de glória”
transmitida às quintas-feiras pelas 19h55, na RTP 2, de 24 de outubro de 1985 / 9 de janeiro
de 1986. 1.º episódio: é uma série dramática sobre a Força Aérea
norte-americana que se desenrola no período conturbado da década de sessenta.
Anunciada como «uma série espetacular, diferente de tudo o que a televisão tem
apresentado até agora», a série tem a caraterística singular de apresentar em
contraponto o drama das famílias dos pilotos que, em terra, apenas podem
aguardar, com esperança, o seu regresso. O primeiro episódio introduz Raynor
Sarnac, coronel da Força Aérea e principal personagem da série, durante uma
missão secreta a Cuba, para obter provas fotográficas da instalação de uma base
soviética de mísseis nucleares apenas a 90 milhas da costa dos EUA. 2.º
episódio: o coronel Raynor Sarnac tem que optar por uma oferta lucrativa de uma
empresa privada ou por um lugar importante na Força Aérea, na Califórnia. 3.º
episódio: o coronel Raynor Sarnac é informado que um ex-piloto da Força Aérea
está a vender uma história ultrassecreta a uma revista e recebe ordens
superiores para o deter. Entretanto, sua filha Jackie tenta impedir o filho de
um dos maiores amigos do pai de fugir num barco de pesca prestes a partir para
o Alasca. 4.º episódio: o coronel Raynor Sarnac aproveita os poucos momentos de
convívio familiar para saber dos últimos projetos dos filhos e Wesley convida-o
mesmo para um musical que vai ter na escola. Sarnac que promete estar presente
no dia da festa vai ver de repente os seus compromissos alterados quando o
general Connors o destaca para uma missão secreta em Manila. 5.º episódio: um
dos filhos do coronel Sarnac chega a casa ferido no rosto em virtude de,
juntamente com um amigo também filho de um oficial da Força Aérea, ter lutado
com uns jovens racistas. E logo toda a família Sarnac vai ficar envolvida na
questão. 6.º episódio: a pedido do presidente Kennedy, o coronel Sarnac vai a
Saigão em missão secreta, embora oficialmente o motivo da sua visita se
relacione com o apoio prestado pela Força Aérea americana, ele vai, na
realidade, fazer o ponto da situação política vietnamita e o conflito entre
budistas de católicos. 7.º episódio: o coronel Raynor vê-se colocado numa
situação embaraçosa quando tem de ir dar o seu testemunho sobre a segurança de
um novo avião desenhado por um dos seus maiores amigos. 8.º episódio: o coronel
Raynor Sarnac e o oficial japonês Sakomoto são forçados a saltar de paraquedas
quando durante os treinos o avião tem uma grande avaria. Em plena montanha e
num isolamento total, ambos lutam pela sua sobrevivência. Mas, apesar das
diferenças culturais e pessoais, Sarnac apercebe-se de que afinal têm muito em
comum. 9.º episódio: o coronel Sarnac irá ajudar um colega e amigo num transe
difícil que lhe poderá custar uma promoção na carreira. 10.º episódio: uma
repórter curiosa é encarregada de escrever um artigo sobre a vida de um piloto
de experiências e o coronel Sarnac é escolhido para o efeito. A jornalista
começa a querer entrar em área exclusivamente da competência militar e o
coronel Sarnac sente-se pressionado. 11. Raynor e Vanessa ajudam um casal amigo
a ultrapassar uma crise que eles próprios já haviam enfrentado e que ameaçou
destruir o seu casamento e que é causado pelas exigências que advêm da
profissão desempenhada pelos oficiais da Força Aérea. 12.º episódio: um dos
melhores pilotos da base morre, devido a um erro técnico, ao fazer um teste em
que consegue bater um recorde de altitude. Obrigado a substitui-lo na
experiência seguinte, por ser seu chefe, o coronel Sarnac vai enfrentar um
pesado temporal.

___________________

[1] Portugal,
ávido povo consumidor de cultura: “Arden
Anderson and Norma Murphy” (1972), de John de Andrea na coleção Berardo. Do
mesmo John de Andrea, “Joan” (1987), no
Minneapolis Institute of Arts.

na aparelhagem stereo

Na família,
a doce esposa, insubstituível metade da célula-base das sociedades eretas. “Foi
durante um jantar de beneficência que Kate Middleton confessou que não tem
muito jeito para cozinhar. «O William tem de aguentar os meus cozinhados»,
afirmou a duquesa de Cambridge aos chefs.
Segundo a revista People, o príncipe entrou na brincadeira e disse: «É
por isso que estou tão magro». O jantar de gala, que decorreu em Houghton Hall, foi
confecionado pelos «melhores chefs do
mundo», Galton Blackiston, Sat Bains, Claude Bosi, Tom Kerridge e Mark Edwards.” [1]

“A cantora
Daniela Mercury esteve presente com a esposa, Malu Verçosa, na festa do 27.°
Prémio da Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em
entrevista ao site Ego, durante a
passagem pela passadeira vermelha, Daniela revelou que deseja aumentar a
família. «A vontade é grande. Não descarto isso, de engravidar ou da Malu
engravidar por nós. A imprensa não me viu grávida, né? Mas cá entre nós, é mais
fácil a Malu engravidar. Aliás, é uma boa ameaça. Se ela não engravidar, então
quem vai engravidar sou eu», brincou a cantora. Bem-humorada, Malu entrou na
brincadeira. «Ela me ameaça, se você não engravidar eu engravido. Quer
muito ter uma filha ou filho que venha da minha barriga. Ela é louca, né?», disse.” [2]

