Eis os potenciais deputados do PAN

14-10-2019
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Há uma diferença entre o que se escreve nas redes sociais ou se discute em conversas de café e o que os candidatos do PAN ouvem nas ruas. Nenhum destes cinco candidatos potencialmente elegíveis se recorda de alguma vez lhe terem colocado uma dúvida, que circula como anedota: matam moscas e mosquitos? A pergunta poderia destabilizá-los, irritá-los, mas riem.

"São comentários no Facebook, em jeito de troça, mas as pessoas são uma coisa no Facebook e outra frente a frente", explica Cristina Rodrigues, 34 anos e cabeça de lista por Setúbal, antes de confessar ter sorte por viver num sítio sem "muita vegetação" e, portanto, com poucos insetos. "Mas posso dizer que as minhas três cadelas são desparasitadas." Uma ação que também faz sentido para Inês Sousa Real, de 39 anos. "Os animais, sendo tão amigos das pessoas, temos que nos preocupar, mas não com situações tão extremas." A "linha de razoabilidade", diz, é outra: o país ter canis de abate ou os animais serem transportados vivos.

A jurista e número 2 por Lisboa (atrás de André Silva) até diz ter-se habituado a rir das brincadeiras que se fazem com o partido. "Nas redes sociais isso tem algum fulgor, mas até hoje nunca ninguém nos perguntou diretamente se matávamos moscas ou não", diz Nelson Silva, 34 anos e número 3 por Lisboa. E matam? "Pessoalmente não. Em Inglaterra [onde esteve emigrado], usam as redes fininhas nas janelas, porque têm problemas com os lagartos. Cá adotei a mesma técnica para mosquitos e moscas."

A cabeça de lista pelo Porto, Bebiana Cunha, até dá uma gargalhada. E recorda uma senhora que por estes dias a interpelou na rua de Santa Catarina: queria saber como se livrar das formigas. Não numa perspetiva de extermínio, mas apenas para evitar que entrassem pela sua casa. Acabaram a trocar ideias práticas sobre onde colocarem alimentos para as desviar.

Nelson Silva aponta também à "campanha de desinformação brutal, que não tem ajudado." A notícia de que defendem um Serviço Nacional para Animais é um exemplo. Outro, identifica Bebiana Cunha, é o fim da produção e consumo de carne de vaca. "Tenho visto passar a ideia de que o PAN é impositivo, porque quer proibir. Não é. Temos que chegar a um diálogo para reduzir, mas não vai ser de hoje para amanhã", diz a psicóloga, de 33 anos.

