Balan̤o eleitoral Рo abismo

10-12-2017
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Algumas notas sobre as eleições legislativas:

1. A referência de Sócrates ao seu “amor por Portugal” e as vaias a jornalistas durante a fase de perguntas e respostas são um belo exemplo de um certo estilo característico durante estes 6 anos de governo: cinismo e tiques de autoritarismo. Quanto ao conteúdo, socialismo nem vê-lo ao longo dos governos socratinos. Seria bom que o Partido Socialista mudasse de rumo, mas não é expectável que o faça. Assis é mais do mesmo e Seguro, pela falta de coragem manifestada ao longo destes anos, em que nunca se afirmou como uma verdadeira alternativa, não merece grande confiança.

2. O Bloco de Esquerda sofreu a sua maior derrota eleitoral, que deve merecer reflexão. Ao contrário do que muitos querem fazer querer (provavelmente, pessoas longe do Bloco e que o manifestam por ignorância ou simples interesse político), a principal razão não foi a perda de bandeiras ou o facto de o partido se tornar inútil no actual contexto Bem pelo contrário: perante a crise actual, é ainda mais importante a existência de um partido de esquerda que complemente a postura do PC. A justificação para esta descida pode estar em 3 factores:

Рo desnorte e a falta de convic̤̣o na apresenta̤̣o da mo̤̣o de censura;

– a colagem ao PC na ausência da 1ª reunião com a Troika. Na minha perspectiva, a vontade de renegociação da dívida e a apresentação de certas condições deveriam aí ter sido apresentadas. E, dessa forma, perante a natural recusa dessas posições, o Bloco teria muito mais propriedade para apresentar as suas críticas. O exemplo foi dado por Carvalho da Silva.

– a colagem ao PS no lamentável apoio a Alegre. Quanto a mim, o maior tiro no pé que o Bloco deu na sua curta história;

3. Embora, em consciência, tivesse vontade de votar no PCP, acabei por fazê-lo no Bloco. O motivo foi meramente regional: a vontade que José Manuel Pureza não perdesse o seu mandato. Completamente em vão, até porque foi a CDU que mais perto de eleger Manuel Rocha, alguém que admiro imenso (não só pelo seu papel político, mas também enquanto excelente músico da maravilhosa Brigada Victor Jara). Assim sendo, fica a reflexão: se o Bloco perdeu assim cerca de metade dos votos em Coimbra, que hecatombe teria ocorrido se o candidato não fosse Pureza? Mas o mais importante a registar e a lamentar: não haverá nesta legislatura uma única voz de esquerda eleita em Coimbra.

4. Portas voltou a revelar ser um político estrategicamente notável. Não subiu tanto quanto desejava, mas, com pouco mais de 10%, vai assegurar 1/3 ou mais dos ministros para o seu partido. Impressionante.

5. A elevada abstenção e o voto massivo nos partidos da troika mostram que, da maior parte das pessoas, não houve uma verdadeira noção das repercussões deste processo eleitoral, das suas consequências e dos receios que deveremos ter do “apoio” do FMI. Daqui a (poucos) meses se verá.

6. Por outro lado, concordo com o Daniel Oliveira quando este refere: “o programa mais liberal da história da política nacional foi aprovado pelo povo. Vai doer. Mas dói com legitimidade democrática”. É a mais pura das verdades: o programa de privatizações e de desresponsabilização do Estado em áreas como a cultura, a educação ou a saúde foi abundantemente divulgado por Pedro Passos Coelho. Até, ao contrário do que sucedeu com Sócrates, o facto do seu currículo ser no mínimo duvidoso (com uma ascensão meteórica a director financeiro, por quem foi formado na… Universidade Lusíada) foi também amplamente referido. Desta forma, ninguém pode dizer que votou por engano, sem admitir uma tremenda inconsciência. Pelo que, será muito mais difícil criar um processo de luta forte sem que, em coerência, se afirme frontalmente ser este um país de gente maioritariamente desinteressada, comodista e quase acéfala, a léguas do espírito de iniciativa dos gregos.

