Jean Wyllys deixa apelo a deputados sobre a extrema-direita em Portugal

27-02-2019
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Jean Wyllys veio ao Parlamento a convite do BE para uma conversa que serviu para deixar alertas sobre os perigos da extrema-direita e das fake news

1 de 3 Foto: LUSA / PAULO NOVAIS Foto: LUSA / PAULO NOVAIS Foto: LUSA / PAULO NOVAIS

O ativista LGBT brasileiro usou o episódio de que foi alvo ontem em Coimbra para dar o exemplo de como o risco do extremismo está sempre presente.

Wyllys explicou que a manifestação contra si à porta da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, aonde foi discursar, tinha apenas "12 fascistas". Mas um dos manifestantes conseguiu entrar no auditório e atirar um ovo, que acertou no segurança destacado para o proteger.

"Imaginem que em vez de um ovo era uma arma", disse aos deputados que se juntaram para uma conversa numa das salas das comissões parlamentares.

"Vocês não podem fazer troça, não podem minimizar o que está acontecendo", avisou o ex-deputado brasileiro, que vê em Portugal "uma ilha de paz", mas que acredita que há que ter atenção aos extremistas de direita que vieram do Brasil para cá.

"Vieram muitos fascistas para cá", garantiu Jean Wyllys, que pediu aos políticos portugueses que "tomem muito cuidado" com "essas pessoas".

É que, apesar de achar que "a extrema-direita portuguesa é patética, inexpressiva", o político brasileiro defende que é preciso estar atento ao fenómeno que está a ser "insuflado pela extrema-direita brasileira".

"Não se preocupem, isso a mim não me afectou em nada", disse o deputado sobre a manifestação de que foi alvo em Coimbra e que terminou a intervenção com uma longa salva de palmas dos deputados presentes num encontro pelo qual passaram vários eleitos do BE e do PS, o deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira e a social-democrata Teresa Leal Coelho.

Só CDS e PCP ficaram de fora

O CDS e o PCP não tiveram nenhum deputado presente no encontro. Mas foi do PSD que veio a crítica à iniciativa promovida pelo BE, cujo vice-presidente da Assembleia da República, José Manuel Pureza, recebeu de manhã Jean Wyllys.

"Tenho sérias dúvidas que um ex-parlamentar português, como os mesmos pergaminhos que o seu congénere, fosse recebido por um vice-presidente da Câmara brasileira e que ela servisse de palco a um micro comício de não se sabe bem o quê. Ou melhor sabe-se, mas finge-se que não se sabe. E é por se fingir que não se sabe que estas e outras vão acontecendo. Como se já não bastasse a usurpação de uma certa ditadura de novos costumes temos, agora, o uso das instituições para comícios de uma neo-agenda que nos impõem. Graças a Deus que Outubro está próximo para deixar de ter que participar neste vexame institucional em que tudo isto se tornou. Mas ao menos não terão a cumplicidade do meu silêncio. (Por respeito ao remetente do email, não divulgo a sua identidade. Porque tenho por ele aquilo que ele, e o partido dele não tem por nada nem ninguém)", escreveu no Facebook o deputado social-democrata Sérgio Azevedo, ao partilhar o Mail que serviu de convite para o evento.

O deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira classificou este post como "inenarrável". E lembrou - sem nomear ninguém - que o seu voto de repúdio contra os atentados aos direitos humanos no Brasil só teve os votos contra de "três deputados do PSD" e que até a líder do CDS votou a favor, desalinhada com a sua bancada.

"Não temos partidos de extrema-direita no Parlamento português, mas qualquer democracia é vulnerável", sublinhou Paulo Trigo Pereira, num reconhecimento de risco que teve eco na deputada Isabel Moreira. "Nós não estamos livres daquilo que aconteceu no Brasil", defendeu a independente eleita pelo PS.

De resto, a bancada do PS esteve bastante representada no encontro no Parlamento. Até o deputado que se assumiu como "da ala direita do PS", Ascenso Simões, fez questão de estar presente para defender a liberdade de expressão.

