Estrolabio

04-12-2019
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coordenação de Augusta Clara de Matos Hoje Falamos de...uma exemplar convivência Abdurraham Badawi Egípcio, é filósofo e historiador da filosofia. Foi diretor dos departamentos de filosofia de diversas universidades no Egito, na Jamahiriya Árabe, Líbia e no Kwait, além de professor convidado na Sorbonne, em Paris. É autor de cerca de 100 obras, em francês e em árabe, sobre temas como existencialismo, filosofias grega e árabe e filosofia alemã contemporânea. Abdurraham Badawi A Escola de Toledo A transmissão do legado cultural árabo-grego de Al-Andalus à Europa ocorreu principalmente graças à escola de tradutores de Toledo. SOMENTE no século XII surgiu, em Tole­do, a primeira escola espanhola de tradutores do árabe para o latim. Essa escola foi fundada por D. Raimundo, monge beneditino nascido em Agen, no sudoeste da França, que foi arce­bispo de Toledo de 1126 a 1151. Convencido da importância da obra dos filósofos árabes para a compreensão de Aristóteles, ele decidiu traduzir suas obras para o latim. Entre as diversas pessoas convocadas pa­ra esse trabalho, uma das mais eminentes foi Dominicus Gundisalvi, arcediago de Segóvia. Ele traduziu do árabe para o latim importante parte do Kitab al Chifa' (Livro da Cura), obra enciclopédica de Ibn Sina (Avicena), o Maqa-sid al-falasifah (As intenções dos filósofos), de al-Ghazali, e o Ihsa’ al-ulum (Tratado sobre o recenseamento das ciências), de al-Farabi. Mas Gundisalvi não conhecia o árabe. Por isso, valeu-se de intermediários, muçulmanos ou judeus, para dispor de uma tradução do árabe em castelhano e, em seguida, traduzir para o latim. Entre esses tradutores judeus intermediários, constantemente ressurgem os nomes de um certo Salomão e, sobretudo, de Johannes Avendeath (ou Avendauth, ou Johannes bem David, ou Johannes Hispanus, ou, ainda, Jean de Séville), cuja identificação sus­cita muitas controvérsias. O membro mais importante desse colégio de tradutores foi sem dúvida Gerardo di Cremona (1114-1187). Graças a uma breve notícia deixada por seus alunos sobre sua vida e sua obra como tradutor, sabemos que Gerardo foi para Toledo, após terminar os estudos na Itá­lia, para conhecer mais sobre o Almageste. Esse tratado de astronomia composto por Cláudio Ptolomeu, o célebre astrónomo, matemático e geógrafo grego do século II, era uma imensa obra que dispunha de uma versão em árabe. Ante a profusão de livros científicos em árabe que descobriu em Toledo, Cremona começou imediatamente a estudar árabe, a fim de lê-los e traduzi-los para o latim. Em seguida tradu­ziu mais de 70 obras, entre elas o Almageste, cuja tradução terminou em 1175. Suas traduções abrangem praticamente todo o campo científico daquela época: diver­sos livros de Aristóteles (Da Física, Do céu e do mundo, Da geração e da corrupção e Os meteoros), além de al-Kindi, Ptolomeu, Isaak Israeli, Ibn Sina, Galeno e muitos outros. Outro grande tradutor foi Michel Scot (c.1175-c.l235). Nascido na Inglaterra, ele pas­sou pelas Universidades de Oxford e de Paris, antes de se estabelecer em Toledo, onde aprendeu o árabe e o hebraico, vindo a tradu­zir muitas obras do árabe para o latim. No final da vida, foi convidado à corte do impe­rador germânico Frederico II de Hohenstaufen, na Sicília - outro centro de traduções do árabe para o latim. Michel Scot traduziu principalmente grande parte dos comentários de Ibn Rushd (Averróis) sobre a obra de Aristóteles e o Tra­tado sobre as esferas, de al-Bitrudji (Alpetragius, ou Alpetrage), que exerceu grande influência sobre os conhecimentos astronómicos. Um trabalho coletivo Essas traduções toledanas levantam o proble­ma da paternidade. Num estudo sobre Aver­róis publicado no século passado, o escritor e historiador francês Ernest Renan observou: "Certamente os latinos que viajaram a Toledo não tinham qualquer escrúpulo em se apro­priar do trabalho de seus secretários (...) e o nome do tradutor frequentemente era uma ficção. "Quase sempre um judeu, amiúde um mu­çulmano convertido, desbastava a obra e apli­cava a palavra latina ou a palavra vulgar sobre a palavra árabe. Um clérigo cuidava do texto em latim e dava seu nome à obra. Por isso, uma mesma tradução é frequentemente atri­buída a pessoas diferentes." Essa opinião é partilhada pelo grande medievalista norte-americano Charles Homer Haskins em seu livro sobre a Renascença do século XII e também por algumas traduções latinas do árabe por intermédio do espanhol, em poder da Biblioteca Nacional de Paris. O extraordinário