Uma das
principais funções de uma esposa é ir ao frigorífico buscar uma cerveja bem fresquinha,
e se for japonesa, a cervejola, ainda melhor. Kirin Nodogoshi: “O primeiro gole
é muito refrescante, saboroso todavia bastante light. É um pouco «verde» e tem um leve sabor frutado com
insinuações de casca de limão, também. Termina com um ligeiro amargor e travo
imaculado.” Pub.: “The North Wind and the Sun” (2016),
real. Minoru
Mamoru Shinsuke (實守 信介), c/ Konno Anzuminami (今野杏南), Katayama MoeYoshi (片山萌美) … para a cerveja
Kirin Nodogoshi , na campanha publicitária: “Kirin estudantes
Nodogoshi ensolarado Nodogoshi (KIRIN のどごし生 晴れのどごし)”. Deus Google traduz: “Kirin Brewery Co.,
Ltd. (Presidente Isozaki IsaoNori) tem, desde o seu lançamento em abril de
2005, dispõe de um enorme volume de vendas no novo mercado género renovada
«Kirin Nodogoshi », sequencialmente desde o início de fevereiro de
2013, bens manufaturados switch. Por mais acima da «esperteza» e «Nodogoshi»
das vendas totais de seu lançamento até dezembro do ano passado superou 120
bilhões de cigarros (latas de 350ml equivalente) «Kirin Nodogoshi »,
a nova expansão está prevista vamos continuar a conduzir fortemente o mercado
de género.”

A família
portuguesa encontra-se em frente da
televisão. Futebol e cerveja. Golo! O maior cronista português, Ricardo
Quaresma, sumariza: “Feliz pelo golo: sim, mas foi um país inteiro que
marcou, eu fui apenas o mensageiro da vossa vontade. Agora é
continuar, com humildade, trabalho, respeito pelo adversário, concentração e
muita vontade de vencer. Acredito que Deus continua a caminhar comigo. Obrigado
pelo vosso carinho.”

Crónicas nos
anos 80:

█ “Dancing on Plato’s Tomb” (1988) ♫ “Marginal” (1991), p/
Universal Congress Of. “É um agrupamento
americano de jazz, de Los Angeles,
formado em 1986. O projeto foi iniciado por Joe Balza, e continuou a
desenvolver a sua fusão de free jazz e punk rock após a sua
banda anterior, os Saccharine Trust, ter feito
uma pausa. A abordagem dos Congress ao free
jazz valeu-lhes comparações com Ornette Coleman, embora o
grupo aponte Albert
Ayler como sua fonte primária de inspiração.” █ “Holy Joe” (1980) ♫ “Eternally Yours” (1984),
p/ Laughing Clowns. “Formados em Sydney em abril
de 1979 como um grupo de rock, soul, jazz avant-garde por Bob
Farrell no saxofone, Ed Kuepper na guitarra e voz (ex-Kid Galahad and the Eternals,
The Saints), Ben
Wallace-Crabbe no baixo e Jeffrey Wegener na bateria (ex-The Saints, The Last Words, Young Charlatans). No
final de 1978, Kuepper saiu da banda punk
The Saints, em Londres – para onde eles se tinham mudado – devido a uma
discussão com o colega Chris Bailey quanto à direção futura. Kuepper preferia
«material menos comercial, mais intelectual» como no terceiro álbum da banda, «Prehistoric Sounds»
(outubro 1978). Quando Kuepper regressou à Austrália em 1978, ponderou
reformar-se da indústria musical, no entanto, retomou contacto com dois amigos
da velha guarda, Farrell e Wegener, numa festa, e eles persuadiram-no a formar
uma nova banda. Tanto Farrell como Wegener tinham ligações aos Saints: Wegener
foi um dos primeiros membros em 1975, e Farrell foi um dos Flat Top Four, que
fizeram coros em «Kissin’
Cousins» para o álbum de estreia «(I'm) Stranded» (fevereiro 1977). Ben
Wallace-Crabbe tinha tocado numa banda de Melbourne, The Love, com Wegener, e
completou a formação inicial. Um single
sugerido pelos The Saints, «Laughing Clowns» / «On
the Waterfront», para a EG Records não foi gravado por causa das divergências
de opinião entre Kuepper e Bailey. Cada faixa apareceu noutro lugar: «On the
Waterfront» no primeiro EP dos Saints pós-Kuepper, «Paralytic Tonight, Dublin
Tomorrow» (março 1980) e «Laughing Clowns» forneceu o nome da nova banda de
Kuepper e um miniálbum homónimo de seis faixas em maio daquele ano. Os Laughing
Clowns estrearam-se em agosto de 1979, enfrentando imediatamente a confusão e
antipatia dos fãs dos Saints que esperavam um som punk mais abrasivo. O musicólogo australiano Ian McFarlane observou
que «parte do problema era que o som da banda desafiava a categorização. Tendo
de superar rótulos tão ridículos como jazz-punk
… era variado, porém melancólico, por vezes melódico e dissonante. Variava do rock e soul ao jazz avant-garde».
O álbum «Prehistoric Sounds» só teve edição local pela EMI em 1979, assim, os Laughing
Clowns tocavam várias faixas desse disco nos seus primeiros concertos –
incluindo «The Prisoner» e «Swing for the Crime». Mais tarde nesse ano, o primo
de Ben e antigo guitarrista da versão de Melbourne dos Crime & the City
Solution, Dan Wallace-Crabbe (também ex-The Love), juntou-se ao grupo no
piano.”