"Eu estou a militar pela liberdade de se dizer", afirmou Ascenso Simões, admitindo que na maior parte das vezes está em "desacordo" com Jean Wyllys.

Família Bolsonaro está ligada a milícias, garante Wyllys

Jean Wyllys aproveitou a vinda à Assembleia da República para denunciar mais uma vez as ameaças de morte de que foi alvo e que o levaram a não assumir o terceiro mandato consecutivo como deputado no Brasil.

"Eu praticamente não pude fazer campanha", afirmou, explicando que "a massificação de fake news" sobre si tornaram impossível estar à vontade no espaço público.

"As ameaças vinham conjugadas com essa campanha de difamação", lembrou Wyllys, que foi acusado até de defender a pedofilia, quando fez parte da denúncia de uma rede de pedófilos que levou mesmo a detenções de abusadores de menores.

"A principal delas a de que eu defendia a pedofilia. Quando é o oposto. Eu abomino a pedofilia", disse sobre as mentiras de que foi alvo, criticando a forma como o Estado brasileiro se mostrou incapaz de o defender ou de identificar as fontes de financiamento da campanha de que foi alvo.

"Não foi o facto de ele [Bolsonaro] se tornar Presidente que me fez sair. Foram as ameaças de morte", disse, notando que quem o ameaçou conseguiu dados pessoais sobre a sua família sem que as autoridades soubessem explicar como.

Jean Wyllys diz que neste momento não tinha garantias de segurança no Brasil e, para o provar, falou do caso da ativista Marielle Franco, morta a tiro de metralhadora, numa emboscada montada por motivos políticos.

Wyllys apontou as já reveladas "relações entre a família de Bolsonaro com as milícias que dominam partes do Rio de Janeiro" como um dos motivos para não se sentir seguro no seu país.

E lembrou que um dos filhos do Presidente Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, "empregou a esposa e a mãe do sicário [assassino profissional]" suspeito de matar Marielle Franco.

"Não se preocupem, que eu não estou a pedir exílio em Portugal", brincou o político, que tenciona voltar à Universidade de Coimbra no âmbito dos seus estudos e que deixou avisos sobre a importância de a comunicação social não dar palco à extrema-direita.

Jean Wyllys veio ao Parlamento a convite do BE para uma conversa que serviu para deixar alertas sobre os perigos da extrema-direita e das fake news

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O ativista LGBT brasileiro usou o episódio de que foi alvo ontem em Coimbra para dar o exemplo de como o risco do extremismo está sempre presente.

Wyllys explicou que a manifestação contra si à porta da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, aonde foi discursar, tinha apenas "12 fascistas". Mas um dos manifestantes conseguiu entrar no auditório e atirar um ovo, que acertou no segurança destacado para o proteger.

"Imaginem que em vez de um ovo era uma arma", disse aos deputados que se juntaram para uma conversa numa das salas das comissões parlamentares.

"Vocês não podem fazer troça, não podem minimizar o que está acontecendo", avisou o ex-deputado brasileiro, que vê em Portugal "uma ilha de paz", mas que acredita que há que ter atenção aos extremistas de direita que vieram do Brasil para cá.

"Vieram muitos fascistas para cá", garantiu Jean Wyllys, que pediu aos políticos portugueses que "tomem muito cuidado" com "essas pessoas".

É que, apesar de achar que "a extrema-direita portuguesa é patética, inexpressiva", o político brasileiro defende que é preciso estar atento ao fenómeno que está a ser "insuflado pela extrema-direita brasileira".

"Não se preocupem, isso a mim não me afectou em nada", disse o deputado sobre a manifestação de que foi alvo em Coimbra e que terminou a intervenção com uma longa salva de palmas dos deputados presentes num encontro pelo qual passaram vários eleitos do BE e do PS, o deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira e a social-democrata Teresa Leal Coelho.

Só CDS e PCP ficaram de fora

O CDS e o PCP não tiveram nenhum deputado presente no encontro. Mas foi do PSD que veio a crítica à iniciativa promovida pelo BE, cujo vice-presidente da Assembleia da República, José Manuel Pureza, recebeu de manhã Jean Wyllys.

