Mandla Zwane: «Robson dizia-me: ‘Mandela, és a minha pérola’»

22-08-2019
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Destino: 90s

4 fev 2016, 10:04

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Mandla Zwane: «Robson dizia-me: ‘Mandela, és a minha pérola’»

«Destino: 90s»: malabarista sul africano foi contratado pelo FC Porto em 1994. Animava os treinos e fazia rir toda a gente. Saiu das Antas com muitos amigos e nem um jogo para amostra. Vive em Joanesburgo, feliz

Pedro Jorge da Cunha

@pedrojscunha

«Destino: 90s»: malabarista sul africano foi contratado pelo FC Porto em 1994. Animava os treinos e fazia rir toda a gente. Saiu das Antas com muitos amigos e nem um jogo para amostra. Vive em Joanesburgo, feliz

Pedro Jorge da Cunha

@pedrojscunha

DESTINO 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis . DESTINO: 90's. MANDLA ZWANE: FC Porto e Penafiel (1994/95), Gil Vicente (1995/96) Estádio das Antas, julho de 1994. Bobby Robson inicia a segunda época no FC Porto, de braço dado com José Mourinho. O Benfica é campeão e os dragões vão em força ao mercado. No arranque da pré-época, quatro desconhecidos apresentam-se ao trabalho. 1. Walter Paz; 2. Roberto Mogrovejo; 3. Etienne N’Tsunda; 4. Mandla Zwane. Ui, coisa linda! Mais tarde, em janeiro, chega ainda Ronald Baroni. É o lado perverso da era pré-digital no futebol. Empresários usam e abusam de relações perigosas, prometem novos Pelés nas cassetes VHS, vendem gato por lebre. O FC Porto, é bom lembrar, inicia nesse ano o arranque ao Penta. Esta é a lista dos flops, mas há muita gente de grande valor a entrar no grupo: Rui Barros, Emerson, Kulkov, Iuran e Latapy, por exemplo. Mas, e os outros? Os que ficam para trás? Há semanas encontrámos Walter Paz, desta vez vamos à África do Sul e apanhamos Mandla Zwane a meio de um treino da equipa de futebol da Universidade de Joanesburgo. «De Portugal? Ah, ah, ah, a sério? Abraçoooo para Portugal! Crazy Jorge Costa, crazy Paulinho Santos».  Mandla Zwane, 42 anos, é uma joia de rapaz. Fala 30 minutos sem parar, faz perguntas e não espera as respostas. Afinal, quem é ele, como chegou a Portugal e por que não fez um único jogo oficial pelo FC Porto? «Fiz dois jogos no Orlando Pirates e o Marcelo Houseman [empresário argentino] pegou em mim e levou-me para a Holanda. Fui ao Feyenoord fazer testes, mas acabei por viajar para Portugal. Cheguei às Antas e assinei por três anos, com o N´Tsunda. Nunca ninguém me tinha visto a jogar e eu também não conhecia ninguém».