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E é possível ser-se do PAN e não ser vegetariano? "Claro. "A resposta é unânime – mas nenhum deles é carnívoro. Nelson Silva dá o seu exemplo: quando se filiou, em 2016, ainda comia peixe. "O PAN não impõe. Conheço filiados que comem carne e peixe e estão a fazer o seu caminho de corte, não por imposição, mas porque têm essa vontade."Inês Sousa Real define-se como "muito feminina" e com um estilo de vida vegano: compra sapatos que não sejam de origem animal – e na coleção de verão acumula os de cortiça, "produzidos em Portugal e de modo sustentável".Mantendo-se fiéis aos princípios do partido, todos procuram ter uma vida sustentável. Bebiana Cunha tem uma pequena horta na varanda de casa e sonha com o dia em que irá viver para o terreno que comprou fora do Porto e que está a reflorestar com o marido. O número dois pelo Porto, Jorge Ribeiro, compra biológico nos mini-mercados de bairro. Da última vez que este engenheiro eletrotécnico (que comemora 40 anos esta sexta-feira) se mudou, procurou uma casa próximo do centro do Porto para ir a pé para o trabalho (demora 20 minutos), de metro ou de bicicleta. Cristina Rodrigues, até agora chefe de gabinete de André Silva no Parlamento, também vai a pé. Se tivesse dinheiro para isso, Nelson teria comprado um carro elétrico para chegar ao trabalho nos arredores de Lisboa. Optou por uma mota e aprendeu a conduzi-la.Há um lamento comum destes potenciais deputados por as ideias do PAN não serem conhecidas. A jurista Inês Sousa Real, que depois de primeira provedora do Animal em Lisboa (convidada ainda por António Costa) é agora deputada municipal, refere as medidas "que não são do conhecimento público" que o partido apresentou, desde o combate à violência doméstica à inclusão de intérpretes de línguas gestual nos serviços públicos e hospitais.Cristina Rodrigues e Bebiana Cunha admitem até que cometeram erros (de comunicação, por exemplo) e justificam-no com o facto de serem "um partido jovem", que "está a aprender". "Se erramos não temos vergonha disso", diz a chefe de gabinete de André Silva, de 34 anos. Ela própria nos últimos dias viu uma curta entrevista sua em que vacilou na resposta sobre legislação laboral, prevista no programa eleitoral, espalhar-se pelas redes sociais. Apesar de ter trabalhado na Quercus e de estar a tirar um mestrado em ambiente e recursos naturais, não foi a militância que levou esta licenciada com mestrado em Direito até ao PAN. Há uns cinco anos leu um anúncio na Internet. Um partido político procurava um assessor jurídico. "Suspeitei que pudesse ser o PAN". Não se enganou.Nem ela, nem Bebiana, Nelson, Inês (que conheceu o PAN num folheto no veterinário, em 2010) ou Jorge tinham atividade partidária. Interessaram-se por ser um "partido de causas" (não só dos animais e ambiente, sublinham, mas também – ou sobretudo – das pessoas) e "pela não violência". Agradou-lhes a ausência de ideologia.Em 2015, ainda no rescaldo da sua eleição, André Silva confessava à SÁBADO "o amargo de boca" por Bebiana não ter conseguido também entrar na Assembleia da República (ficaria apenas ele durante toda a legislatura como deputado único). Em maio passado, também falhou a eleição para eurodeputada. Mas a psicóloga confessa-se "crédula" num bom resultado do partido no Porto – e a sua eventual eleição nestas legislativas. Se isso acontecer, trocará o trocará o regime voluntário com que nos últimos oito anos se dedicou ao partido pela exclusividade no exercício da função de deputada. Esta é uma regra do partido com que todos concordam.Na multinacional tecnológica onde o programador informático Nelson Silva chefia uma equipa, já se começou a pensar na hipótese de o número 3 por Lisboa ser eleito: "Vamos contratar uma pessoa para incluir na equipa e caso eu seja eleito, fica com as minhas funções."

Há uma diferença entre o que se escreve nas redes sociais ou se discute em conversas de café e o que os candidatos do PAN ouvem nas ruas. Nenhum destes cinco candidatos potencialmente elegíveis se recorda de alguma vez lhe terem colocado uma dúvida, que circula como anedota: matam moscas e mosquitos? A pergunta poderia destabilizá-los, irritá-los, mas riem.

"São comentários no Facebook, em jeito de troça, mas as pessoas são uma coisa no Facebook e outra frente a frente", explica Cristina Rodrigues, 34 anos e cabeça de lista por Setúbal, antes de confessar ter sorte por viver num sítio sem "muita vegetação" e, portanto, com poucos insetos. "Mas posso dizer que as minhas três cadelas são desparasitadas." Uma ação que também faz sentido para Inês Sousa Real, de 39 anos. "Os animais, sendo tão amigos das pessoas, temos que nos preocupar, mas não com situações tão extremas." A "linha de razoabilidade", diz, é outra: o país ter canis de abate ou os animais serem transportados vivos.

A jurista e número 2 por Lisboa (atrás de André Silva) até diz ter-se habituado a rir das brincadeiras que se fazem com o partido. "Nas redes sociais isso tem algum fulgor, mas até hoje nunca ninguém nos perguntou diretamente se matávamos moscas ou não", diz Nelson Silva, 34 anos e número 3 por Lisboa. E matam? "Pessoalmente não. Em Inglaterra [onde esteve emigrado], usam as redes fininhas nas janelas, porque têm problemas com os lagartos. Cá adotei a mesma técnica para mosquitos e moscas."

A cabeça de lista pelo Porto, Bebiana Cunha, até dá uma gargalhada. E recorda uma senhora que por estes dias a interpelou na rua de Santa Catarina: queria saber como se livrar das formigas. Não numa perspetiva de extermínio, mas apenas para evitar que entrassem pela sua casa. Acabaram a trocar ideias práticas sobre onde colocarem alimentos para as desviar.