trabalho de tradução re­alizado em Toledo foi efetivamente a obra conjunta dos árabes muçulmanos, judeus e latinos cristãos. Seria injusto atribuir sua pa­ternidade somente a estes últimos, mesmo quando os manuscritos ou os historiadores mencionam apenas seus nomes. Gundisalvi, Gerardo di Cremona, Michel Scot e muitos outros tradutores sempre recorreram a aju­dantes e intermediários árabo-muçulmanos ou, ainda com maior frequência, judeus. O trabalho dos tradutores cristãos latinos às ve­zes se limitava a colocar em bom latim o que seus ajudantes haviam traduzido em espa­nhol ou em mau latim. Por isso, o grande movimento de tradução do árabe para o latim começou na Espanha no século XII, e Toledo foi seu centro mais ativo. Mas esse movimento teve continuidade em outras cidades da península, como Barcelona, Tarragone, Scgóvia, Leóne Pampelune, alcan­çando depois os Pireneus para se estabelecer em Toulouse, Béziers, Narbonne, Montepellier e Marselha. Graças a essas traduções, a Europa pôde conhecer tanto as obras dos filósofos, mate­máticos, médicos e astrónomos gregos quanto as de seus comentadores e competidores ára­bes. Como também escreveu Haskins, "a re­cepção desse saber pela Europa ocidental re­presenta uma importante guinada na história do pensamento europeu". (in O Correio da UNESCO, Ano 20, Nº. 2 Brasil, Fevereiro 1992)

Segundo diz Roger Martin du Gard, em O Drama de Jean Barois, a virgindade de Maria teve origem no erro de um tradutor, um obscuro monge, ao traduzir o Novo Testamento do grego para o latim, confundiu a palavra jovem com virgem. E aí temos um dos maiores imbróglios da liturgia católica, o culto mariano…O monge terá cometido o seu erro, mas soadas as Completas terá ido comer o seu caldo, o seu naco de pão, deixando o mundo com mais um problema. Hoje, falo de tradução. Nesse mundo mágico da criação literária, onde acontecem prodígios como a «Eneida», o «D. Quixote de la Mancha», o «Hamlet» ou a «Guerra e Paz», movem-se, quase como invisíveis duendes, os tradutores que, «à force de reins et de sueur», como disse Gustave Flaubert, conseguiram que muitos milhares de milhões de leitores fossem ao longo das gerações conhecendo a Ilíada, Dante, Cervantes, Tolstoi, Kafka, o que não é proeza pequena, sobretudo se nos lembrarmos que é cometida por seres praticamente invisíveis. Invisíveis, porque, tal como acontece com os árbitros de futebol, o melhor que pode acontecer a um tradutor é passar despercebido. Quanto melhor tiver feito o seu trabalho, menos consciência deverá o leitor ter da sua intervenção. A tradução ideal, portanto, assemelhar-se-ia a um vidro muito perfeito, transparente e limpo, através do qual se pudesse ler o original, mas na língua de chegada. Um vidro que não distorcesse as imagens. Que não se visse, a bem dizer. Na maioria dos casos, a tradução empobrece o texto original. Há casos, porém, como na tradução que Blaise Cendrars fez de «A Selva», de Ferreira de Castro, ou a que Jorge Luis Borges fez de «The Wild Palms», de William Faulkner. Que são exemplos em que o vidro que se interpõe entre a língua de partida e a de chegada não está limpo nem sujo, mas sim esmerilado pelo estilo genial dos tradutores. No caso da tradução de «A Selva», com a sua ironia cáustica, Almada Negreiros, aludindo ao estilo rude e primário dos primeiros livros de Ferreira de Castro, dizia que o ideal teria sido pegar na tradução em francês, feita por Cendrars, arranjar um bom tradutor e verter então a obra para português. Gabriel García Márquez foi ao ponto de declarar que a versão inglesa de «Cien años de soledad», feita por Gregory Rabassa, ultrapassa a sua obra em qualidade literária. Tradutor, traidor, como diz o famoso aforismo italiano: estaremos nestes casos, como o de Cendrars ou o de Rabassa, perante boas obras literárias, mas más traduções, ou apenas em face de excelentes traições? Sou um leitor compulsivo e tenho sido, ao longo da minha vida profissional, tradutor compulso – isto é, numa certa fase da minha vida, compelido pela necessidade de ganhar a vida, e noutra compulsado pelas circunstâncias – as mais de as vezes por ser necessário executar o trabalho com urgência e não haver ninguém à mão capaz de o fazer dentro do prazo exigido. Como leitor sofro muito com as más traduções, com as trapaças, com a falta de brio profissional; como tradutor, sofro com a perpétua e justificada desconfiança do meu saber. Mesmo quando se trata de um vocábulo estrangeiro milhares de vezes por mim usado, vou sempre verificar se não haverá qualquer acepção menos vulgar que me tenha