█ “Gimme
Gimme Good Lovin’” (1984), p/ Helix. “Em 1984, a banda canadiana de hair metal,
Helix, viu-se em Hollywood, aos pinotes, no meio de uma filmagem, com algumas roliças
bombardas de cabelo volumoso da década de 80, para um Miss Rock Fantasy 1984,
uma paródia de um concurso de beleza, enquanto fazia playback da sua garrida versão de «Gimme Gimme Good Lovin’»,
dos Crazy Elephant – filmaram duas versões, incluindo uma
para adultos, estrelando uma Traci
Lords
menor de idade – mas quando eles apareceram no Night Flight, pouco
depois de o videoclip começar a ser transmitido no programa, o vocalista Brian
Vollumer lastimou ter feito um vídeo tão sexista. Vollumer diz: «O vídeo «Gimme
Gimme Good Lovin’» que basicamente foi proibido por causa do seu sexismo… uh,
olhando para trás, em retrospetiva, provavelmente era sexista e estamos
tratando de distanciarmo-nos disso. Estamos a aprender com os nossos erros.
Provavelmente, o vídeo fez correr tanta tinta, porque nunca foi transmitido.
Estavam sempre a perguntar-me nas entrevistas sobre o vídeo, então, nesse
aspeto, foi dinheiro bem gasto».”
█ “Queen of the Night”
(1985) ♫ “Touch My Soul” (1986), p/
Camomilla. Ítalo-disco produzido por Luigi
Piergiovanni. Uma das cantoras é Tiziana Rivale. █ “Love In Siberia” (1986),
p/ Laban. “Foi um duo de synthpop dos anos 80 composto por Lecia Jønsson e Ivan Pedersen.
Ambos nascidos na Dinamarca, cantavam originalmente em dinamarquês antes de se deslocalizarem
para edições na língua inglesa. Tiveram limitado sucesso internacional com o lançamento
de dois álbuns, bem como os singles
«Love In Siberia» e «Caught
By Surprise». O duo formou-se em 1982, e nesse ano gravou a canção «Hvor Ska' Vi Sove I Nat?»
(Where Shall We Sleep Tonight?), uma versão de «Sarà perché ti amo», de
Ricchi e Poveri. Um agente chamado Cai Leitner ouviu a canção e, dois dias
depois, era lançada como single. Eles
gravaram outra versão nesse ano chamada «Jeg Kan Li’ Dig Alligevel»
(I Love You Anyway), originalmente cantado pelo grupo pop alemão Hot Shot como «Angel From Paradise». Em
1986 editaram «Love In Siberia» que se manteve quatro semanas no Billboard Hot
100, alcançando o n.º 88.”

█ “Political
Woman” (1987) p/ Cicciolina. Cantora e atriz
com forte implantação em Portugal, conquistada pelas suas múltiplas visitas,
sendo até possível comer Linguado
à Cicciolina no The Lingerie Restaurant, em Albufeira. “O conceito de
refeições servidas em trajes menores, já testado no norte do país, chega agora
ao Algarve. O restaurante, com capacidade para 90 pessoas, oferece sabores
afrodisíacos, servidos por empregados e empregadas de mesa praticamente despidos.
«É um novo conceito de restauração que aposta num ambiente descontraído,
quase familiar, mas muito divertido», garante Luís de Almeida, um dos
proprietários. «Para além disso, temos refeições de qualidade, porque se
queremos que voltem, é importante que comam bem», acrescenta. (…). «Nós
tentámos adaptar o pessoal ao ambiente e pôr à mesa pessoas já com alguma
experiência, mas não é tarefa fácil chegar ao pé de alguém que já trabalha como
empregado de mesa e dizer-lhe para se despir. Até para arranjar bom pessoal
para um restaurante normal já é difícil, quanto mais para aqui!», confessa Luís
de Almeida, do The Lingerie Restaurant, em Albufeira.”

Sábado,
5 de dezembro de 2015 “Cicciolina está de regresso a Portugal. A antiga estrela
pornográfica, de 64 anos, vai estar este sábado noite, pelas 22h00, no Santiago
Alquimista, em Lisboa, para apimentar a festa Soft Porn. «As pessoas têm prazer
a ir a estas festas e em conhecerem-me», afirma ao Correio da Manhã Cicciolina,
que diz ainda ser uma estrela mundial. «Eu não desapareci. Sou um ícone
mundial. Trabalho em todo o mundo e as pessoas conhecem-me», acrescenta a
atriz, que foi estrela da pornografia nos anos 70 e 80 e também deputada em
Itália. Cicciolina promete diversão, mas não revela o que vai fazer na festa topless: «É ultra secreto».”, em Correio
da Manhã 05-12-2015. “Soft Porn. Eles disseram ao que iam e o nome da festa
também não enganava ninguém. Com todo o staff,
e quem mais quisesse, em topless.
Assim mesmo. Tocaram os DJ DMA, Mad Mac e PALMADA, Cicciolina também apareceu
e, claro, «voltou a fazer das suas» - como dizia um pivô de telejornal dos anos
80, num vídeo que por estes dias se tornou viral de quando Ilona Staller, então
apelidada de pornodeputada, fez uma visita à Assembleia da República e,
impedida de entrar na sala, subiu à bancada diplomática e mostrou os seus seios
aos deputados. No sábado passado, no Santiago Alquimista, não foi muito
diferente. Faltaram só os deputados [3]. O
primeiro Soft Porn no ano passado, com Ana
Malhoa depois de várias festas topless no Purex.”, na revista Tabu no
jornal Sol n.º 485. “A entrada custa 10 €. Se preferir comprar no recinto,
passa para 12 €.”
“Na festa, marcaram presença algumas figuras públicas, como Maya Booth, Tiago
Froufe, Luís Simões, Manuel Moreira e ainda o casal Paula Lobo Antunes e Jorge
Corrula.”