Mandla Zwane (à esquerda) nos últimos dias da carreira
                                                  PERCURSO DE MANDLA ZWANE EM PORTUGAL: . 1994/95: FC Porto (não foi utilizado) . 1994/95: Penafiel (8 jogos, II Liga) . 1995/96: Gil Vicente (5 jogos, I Liga) Outros clubes: . Orlando Pirates, Supersport United, Black Leopards e Black Aces (África do Sul); Selangor (Malásia); Sarawach (Mali). . 1 internacionalização pela África do Sul Mandla é moldado nas ruas facínoras de Zola, no Soweto, - «Ganhava esmolas a dar toques numa bola de trapos» - e no meio dessa esperteza de bairro resiste uma ingenuidade grande. No FC Porto, os colegas apercebem-se imediatamente desse lado totalmente puro. «Uns malandros, crazy, crazy guys. O meu primeiro dia? Lembro-me, claro», diz Mandla Zwane, ao Maisfutebol, já no silêncio de um gabinete. «Cheguei às Antas e o Jorge Costa veio ter comigo. Estava com o Domingos e o Paulinho Santos. Disse-me que o mister Robson queria conhecer-me, mas para eu ter cuidado, porque ele era um homem muito duro. E eu lá fui, ao gabinete do senhor Robson, com os três». Ao entrar, Mandla Zwane vê um homem de fato de treino e boné enfiado até às orelhas. «Nem olhou para mim. Só disse: ‘Senta-te!’. Eu olhei para o Jorge Costa, já a tremer, mas ele fechou a porta e saiu. Fiquei sozinho com o senhor Robson. Quer dizer, com aquele que eu pensava ser o senhor Robson». «O homem começa aos berros e a bater na mesa. Dizia que eu tinha de jogar bem e que dava cabo de mim se eu falhasse. Ah, ah, ah, eu acho que estive quase a desmaiar. Passados uns minutos, a porta abre-se e entram todos às gargalhadas. O homem de boné era o guarda-redes, o Baía, conhece?». Mandla Zwane conquista todos pela simplicidade. Até o verdadeiro Bobby Robson. «No final do primeiro treino fiquei a dar toques na bola. Eu era um malabarista incrível, fazia o que queria. Quando dei por ela, estava o plantel todo à minha volta, a bater palmas, e eu a fazer habilidades. O mister Robson veio dar-me um abraço: ‘Mandela, és a minha pérola! A partir de hoje quero que faças sempre isso no início do treino, para animar os teus colegas’». «Cumpri o sonho de conhecer Michel PreuHomme» Durante seis meses, Mandla Zwane passa a ser só Mandela e é o animador de serviço. Nos treinos, só nos treinos. O sul-africano sai em janeiro, emprestado ao Penafiel, sem fazer um único jogo. «Não fui inscrito porque não havia vaga para estrangeiros. Só podiam estar seis no plantel [Kulkov, Iuran, Latapy, Kostadinov, Drulovic e Emerson]. Por isso o mister Robson e o José Mourinho falaram comigo e emprestaram-me ao Penafiel, da II Liga». Mandla, Mandela para os amigos, sai para o Estádio 25 de abril, empenhado em voltar às Antas. N’Tsunda volta a acompanhá-lo, mas a experiência não é brilhante. «Fiz alguns jogos [oito]. Aquilo era duro, muito duro. Eu adorava fintar e jogar com calma, mas era tudo rápido e agressivo. O senhor Robson ligava-me, dava-me moral. ‘Mandela, um dia vais ser tu e mais dez no FC Porto’. Não deu, os outros eram melhores. Domingos, Kostadinov…» No segundo ano, Mandela é cedido ao Gil Vicente. Faz seis jogos no campeonato, dois contra o Benfica. «Cumpri um sonho: conhecer o Michel PreudHomme». «Eu tinha visto os jogos todos do Mundial94 e o Michel tornou-se um ídolo. Na Luz perdemos 3-0 e estive quase, quase a marcar. Fui muito lento a decidir. Em Barcelos perdemos 1-2 e o mister Pedroto [Bernardino, filho de José Maria] meteu-me nos últimos minutos».   O adeus a Portugal acontece em junho de 96. O FC Porto rescinde o contrato e Mandla não volta a ser Mandela. Passa pela Malásia, pelo Mali e faz uma década no futebol sul-africano, até se despedir em 2008, já veterano. «O futebol é a minha paixão e ainda faço tudo com uma bola de futebol. Sou adjunto da equipa da universidade, mas nunca mais voltei a Portugal. A viagem é muito cara». Mandla Zwane despede-se a sorrir. Fala do único compatriota a jogar na I Liga portuguesa - Cafu Phete, do Vitória Guimarães - e faz um pedido ao Maisfutebol. «É bom no passe, longo e curto. Aqui diziam que era parecido com o Makelele. Bem, acho que até tem qualidade, mas nunca será como o Mandla Zwane. Com a bola eu faço tudo! Já agora: não tem o número de telefone do meu amigo Mourinho? Esse é que era um crazy, crazy guy». OUTROS DESTINOS: 1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro 2. Careca, meio Eusébio meio Pelé 3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou 4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares 5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker 6. Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid 7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo 8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987» 9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor 10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa 11. Samuel, a eterna esperança do Benfica 12. Lars Eriksson, o guarda-redes que sabe que não deu alegrias 13. Wando, um incompreendido 14. Doriva, as memórias do pontapé canhão das Antas 15. Elói, fotos em Faro e jantares em casa de Pinto da Costa 16. Dinis, o Sandokan de Aveiro 17. Pedro Barny, do Boavistão e das camisolas esquisitas 18. Pingo, as saudades de um campeão do FC Porto 19. Taira, da persistência no Restelo à glória em Salamanca 20. Latapy, os penáltis com a Sampdória e as desculpas a Jokanovic 21. Marco Aurélio, memórias de quando Sousa Cintra se ria do FC Porto 22. Jorge Soares e um célebre golo de Jardel 23. Ivica Kralj e uma questão oftalmológica 24. N'Kama, o bombista zairense 25. Karoglan, em Portugal por causa da guerra 26. Ronaldo e o Benfica dos vinte reforços por época 27. Tuck, um coração entre dois emblemas 28. Tueba, ia para o Sporting, jogou no Benfica e está muito gordo 29. Krpan, o croata que não fazia amigos no FC Porto 30. Walter Paz, zero minutos no FC Porto 31. Radi, dos duelos com Maradona à pacatez de Chaves 32. Nelson Bertollazzi eliminou a Fiorentina e arrasou o dragão 33. Mangonga matou o Benfica sem saber como 34. Dino Furacão tirou um título ao Benfica e foi insultado por um taxista 35. António Carlos, o único a pôr Paulinho Santos no lugar 36. Valckx e do 3-6 que o «matou» 37. Ademir Alcântara: e a paz entre Benfica e FC Porto acabou 38. Chiquinho Conde, impedido de jogar no Benfica por Samora Machel 39. Bambo, das seleções jovens a designer de moda em Leeds 40. Iliev, sonhos na Luz desfeitos por Manuel José 41. Panduru, num Benfica onde era impossível jogar bem 42. Missé Missé, transformado em egoísta no Sporting 43. Edmilson: Amunike e Dani taparam-lhe entrada num grande 44. Jamir: «Gostava de ter dado mais ao Benfica» 45. Donizete continua um «benfiquista da porra» 46. Leandro Machado: «Se fosse mais profissional...» 47. Bobó, a última aposta de Pedroto 48. Rufai, o Príncipe que não quis ser Rei: «Sou um filho de Portugal»