escapado. Sofro, sobretudo, quando, depois de editado o trabalho, descubro erros que deveria ter evitado. Não vou aqui referir erros de tradução, pois isso obrigar-me-ia a falar de nomes, coisa que não quero. Depois, sei em que circunstâncias muitas vezes as traduções são feitas. Prazos exíguos, pagamentos parcos e ainda por cima incertos. Até há duas décadas atrás, as traduções eram geralmente pagas à página (30 linhas de 70 caracteres = 2100 caracteres). Hoje, com o trabalho feito em computador, usa-se mais como unidade de referência os conjuntos de 2000 caracteres. Mas, de uma forma geral, continua a ser um trabalho mal pago. Isto, quanto a mim, não desculpa que se façam as traduções que por aí aparecem. Já trabalhei por todos os preços desde o zero até ao bastante bem pago. O cuidado que ponho nos meus trabalhos é sempre o mesmo. Com esta afirmação, não pretendo ser modelo de coisa nenhuma, até porque conheço muita gente que procede exactamente como eu. O pior são os outros. Estas reflexões sobre a tradução foram-me sugeridas por um livro que acabei de ler. Não vou dizer o título, pois isso poria em cheque o tradutor. Apenas um pormenor. Na obra, um romance, aparece repetidamente um sótão que se verifica pela descrição romanesca ficar no subsolo. Como o livro é traduzido de um original norte-americano, a confusão seria entre «attic», «loft» ou «garret» e «cave» (verifiquei, depois, compulsando o original, que a palavra usada foi «cave»). Embora não fosse exactamente o que se pretendia, a palavra portuguesa «cave» serviria razoavelmente, não se verificando o clássico problema dos «falsos amigos» – o ideal seria talvez «caverna». O que se teria passado para que uma caverna subterrânea aparecesse transformada num sótão? Muito simples: a tradução não foi feita do inglês, como expressamente se indica na ficha técnica, mas sim do castelhano. Em castelhano, cave diz-se «sótano» e «sótano» – está-se mesmo a ver, não está? – só pode ser sótão! Temos, portanto, um tradutor que por ignorância ou preguiça substitui o original por uma tradução espanhola, mas que não sabe castelhano (o português da tradução é muito razoável, no entanto). Exemplos como este, de más traduções e de trapaças como esta são às centenas. Por tudo o que fica dito e pelo muito que aqui não cabe dizer, se entende como é difícil traduzir. E como é difícil avaliar traduções, pois já tenho deparado com traduções globalmente mal feitas onde há problemas muito bem resolvidos. O contrário também acontece. Não entendo, por isso, como por vezes são atribuídos prémios de tradução, usando talvez critérios jornalísticos (falo de prémios atribuídos por jornalistas), mas sem a intervenção de especialistas, nomeadamente universitários. Como sabem eles que as traduções estão bem feitas? Mistérios.

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por Luis Moreira às 12:33 link | comentar | ver comentários (10) | favorito editado por Luis Moreira às 12:33

Sílvio Castro Quando da oportunidade de responder ao leitor de Estrolabio, Peter, em relação à tradução do primeiro soneto do português errante, de Manuel Alegre, em italiano e por Giulia Lanciani, tivemos ocasião de remarcar, no pouco espaço que tínhamos para a resposta, sobre a importância do conceito de “ritmo” para a tradução de poesia. Aquela tradução da lusitanista da Universidade de Roma se coloca naturalmente na mais lógica convenção que diz respeito a um tradutor, isto é, um operador que passa para a sua língua materna um texto originalmente criado numa segunda língua de seu conhecimento. Porém, talvez faltasse à minha resposta um exemplo de tipo oposto, isto é, de um tradutor que opere a partir da segunda língua para aquela sua de origem. Desta maneira, procuro aqui exemplificar este tipo de tradução, propondo aos leitores a minha versão em italiano de poemas de João Cabral de Melo Neto, traduções estas feitas a pedido para uma editora de Milão, intencionada a publicar uma antologia de poetas internacionais ligados à temática específica de “o rio”. A dita antologia ainda não foi entregue ao público e quem sabe se e quando o será... O meu exemplo reentra naquele caso de tradução fadada a uma menor dimensão enquanto resultado final. Porém, como elemento de compensação para a minha ousadia, o problema do ritmo em João Cabral, possivelmente mais do que em qualquer outro poeta, é fascinante. Daí o meu duro empenho em procurar reencontrá-lo em italiano... Aqui estão as minhas traduções. Uma mulher e o Beberibe Ela se imove com o andamento da água (indecisa entre ser tempo