Posto isto, venha daí o abismo…

Algumas notas sobre as eleições legislativas:

1. A referência de Sócrates ao seu “amor por Portugal” e as vaias a jornalistas durante a fase de perguntas e respostas são um belo exemplo de um certo estilo característico durante estes 6 anos de governo: cinismo e tiques de autoritarismo. Quanto ao conteúdo, socialismo nem vê-lo ao longo dos governos socratinos. Seria bom que o Partido Socialista mudasse de rumo, mas não é expectável que o faça. Assis é mais do mesmo e Seguro, pela falta de coragem manifestada ao longo destes anos, em que nunca se afirmou como uma verdadeira alternativa, não merece grande confiança.

2. O Bloco de Esquerda sofreu a sua maior derrota eleitoral, que deve merecer reflexão. Ao contrário do que muitos querem fazer querer (provavelmente, pessoas longe do Bloco e que o manifestam por ignorância ou simples interesse político), a principal razão não foi a perda de bandeiras ou o facto de o partido se tornar inútil no actual contexto Bem pelo contrário: perante a crise actual, é ainda mais importante a existência de um partido de esquerda que complemente a postura do PC. A justificação para esta descida pode estar em 3 factores:

Рo desnorte e a falta de convic̤̣o na apresenta̤̣o da mo̤̣o de censura;

– a colagem ao PC na ausência da 1ª reunião com a Troika. Na minha perspectiva, a vontade de renegociação da dívida e a apresentação de certas condições deveriam aí ter sido apresentadas. E, dessa forma, perante a natural recusa dessas posições, o Bloco teria muito mais propriedade para apresentar as suas críticas. O exemplo foi dado por Carvalho da Silva.

– a colagem ao PS no lamentável apoio a Alegre. Quanto a mim, o maior tiro no pé que o Bloco deu na sua curta história;

3. Embora, em consciência, tivesse vontade de votar no PCP, acabei por fazê-lo no Bloco. O motivo foi meramente regional: a vontade que José Manuel Pureza não perdesse o seu mandato. Completamente em vão, até porque foi a CDU que mais perto de eleger Manuel Rocha, alguém que admiro imenso (não só pelo seu papel político, mas também enquanto excelente músico da maravilhosa Brigada Victor Jara). Assim sendo, fica a reflexão: se o Bloco perdeu assim cerca de metade dos votos em Coimbra, que hecatombe teria ocorrido se o candidato não fosse Pureza? Mas o mais importante a registar e a lamentar: não haverá nesta legislatura uma única voz de esquerda eleita em Coimbra.

4. Portas voltou a revelar ser um político estrategicamente notável. Não subiu tanto quanto desejava, mas, com pouco mais de 10%, vai assegurar 1/3 ou mais dos ministros para o seu partido. Impressionante.

5. A elevada abstenção e o voto massivo nos partidos da troika mostram que, da maior parte das pessoas, não houve uma verdadeira noção das repercussões deste processo eleitoral, das suas consequências e dos receios que deveremos ter do “apoio” do FMI. Daqui a (poucos) meses se verá.

6. Por outro lado, concordo com o Daniel Oliveira quando este refere: “o programa mais liberal da história da política nacional foi aprovado pelo povo. Vai doer. Mas dói com legitimidade democrática”. É a mais pura das verdades: o programa de privatizações e de desresponsabilização do Estado em áreas como a cultura, a educação ou a saúde foi abundantemente divulgado por Pedro Passos Coelho. Até, ao contrário do que sucedeu com Sócrates, o facto do seu currículo ser no mínimo duvidoso (com uma ascensão meteórica a director financeiro, por quem foi formado na… Universidade Lusíada) foi também amplamente referido. Desta forma, ninguém pode dizer que votou por engano, sem admitir uma tremenda inconsciência. Pelo que, será muito mais difícil criar um processo de luta forte sem que, em coerência, se afirme frontalmente ser este um país de gente maioritariamente desinteressada, comodista e quase acéfala, a léguas do espírito de iniciativa dos gregos.

Posto isto, venha daí o abismo…

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