Jerónimo dramatiza com "sombras negras" e avisos de que "isto pode andar para trás"

28-09-2019
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O momento do dia:

Inédito foi ver um comício da CDU interrompido por um popular exaltado. Aconteceu e merece registo. A praça central de Moura estava 'reservada' para um jantar-comício com Jerónimo de Sousa e tinham os discursos acabados de arrancar quando um homem, no centro da assistência diz: "peço a palavra". O momento de silêncio dá espaço a que o habitante de Moura despeje de rajada que "ninguem fala do olival intensivo e na merda toda que despejam para aqui". Mas, os apoiantes que tinham vindo para ouvir o líder comunista, levantaram a voz aos gritos de "CDU", abafando o momento de exaltação. No palco, o condutor do comício ganha, assim, tempo para recuperar a palavra e lembrar como "nós vimos o trabalho feito pelos eleitos da CDU". O homem sai da praça pelo seu próprio pé, mas ainda teve tempo para lançar um: "Tu é que és cego!" para, depois, seguir seu caminho. A luta eleitoral continuou, como previsto. E como sempre. Desta vez no centro de Moura.

A frase:

"Não fazemos viagens fantasma, não nos enganamos a preencher declarações, moramos onde moramos e não onde o subsídio é mais gordo"

João Dias, primeiro candidato da CDU por Beja

O personagem:

Neste caso não é um, mas quatro personagens. Chamam-se "Os Alentejanos" e puseram, literalmente, Jerónimo de Sousa a cantar. O palco era deles, mas o líder comunista acompanhou, à mesa onde se servia o jantar-comício, todas as músicas, refrão a refrão, cantando as modas alentejanas que exaltam a terra, o trabalho e a vida. O dia já ia longo e a batalha eleitoral tornou-se um pesado fardo que recai, sobretudo, sobre os ombros do secretário geral do PCP. Como na jorna, a música serve de alívio nos trabalhos no terreno. "Os alentejanos" fizeram isso mesmo, na noite de Moura, a Jerónimo de Sousa. Ou, pelo menos, pareceu.

A fotografia:

"Está pouca gente", comentou uma senhora, mal acabou o encontro de Jerónimo de Sousa com a população de Moura. Ainda não tinha sido desmontado o local de campanha (e a organização da CDU é ultra-rápida a fazê-lo) e já a mulher respondia ao Expresso sobre o motivo da falta de mobilização. "Anda tudo encantado com o Costa, é o que é", diz , disfarçando a evidente falta de dentes com o leque que abana em frente do rosto. O diagnóstico estava feito.

Há quatro anos, na mesma praça, o cenário era bem diferente. O que agora era uma manifesta falta de quorum, antes era uma casa cheia. Onde antes havia entusiasmo, agora sobrava uma espécie de anemia geral que só o coro de mulheres de Santo Amador conseguiu compensar. E, além disso, o grupo de cante alentejano, trajado a rigor, ajudou (e muito) a compor a audiência que escasseava no local de encontro.

Mas, sobretudo, há quatro anos, o que era ainda mais diferente era o mundo político em que vivia a CDU. O PCP tinha a presidência da Cãmara local, que perdeu nas últimas eleições autárquicas para as mãos do PS. Viviam-se os últimos anos da troika e o poder de fogo do partido era dirigido em bateria para PS, PSD e CDS, metidos no mesmo rol de adversários a abater.

A geringonça baralhou tudo e mudou o cenário. A luta eleitoral nas Legislativas até nem parece difícil vista de Moura, O concelho pertence a Beja, onde, historicamente, as contas dos três deputados eleitos que aquele distrito elege no Parlamento são repartidos irmamente: um para o PS, outro para o PSD e outro para a CDU. Desta vez, os riscos de perda eleitoral, segundo as sondagens de rua e de café, tendem mais para um derrube do deputado social-democrata, do que para as bandas de João Dias, o enfermeiro que, desde meados da última Legislatura, passou a integrar os corredores de São Bento.

O cabeça de lista conhece o terreno e mantém o ânimo alto, pedindo aos que se juntam para o ouvir e cumprimentar "que não desistam", que se lembrem como "os deputados da CDU são os melhores" e que "é preciso avançar e não andar para trás".