ou espaço) daqueles rios do litoral do Nordeste que os geógrafos chamam “rios fracos”. Lânguidos; que se deixam pelo mangue a um banco de areia do mar de chegada; vegetais; de água espaço e sem tempo (sem o cabo por que o tempo a arrasta). * Ao rio Beberibe, quando rio adolescente (precipitadamente tempo, não espaço), nada lhe pára os pés; se rio maduro, ele assume um andamento mais andado. Adulto no mangue, imita o imovimento que há pouco imitara dele uma mulher: indolente, de água espaço e sem tempo (fora o do cio e da prenhez da maré). Una donna e il Capibaribe Lei si in-muove con l’andamento dell’acqua (indecisa tra essere tempo o spazio) di quei fiumi del litorale del Nordeste che i geografi chiamano “fiumi deboli”. Languidi; che si lasciano lungo la foresta a una duna dal mare di arrivo; vegetali, d’acqua spazio e senza tempo (senza il capo con cui il tempo la trascina). * Al fiume Beberibe, quando fiume adolescente (precipitosamente tempo, non spazio), niente gli ferma i piedi; se fiume maturo, egli prende un’andamento più andante. Adulto nella foresta, imita l’in-movimento Che una donna poco fa gli imitava: indolente, d’acqua spazio e senza tempo (tranne quello della marea in calore e pregna). ( Ver mais... ) Na morte dos rios A Manuel Artur Souza Leão Neto Desde que no Alto Sertão um rio seca. a vegetação em volta, embora de unhas, embora sabres, intratável e agressiva, faz alto à beira daquele leito tumba. Faz alto à agressão nata: jamais ocupa o rio de ossos areia, de areia múmia. 2. Desde que no Alto Sertão um rio seca, o homem ocupa logo a múmia esgotada: com bocas de homem, para beber as poças que o rio esquece, até a mínima água: com bocas de cacimba, para fazer subir a que dorme em lençóis, em fundas salas; e com bocas de bico, para reequipar seu fossar econômico, de bicho lógico. Verme de rio, ao roer essa areia múmia, o homem adianta os próprios, póstumos. Nella morte dei fiumi Da quando nell’ Alto Sertão un fiume secca, la vegetazione intorno, sebbene di unghie, sebbene spade, intrattabile e aggressiva, rallenta accanto a quel letto tomba. Attenta alla aggressione nata: giammai occupa il fiume di ossa arena, di arena mummia. 2. Da quando nelll’Alto Sertão un fiume secca, l’uomo occupa subito la mummia esaurita: con bocche di uomini, per bere le pozze che il fiume dimentica, fino alla minima acqua; con bocche di pozzi per fare risalire quella che dorme in lenzuole, in profonde sale; e con bocche di bestia, per riequiparare il suo fondale economico, da bestia logica. Verme del fiume, al rodere la sabbia mummia, l’uomo fa avanzare i suoi prossimi, postumi. Os rios de um dia Os rios, de tudo o que existe vivo, vivem a vida mais definida e clara, para os rios, viver vale se definir e definir viver com a língua da água. O rio corre; e assim viver para o rio vale não só ser corrido pelo tempo: o rio o corre: e pois que com sua água, viver vale sucidar-se, todo o tempo. 2. Pois isso, que ele define com clareza, o rio aceita e professa, friamente, e se procuram lhe atar a herrorragia, ou a vida suicídio, o rio se defende. O que um rio do Sertão, rio interino, prova com sua água, curta nas medidas: ao se correr torrencial de uma vez, sobre leitos de hotel de um só dia; ao se correr na carreira, de enxurro, sem alongar seu morrer, pouco a pouco, sem alongá-lo, em suicídio permanente ou no que todos, os rios duradouros; esses rios do Sertão falam tão claro que induz ao suicídio a pressa deles: para fugir na morte da vida em poças que pega quem devagar por tanta sede. I fiumi di un solo giorno I fiumi, da tutto ciò che è vivo, vivono la vita più definita e chiara; per i fiumi, vivere vale definirsi e definir vivere con la lingua d’acqua. Il fiume corre; e così vivere per il fiume non è solo essere percorso del tempo: il fiume corre, e perciò con la sua acqua vivere vale suicidarsi, per tutto il tempo. 2.

Per questo che egli definisce con chiarezza, il fiume acceta e professa, fredddamente, e se cercano di fermargli l’emorragia, oppure la vita suicidio, il fiume si difende. Ciò che un fiume del Sertão, fiume interino, prova con la sua acqua, corta nelle misure: al suo correre torrenziale, di una sola volta, sui letti di un hotel, di un solo giorno; al suo correre rapido, di una rapida, senza allungare il suo morire, poco a poco, senza allungarlo, in suicidio permanente o come tutti, i fiumi longevi; questi fiumi del Sertão parlano così chiaro da indurre al suicidio la loro fretta: per fuggire nella morte della vita, vita in pozze che prende colui che vagheggia per tanta sete.

