Aqui faz-se música com violoncelos ou com sacos de plásticos

28-05-2016
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Concerto dos Violoncelinhos no Coreto © Gerardo Santos/ Global Imagens

Gonçalo estava a dormir a sesta no seu carrinho quando Os Violoncelinhos subiram ao palco do Coreto montado no átrio do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Acordou a meio do concerto, não com a música mas com as palmas da pequena multidão que se juntou ali para ouvir a orquestra de crianças e jovens que tocam violoncelo como gente grande. E ficou o resto do tempo, muito atento, aninhado ao colo da mãe, até à atuação terminar com uma divertida interpretação do tema dos filmes de James Bond. "Ele gosta muito de música", confirma Marina Gonçalves, mãe deste Gonçalo de 16 meses.

Já não é a primeira vez quem vêm aos Dias da Música. "Vinha já antes de ele nascer",conta Marina. De manhã, viram o espetáculo Kaô: Embalos do Mundo, integrado na programação infantil. Mas o Gonçalo não gostou muito, porque não podia mexer nos instrumentos. "Costumamos ir a outros concertos infantis, onde as crianças podem mexer nos instrumentos e ele diverte-se. Em casa também temos um tambor e um pau de chuva." A mãe não podia concordar mais com o lema dos Violoncelinhos, que os jovens músicos trazem estampado nas t-shirts azuis: "O talento educa-se". E é por isso que está desejosa que o Gonçalo cresça mais um bocadinho para levá-lo aos concertos nas salas à porta fechada. "Este ano ficamos por aqui, vamos passear um bocadinho e ouvir música..."

Mesmo se, como se queixava um senhor umas duas horas mais tarde, quando àquele mesmo palco subiram os intérpretes do Estúdio de Ópera da Academia de Amadores de Música, "está toda a gente falar, não se consegue ouvir decentemente um concerto", é este ambiente informal que é uma das imagens de marca do festival que todos os anos traz a música clássica (ou nem tanto assim) ao CCB. Os corredores enchem-se de gente com o programa na mão, correndo para chegar às várias salas à hora certa. Muitas famílias, muitas crianças que fazem barulho e saltitam por ali enquanto os pais marcam o seu lugar na fila, de pé ou sentados nos degraus, para não perderem a vez. E os principais concertos estão praticamente esgotados.

Só hoje haverá números oficiais de público, mas Miguel Coelho, presidente do Conselho de Administração no CCB, acredita que a taxa de ocupação não andará muito longe da do ano passado (que foi de 89%). "Fizemos uma aposta arriscada, com uma programação que tem muitas jovens orquestras, mas penso que está a correr bem. Achamos que é importante ter estas orquestras aqui e esperamos poder continuar a fazê-lo", comentou, referindo-se, por exemplo, à Orquestra XXI, composta exclusivamente por músicos portugueses que tocam em orquestras estrangeiras, sob a direção do maestro Dinis Sousa, e ainda à Jovem Orquestra Portuguesa, composta por mais de cem músicos de diferentes regiões do país, que, sob a direção musical de Pedro Carneiro, apresentou dois concertos. Elísio Summavielle, o presidente CCB, perdeu o primeiro, às 16.00, mas faz questão de estar no segundo, às 20.00, quando a orquestra vai fazer um Elogio da América.

Espetador do evento desde o tempo em que este se chamava Festa da Música, esta é a primeira vez que Summavielle está nos Dias da Música do lado de dentro, uma vez que assumiu o cargo em março deste ano. "Ontem à noite [sexta-feira] estava aqui como presidente, porque houve uma sessão protocolar em que estiveram o presidente da Assembleia da República e o ministro da Cultura , mas hoje [sábado] já não, hoje estou como toda a gente, a desfrutar destas festa", comenta o Elísio Summavielle. Deixou a gravata em casa e vai tentar ver os Desbundixie, porque gosta muito de jazz, e também gostava de ir "mergulhar na América Latina" com os tangos e boleros da Camerata Atlântica, mas talvez não dê tempo para tudo. Afinal, e este é um problema que atormenta muitos dos espetadores que aqui vêm, com tantas opções nesta "Volta ao Mundo em 80 Concertos", a dificuldade é mesmo escolher.

Marta Gonçalves e a filha Laura, de quatro anos, já viram a Desbundixie mas na sua versão "concerto para crianças" - que são os concertos "a sério" para os mais novos que acontecem na Sala Júlio Verne - e aconselham bastante: "Gostámos muito, foi muito divertido", conta a mãe. Depois, atravessaram o CCB em passo de corrida - passaram, sem parar, pela feira de artesanato que ocupa o grande pátio, pela esplanada onde tantos aproveitavam o sol, pela barraquinha de onde vinha um cheiro maravilhoso a linguiça assada - para chegar à Fábrica das Artes, no Jardim das Oliveiras, a tempo do Alumbra Luna - Divertimento para três vozes e muitas línguas, uma pequena maravilha de Carla Galvão, Fernando Mota e Rui Rebelo. Aqui as crianças não só ouvem músicas de vários cantos do mundo cantadas em várias línguas, como podem ver como se faz música com copos, garrafas de vidro, vassouras ou sacos de plástico. E podem, elas mesmas, experimentar agitar os sacos para fazer o restolhar das folhas das árvores, imitar os sons das aves tropicais, rebentar imensas bolinhas de plástico para fazer o crepitar fogo ou simplesmente tocar sininhos. Laura ficou triste porque queria levar o sininho para casa. Mas, se aqui estivesse, o Gonçalo teria certamente adorado a oportunidade para explorar todos estes instrumentos musicais.

