Falta de begonha na cara…

06-10-2019
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por Daniela Soares de Azevedo Fernandes

Maria Begonha – Sem comentários – FOTO: Google Images Refª 201812152049 – http://www.noticiasaominuto.com

Nos idos tempos, amaldiçoados por uns, adorados por outros, a inexistência de leis que regulassem nas Conservatórias do Registo Civil os nomes que se podiam aplicar a quem havia nascido dava azo a situações caricatas de um indivíduo ter vergonha do apelido que com poucos meses de vida lhe haviam aplicado. Passou-se no Alentejo. Aí por volta de 1934. Ainda o Estado Novo Salazarista não tinha deitado as garras de fora e disciplinado o dia a dia dos portugueses e nomes eram como cada um lhe apetecia dar aos filhos, erro que depois leis específicas meteram tudo na ordem. Uma manhã, creio que se passou em Évora, um lavrador que tinha mais terras que juízo, quando o funcionário da Conservatória perguntou qual o nome que queria dar ao filho de imediato respondeu “prante-lhe Adão”. E o nome do menino por culpa dum funcionário bastante surdo acabou no livro dos assentos, admirai-vos, ó gentes, como “Prantelhadão”!!

O engenheiro Klaus Bergenthal que andou pelo Vale do Ave a instalar teares mecânicos em fábricas que se pretendiam modernizar quando nas despedidas ao apanhar o comboio para a Alemanha lhe perguntaram se tinha gostado de Portugal respondeu com a finesse dum humorismo demolidor que “sim eu gostarrr muita porrrque Porrrtugal serr país extraordinárrrio porrrque quando Munda acabarrr vocês ainda vão ficarrr a andarrr porr cá cem anos…”. Bastantes décadas se passaram e o Progresso chegou. Com alguns anitos de atraso. Quando, maravilha das maravilhas, os computadores passaram a ser usados na maioria dos serviços públicos para maior facilidade no manuseamento de dados. Acreditem ou não, mas juro-vos pela saúde do Costa que no Alentejo, claro, ao copiarem-se vários registos antigos surgiu algo de impensável que no passado pudesse ter ocorrido. Nem mais, nem menos. Alguém sofria por ter o apelido de … “chouriço vermelho” !!!

Microfilme – Sistema de arquivo de documentos instalado pela primeira vez em Portugal na Caixa Geral de Depósito que foi pioneira, mas com alguns anos de atraso. FOTO: Google Images Refª 201812152347-www.scansystem.com.br

Não vamos mais longe porque em janeiro de 1974 três inspetores da PIDE deslocaram-se aos Serviços Técnicos da Caixa Geral de Depósitos porque lhes havia constado que por lá já funcionava “uma coisa nova” que lhes disseram chamar-se Microfilmagem. Fernando Oneto, grande amigo e companheiro no Liceu Pedro Nunes, que chefiou a Comissão de Extinção desse famigerado sistema de opressão me contou que a PIDE na altura da revolução dos cravos tinha um arquivo de seis milhões de pequenas fichas em cartolina atadas em pequenos maços com cordel. Porrrtugal errra de facto um país marrravilhoso…

De apelido em apelido, de dia em dia, chegámos no XXI Congresso à eleição de Maria Begonha concorrente única a Amada Líder da “Juventude Socialista” uma jovem envolta em controversos escândalos que animaram as redes sociais com uma matilha a atacar e um pequeno exército de legionários socialistas a garantirem que a seguir à Virgem de Fátima melhor não havia que a Begonha do nosso descontentamento.

