Costa acha a maioria absoluta “virtualmente impossível”

04-05-2019
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Pela primeira-vez, António Costa afasta a pressão da maioria absoluta de forma definitiva. Nem é uma questão de não acreditar no PS. É por achar que "é virtualmente impossível" a um partido chegar aos 116 deputados, a não ser em contextos muito particulares. O primeiro-ministro admite aumentos da função pública em 2020 e, embora não diga que vai apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, reconhece que o Presidente da República é imbatível. E começou por fazer avisos aos enfermeiros.

O primeiro-ministro admitiu, na entrevista à SIC, na noite desta terça-feira, que está a ponderar a requisição civil dos enfermeiros cirúrgicos em greve, e a retirada da idoneidade da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco. Questionado pelo jornalista José Gomes Ferreira sobre a sua classificação da greve dos enfermeiros como "selvagem", António Costa disse que "é preciso distinguir" entre os sindicatos "que recorrem a formas legais dos que usam greves" que o Governo entende serem "ilegais e que têm efeitos cruéis sobre os doentes e devem ser tratadas como tal".

"Vamos usar todos os meios legais", afirmou o primeiro-ministro, apesar de reconhecer a existência de várias interpretações jurídicas sobre a requisição civil. "Não queremos uma escalada de tensão, mas somos justos no que aceitámos. Chegámos ao limite do que podíamos aceitar", referiu, depois de elencar os benefícios e a recuperação de rendimentos que os enfermeiros tiveram esta legislatura. "Se for necessário vamos usar esse instituto jurídico", garantiu.

Quanto ao facto de a bastonária dos enfermeiros apoiar e estimular as greves, Costa foi claro a dizer que "estão expressamente proibidas quaisquer tipo de atividade sindicais", que "a ordem dos enfermeiros tem violado claramente".

Já no fim da entrevista, fora dos estúdios mas ainda nas instalações da SIC e do Expresso, confirmou "comunicar à judiciária" e ao Ministério Público as alegadas violações do estatuto por parte da bastonária dos enfermeiros. "É preciso não esquecer que as ordens profissionais são associações públicas a quem o Estado delegou sob certas condições, a regulação de atividades".

Mais aumentos na Função Pública este ano? Não. Em 2020? Talvez

Desafiado a esclarecer se o Governo vai avançar com novo aumento para Função Pública ainda este ano (e em vésperas de eleições), António Costa foi perentório: “Não". Nem mais um cêntimo, garantiu o primeiro-ministro.

"Sou a primeira pessoa a compreender bem o sentimento que existe na Função Pública, tendo em conta o esforço que foi exigido. Há carreiras bloqueadas há anos, congelamentos muito duradouros e isso gera um sentimento de revolta que percebo. Este ano a margem que existe [50 milhões] é esta”, afirmou.

Coisa diferente é o que acontece depois das eleições. A “expectativa” de António Costa, assumiu, é que o “para o ano possamos retomar a normalidade” e atualizar os salários para toda a função pública e não apenas para os trabalhadores que ganhavam menos. “A minha expectativa é a de que, se o país mantiver a trajetória de crescimento, para o ano possamos retomar a normalidade”, notou.

Maioria absoluta é virtualmente impossível

Sobre a polémica da crispação com Assunção Cristas nos debates parlamentares, António Costa define-se como uma pessoa com "bonomia", mas que não tem "duas caras" para "sorrir" para alguém que faz ataques pessoais: "Uma pessoa que escreve a dizer que sou uma pessoa sem caráter, não admito isso no debate político. Há limites". Voltou a considerar que a pergunta de Cristas no Parlamento sobre a condenação do vandalismo, na sequência dos incidentes no Bairro da Jamaica, foi "insultuosa".

António Costa afasta a ideia de que algum nervosismo em debates parlamentares tenha a ver com as sondagens, até porque a fasquia do líder do PS não é assim tão elevada: "Sempre achei, e quem me conhece sabe, que acho virtualmente impossível uma maioria absoluta". Para o primeiro-ministro, "só em situações muito excepcionais se conseguem as maiorias absolutas".

Costa quer, no entanto, ganhar as eleições "com o melhor resultado possível", e continua a dizer que a possibilidade de repetir a 'geringonça' continua em cima da mesa. "Em equipa que se ganha não se mexe", insiste.