Sexta-feira,
13 de novembro de 1987 “a artista porno italiana Cicciolina, também
deputada pelo Partido Radical, atua no dia 19 no Coliseu dos Recreios de Lisboa
num show erótico de mais de uma hora [4]. (…). A
artista-deputada vem acompanhada por algumas cobras, com as quais vai
contracenar, e uma equipa de técnicos de som e de iluminação para montar o
espetáculo numa arena, disse fonte do Tal & Qual. Ilona Staller, de nome
artístico Cicciolina esteve em Lisboa no dia 8 de outubro como deputada do
Partido Radical italiano, juntamente com o líder daquele agrupamento político,
Marco Panella. (…). No mês passado, em Lisboa, vários repórteres fotográficos e
jornalistas aguardaram em vão que a deputada mostrasse pelo menos um pouco do
seios, mas tanto ela como Marco Panella salientaram encontrar-se em Portugal
apenas para promover o futuro Partido Radical Europeu. Desta vez, segundo a
mesma fonte do semanário Tal & Qual, «não há Panella que a segure, ela vai
mesmo mostrar tudo». Na redação, o semanário tem recebido «várias chamadas
telefónicas de feministas que protestam contra tal tipo de espetáculo»,
referiu. Outros telefonemas são de pessoas que consideram a atuação de
Cicciolina um «atentado à moral pública», adiantou. Na terça-feira, um homem
telefonou para o jornal tentando saber em que dia chega a artista e em que
hotel fica hospedada. «Disse que tinha uns assuntos a tratar com ela», explicou
a mesma fonte. Cicciolina concede dia 18 uma conferência de imprensa numa boîte
de Lisboa, onde vai «mostrar o que lhe apetecer», conclui a mesma fonte do
jornal patrocinador da sua vinda a Portugal.” [5]

Quinta-feira,
15 de setembro de 1988 “Cicciolina voltou a suplantar Ilona Staller. Na
verdade, a deputada italiana foi ao parlamento norueguês mas não logrou ser
recebida por nenhum dos seus pares de Oslo. Então, a atriz fez-se turista e
exibiu um dos seus símbolos preferidos: o seio esquerdo. Mas fê-lo frente a um
quadro que representa os fundadores da democracia norueguesa. O presidente do
parlamento considerou que se trata de uma prova de mau gosto. Um funcionário
pôs Cicciolina fora do parlamento norueguês o que mereceu o elogio do seu
presidente.”