coordenação de Augusta Clara de Matos Hoje Falamos de...uma exemplar convivência Abdurraham Badawi Egípcio, é filósofo e historiador da filosofia. Foi diretor dos departamentos de filosofia de diversas universidades no Egito, na Jamahiriya Árabe, Líbia e no Kwait, além de professor convidado na Sorbonne, em Paris. É autor de cerca de 100 obras, em francês e em árabe, sobre temas como existencialismo, filosofias grega e árabe e filosofia alemã contemporânea. Abdurraham Badawi A Escola de Toledo A transmissão do legado cultural árabo-grego de Al-Andalus à Europa ocorreu principalmente graças à escola de tradutores de Toledo. SOMENTE no século XII surgiu, em Tole­do, a primeira escola espanhola de tradutores do árabe para o latim. Essa escola foi fundada por D. Raimundo, monge beneditino nascido em Agen, no sudoeste da França, que foi arce­bispo de Toledo de 1126 a 1151. Convencido da importância da obra dos filósofos árabes para a compreensão de Aristóteles, ele decidiu traduzir suas obras para o latim. Entre as diversas pessoas convocadas pa­ra esse trabalho, uma das mais eminentes foi Dominicus Gundisalvi, arcediago de Segóvia. Ele traduziu do árabe para o latim importante parte do Kitab al Chifa' (Livro da Cura), obra enciclopédica de Ibn Sina (Avicena), o Maqa-sid al-falasifah (As intenções dos filósofos), de al-Ghazali, e o Ihsa’ al-ulum (Tratado sobre o recenseamento das ciências), de al-Farabi. Mas Gundisalvi não conhecia o árabe. Por isso, valeu-se de intermediários, muçulmanos ou judeus, para dispor de uma tradução do árabe em castelhano e, em seguida, traduzir para o latim. Entre esses tradutores judeus intermediários, constantemente ressurgem os nomes de um certo Salomão e, sobretudo, de Johannes Avendeath (ou Avendauth, ou Johannes bem David, ou Johannes Hispanus, ou, ainda, Jean de Séville), cuja identificação sus­cita muitas controvérsias. O membro mais importante desse colégio de tradutores foi sem dúvida Gerardo di Cremona (1114-1187). Graças a uma breve notícia deixada por seus alunos sobre sua vida e sua obra como tradutor, sabemos que Gerardo foi para Toledo, após terminar os estudos na Itá­lia, para conhecer mais sobre o Almageste. Esse tratado de astronomia composto por Cláudio Ptolomeu, o célebre astrónomo, matemático e geógrafo grego do século II, era uma imensa obra que dispunha de uma versão em árabe. Ante a profusão de livros científicos em árabe que descobriu em Toledo, Cremona começou imediatamente a estudar árabe, a fim de lê-los e traduzi-los para o latim. Em seguida tradu­ziu mais de 70 obras, entre elas o Almageste, cuja tradução terminou em 1175. Suas traduções abrangem praticamente todo o campo científico daquela época: diver­sos livros de Aristóteles (Da Física, Do céu e do mundo, Da geração e da corrupção e Os meteoros), além de al-Kindi, Ptolomeu, Isaak Israeli, Ibn Sina, Galeno e muitos outros. Outro grande tradutor foi Michel Scot (c.1175-c.l235). Nascido na Inglaterra, ele pas­sou pelas Universidades de Oxford e de Paris, antes de se estabelecer em Toledo, onde aprendeu o árabe e o hebraico, vindo a tradu­zir muitas obras do árabe para o latim. No final da vida, foi convidado à corte do impe­rador germânico Frederico II de Hohenstaufen, na Sicília - outro centro de traduções do árabe para o latim. Michel Scot traduziu principalmente grande parte dos comentários de Ibn Rushd (Averróis) sobre a obra de Aristóteles e o Tra­tado sobre as esferas, de al-Bitrudji (Alpetragius, ou Alpetrage), que exerceu grande influência sobre os conhecimentos astronómicos. Um trabalho coletivo Essas traduções toledanas levantam o proble­ma da paternidade. Num estudo sobre Aver­róis publicado no século passado, o escritor e historiador francês Ernest Renan observou: "Certamente os latinos que viajaram a Toledo não tinham qualquer escrúpulo em se apro­priar do trabalho de seus secretários (...) e o nome do tradutor frequentemente era uma ficção. "Quase sempre um judeu, amiúde um mu­çulmano convertido, desbastava a obra e apli­cava a palavra latina ou a palavra vulgar sobre a palavra árabe. Um clérigo cuidava do texto em latim e dava seu nome à obra. Por isso, uma mesma tradução é frequentemente atri­buída a pessoas diferentes." Essa opinião é partilhada pelo grande medievalista norte-americano Charles Homer Haskins em seu livro sobre a Renascença do século XII e também por algumas traduções latinas do árabe por intermédio do espanhol, em poder da Biblioteca Nacional de Paris. O extraordinário trabalho de tradução re­alizado em Toledo foi efetivamente a obra