Ainda assim, António Costa afastou (novamente) a hipótese de ter no Bloco de Esquerda mais do que um parceiro parlamentar. Desta vez, de forma indireta, pelo menos. O líder socialista deixou claro que não quer trocar Mário Centeno por Mariana Mortágua (“obviamente que não”, assegurou Costa) e disse mais: num momento em que se especula sobre a possibilidade de Centeno rumar à Comissão Europeia, o primeiro-ministro sugeriu que o “Ronaldo das Finanças” pode mesmo continuar num futuro Governo socialista. “[Mário Centeno] não me deu qualquer sinal de estar indisponível para continuar”.

Sobre as próximas eleições europeias, António Costa jogou sobretudo à defesa. “Não conheço nenhuma eleição que seja um passeio no parque. Já ganhei quando não esperava ganhar e já perdi quando esperava perder”. Convicção, apenas uma: “Espero ter um resultado melhor [do que em 2014]”. Um patamar tão importante como simbólico: foi em 2014 que António José Seguro conseguiu a tal “vitória poucochinha” (Costa dixit) e que motivou a queda do então secretário-geral do PS.

Derrota de Marcelo é "altamente improvável"

Apesar de as eleições presidenciais serem apenas em 2021, Marcelo Rebelo de Sousa já colocou o tema na agenda, admitindo uma eventual recandidatura. Para Costa, restam pouco dúvidas: "Se o Presidente da República se recandidatar, é altamente improvável que não seja eleito", disse.

Resta saber o que farão os socialistas quando chegar esse momento. Em 2016, O PS não apoiou formalmente um candidato a Belém, embora o aparelho socialista tenha estado no terreno e ao lado de António Sampaio Nóvoa. No futuro, apoiará Marcelo? "O PS decidirá isso a seu tempo", afirmou o socialista, sem se comprometer.

Na reta final da entrevista, Costa falou sobre a evolução da economia portuguesa e, embora reconhecendo algumas negras no horizonte, manteve (algum) optimismo. "Desaceleração económica não nos apanha desprevenidos", assegurou. Mas mandou um recado aos banqueiros: "A banca continua excessivamente dependente do crédito ao consumo e ao imobiliário. Infelizmente, a nossa banca está mal preparada para as necessidades da economia e devia ser mais amiga do investimento".

Pela primeira-vez, António Costa afasta a pressão da maioria absoluta de forma definitiva. Nem é uma questão de não acreditar no PS. É por achar que "é virtualmente impossível" a um partido chegar aos 116 deputados, a não ser em contextos muito particulares. O primeiro-ministro admite aumentos da função pública em 2020 e, embora não diga que vai apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, reconhece que o Presidente da República é imbatível. E começou por fazer avisos aos enfermeiros.

O primeiro-ministro admitiu, na entrevista à SIC, na noite desta terça-feira, que está a ponderar a requisição civil dos enfermeiros cirúrgicos em greve, e a retirada da idoneidade da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco. Questionado pelo jornalista José Gomes Ferreira sobre a sua classificação da greve dos enfermeiros como "selvagem", António Costa disse que "é preciso distinguir" entre os sindicatos "que recorrem a formas legais dos que usam greves" que o Governo entende serem "ilegais e que têm efeitos cruéis sobre os doentes e devem ser tratadas como tal".

"Vamos usar todos os meios legais", afirmou o primeiro-ministro, apesar de reconhecer a existência de várias interpretações jurídicas sobre a requisição civil. "Não queremos uma escalada de tensão, mas somos justos no que aceitámos. Chegámos ao limite do que podíamos aceitar", referiu, depois de elencar os benefícios e a recuperação de rendimentos que os enfermeiros tiveram esta legislatura. "Se for necessário vamos usar esse instituto jurídico", garantiu.

Quanto ao facto de a bastonária dos enfermeiros apoiar e estimular as greves, Costa foi claro a dizer que "estão expressamente proibidas quaisquer tipo de atividade sindicais", que "a ordem dos enfermeiros tem violado claramente".

Já no fim da entrevista, fora dos estúdios mas ainda nas instalações da SIC e do Expresso, confirmou "comunicar à judiciária" e ao Ministério Público as alegadas violações do estatuto por parte da bastonária dos enfermeiros. "É preciso não esquecer que as ordens profissionais são associações públicas a quem o Estado delegou sob certas condições, a regulação de atividades".