____________________

[1] Kate Middleton corporifica a independente mulher moderna. Larisa, 1,73 m, 51 kg, 87-60-89, sapatos 37,
nascida a 22 de maio de 1983 em Volzhsky, Rússia. “Larisa é uma rapariga muito
interessante, ela tem um aspeto muito particular. Nascida em Volzhsky sempre
quis viver em Volgograd e ser muito famosa entre homens poderosos. Quando
Larisa veio ter com Galitsin era muito triste e nervosa – ela estava casada.
Tinha relações difíceis com o marido. Ele era um tipo muito esquisito e o matrimónio
não durou muito. Agora ela vive com a irmã mais velha. A sua irmã é realmente
bonita e costumava ser uma das modelos mais lindas de Grig. Larisa admira-a e
sempre acalentou um sonho: fazer sexo com a irmã, mas sempre foi interdito. A
única coisa que Larisa pode fazer é partilhar um homem com a sua irmã, terem
relações sexuais os três juntos. Ajuda Larisa a estar mais perto da sua
deslumbrante irmã e dá-lhe oportunidade de tocar-lhe o corpo perfeito, a pele.
Então, Larisa é lésbica no seu íntimo, e não gosta nada de homens. Ela tem
muitos amantes mas usa-os como brinquedos, eles sustentam-na e dão-lhe
presentes. Na verdade, Larisa gosta de mulheres, da sua irmã e especialmente da
Valentina.
Ela gosta de posar com Valentina. Larisa sempre pediu ao Grig Galitsin para
tirar fotos dela com Valentina. E durante as sessões sempre se atirou à
Valentina.” Entrevista: P: “Quais
pensas que são os teus melhores atributos?”, Larisa: “Os olhos.” P: “Cor
favorita?”, Larisa: “Amarelo.” P: “Programas de TV favoritos, lista de nomes”,
Larisa: “Okna” P: “Livros
favoritos, lista de títulos”, Larisa: “Lolita por Nabokov.” P: “Filmes favoritos,
lista de títulos”, Larisa: “Кавказская пленница (2014), What Women Want (2000) ” P:
“Revistas favoritas, lista de nomes”, Larisa: “Cosmopolitan.” P: “Música favorita,
lista de títulos”, Larisa: “Madonna, Elton John.” P: “Altura favorita do dia,
porquê?”, Larisa: “À tardinha, posso encontrar-me com os meus amigos e
divertir-me.” P: “Qual é a tua formação? Curso?”, Larisa: “Estudante, de
crédito e finanças.” P: “Falas outras línguas? Se assim for, diz-me algo nessa
língua”, Larisa: “Inglês.”, P: “Lugar favorito para viajar, relaxar ou visitar”,
Larisa: “O Mar Negro.” P: “Quais foram os locais que visitaste?”, Larisa:
“Visitei bastantes cidades russas.” P: “Qual é o teu feriado preferido? (Natal,
dia dos namorados, dia de ação de graças, etc.)”, Larisa: “O dia de aniversário.”
P: “Comida favorita, lanches, doces”, Larisa: “Peixe, fruta e azeitonas.” P:
“Qual é o teu carro de sonho?”, Larisa: “Um carro desportivo branco.” P: “Qual
é o teu emprego de sonho?”, Larisa: “Dona de loja de perfumes.” P: “Descreve o
teu lugar favorito para fazer compras”, Larisa: “Lojas de comida e boutiques.” P:
“Assistes a desporto, se sim, quais são as tuas equipas favoritas?”, Larisa:
“Adoro patinagem artística.” P: Praticas algum desporto ou outras atividades?
Explica”, Larisa: “No verão jogo voleibol. Também jogo bowling.” P: “Quais são os teus passatempos?”, Larisa: “Coleciono
estatuetas.” P: “Preferência de bebidas, alcoólicas e não alcoólicas”, Larisa:
“Sumo de ananás e cocktails de Baileys.” P: “Ocupação?”, Larisa: “Contabilista.”
P: “Tens algum animal de estimação?”, Larisa: “Gato siberiano Lyalya.” P: “Estado
civil?”, Larisa: “Solteira.” P: “Nada se mete entre mim e…”, Larisa: “Entre mim
e a minha irmã.” P: “O meu pior hábito é…”, Larisa: “Chego sempre atrasada.” P:
“A única coisa que não suporto é…”, Larisa: “Quando os meus amigos me traem.”
P: “Que animal melhor descreve a tua personalidade e porquê?”, Larisa: “O gato,
porque por um lado sou simpática e bonita, mas ao mesmo tempo tenho um caráter
perverso.” P: “As pessoas que me conheceram no liceu pensavam que eu era…”,
Larisa: “Rapariga tímida e recatada.” P: “Como é que descontrais ou passas o
teu tempo livre?”, Larisa: “P: “Relaxo em casa, vou ao ginásio ou discotecas.
No verão gosto de ir à praia.” P: “Qual foi o momento mais feliz da tua vida?”,
Larisa: “Houve muitos deles e é-me difícil escolher apenas um.” P: “Quais são as
tuas esperanças e sonhos”, Larisa: “Quero ser feliz e alcançar tudo por mim
própria.” P: “O melhor conselho que já me deram foi…”, Larisa: “Perdoar aqueles
que me ofenderam, mas nunca mais encontrar-me com eles.” P: “O pior conselho
que me deram…”, Larisa: “Nunca me preocupar comigo mas com os outros.” P: “Que
tipo de cuecas usas, se algumas”, Larisa: “Biquíni, a maior parte do tempo.” P:
“Homem ou mulher ideal”, Larisa: “Ainda não conheci uma pessoa ideal” P: “O
tamanho importa? Qual é a tua medida ideal?”, Larisa: “O tamanho importa! Mas
depende da pessoa.” P: “Descreve a tua primeira vez (pormenores, local, pensamentos,
satisfação, etc.)”, Larisa: “Aconteceu com o meu amado. Ele fez tudo
gentilmente e não me magoou. Foi na sua casa no meu aniversário. Mas não tive
prazer nenhum.” P: “O que te excita?”, Larisa: “Uma pessoa deve irradiar energia
sexual positiva.” P: “O que te desliga?”, Larisa: “Teimosia, grosseria,
desarrumação.” P: “O que te faz sentir mais desejada?”, Larisa: “Quando sinto
que a pessoa precisa de mim.” P: “Melhor maneira de te dar um orgasmo”, Larisa:
“Apenas ser meigo.” P: “Qual foi o teu melhor ou mais prazeroso orgasmo?”,
Larisa: “As suas doces palavras de amor e a paixão que ele sentiu fez-me vir
maravilhosamente.” P: “Masturbas-te? Com que frequência? (dedo, brinquedos ou
ambos)”, Larisa: “Às vezes acontece no banho com a ajuda do chuveiro.” P: “Qual
foi o teu primeiro fetiche, se algum?”, Larisa: “Com o meu urso de peluche.” P:
“Qual é o lugar mais exótico ou invulgar em que fizeste sexo? Ou onde gostarias
que fosse?”, Larisa: “Na natureza e numa piscina.” P: “Posição sexual favorita,
porquê?”, Larisa: “O 69 e quando ele fica por baixo, gosto de olhar nos seus olhos.”
P: “Descreve um dia típico da tua vida”, Larisa: “Nos fins de semana levanto-me
às 10h00, tomo o pequeno almoço e, ou vou para o ginásio, ou vou fazer compras.
Se estou a trabalhar, levanto-me às 7h30. Ao anoitecer, descanso em casa ou
nalgum local com amigos.” P: “Tens alguma curiosidade sexual que gostasses de
explorar ou tivesses explorado? Por favor, descreve com pormenores (rapariga /
rapariga, voyeurismo, etc.)”, Larisa: “Às vezes gosto de raparigas, mas não
mais do que uma mera curiosidade.” P: “Descreve em detalhe a tua fantasia
sexual favorita”, Larisa: “Um agradável serão romântico com o meu namorado.
Escondemo-nos bem longe onde ninguém nos possa encontrar. Apenas desfrutamos um
do outro e não nos limitamos de forma alguma.” P: “Conta-nos a tua ideia de um
encontro de fantasia”, Larisa: “Algures num grande chalé com uma pessoa que
precisasse de mim. Há um jantar romântico com velas.” P: “Se pudesses ser
fotografada de qualquer forma, em qualquer cenário, qual escolhias? O que te
faria sentir mais desejada, mais sensual?), Larisa: “Gostaria de ser
fotografada num descapotável branco com a minha irmã.” Sites: {jeuneart}
{The Nude} {Which Pornstar}. Obra
fotográfica: {fotos1}.