Nelson Silva aponta também à "campanha de desinformação brutal, que não tem ajudado." A notícia de que defendem um Serviço Nacional para Animais é um exemplo. Outro, identifica Bebiana Cunha, é o fim da produção e consumo de carne de vaca. "Tenho visto passar a ideia de que o PAN é impositivo, porque quer proibir. Não é. Temos que chegar a um diálogo para reduzir, mas não vai ser de hoje para amanhã", diz a psicóloga, de 33 anos.

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E é possível ser-se do PAN e não ser vegetariano? "Claro. "A resposta é unânime – mas nenhum deles é carnívoro. Nelson Silva dá o seu exemplo: quando se filiou, em 2016, ainda comia peixe. "O PAN não impõe. Conheço filiados que comem carne e peixe e estão a fazer o seu caminho de corte, não por imposição, mas porque têm essa vontade."Inês Sousa Real define-se como "muito feminina" e com um estilo de vida vegano: compra sapatos que não sejam de origem animal – e na coleção de verão acumula os de cortiça, "produzidos em Portugal e de modo sustentável".Mantendo-se fiéis aos princípios do partido, todos procuram ter uma vida sustentável. Bebiana Cunha tem uma pequena horta na varanda de casa e sonha com o dia em que irá viver para o terreno que comprou fora do Porto e que está a reflorestar com o marido. O número dois pelo Porto, Jorge Ribeiro, compra biológico nos mini-mercados de bairro. Da última vez que este engenheiro eletrotécnico (que comemora 40 anos esta sexta-feira) se mudou, procurou uma casa próximo do centro do Porto para ir a pé para o trabalho (demora 20 minutos), de metro ou de bicicleta. Cristina Rodrigues, até agora chefe de gabinete de André Silva no Parlamento, também vai a pé. Se tivesse dinheiro para isso, Nelson teria comprado um carro elétrico para chegar ao trabalho nos arredores de Lisboa. Optou por uma mota e aprendeu a conduzi-la.Há um lamento comum destes potenciais deputados por as ideias do PAN não serem conhecidas. A jurista Inês Sousa Real, que depois de primeira provedora do Animal em Lisboa (convidada ainda por António Costa) é agora deputada municipal, refere as medidas "que não são do conhecimento público" que o partido apresentou, desde o combate à violência doméstica à inclusão de intérpretes de línguas gestual nos serviços públicos e hospitais.Cristina Rodrigues e Bebiana Cunha admitem até que cometeram erros (de comunicação, por exemplo) e justificam-no com o facto de serem "um partido jovem", que "está a aprender". "Se erramos não temos vergonha disso", diz a chefe de gabinete de André Silva, de 34 anos. Ela própria nos últimos dias viu uma curta entrevista sua em que vacilou na resposta sobre legislação laboral, prevista no programa eleitoral, espalhar-se pelas redes sociais. Apesar de ter trabalhado na Quercus e de estar a tirar um mestrado em ambiente e recursos naturais, não foi a militância que levou esta licenciada com mestrado em Direito até ao PAN. Há uns cinco anos leu um anúncio na Internet. Um partido político procurava um assessor jurídico. "Suspeitei que pudesse ser o PAN". Não se enganou.Nem ela, nem Bebiana, Nelson, Inês (que conheceu o PAN num folheto no veterinário, em 2010) ou Jorge tinham atividade partidária. Interessaram-se por ser um "partido de causas" (não só dos animais e ambiente, sublinham, mas também – ou sobretudo – das pessoas) e "pela não violência". Agradou-lhes a ausência de ideologia.Em 2015, ainda no rescaldo da sua eleição, André Silva confessava à SÁBADO "o amargo de boca" por Bebiana não ter conseguido também entrar na Assembleia da República (ficaria apenas ele durante toda a legislatura como deputado único). Em maio passado, também falhou a eleição para eurodeputada. Mas a psicóloga confessa-se "crédula" num bom resultado do partido no Porto – e a sua eventual eleição nestas legislativas. Se isso acontecer, trocará o trocará o regime voluntário com que nos últimos oito anos se dedicou ao partido pela exclusividade no exercício da função de deputada. Esta é uma regra do partido com que todos concordam.Na multinacional tecnológica onde o programador informático Nelson Silva chefia uma equipa, já se começou a pensar na hipótese de o número 3 por Lisboa ser eleito: "Vamos contratar uma pessoa para incluir na equipa e caso eu seja eleito, fica com as minhas funções."

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