Quanto a nós o mais importante deste cómico fait divers centrou-se no mui curioso facto de a referida personagem (agora já a 13ª Amada Líder da JS) entre o elucidativo número de duzentos e vinte e oito eleitores ter abichado 165 a favor, 47 brancos e 16 nulos. Ou seja 72,37% dos votos. É obra, carago. Como concorrente única bastavam-lhe meia dúzia para ser entronizada… O desagradavelmente verificado (e as redes sociais badalaram por tudo quanto é Mundo) é que a Begonha estaria envolta nuns polémicos escândalozitos por (ao que consta) ter mentido ao prestar informações falsas no seu currículo e na nota biográfica que estava disponível no site oficial da sua candidatura. Mentirolas que dois respeitados jornais (Público e Observador) noticiaram com bastante relevo. A que aldrabices se referiu a Comunicação Social? Umas coisitas sem importância. A saber: que tinha sido assessora na Junta de Freguesia de Benfica. Não tinha. A própria presidente, Inês Drummond, também ela socialista (mas não mentirosa) desmentiu-a com todas as letras afirmando perentoriamente que a Begonha assinou um contrato para apenas e só “dar apoio ao secretariado” especificando para não restarem dúvidas que a jovem Amada Líder nunca foi assessora de alguém tendo como claramente explicou “o que Maria Begonha fazia na junta era, por exemplo, “responder a emails dos fregueses”.

Costa sem falhas sempre sorridentemente presente em todos os congressos do PS não compareceu no da Begonha por ao que consta estar ausente a desempenhar alguma bem mais importante missão. FOTO: Google Images Refª 201812152032- http://www.distritoline.pt

Nestas águas turvas bastante mal cheirosas acresce que Maria Begonha declarou ter o grau de Mestrado em Ciência Política, grau que não tem nunca teve porque nunca concluiu o respectivo curso. Descoberta a marosca chutou para a esquerda desculpando-se que tinha sido uma gralha não por culpa dela, mas sim do pobre do seu director de campanha Tiago Estêvão Martins que acabou por se demitir. Já o “Observador” (considerado o melhor jornal de 2017) com o rigor informativo a que nos habituou tratando desta cascata de chico-espertices avançou que e transcrevemos” Aquela que até aqui era uma questão ética, entra agora no domínio legal e Maria Begonha pode incorrer numa “contraordenação muito grave” ao abrigo do artigo 456 do Código de Contratação Pública e arrisca ainda ser alvo de um procedimento criminal por “falsas declarações” no currículo. Todo este pestilento imbróglio já levou o Ministério Público de Lisboa a abrir um inquérito dados os erros e incongruências patentes no currículo da agora Amada Líder.

Como as palavras são como as cerejas Pedro Nuno Santos, actual Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, veio em jeito de boia de salvação garantir que “A Maria Begonha não mentiu no currículo” e, como sobremesa do longo discurso, garantir que e transcrevemos “A Maria Begonha foi acusada de ter forjado o seu currículo. É uma acusação grave, perante a qual não podemos hesitar em nenhum momento. Não tem lugar na política quem engana. Só que não foi isso que a Maria fez”. Não sei nem quero sabe e tenho raiva a quem sabe se a Begonha é inocente ou culpada. É que já estamos tão habituados a tsunamis de escândalos, roubalheiras, fraudes, vigarices e miscambilhas seja de Begonhas, de membros do governo, de deputados, de directores-gerais e de mais uns tantos figurantes/figurões da Democracia imperfeita que temos que o gato não vai às filhós mais Begonha menos Begonha, mais Sócrates menos Sócrates, mais Vara menos Vara. Já para não falarmos de banqueiros Donos Disto Tudo que nunca serão julgados porque de recurso em recurso ou o processo prescreve ou, pela idade, acabarão por morrer salgados, perdão, salvados antes que a telenovela se acabe. Auguro um futuro brilhante para a Amada Líder. É que tantas trapalhadas, tantas dúvidas, tantos pés metidos pelas mãos é mesmo um claro sintoma que se vai dar bem no geringonçático PS e temos personagem que no partido das espertezas saloias (cativações, austeridade disfarçada, falência técnica dos órgãos do Estado) vai singrar de vento em popa secretária de Estado daqui por três anos, ministra daqui a cinco e, quem sabe, quiçá, talvez, primeira mulher Presidente da República daqui a duas décadas quando o azougado Marcelo de Sousa das Selfies se reformar para nadar à vontade nas revoltas ondas do Guicho

Razão tinha o alemão Klaus Bergenthal: “Porrrtugal serr país extraordinárrrio”. Pena é, para rir se não fosse tão triste, que a muitos dos nossos políticos (sérios devem ser poucas dúzias) falta begonha na cara…

por Daniela Soares de Azevedo Fernandes

Maria Begonha – Sem comentários – FOTO: Google Images Refª 201812152049 – http://www.noticiasaominuto.com