conjunta dos árabes muçulmanos, judeus e latinos cristãos. Seria injusto atribuir sua pa­ternidade somente a estes últimos, mesmo quando os manuscritos ou os historiadores mencionam apenas seus nomes. Gundisalvi, Gerardo di Cremona, Michel Scot e muitos outros tradutores sempre recorreram a aju­dantes e intermediários árabo-muçulmanos ou, ainda com maior frequência, judeus. O trabalho dos tradutores cristãos latinos às ve­zes se limitava a colocar em bom latim o que seus ajudantes haviam traduzido em espa­nhol ou em mau latim. Por isso, o grande movimento de tradução do árabe para o latim começou na Espanha no século XII, e Toledo foi seu centro mais ativo. Mas esse movimento teve continuidade em outras cidades da península, como Barcelona, Tarragone, Scgóvia, Leóne Pampelune, alcan­çando depois os Pireneus para se estabelecer em Toulouse, Béziers, Narbonne, Montepellier e Marselha. Graças a essas traduções, a Europa pôde conhecer tanto as obras dos filósofos, mate­máticos, médicos e astrónomos gregos quanto as de seus comentadores e competidores ára­bes. Como também escreveu Haskins, "a re­cepção desse saber pela Europa ocidental re­presenta uma importante guinada na história do pensamento europeu". (in O Correio da UNESCO, Ano 20, Nº. 2 Brasil, Fevereiro 1992)

Segundo diz Roger Martin du Gard, em O Drama de Jean Barois, a virgindade de Maria teve origem no erro de um tradutor, um obscuro monge, ao traduzir o Novo Testamento do grego para o latim, confundiu a palavra jovem com virgem. E aí temos um dos maiores imbróglios da liturgia católica, o culto mariano…O monge terá cometido o seu erro, mas soadas as Completas terá ido comer o seu caldo, o seu naco de pão, deixando o mundo com mais um problema. Hoje, falo de tradução. Nesse mundo mágico da criação literária, onde acontecem prodígios como a «Eneida», o «D. Quixote de la Mancha», o «Hamlet» ou a «Guerra e Paz», movem-se, quase como invisíveis duendes, os tradutores que, «à force de reins et de sueur», como disse Gustave Flaubert, conseguiram que muitos milhares de milhões de leitores fossem ao longo das gerações conhecendo a Ilíada, Dante, Cervantes, Tolstoi, Kafka, o que não é proeza pequena, sobretudo se nos lembrarmos que é cometida por seres praticamente invisíveis. Invisíveis, porque, tal como acontece com os árbitros de futebol, o melhor que pode acontecer a um tradutor é passar despercebido. Quanto melhor tiver feito o seu trabalho, menos consciência deverá o leitor ter da sua intervenção. A tradução ideal, portanto, assemelhar-se-ia a um vidro muito perfeito, transparente e limpo, através do qual se pudesse ler o original, mas na língua de chegada. Um vidro que não distorcesse as imagens. Que não se visse, a bem dizer. Na maioria dos casos, a tradução empobrece o texto original. Há casos, porém, como na tradução que Blaise Cendrars fez de «A Selva», de Ferreira de Castro, ou a que Jorge Luis Borges fez de «The Wild Palms», de William Faulkner. Que são exemplos em que o vidro que se interpõe entre a língua de partida e a de chegada não está limpo nem sujo, mas sim esmerilado pelo estilo genial dos tradutores. No caso da tradução de «A Selva», com a sua ironia cáustica, Almada Negreiros, aludindo ao estilo rude e primário dos primeiros livros de Ferreira de Castro, dizia que o ideal teria sido pegar na tradução em francês, feita por Cendrars, arranjar um bom tradutor e verter então a obra para português. Gabriel García Márquez foi ao ponto de declarar que a versão inglesa de «Cien años de soledad», feita por Gregory Rabassa, ultrapassa a sua obra em qualidade literária. Tradutor, traidor, como diz o famoso aforismo italiano: estaremos nestes casos, como o de Cendrars ou o de Rabassa, perante boas obras literárias, mas más traduções, ou apenas em face de excelentes traições? Sou um leitor compulsivo e tenho sido, ao longo da minha vida profissional, tradutor compulso – isto é, numa certa fase da minha vida, compelido pela necessidade de ganhar a vida, e noutra compulsado pelas circunstâncias – as mais de as vezes por ser necessário executar o trabalho com urgência e não haver ninguém à mão capaz de o fazer dentro do prazo exigido. Como leitor sofro muito com as más traduções, com as trapaças, com a falta de brio profissional; como tradutor, sofro com a perpétua e justificada desconfiança do meu saber. Mesmo quando se trata de um vocábulo estrangeiro milhares de vezes por mim usado, vou sempre verificar se não haverá qualquer acepção menos vulgar que me tenha escapado. Sofro, sobretudo, quando, depois de editado o