O populista dentro de si

01-10-2020
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De repente, uma corrida que parecia previsível e entediante, com um vencedor antecipado, ganhou novos contornos e motivos de interesse. Esse vencedor, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não se registou sequer para a prova, mas há poucas dúvidas: deverá repetir a proeza de 2016, e ser eleito Presidente da República à primeira volta.

Enquanto esperamos pelo anúncio da recandidatura , as entradas em cena de Ana Gomes, Marisa Matias e, até certo ponto, João Ferreira, vieram, no entanto, mostrar que a campanha para as presidenciais poderá, afinal, ter motivos de interesse além de descobrirmos se Marcelo vai bater o recorde de 70,35% dos votos obtidos por Mário Soares em 1991.

Vamos analisar os três por ordem inversa de influência ou interesse. A candidatura de João Ferreira representa a continuação da tentativa de rejuvenescimento da imagem do PCP junto do eleitorado. Aos 41 anos, o eurodeputado e vereador é já um político experiente que transmite de forma hábil a mensagem do partido. Infelizmente essa ‘cassete’ não muda há décadas e é pouco provável que Ferreira chegue sequer aos 5% na corrida a Belém.

O Bloco de Esquerda escolheu novamente Marisa Matias. Há cinco anos, a eurodeputada conseguiu um resultado muito respeitável, 10,12%, que a colocaram em terceiro lugar atrás de Marcelo e Sampaio da Nóvoa. As sondagens mostram que deverá ser difícil repetir o resultado, com uma grelha de partida bastante mais competitiva.

Ana Gomes polariza as opiniões. Há pessoas que a apelidam de justiceira, uma rottweiler, outros que a acusam de ser inconsistente nas posições e, pior de tudo, populista. Os apoiantes veem o outro lado da moeda: alguém que luta contra a injustiça, a discriminação e a corrupção.

A candidatura da ex-embaixadora e eurodeputada vai dividir o voto socialista, tentando capitalizar no desconforto com a posição do partido, cristalizado naquele momento bizarro em que António Costa revelou Marcelo como o “seu” candidato no chão da fábrica da Autoeuropa. Ana Gomes veio já falar sobre o “encosto” entre Presidente e Governo, sabendo que é algo que causa desconfiança a muitos socialistas.

Aos anúncios destas três candidaturas, André Ventura reagiu de forma típica. Classificou Ana Gomes de “candidata cigana”, Marisa Matias de “candidata marijuana” e João Ferreira de “camarada de plásticos”. As reações infantis e insultuosas não surpreendem, mas demonstram incómodo adicional.

Ventura queria usar o palco para vociferar as suas ideias extremistas, mas agora vai ter de partilhar o palco com outros, ainda por cima com candidatos que não têm de medo de chamar os bois pelos nomes.

Esperemos que a campanha presidencial não desça para o nível básico de berraria que Ventura já demonstrou gostar. O país vive momentos complicados e seria útil usar esta campanha para discutir algumas opções difíceis que vamos ter de tomar.

Marcelo Rebelo de Sousa tem um papel importante nisto. É o incumbente, o candidato mais experiente. Devia anunciar já a candidatura, sem demoras nem tabus desenecessários. Não vai ser fácil ser candidato e Presidente ao mesmo tempo, mas esperemos que use essas plataformas para centrar o debate em temas cruciais, não se envolvendo nos ataques entre os outros candidatos. Pelo contrário, tem de elevar o discurso.

Marcelo gosta de falar sobre tudo e todos, não resiste. Mas tem de resistir, de abafar o populista que sabemos viver dentro de si próprio.

De repente, uma corrida que parecia previsível e entediante, com um vencedor antecipado, ganhou novos contornos e motivos de interesse. Esse vencedor, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não se registou sequer para a prova, mas há poucas dúvidas: deverá repetir a proeza de 2016, e ser eleito Presidente da República à primeira volta.

Enquanto esperamos pelo anúncio da recandidatura , as entradas em cena de Ana Gomes, Marisa Matias e, até certo ponto, João Ferreira, vieram, no entanto, mostrar que a campanha para as presidenciais poderá, afinal, ter motivos de interesse além de descobrirmos se Marcelo vai bater o recorde de 70,35% dos votos obtidos por Mário Soares em 1991.

Vamos analisar os três por ordem inversa de influência ou interesse. A candidatura de João Ferreira representa a continuação da tentativa de rejuvenescimento da imagem do PCP junto do eleitorado. Aos 41 anos, o eurodeputado e vereador é já um político experiente que transmite de forma hábil a mensagem do partido. Infelizmente essa ‘cassete’ não muda há décadas e é pouco provável que Ferreira chegue sequer aos 5% na corrida a Belém.

O Bloco de Esquerda escolheu novamente Marisa Matias. Há cinco anos, a eurodeputada conseguiu um resultado muito respeitável, 10,12%, que a colocaram em terceiro lugar atrás de Marcelo e Sampaio da Nóvoa. As sondagens mostram que deverá ser difícil repetir o resultado, com uma grelha de partida bastante mais competitiva.

Ana Gomes polariza as opiniões. Há pessoas que a apelidam de justiceira, uma rottweiler, outros que a acusam de ser inconsistente nas posições e, pior de tudo, populista. Os apoiantes veem o outro lado da moeda: alguém que luta contra a injustiça, a discriminação e a corrupção.

A candidatura da ex-embaixadora e eurodeputada vai dividir o voto socialista, tentando capitalizar no desconforto com a posição do partido, cristalizado naquele momento bizarro em que António Costa revelou Marcelo como o “seu” candidato no chão da fábrica da Autoeuropa. Ana Gomes veio já falar sobre o “encosto” entre Presidente e Governo, sabendo que é algo que causa desconfiança a muitos socialistas.

Aos anúncios destas três candidaturas, André Ventura reagiu de forma típica. Classificou Ana Gomes de “candidata cigana”, Marisa Matias de “candidata marijuana” e João Ferreira de “camarada de plásticos”. As reações infantis e insultuosas não surpreendem, mas demonstram incómodo adicional.

Ventura queria usar o palco para vociferar as suas ideias extremistas, mas agora vai ter de partilhar o palco com outros, ainda por cima com candidatos que não têm de medo de chamar os bois pelos nomes.

Esperemos que a campanha presidencial não desça para o nível básico de berraria que Ventura já demonstrou gostar. O país vive momentos complicados e seria útil usar esta campanha para discutir algumas opções difíceis que vamos ter de tomar.

Marcelo Rebelo de Sousa tem um papel importante nisto. É o incumbente, o candidato mais experiente. Devia anunciar já a candidatura, sem demoras nem tabus desenecessários. Não vai ser fácil ser candidato e Presidente ao mesmo tempo, mas esperemos que use essas plataformas para centrar o debate em temas cruciais, não se envolvendo nos ataques entre os outros candidatos. Pelo contrário, tem de elevar o discurso.

Marcelo gosta de falar sobre tudo e todos, não resiste. Mas tem de resistir, de abafar o populista que sabemos viver dentro de si próprio.

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