Nos idos tempos, amaldiçoados por uns, adorados por outros, a inexistência de leis que regulassem nas Conservatórias do Registo Civil os nomes que se podiam aplicar a quem havia nascido dava azo a situações caricatas de um indivíduo ter vergonha do apelido que com poucos meses de vida lhe haviam aplicado. Passou-se no Alentejo. Aí por volta de 1934. Ainda o Estado Novo Salazarista não tinha deitado as garras de fora e disciplinado o dia a dia dos portugueses e nomes eram como cada um lhe apetecia dar aos filhos, erro que depois leis específicas meteram tudo na ordem. Uma manhã, creio que se passou em Évora, um lavrador que tinha mais terras que juízo, quando o funcionário da Conservatória perguntou qual o nome que queria dar ao filho de imediato respondeu “prante-lhe Adão”. E o nome do menino por culpa dum funcionário bastante surdo acabou no livro dos assentos, admirai-vos, ó gentes, como “Prantelhadão”!!

O engenheiro Klaus Bergenthal que andou pelo Vale do Ave a instalar teares mecânicos em fábricas que se pretendiam modernizar quando nas despedidas ao apanhar o comboio para a Alemanha lhe perguntaram se tinha gostado de Portugal respondeu com a finesse dum humorismo demolidor que “sim eu gostarrr muita porrrque Porrrtugal serr país extraordinárrrio porrrque quando Munda acabarrr vocês ainda vão ficarrr a andarrr porr cá cem anos…”. Bastantes décadas se passaram e o Progresso chegou. Com alguns anitos de atraso. Quando, maravilha das maravilhas, os computadores passaram a ser usados na maioria dos serviços públicos para maior facilidade no manuseamento de dados. Acreditem ou não, mas juro-vos pela saúde do Costa que no Alentejo, claro, ao copiarem-se vários registos antigos surgiu algo de impensável que no passado pudesse ter ocorrido. Nem mais, nem menos. Alguém sofria por ter o apelido de … “chouriço vermelho” !!!

Microfilme – Sistema de arquivo de documentos instalado pela primeira vez em Portugal na Caixa Geral de Depósito que foi pioneira, mas com alguns anos de atraso. FOTO: Google Images Refª 201812152347-www.scansystem.com.br

Não vamos mais longe porque em janeiro de 1974 três inspetores da PIDE deslocaram-se aos Serviços Técnicos da Caixa Geral de Depósitos porque lhes havia constado que por lá já funcionava “uma coisa nova” que lhes disseram chamar-se Microfilmagem. Fernando Oneto, grande amigo e companheiro no Liceu Pedro Nunes, que chefiou a Comissão de Extinção desse famigerado sistema de opressão me contou que a PIDE na altura da revolução dos cravos tinha um arquivo de seis milhões de pequenas fichas em cartolina atadas em pequenos maços com cordel. Porrrtugal errra de facto um país marrravilhoso…

De apelido em apelido, de dia em dia, chegámos no XXI Congresso à eleição de Maria Begonha concorrente única a Amada Líder da “Juventude Socialista” uma jovem envolta em controversos escândalos que animaram as redes sociais com uma matilha a atacar e um pequeno exército de legionários socialistas a garantirem que a seguir à Virgem de Fátima melhor não havia que a Begonha do nosso descontentamento.