[2] “A História da urbanização 3700 a.C.
– 2000 d.C.”

[3] Quinta-feira, 19 de novembro de 1987. “Cicciolina
foi hoje à tarde ao parlamento onde desnudou os seios durante alguns segundos,
os suficientes para gerar o escândalo de que todos falam. Mas se nas bancadas
do CDS e do PSD os protestos choveram, nas outras já os sorrisos foram comuns.
Dizia um deputado comunista momentos depois, nos corredores de S. Bento: «Para
a próxima vez avisem-me, porque como a minha bancada está por baixo da galeria
dos diplomatas não consegui ver nada». Natália Correia (PRD), a quem a
pornodeputada italiana abraçou efusivamente nos Passos Perdidos, terá mesmo
afirmado que «se existe em Itália um Papa porque não há de existir uma
Cicciolina?» Aconteceu por volta das 17 horas e, à noite, no espetáculo ao
Coliseu, Cicciolina anunciava: «Estive no vosso parlamento, para saber como os
deputados se comportavam diante de Cicciolina. Os vossos democratas-cristãos
ficaram muito escandalizados». De facto, a exibição da pornodeputada provocou
fortes protestos do deputado do CDS Nogueira de Brito*,
que afirmou que tal espetáculo ofendia a dignidade da Assembleia da República.
A deputada e atriz porno chegou de surpresa ao palácio de S. Bento e procurou
entrar na sala de sessões, o que não lhe foi permitido pelos funcionários de
serviço, que a conduziram, após autorização dos líderes dos grupos
parlamentares, à galeria reservada ao corpo diplomático. Um jornalista que a acompanhava
terá afirmado que Ilona Staller se deslocava à Assembleia da República a
convite de Helena Roseta, deputada independente pelo PS, e de Luís Martins,
eleito pelo PSD. O facto foi desmentido pela primeira, imediatamente após o
intervalo regimental que pôs cobro ao incidente, afirmando que o assunto tinha,
de facto, sido falado na Comissão da Condição Feminina da Assembleia da
República a semana passada e que a proposta para tal partira de Luís Martins.
No entanto, ela não vingou por oposição da maioria da Comissão, incluindo da
própria Helena Roseta. Natália Correia havia sido favorável. (…). O presidente da
Assembleia da República, Vítor Crespo, condenou o procedimento da visitante e
congratulou-se pelo facto de a Comissão Parlamentar da Condição Feminina da
Assembleia não estar envolvida na questão. Vítor Crespo disse que o
procedimento de Cicciolina «não é próprio nem adequado à seriedade dos nossos
propósitos, porque as instituições parlamentares estão ao serviço do bem-estar
e do progresso dos cidadãos, não aceitando envolvimento em quaisquer atos
de promoção pública». Referia-se ao espetáculo à noite, no Coliseu, e a verdade
é que Cicciolina
se fazia acompanhar, no parlamento, por uma equipa de fotógrafos e de televisão
já informada do que ia acontecer. Foi uma pedrada no marasmo da sessão, que
decorria árida e sonolentamente.” 

__

* Natália Correia cantou este emurchecido bracarense. “Estava
o Parlamento em tédio morno / Do Processo Penal a lei moendo / Quando carnal a
deputada porno/ Entra em S. Bento. Horror! Caso tremendo! // Leda à tribuna dos
solenes sobe / A lasciva onorevole Cicciolina / E seus pares saudando ali
descobre / O botão rosado da tetina. // Para que dos pais da Pátria o pudor
vença, / Do castro bracarense o verbo chispa: / «Cesse a sessão em nome da
decência / Antes que a Messalina mais se dispa.».”