Mais aumentos na Função Pública este ano? Não. Em 2020? Talvez

Desafiado a esclarecer se o Governo vai avançar com novo aumento para Função Pública ainda este ano (e em vésperas de eleições), António Costa foi perentório: “Não". Nem mais um cêntimo, garantiu o primeiro-ministro.

"Sou a primeira pessoa a compreender bem o sentimento que existe na Função Pública, tendo em conta o esforço que foi exigido. Há carreiras bloqueadas há anos, congelamentos muito duradouros e isso gera um sentimento de revolta que percebo. Este ano a margem que existe [50 milhões] é esta”, afirmou.

Coisa diferente é o que acontece depois das eleições. A “expectativa” de António Costa, assumiu, é que o “para o ano possamos retomar a normalidade” e atualizar os salários para toda a função pública e não apenas para os trabalhadores que ganhavam menos. “A minha expectativa é a de que, se o país mantiver a trajetória de crescimento, para o ano possamos retomar a normalidade”, notou.

Maioria absoluta é virtualmente impossível

Sobre a polémica da crispação com Assunção Cristas nos debates parlamentares, António Costa define-se como uma pessoa com "bonomia", mas que não tem "duas caras" para "sorrir" para alguém que faz ataques pessoais: "Uma pessoa que escreve a dizer que sou uma pessoa sem caráter, não admito isso no debate político. Há limites". Voltou a considerar que a pergunta de Cristas no Parlamento sobre a condenação do vandalismo, na sequência dos incidentes no Bairro da Jamaica, foi "insultuosa".

António Costa afasta a ideia de que algum nervosismo em debates parlamentares tenha a ver com as sondagens, até porque a fasquia do líder do PS não é assim tão elevada: "Sempre achei, e quem me conhece sabe, que acho virtualmente impossível uma maioria absoluta". Para o primeiro-ministro, "só em situações muito excepcionais se conseguem as maiorias absolutas".

Costa quer, no entanto, ganhar as eleições "com o melhor resultado possível", e continua a dizer que a possibilidade de repetir a 'geringonça' continua em cima da mesa. "Em equipa que se ganha não se mexe", insiste.

Ainda assim, António Costa afastou (novamente) a hipótese de ter no Bloco de Esquerda mais do que um parceiro parlamentar. Desta vez, de forma indireta, pelo menos. O líder socialista deixou claro que não quer trocar Mário Centeno por Mariana Mortágua (“obviamente que não”, assegurou Costa) e disse mais: num momento em que se especula sobre a possibilidade de Centeno rumar à Comissão Europeia, o primeiro-ministro sugeriu que o “Ronaldo das Finanças” pode mesmo continuar num futuro Governo socialista. “[Mário Centeno] não me deu qualquer sinal de estar indisponível para continuar”.

Sobre as próximas eleições europeias, António Costa jogou sobretudo à defesa. “Não conheço nenhuma eleição que seja um passeio no parque. Já ganhei quando não esperava ganhar e já perdi quando esperava perder”. Convicção, apenas uma: “Espero ter um resultado melhor [do que em 2014]”. Um patamar tão importante como simbólico: foi em 2014 que António José Seguro conseguiu a tal “vitória poucochinha” (Costa dixit) e que motivou a queda do então secretário-geral do PS.

Derrota de Marcelo é "altamente improvável"

Apesar de as eleições presidenciais serem apenas em 2021, Marcelo Rebelo de Sousa já colocou o tema na agenda, admitindo uma eventual recandidatura. Para Costa, restam pouco dúvidas: "Se o Presidente da República se recandidatar, é altamente improvável que não seja eleito", disse.

Resta saber o que farão os socialistas quando chegar esse momento. Em 2016, O PS não apoiou formalmente um candidato a Belém, embora o aparelho socialista tenha estado no terreno e ao lado de António Sampaio Nóvoa. No futuro, apoiará Marcelo? "O PS decidirá isso a seu tempo", afirmou o socialista, sem se comprometer.

Na reta final da entrevista, Costa falou sobre a evolução da economia portuguesa e, embora reconhecendo algumas negras no horizonte, manteve (algum) optimismo. "Desaceleração económica não nos apanha desprevenidos", assegurou. Mas mandou um recado aos banqueiros: "A banca continua excessivamente dependente do crédito ao consumo e ao imobiliário. Infelizmente, a nossa banca está mal preparada para as necessidades da economia e devia ser mais amiga do investimento".

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