Quanto a nós o mais importante deste cómico fait divers centrou-se no mui curioso facto de a referida personagem (agora já a 13ª Amada Líder da JS) entre o elucidativo número de duzentos e vinte e oito eleitores ter abichado 165 a favor, 47 brancos e 16 nulos. Ou seja 72,37% dos votos. É obra, carago. Como concorrente única bastavam-lhe meia dúzia para ser entronizada… O desagradavelmente verificado (e as redes sociais badalaram por tudo quanto é Mundo) é que a Begonha estaria envolta nuns polémicos escândalozitos por (ao que consta) ter mentido ao prestar informações falsas no seu currículo e na nota biográfica que estava disponível no site oficial da sua candidatura. Mentirolas que dois respeitados jornais (Público e Observador) noticiaram com bastante relevo. A que aldrabices se referiu a Comunicação Social? Umas coisitas sem importância. A saber: que tinha sido assessora na Junta de Freguesia de Benfica. Não tinha. A própria presidente, Inês Drummond, também ela socialista (mas não mentirosa) desmentiu-a com todas as letras afirmando perentoriamente que a Begonha assinou um contrato para apenas e só “dar apoio ao secretariado” especificando para não restarem dúvidas que a jovem Amada Líder nunca foi assessora de alguém tendo como claramente explicou “o que Maria Begonha fazia na junta era, por exemplo, “responder a emails dos fregueses”.

Costa sem falhas sempre sorridentemente presente em todos os congressos do PS não compareceu no da Begonha por ao que consta estar ausente a desempenhar alguma bem mais importante missão. FOTO: Google Images Refª 201812152032- http://www.distritoline.pt

Nestas águas turvas bastante mal cheirosas acresce que Maria Begonha declarou ter o grau de Mestrado em Ciência Política, grau que não tem nunca teve porque nunca concluiu o respectivo curso. Descoberta a marosca chutou para a esquerda desculpando-se que tinha sido uma gralha não por culpa dela, mas sim do pobre do seu director de campanha Tiago Estêvão Martins que acabou por se demitir. Já o “Observador” (considerado o melhor jornal de 2017) com o rigor informativo a que nos habituou tratando desta cascata de chico-espertices avançou que e transcrevemos” Aquela que até aqui era uma questão ética, entra agora no domínio legal e Maria Begonha pode incorrer numa “contraordenação muito grave” ao abrigo do artigo 456 do Código de Contratação Pública e arrisca ainda ser alvo de um procedimento criminal por “falsas declarações” no currículo. Todo este pestilento imbróglio já levou o Ministério Público de Lisboa a abrir um inquérito dados os erros e incongruências patentes no currículo da agora Amada Líder.

Como as palavras são como as cerejas Pedro Nuno Santos, actual Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, veio em jeito de boia de salvação garantir que “A Maria Begonha não mentiu no currículo” e, como sobremesa do longo discurso, garantir que e transcrevemos “A Maria Begonha foi acusada de ter forjado o seu currículo. É uma acusação grave, perante a qual não podemos hesitar em nenhum momento. Não tem lugar na política quem engana. Só que não foi isso que a Maria fez”. Não sei nem quero sabe e tenho raiva a quem sabe se a Begonha é inocente ou culpada. É que já estamos tão habituados a tsunamis de escândalos, roubalheiras, fraudes, vigarices e miscambilhas seja de Begonhas, de membros do governo, de deputados, de directores-gerais e de mais uns tantos figurantes/figurões da Democracia imperfeita que temos que o gato não vai às filhós mais Begonha menos Begonha, mais Sócrates menos Sócrates, mais Vara menos Vara. Já para não falarmos de banqueiros Donos Disto Tudo que nunca serão julgados porque de recurso em recurso ou o processo prescreve ou, pela idade, acabarão por morrer salgados, perdão, salvados antes que a telenovela se acabe. Auguro um futuro brilhante para a Amada Líder. É que tantas trapalhadas, tantas dúvidas, tantos pés metidos pelas mãos é mesmo um claro sintoma que se vai dar bem no geringonçático PS e temos personagem que no partido das espertezas saloias (cativações, austeridade disfarçada, falência técnica dos órgãos do Estado) vai singrar de vento em popa secretária de Estado daqui por três anos, ministra daqui a cinco e, quem sabe, quiçá, talvez, primeira mulher Presidente da República daqui a duas décadas quando o azougado Marcelo de Sousa das Selfies se reformar para nadar à vontade nas revoltas ondas do Guicho

Razão tinha o alemão Klaus Bergenthal: “Porrrtugal serr país extraordinárrrio”. Pena é, para rir se não fosse tão triste, que a muitos dos nossos políticos (sérios devem ser poucas dúzias) falta begonha na cara…

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