[4] Quinta-feira, 19 de novembro de 1987, espetáculo de Cicciolina
no Coliseu dos Recreios, rua Portas de Santo Antão, n.º 96. “Surgiu no meio de
fumo, cantando as estrofes pacifistas de um conhecido tema de Sting, que apela
à concórdia entre os Estados Unidos e a União Soviética. E enquanto cantava,
segurando o microfone ao alto, o vestido rosa de Cicciolina descaia deixando
ver os seios mais famosos da Europa. Foi hoje no Coliseu, e a pornodiva ia
perguntando, a este e àquele elementos do público: «Conheces as posições do
amor? Queres ser um Cicciolino radical?» Ao longo do espetáculo, Cicciolina
desafiou alguns homens a entrarem na arena, do Coliseu, à volta da qual se
dispunham as cadeiras. Lá ir iam, apesar do susto**.
Depois, a deputada erótica deitava-se sobre eles, afagava-lhes a cara com os
seios e… Tentava abrir-lhes as braguilhas. Ora, aí é que elas
doeram, porque minha gente, os machos portugueses são muito tímidos.
Que não, que não, deixa-me ir embora. Pronto: a grande piada da noite estava
sugerida. As palmas, os assobios e as gargalhadas dependiam dos maiores avanços
ou das recusas que aconteciam. Havia quem afastasse a cara quando Cicciolina se
aproximava com os seus lábios vermelhos, e havia quem gostasse do aconchego dos
seus seios e lá escondesse a cara por longos momentos, ou esquecesse o que
fazia a mão. Mais gozado foi o rapazola que se gabava de preferir uma
determinada posição do Kamasutra. E Cicciolina não teve meias medidas: «Ai é?
Mostra lá». Deixou despojar-se, mas no momento da verdade, madonna mia, desmotivou-se. É mais a garganta que a verdade, olá se
é. Bilhetes caros, muitos casais de senhoras e senhores bem instalados na vida,
muitos jovens e caras conhecidas dos meios do teatro, da cultura e da política.
Tudo muito diferente dali do Bar
25***, e até o espetáculo, apresentado como hard, teve os seus laivos de suavidade.
(…). Cicciolina continua ainda a ser Ilona Staller, e enquanto se sentava ao
colo das suas vítimas das primeiras filas, vestida apenas com umas botas de
cano alto e um corpete que lhe deixava os seios em riste, fazia propaganda do
Partido Radical, que está a inscrever militantes portugueses com vista à
extensão do partido transnacional europeu no nosso país. O erotismo político,
ou a política erótica, é novidade e confunde os espíritos. Por isso, Luís
Mendão, secretário-geral da Associação Radical portuguesa, e um dos dirigentes
do Partido Radical de Itália, Andreani, distribuíram à entrada. Também eles botaram
faladura no espetáculo da Cicciolina. Menos divertidos, mas igualmente
silenciosos, foram os momentos em que a estrela porno usou os mais diversos
objetos, como correntes, chicote e sexos de vidro translucido para algumas
demonstrações das suas badaladas virtualidades. Mas mesmo isso não era para
valer, ficando-se pelas sugestões. Muito contida a Cicciolina. Nós preferimos a
parte em que Cicciolina desfez uma rosa em si própria. Ou cantou, em playback, «faz-se um bom vinho».”

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** Um desses
aterrorizados seria José António Saraiva. “Ouve «Let It Be»,
come cozido à portuguesa e o seu filme é «Rocco e os seus irmãos», de Luchino
Visconti. Já pendurou na parede do gabinete um poster da Claudia
Schiffer. Quase fugiu do Coliseu dos Recreios quando
Cicciolina chamou alguém para o palco e desatou a despi-lo. Teve medo de ser o
próximo. Descende de uma família de homens. Quis perceber as mulheres em «As
Herdeiras de Adriano Gentil» (Oficina do Livro), um romance que circunda
personagens femininas. Na altura, em 2006, garantiu que teria sucesso
internacional. Não, senhor. Suspeita-se que, ao contrário do que disse, nunca
estará na calha da Academia Sueca. Um editor decepa-lhe as ilusões: «Mais
depressa os peixes tocam saxofone do que José António Saraiva vai, alguma vez,
receber o Nobel». A exposição incomoda-o, mas coloca-se a jeito. No raiar do
Sol saiu-lhe esta: «O projeto prevê que sejamos líderes em três anos. Mas eu espero
que sejamos em seis meses». As suas previsões falharam. O Sol viu céu nublado. Redigiu
crónicas que mostravam, como recorda fonte próxima, o seu lado pacóvio:
comprou um casaco a imitar pele numa bomba de gasolina e não sabia como é que
uma entidade bancária poderia ter o seu número de telemóvel. Numa outra
concluiu que pela forma como um rapaz colocava os pés no chão, cruzava as mãos
e inclinava a cabeça, seria homossexual. Vozes zangadas não mandam recados: «Se
ele não tivesse sido diretor não teria tido nada seu publicado em jornais». José
António Saraiva só podia ter sido diretor. Não saberia ser mandado, ironiza um
familiar. É inseguro. E para puxar mais a verdade ao texto é narcisista. Bem-educado.
Cavalheiro, egocêntrico, provocador, controverso, observador do quotidiano e
admirador de Jorge Jesus, com quem comunga um ego do tamanho extra large e a teimosia. Possui uma faceta institucional e uma de cara
de pau. Concorda que a sua última obra, digamos obra, é uma provocação. (…). Fala
em tom soprano baixo, mesmo se mostarda lhe atinge a narina, a voz, garante
gente que o ouviu durante anos a fio, mantém-se apagada de convicção. Os olhos,
os olhos de José António Paula Saraiva nunca encaram os olhos dos outros.
Desvia-os para baixo. Será por timidez ou por temer o que Pessoa previu: são os
espelhos da alma. Um antigo colaborador lembra-se de algo sem um pingo de
sentimento de culpa: «JAS [José António Saraiva] foi gozado, e muito, por
alguns jornalistas, sobretudo pelo abcesso de ego e pela semelhança existente
entre os seus editoriais e as crónicas com exercícios de 4ª classe». Ainda
assim, com tanto gozo, poucos o enfrentavam. Aliás, havia uma corte que o
bajulava. Mas algo salvava o homem que às sextas-feiras, dia de
fecho do Expresso, mandava vir arroz à valenciana do restaurante Xenu: a
generosidade. Se soubesse que algum funcionário passava por um problema pessoal,
não hesitava em ajudar. «Que Deus o ajude», brinca uma ex-secretária. (…). Ódios
teve alguns. O de estimação, é o jornalista que o substituiu na direção do
Expresso em 2005. No blogue Escrever é Triste, Henrique Monteiro dispensa
poesia. Ali, José António Saraiva é batizado de «mentiroso», «energúmeno»,
«calhandreiro». Henrique Monteiro toca num assunto sério: «Este homem… Mata a
relação de confiança que um jornalista, um diretor de jornal ou um responsável
por um jornal deve ter com as fontes». Em tempos idos, durante uma discussão,
Saraiva enganou-se e chamou Isabel a Henrique. (…). Aos 15 anos, no Natal, vai
a Paris visitar o pai. Após dois dias de viagem de comboio, bateu à porta da
casa e ninguém atendeu. Dormiu nas escadas. Enregelou. Na manhã seguinte, Maria
Lamas dir-lhe-ia que o pai iria despedir-se de um amigo na estação dos
comboios. E seria aí que sentiu umas mãos nas suas costas; encontrava,
finalmente, o pai. Acabado o liceu seguiu-se o curso de arquitetura.”, na revista
Domingo, no Correio da Manhã, 09-10-2016.

