Barroso: "A maioria dos líderes xenófobos só falam uma língua"

09-12-2017
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A criação de um Instituto do Mundo Lusófono (IMLus), a constatação de que a globalização na definição geralmente aceite não passa de "superficialidade", o entendimento de que os espaços linguístico-culturais devem ser espaços de "particularidades partilhadas", repudiando-se a padronização e uma mensagem de Durão Barroso a "certos presidentes", recomendando-lhes que aprendam "mais do que uma língua", são os marcos mais relevantes do Congresso da Lusofonia e da Francofonia que terminou ontem em Paris.

A iniciativa da Universidade Sorbonne Nouvelle contou com a presença na sessão de encerramento do antigo primeiro-ministro de Portugal e ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, que salientou na sua intervenção o relevo da língua como instrumento de "abertura ao outro, uma janela para o mundo", considerando que os "nossos dois belos idiomas devem ser instrumentos para uma globalização solidária". Por outro lado, na vertente das implicações geoestratégicas de preconceitos culturais, sublinhou a ideia de que "certos presidentes deviam aprender a falar mais do que uma língua" para não tomarem decisões de consequências imprevisíveis e incompreensíveis na conjuntura que vão influenciar. "A maioria dos líderes xenófobos só falam uma língua", sublinhou.

Corolário desta reflexão, recordando que no seu tempo de estudante no secundário se "estudava mais línguas estrangeiras do que hoje", Barroso insistiu na ideia de que "saber mais do que uma língua é ter mais cultura" e, principalmente, representa entender melhor, "compreender e amar a humanidade".

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Para o embaixador da francofonia junto da União Europeia, Stéphane Lopez, a globalização é superficialidade" tal como se apresenta hoje e está na raiz, pelo menos em parte, dos fenómenos populistas. "Foram prometidas muitas coisas, como a concórdia, que não se cumpriram" e existe, como notado desde há muito, a ausência de uma real partilha dos aspetos positivos da globalização. Dado a reter para explicar os níveis de aceitação e identificação com os fenómenos populistas - "os populistas não são um problema por serem populistas, mas por serem populares", disse o diplomata.

Noutro plano, não se verifica um "verdadeiro relacionamento", "um verdadeiro conhecimento", entre comunidades que permita a aproximação entre "si e em todas as áreas, da gastronomia à música, às práticas sociais, à educação, à cultura e ao cerne da identidade de cada um". Sem estes elementos, pensa o representante da francofonia, não há tolerância nem globalização real, tão-somente uma "justaposição cultural" sem real conhecimento do outro.

Numa abordagem algo semelhante, o académico e vice-presidente da Assembleia da República portuguesa, José Manuel Pureza, salientou que nem todas as diplomacias culturais são virtuosas e podem prosseguir, e prosseguem, estratégias de poder, dando como exemplo o conceito da "american way of life. Mas não uma portuguese way of life", notou. Estes conceitos conduzem à definição de padrões, canonizam determinadas estéticas, regras e padrões".

Para o deputado português, a constituição de uma plataforma de diálogo intercultural e de convergência entre duas esferas linguísticas, como a lusofonia e a francofonia, só tem sentido se aquele for "ousado, paciente e difícil", isto é, não ceder à "padronização" e "uniformização" culturais, cultivando as "particularidades partilhadas".

Num diferente painel dedicado ao panorama dos media na Lusofonia e na Francofonia, em que participou o diretor do Diário de Notícias, Paulo Baldaia, salientou a importância de um universo de mais de 260 milhões de falantes em português, destacando a dimensão das comunidades situadas em países terceiros. E que devem constituir uma prioridade para os media nacionais. "Deve olhar-se para a lusofonia como os espaços onde se fala português, dos Estados Unidos à Venezuela, da Alemanha à África do Sul", disse Baldaia.

O diretor do DN anunciou que o grupo em que este título se enquadra vai apostar neste "nicho de 270 milhões" de pessoas e em "parcerias nos países lusófonos", apostando em conteúdo com "interesse para todos.