Concerto dos Violoncelinhos no Coreto © Gerardo Santos/ Global Imagens

Gonçalo estava a dormir a sesta no seu carrinho quando Os Violoncelinhos subiram ao palco do Coreto montado no átrio do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Acordou a meio do concerto, não com a música mas com as palmas da pequena multidão que se juntou ali para ouvir a orquestra de crianças e jovens que tocam violoncelo como gente grande. E ficou o resto do tempo, muito atento, aninhado ao colo da mãe, até à atuação terminar com uma divertida interpretação do tema dos filmes de James Bond. "Ele gosta muito de música", confirma Marina Gonçalves, mãe deste Gonçalo de 16 meses.

Já não é a primeira vez quem vêm aos Dias da Música. "Vinha já antes de ele nascer",conta Marina. De manhã, viram o espetáculo Kaô: Embalos do Mundo, integrado na programação infantil. Mas o Gonçalo não gostou muito, porque não podia mexer nos instrumentos. "Costumamos ir a outros concertos infantis, onde as crianças podem mexer nos instrumentos e ele diverte-se. Em casa também temos um tambor e um pau de chuva." A mãe não podia concordar mais com o lema dos Violoncelinhos, que os jovens músicos trazem estampado nas t-shirts azuis: "O talento educa-se". E é por isso que está desejosa que o Gonçalo cresça mais um bocadinho para levá-lo aos concertos nas salas à porta fechada. "Este ano ficamos por aqui, vamos passear um bocadinho e ouvir música..."

Mesmo se, como se queixava um senhor umas duas horas mais tarde, quando àquele mesmo palco subiram os intérpretes do Estúdio de Ópera da Academia de Amadores de Música, "está toda a gente falar, não se consegue ouvir decentemente um concerto", é este ambiente informal que é uma das imagens de marca do festival que todos os anos traz a música clássica (ou nem tanto assim) ao CCB. Os corredores enchem-se de gente com o programa na mão, correndo para chegar às várias salas à hora certa. Muitas famílias, muitas crianças que fazem barulho e saltitam por ali enquanto os pais marcam o seu lugar na fila, de pé ou sentados nos degraus, para não perderem a vez. E os principais concertos estão praticamente esgotados.

Só hoje haverá números oficiais de público, mas Miguel Coelho, presidente do Conselho de Administração no CCB, acredita que a taxa de ocupação não andará muito longe da do ano passado (que foi de 89%). "Fizemos uma aposta arriscada, com uma programação que tem muitas jovens orquestras, mas penso que está a correr bem. Achamos que é importante ter estas orquestras aqui e esperamos poder continuar a fazê-lo", comentou, referindo-se, por exemplo, à Orquestra XXI, composta exclusivamente por músicos portugueses que tocam em orquestras estrangeiras, sob a direção do maestro Dinis Sousa, e ainda à Jovem Orquestra Portuguesa, composta por mais de cem músicos de diferentes regiões do país, que, sob a direção musical de Pedro Carneiro, apresentou dois concertos. Elísio Summavielle, o presidente CCB, perdeu o primeiro, às 16.00, mas faz questão de estar no segundo, às 20.00, quando a orquestra vai fazer um Elogio da América.

Espetador do evento desde o tempo em que este se chamava Festa da Música, esta é a primeira vez que Summavielle está nos Dias da Música do lado de dentro, uma vez que assumiu o cargo em março deste ano. "Ontem à noite [sexta-feira] estava aqui como presidente, porque houve uma sessão protocolar em que estiveram o presidente da Assembleia da República e o ministro da Cultura , mas hoje [sábado] já não, hoje estou como toda a gente, a desfrutar destas festa", comenta o Elísio Summavielle. Deixou a gravata em casa e vai tentar ver os Desbundixie, porque gosta muito de jazz, e também gostava de ir "mergulhar na América Latina" com os tangos e boleros da Camerata Atlântica, mas talvez não dê tempo para tudo. Afinal, e este é um problema que atormenta muitos dos espetadores que aqui vêm, com tantas opções nesta "Volta ao Mundo em 80 Concertos", a dificuldade é mesmo escolher.

Marta Gonçalves e a filha Laura, de quatro anos, já viram a Desbundixie mas na sua versão "concerto para crianças" - que são os concertos "a sério" para os mais novos que acontecem na Sala Júlio Verne - e aconselham bastante: "Gostámos muito, foi muito divertido", conta a mãe. Depois, atravessaram o CCB em passo de corrida - passaram, sem parar, pela feira de artesanato que ocupa o grande pátio, pela esplanada onde tantos aproveitavam o sol, pela barraquinha de onde vinha um cheiro maravilhoso a linguiça assada - para chegar à Fábrica das Artes, no Jardim das Oliveiras, a tempo do Alumbra Luna - Divertimento para três vozes e muitas línguas, uma pequena maravilha de Carla Galvão, Fernando Mota e Rui Rebelo. Aqui as crianças não só ouvem músicas de vários cantos do mundo cantadas em várias línguas, como podem ver como se faz música com copos, garrafas de vidro, vassouras ou sacos de plástico. E podem, elas mesmas, experimentar agitar os sacos para fazer o restolhar das folhas das árvores, imitar os sons das aves tropicais, rebentar imensas bolinhas de plástico para fazer o crepitar fogo ou simplesmente tocar sininhos. Laura ficou triste porque queria levar o sininho para casa. Mas, se aqui estivesse, o Gonçalo teria certamente adorado a oportunidade para explorar todos estes instrumentos musicais.

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