*** O peepodromo, rua
Portas de Santo Antão, 96, quando abriu, custava uma moeda de 25$00 que,
introduzida numa ranhura, dava acesso, por exemplo, ao show da Diana ou, nos
primórdios, ao da primeira artista da casa, a deliciosa Celeste Bandeira. Naqueles
tempos, a inflação não dormia, cedo 25$00 não cobriam lucro e despesas com as
artistas, muitas delas estudantes universitárias, e as moedas foram
substituídas por fichas compradas pelo valor sucessivamente atualizado, embora
o bar mantivesse no nome a referência às esfumadas moedas de 25 paus.

[5] José
António Saraiva recorda Cicciolina. “Há 30 anos veio a Portugal uma
conhecida porno star italiana de nome Illona Staller, vulgo Cicciolina, que era
deputada do Partido Radical Italiano, um partido supostamente de esquerda. Para
além de um espetáculo erótico no Coliseu de Lisboa, a que assisti, Cicciolina
visitou o Parlamento português - onde, de uma galeria, fez questão de mostrar
os seios. Mais ou menos por essa época, o CDS convidou várias figuras
conhecidas fora da área política para integrarem as suas listas de deputados.
Uma delas era Manuela Moura Guedes. Escrevi então uma crónica onde dizia que
Moura Guedes era uma «Cicciolina à portuguesa». O artigo não tinha qualquer
intenção de dizer que a jornalista fazia atentados à moral pública. Nada disso.
Entre Manuela Moura Guedes e Cicciolina só havia a coincidência de terem ambas
a boca grande. A ideia do artigo era outra: dizer que o objetivo do CDS era o
mesmo do Partido Radical Italiano ao candidatar Cicciolina - caçar votos à
custa de pôr nas listas pessoas sem qualquer experiência política mas com projeção
mediática. Na semana seguinte à publicação do artigo, um jornalista de O
Independente disse-me em jeito de confidência que Paulo Portas - então diretor
do jornal - fizera um editorial arrasador contra mim. Um texto implacável e
violentíssimo. Temi o pior. Embora não desgoste de polémicas, sinto-me mal
quando elas ultrapassam determinados limites. E a agressividade de Portas,
aliada ao tema em causa, propiciavam isso. Quando O Independente me chegou às
mãos, abri-o à procura do texto, mas não o encontrei. Folheei o jornal de trás
para a frente e da frente para trás, mas continuei sem o encontrar. E, mais
intrigante ainda, constatei que não havia editorial. Concluí que, à última
hora, Portas deverá ter achado o texto tão violento que decidira retirá-lo.
Imagino como seria… Depois de Cicciolina, já houve políticos em toda a parte
que se despiram. Recentemente, Joana
Amaral Dias surgiu nua
nas vésperas das eleições legislativas, alegadamente para exibir a gravidez mas
de facto para chamar as atenções e ganhar votos. Saiu-se mal, pois os seus correligionários
não gostaram e os eleitores não lhe ligaram: o Agir teve 0,38% dos votos. E a
partir desse dia Joana Amaral Dias desapareceu, talvez arrependida por ter dado
um passo tão arriscado. Eis senão quando Isabel Moreira, deputada socialista
militante da causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero), surge numa
rede de «encontros». Além disso, publicou no Facebook fotos em bikini em poses
provocantes e até em topless (embora
tapando os seios com as mãos). (…). Mas por que razão juntei numa crónica
Cicciolina, Joana Amaral Dias, Isabel Moreira e o cartaz
do BE? Porque Cicciolina, Joana Amaral Dias, Isabel Moreira e o cartaz quiseram
desafiar as convicções, a moral vigente, os preconceitos, as crenças - e com
isso chamar as atenções sobre si próprios. Pode gostar-se mais ou menos, mas
não houve propriamente nenhum crime. Os puritanos sentiram-se ofendidos e os
católicos magoados ou indignados. Ora, não sendo eu puritano nem católico, não
me senti pessoalmente atacado. Posso ter-me sentido incomodado com o incómodo
dos outros, o que é diferente. O que constato é que, em todos estes casos, os
tiros saíram pela culatra: Cicciolina não foi reeleita, Joana Amaral Dias
desapareceu, Isabel Moreira escondeu-se e Catarina Martins reconheceu que o
cartaz foi um «erro».” José António Saraiva, na revista B.I. no jornal Sol n.º
497.

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