trabalho, descubro erros que deveria ter evitado. Não vou aqui referir erros de tradução, pois isso obrigar-me-ia a falar de nomes, coisa que não quero. Depois, sei em que circunstâncias muitas vezes as traduções são feitas. Prazos exíguos, pagamentos parcos e ainda por cima incertos. Até há duas décadas atrás, as traduções eram geralmente pagas à página (30 linhas de 70 caracteres = 2100 caracteres). Hoje, com o trabalho feito em computador, usa-se mais como unidade de referência os conjuntos de 2000 caracteres. Mas, de uma forma geral, continua a ser um trabalho mal pago. Isto, quanto a mim, não desculpa que se façam as traduções que por aí aparecem. Já trabalhei por todos os preços desde o zero até ao bastante bem pago. O cuidado que ponho nos meus trabalhos é sempre o mesmo. Com esta afirmação, não pretendo ser modelo de coisa nenhuma, até porque conheço muita gente que procede exactamente como eu. O pior são os outros. Estas reflexões sobre a tradução foram-me sugeridas por um livro que acabei de ler. Não vou dizer o título, pois isso poria em cheque o tradutor. Apenas um pormenor. Na obra, um romance, aparece repetidamente um sótão que se verifica pela descrição romanesca ficar no subsolo. Como o livro é traduzido de um original norte-americano, a confusão seria entre «attic», «loft» ou «garret» e «cave» (verifiquei, depois, compulsando o original, que a palavra usada foi «cave»). Embora não fosse exactamente o que se pretendia, a palavra portuguesa «cave» serviria razoavelmente, não se verificando o clássico problema dos «falsos amigos» – o ideal seria talvez «caverna». O que se teria passado para que uma caverna subterrânea aparecesse transformada num sótão? Muito simples: a tradução não foi feita do inglês, como expressamente se indica na ficha técnica, mas sim do castelhano. Em castelhano, cave diz-se «sótano» e «sótano» – está-se mesmo a ver, não está? – só pode ser sótão! Temos, portanto, um tradutor que por ignorância ou preguiça substitui o original por uma tradução espanhola, mas que não sabe castelhano (o português da tradução é muito razoável, no entanto). Exemplos como este, de más traduções e de trapaças como esta são às centenas. Por tudo o que fica dito e pelo muito que aqui não cabe dizer, se entende como é difícil traduzir. E como é difícil avaliar traduções, pois já tenho deparado com traduções globalmente mal feitas onde há problemas muito bem resolvidos. O contrário também acontece. Não entendo, por isso, como por vezes são atribuídos prémios de tradução, usando talvez critérios jornalísticos (falo de prémios atribuídos por jornalistas), mas sem a intervenção de especialistas, nomeadamente universitários. Como sabem eles que as traduções estão bem feitas? Mistérios.

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por Luis Moreira às 12:33 link | comentar | ver comentários (10) | favorito editado por Luis Moreira às 12:33

Sílvio Castro Quando da oportunidade de responder ao leitor de Estrolabio, Peter, em relação à tradução do primeiro soneto do português errante, de Manuel Alegre, em italiano e por Giulia Lanciani, tivemos ocasião de remarcar, no pouco espaço que tínhamos para a resposta, sobre a importância do conceito de “ritmo” para a tradução de poesia. Aquela tradução da lusitanista da Universidade de Roma se coloca naturalmente na mais lógica convenção que diz respeito a um tradutor, isto é, um operador que passa para a sua língua materna um texto originalmente criado numa segunda língua de seu conhecimento. Porém, talvez faltasse à minha resposta um exemplo de tipo oposto, isto é, de um tradutor que opere a partir da segunda língua para aquela sua de origem. Desta maneira, procuro aqui exemplificar este tipo de tradução, propondo aos leitores a minha versão em italiano de poemas de João Cabral de Melo Neto, traduções estas feitas a pedido para uma editora de Milão, intencionada a publicar uma antologia de poetas internacionais ligados à temática específica de “o rio”. A dita antologia ainda não foi entregue ao público e quem sabe se e quando o será... O meu exemplo reentra naquele caso de tradução fadada a uma menor dimensão enquanto resultado final. Porém, como elemento de compensação para a minha ousadia, o problema do ritmo em João Cabral, possivelmente mais do que em qualquer outro poeta, é fascinante. Daí o meu duro empenho em procurar reencontrá-lo em italiano... Aqui estão as minhas traduções. Uma mulher e o Beberibe Ela se imove com o andamento da água (indecisa entre ser tempo ou espaço) daqueles rios do litoral do Nordeste que os