"Tenho sérias dúvidas que um ex-parlamentar português, como os mesmos pergaminhos que o seu congénere, fosse recebido por um vice-presidente da Câmara brasileira e que ela servisse de palco a um micro comício de não se sabe bem o quê. Ou melhor sabe-se, mas finge-se que não se sabe. E é por se fingir que não se sabe que estas e outras vão acontecendo. Como se já não bastasse a usurpação de uma certa ditadura de novos costumes temos, agora, o uso das instituições para comícios de uma neo-agenda que nos impõem. Graças a Deus que Outubro está próximo para deixar de ter que participar neste vexame institucional em que tudo isto se tornou. Mas ao menos não terão a cumplicidade do meu silêncio. (Por respeito ao remetente do email, não divulgo a sua identidade. Porque tenho por ele aquilo que ele, e o partido dele não tem por nada nem ninguém)", escreveu no Facebook o deputado social-democrata Sérgio Azevedo, ao partilhar o Mail que serviu de convite para o evento.

O deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira classificou este post como "inenarrável". E lembrou - sem nomear ninguém - que o seu voto de repúdio contra os atentados aos direitos humanos no Brasil só teve os votos contra de "três deputados do PSD" e que até a líder do CDS votou a favor, desalinhada com a sua bancada.

"Não temos partidos de extrema-direita no Parlamento português, mas qualquer democracia é vulnerável", sublinhou Paulo Trigo Pereira, num reconhecimento de risco que teve eco na deputada Isabel Moreira. "Nós não estamos livres daquilo que aconteceu no Brasil", defendeu a independente eleita pelo PS.

De resto, a bancada do PS esteve bastante representada no encontro no Parlamento. Até o deputado que se assumiu como "da ala direita do PS", Ascenso Simões, fez questão de estar presente para defender a liberdade de expressão.

"Eu estou a militar pela liberdade de se dizer", afirmou Ascenso Simões, admitindo que na maior parte das vezes está em "desacordo" com Jean Wyllys.

Família Bolsonaro está ligada a milícias, garante Wyllys

Jean Wyllys aproveitou a vinda à Assembleia da República para denunciar mais uma vez as ameaças de morte de que foi alvo e que o levaram a não assumir o terceiro mandato consecutivo como deputado no Brasil.

"Eu praticamente não pude fazer campanha", afirmou, explicando que "a massificação de fake news" sobre si tornaram impossível estar à vontade no espaço público.

"As ameaças vinham conjugadas com essa campanha de difamação", lembrou Wyllys, que foi acusado até de defender a pedofilia, quando fez parte da denúncia de uma rede de pedófilos que levou mesmo a detenções de abusadores de menores.

"A principal delas a de que eu defendia a pedofilia. Quando é o oposto. Eu abomino a pedofilia", disse sobre as mentiras de que foi alvo, criticando a forma como o Estado brasileiro se mostrou incapaz de o defender ou de identificar as fontes de financiamento da campanha de que foi alvo.

"Não foi o facto de ele [Bolsonaro] se tornar Presidente que me fez sair. Foram as ameaças de morte", disse, notando que quem o ameaçou conseguiu dados pessoais sobre a sua família sem que as autoridades soubessem explicar como.

Jean Wyllys diz que neste momento não tinha garantias de segurança no Brasil e, para o provar, falou do caso da ativista Marielle Franco, morta a tiro de metralhadora, numa emboscada montada por motivos políticos.

Wyllys apontou as já reveladas "relações entre a família de Bolsonaro com as milícias que dominam partes do Rio de Janeiro" como um dos motivos para não se sentir seguro no seu país.

E lembrou que um dos filhos do Presidente Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, "empregou a esposa e a mãe do sicário [assassino profissional]" suspeito de matar Marielle Franco.

"Não se preocupem, que eu não estou a pedir exílio em Portugal", brincou o político, que tenciona voltar à Universidade de Coimbra no âmbito dos seus estudos e que deixou avisos sobre a importância de a comunicação social não dar palco à extrema-direita.

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