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DESTINO 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis . DESTINO: 90's. MANDLA ZWANE: FC Porto e Penafiel (1994/95), Gil Vicente (1995/96) Estádio das Antas, julho de 1994. Bobby Robson inicia a segunda época no FC Porto, de braço dado com José Mourinho. O Benfica é campeão e os dragões vão em força ao mercado. No arranque da pré-época, quatro desconhecidos apresentam-se ao trabalho. 1. Walter Paz; 2. Roberto Mogrovejo; 3. Etienne N’Tsunda; 4. Mandla Zwane. Ui, coisa linda! Mais tarde, em janeiro, chega ainda Ronald Baroni. É o lado perverso da era pré-digital no futebol. Empresários usam e abusam de relações perigosas, prometem novos Pelés nas cassetes VHS, vendem gato por lebre. O FC Porto, é bom lembrar, inicia nesse ano o arranque ao Penta. Esta é a lista dos flops, mas há muita gente de grande valor a entrar no grupo: Rui Barros, Emerson, Kulkov, Iuran e Latapy, por exemplo. Mas, e os outros? Os que ficam para trás? Há semanas encontrámos Walter Paz, desta vez vamos à África do Sul e apanhamos Mandla Zwane a meio de um treino da equipa de futebol da Universidade de Joanesburgo. «De Portugal? Ah, ah, ah, a sério? Abraçoooo para Portugal! Crazy Jorge Costa, crazy Paulinho Santos».  Mandla Zwane, 42 anos, é uma joia de rapaz. Fala 30 minutos sem parar, faz perguntas e não espera as respostas. Afinal, quem é ele, como chegou a Portugal e por que não fez um único jogo oficial pelo FC Porto? «Fiz dois jogos no Orlando Pirates e o Marcelo Houseman [empresário argentino] pegou em mim e levou-me para a Holanda. Fui ao Feyenoord fazer testes, mas acabei por viajar para Portugal. Cheguei às Antas e assinei por três anos, com o N´Tsunda. Nunca ninguém me tinha visto a jogar e eu também não conhecia ninguém».