geógrafos chamam “rios fracos”. Lânguidos; que se deixam pelo mangue a um banco de areia do mar de chegada; vegetais; de água espaço e sem tempo (sem o cabo por que o tempo a arrasta). * Ao rio Beberibe, quando rio adolescente (precipitadamente tempo, não espaço), nada lhe pára os pés; se rio maduro, ele assume um andamento mais andado. Adulto no mangue, imita o imovimento que há pouco imitara dele uma mulher: indolente, de água espaço e sem tempo (fora o do cio e da prenhez da maré). Una donna e il Capibaribe Lei si in-muove con l’andamento dell’acqua (indecisa tra essere tempo o spazio) di quei fiumi del litorale del Nordeste che i geografi chiamano “fiumi deboli”. Languidi; che si lasciano lungo la foresta a una duna dal mare di arrivo; vegetali, d’acqua spazio e senza tempo (senza il capo con cui il tempo la trascina). * Al fiume Beberibe, quando fiume adolescente (precipitosamente tempo, non spazio), niente gli ferma i piedi; se fiume maturo, egli prende un’andamento più andante. Adulto nella foresta, imita l’in-movimento Che una donna poco fa gli imitava: indolente, d’acqua spazio e senza tempo (tranne quello della marea in calore e pregna). ( Ver mais... ) Na morte dos rios A Manuel Artur Souza Leão Neto Desde que no Alto Sertão um rio seca. a vegetação em volta, embora de unhas, embora sabres, intratável e agressiva, faz alto à beira daquele leito tumba. Faz alto à agressão nata: jamais ocupa o rio de ossos areia, de areia múmia. 2. Desde que no Alto Sertão um rio seca, o homem ocupa logo a múmia esgotada: com bocas de homem, para beber as poças que o rio esquece, até a mínima água: com bocas de cacimba, para fazer subir a que dorme em lençóis, em fundas salas; e com bocas de bico, para reequipar seu fossar econômico, de bicho lógico. Verme de rio, ao roer essa areia múmia, o homem adianta os próprios, póstumos. Nella morte dei fiumi Da quando nell’ Alto Sertão un fiume secca, la vegetazione intorno, sebbene di unghie, sebbene spade, intrattabile e aggressiva, rallenta accanto a quel letto tomba. Attenta alla aggressione nata: giammai occupa il fiume di ossa arena, di arena mummia. 2. Da quando nelll’Alto Sertão un fiume secca, l’uomo occupa subito la mummia esaurita: con bocche di uomini, per bere le pozze che il fiume dimentica, fino alla minima acqua; con bocche di pozzi per fare risalire quella che dorme in lenzuole, in profonde sale; e con bocche di bestia, per riequiparare il suo fondale economico, da bestia logica. Verme del fiume, al rodere la sabbia mummia, l’uomo fa avanzare i suoi prossimi, postumi. Os rios de um dia Os rios, de tudo o que existe vivo, vivem a vida mais definida e clara, para os rios, viver vale se definir e definir viver com a língua da água. O rio corre; e assim viver para o rio vale não só ser corrido pelo tempo: o rio o corre: e pois que com sua água, viver vale sucidar-se, todo o tempo. 2. Pois isso, que ele define com clareza, o rio aceita e professa, friamente, e se procuram lhe atar a herrorragia, ou a vida suicídio, o rio se defende. O que um rio do Sertão, rio interino, prova com sua água, curta nas medidas: ao se correr torrencial de uma vez, sobre leitos de hotel de um só dia; ao se correr na carreira, de enxurro, sem alongar seu morrer, pouco a pouco, sem alongá-lo, em suicídio permanente ou no que todos, os rios duradouros; esses rios do Sertão falam tão claro que induz ao suicídio a pressa deles: para fugir na morte da vida em poças que pega quem devagar por tanta sede. I fiumi di un solo giorno I fiumi, da tutto ciò che è vivo, vivono la vita più definita e chiara; per i fiumi, vivere vale definirsi e definir vivere con la lingua d’acqua. Il fiume corre; e così vivere per il fiume non è solo essere percorso del tempo: il fiume corre, e perciò con la sua acqua vivere vale suicidarsi, per tutto il tempo. 2.

Per questo che egli definisce con chiarezza, il fiume acceta e professa, fredddamente, e se cercano di fermargli l’emorragia, oppure la vita suicidio, il fiume si difende. Ciò che un fiume del Sertão, fiume interino, prova con la sua acqua, corta nelle misure: al suo correre torrenziale, di una sola volta, sui letti di un hotel, di un solo giorno; al suo correre rapido, di una rapida, senza allungare il suo morire, poco a poco, senza allungarlo, in suicidio permanente o come tutti, i fiumi longevi; questi fiumi del Sertão parlano così chiaro da indurre al suicidio la loro fretta: per fuggire nella morte della vita, vita in pozze che prende colui che vagheggia per tanta sete.

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