O DN viajou a convite da Universidade Sorbonne Nouvelle

em Paris

A criação de um Instituto do Mundo Lusófono (IMLus), a constatação de que a globalização na definição geralmente aceite não passa de "superficialidade", o entendimento de que os espaços linguístico-culturais devem ser espaços de "particularidades partilhadas", repudiando-se a padronização e uma mensagem de Durão Barroso a "certos presidentes", recomendando-lhes que aprendam "mais do que uma língua", são os marcos mais relevantes do Congresso da Lusofonia e da Francofonia que terminou ontem em Paris.

A iniciativa da Universidade Sorbonne Nouvelle contou com a presença na sessão de encerramento do antigo primeiro-ministro de Portugal e ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, que salientou na sua intervenção o relevo da língua como instrumento de "abertura ao outro, uma janela para o mundo", considerando que os "nossos dois belos idiomas devem ser instrumentos para uma globalização solidária". Por outro lado, na vertente das implicações geoestratégicas de preconceitos culturais, sublinhou a ideia de que "certos presidentes deviam aprender a falar mais do que uma língua" para não tomarem decisões de consequências imprevisíveis e incompreensíveis na conjuntura que vão influenciar. "A maioria dos líderes xenófobos só falam uma língua", sublinhou.

Corolário desta reflexão, recordando que no seu tempo de estudante no secundário se "estudava mais línguas estrangeiras do que hoje", Barroso insistiu na ideia de que "saber mais do que uma língua é ter mais cultura" e, principalmente, representa entender melhor, "compreender e amar a humanidade".

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Para o embaixador da francofonia junto da União Europeia, Stéphane Lopez, a globalização é superficialidade" tal como se apresenta hoje e está na raiz, pelo menos em parte, dos fenómenos populistas. "Foram prometidas muitas coisas, como a concórdia, que não se cumpriram" e existe, como notado desde há muito, a ausência de uma real partilha dos aspetos positivos da globalização. Dado a reter para explicar os níveis de aceitação e identificação com os fenómenos populistas - "os populistas não são um problema por serem populistas, mas por serem populares", disse o diplomata.

Noutro plano, não se verifica um "verdadeiro relacionamento", "um verdadeiro conhecimento", entre comunidades que permita a aproximação entre "si e em todas as áreas, da gastronomia à música, às práticas sociais, à educação, à cultura e ao cerne da identidade de cada um". Sem estes elementos, pensa o representante da francofonia, não há tolerância nem globalização real, tão-somente uma "justaposição cultural" sem real conhecimento do outro.

Numa abordagem algo semelhante, o académico e vice-presidente da Assembleia da República portuguesa, José Manuel Pureza, salientou que nem todas as diplomacias culturais são virtuosas e podem prosseguir, e prosseguem, estratégias de poder, dando como exemplo o conceito da "american way of life. Mas não uma portuguese way of life", notou. Estes conceitos conduzem à definição de padrões, canonizam determinadas estéticas, regras e padrões".

Para o deputado português, a constituição de uma plataforma de diálogo intercultural e de convergência entre duas esferas linguísticas, como a lusofonia e a francofonia, só tem sentido se aquele for "ousado, paciente e difícil", isto é, não ceder à "padronização" e "uniformização" culturais, cultivando as "particularidades partilhadas".

Num diferente painel dedicado ao panorama dos media na Lusofonia e na Francofonia, em que participou o diretor do Diário de Notícias, Paulo Baldaia, salientou a importância de um universo de mais de 260 milhões de falantes em português, destacando a dimensão das comunidades situadas em países terceiros. E que devem constituir uma prioridade para os media nacionais. "Deve olhar-se para a lusofonia como os espaços onde se fala português, dos Estados Unidos à Venezuela, da Alemanha à África do Sul", disse Baldaia.

O diretor do DN anunciou que o grupo em que este título se enquadra vai apostar neste "nicho de 270 milhões" de pessoas e em "parcerias nos países lusófonos", apostando em conteúdo com "interesse para todos.

O DN viajou a convite da Universidade Sorbonne Nouvelle

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