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                                                  PERCURSO DE MANDLA ZWANE EM PORTUGAL: . 1994/95: FC Porto (não foi utilizado) . 1994/95: Penafiel (8 jogos, II Liga) . 1995/96: Gil Vicente (5 jogos, I Liga) Outros clubes: . Orlando Pirates, Supersport United, Black Leopards e Black Aces (África do Sul); Selangor (Malásia); Sarawach (Mali). . 1 internacionalização pela África do Sul Mandla é moldado nas ruas facínoras de Zola, no Soweto, - «Ganhava esmolas a dar toques numa bola de trapos» - e no meio dessa esperteza de bairro resiste uma ingenuidade grande. No FC Porto, os colegas apercebem-se imediatamente desse lado totalmente puro. «Uns malandros, crazy, crazy guys. O meu primeiro dia? Lembro-me, claro», diz Mandla Zwane, ao Maisfutebol, já no silêncio de um gabinete. «Cheguei às Antas e o Jorge Costa veio ter comigo. Estava com o Domingos e o Paulinho Santos. Disse-me que o mister Robson queria conhecer-me, mas para eu ter cuidado, porque ele era um homem muito duro. 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O senhor Robson ligava-me, dava-me moral. ‘Mandela, um dia vais ser tu e mais dez no FC Porto’. Não deu, os outros eram melhores. Domingos, Kostadinov…» No segundo ano, Mandela é cedido ao Gil Vicente. Faz seis jogos no campeonato, dois contra o Benfica. «Cumpri um sonho: conhecer o Michel PreudHomme». «Eu tinha visto os jogos todos do Mundial94 e o Michel tornou-se um ídolo. Na Luz perdemos 3-0 e estive quase, quase a marcar. Fui muito lento a decidir. Em Barcelos perdemos 1-2 e o mister Pedroto [Bernardino, filho de José Maria] meteu-me nos últimos minutos».   O adeus a Portugal acontece em junho de 96. O FC Porto rescinde o contrato e Mandla não volta a ser Mandela. Passa pela Malásia, pelo Mali e faz uma década no futebol sul-africano, até se despedir em 2008, já veterano. «O futebol é a minha paixão e ainda faço tudo com uma bola de futebol. Sou adjunto da equipa da universidade, mas nunca mais voltei a Portugal. A viagem é muito cara». Mandla Zwane despede-se a sorrir. Fala do único compatriota a jogar na I Liga portuguesa - Cafu Phete, do Vitória Guimarães - e faz um pedido ao Maisfutebol. «É bom no passe, longo e curto. Aqui diziam que era parecido com o Makelele. Bem, acho que até tem qualidade, mas nunca será como o Mandla Zwane. Com a bola eu faço tudo! Já agora: não tem o número de telefone do meu amigo Mourinho? Esse é que era um crazy, crazy guy». OUTROS DESTINOS: 1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro 2. Careca, meio Eusébio meio Pelé 3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou 4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares 5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker 6. Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid 7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo 8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987» 9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor 10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa 11. Samuel, a eterna esperança do Benfica 12. 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