As sombras de Jerónimo

O líder comunista falou a seguir do cabeça de lista de Beja. Depois de Moura e da concentração de adeptos a meio gás, Jerónimo viu uma "bonita praça" pronta para o receber em Serpa. Mas com as mesas postas para o jantar, os 300 convivas amplificam a ideia de que há ali uma multidão que, afinal, não está ali. Jerónimo conhece de cor aquele terreno e, mais que ninguem, sabe que o partido já conheceu melhores recepções por aquelas paragens.

Talvez por isso, o tom dos seus discursos tenha começado a mudar. E a dramatização chegou à campanha da CDU. Em Moura, como em Serpa, o líder acabou por quase abandonar os textos que levava escritos e as improvisações carregaram nas tintas da dificuldade, dos perigos e dos riscos desta corrida eleitoral. "Estamos confiantes", disse no início da noite. "Mas", acrescentou pouco depois, "algumas sombras negras indicam que não temos condições para continuar a avançar". O motivo é simples: "o PS, que se diz de esquerda e socialista, pode estar ao lado da direita", ou, ainda pior pode conseguir ficar de "mãos livres" e com uma maioria absoluta inverter o sentido de marcha.

A lei laboral, as resistências a aumentar os salários e, sobretudo, no seu "alentejo tão envelhecido" os entraves colocados pelos socialistas aos aumentos de pensões e ao alívio das condições de acesso á reforma são alguns "exemplos de que isto pode andar para trás outra vez", avisou Jerónimo de Sousa.

O voto da CDU tornou-se "importantíssimo" para travar a maioria absoluta dos socialistas. "O PS necessita de ficar com as mãos livres", repete o líder do PCP, que sem usar a expressão "maioria absoluta", fala num Parlamento onde os deputados se "transformam numa espécie de cartorio notarial, sempre pronto a carimbar as decisões do Governo". Agora que a campanha caminha a passos largos para um momento decisivo, Jerónimo não tem dúvidas. "O PS pensa nisso", nesse mundo parlamentar sem geringonça e "faz coisas que não devia". A questão está em saber se Jerónimo o consegue travar.

O momento do dia:

Inédito foi ver um comício da CDU interrompido por um popular exaltado. Aconteceu e merece registo. A praça central de Moura estava 'reservada' para um jantar-comício com Jerónimo de Sousa e tinham os discursos acabados de arrancar quando um homem, no centro da assistência diz: "peço a palavra". O momento de silêncio dá espaço a que o habitante de Moura despeje de rajada que "ninguem fala do olival intensivo e na merda toda que despejam para aqui". Mas, os apoiantes que tinham vindo para ouvir o líder comunista, levantaram a voz aos gritos de "CDU", abafando o momento de exaltação. No palco, o condutor do comício ganha, assim, tempo para recuperar a palavra e lembrar como "nós vimos o trabalho feito pelos eleitos da CDU". O homem sai da praça pelo seu próprio pé, mas ainda teve tempo para lançar um: "Tu é que és cego!" para, depois, seguir seu caminho. A luta eleitoral continuou, como previsto. E como sempre. Desta vez no centro de Moura.

A frase:

"Não fazemos viagens fantasma, não nos enganamos a preencher declarações, moramos onde moramos e não onde o subsídio é mais gordo"

João Dias, primeiro candidato da CDU por Beja

O personagem:

Neste caso não é um, mas quatro personagens. Chamam-se "Os Alentejanos" e puseram, literalmente, Jerónimo de Sousa a cantar. O palco era deles, mas o líder comunista acompanhou, à mesa onde se servia o jantar-comício, todas as músicas, refrão a refrão, cantando as modas alentejanas que exaltam a terra, o trabalho e a vida. O dia já ia longo e a batalha eleitoral tornou-se um pesado fardo que recai, sobretudo, sobre os ombros do secretário geral do PCP. Como na jorna, a música serve de alívio nos trabalhos no terreno. "Os alentejanos" fizeram isso mesmo, na noite de Moura, a Jerónimo de Sousa. Ou, pelo menos, pareceu.

A fotografia:

"Está pouca gente", comentou uma senhora, mal acabou o encontro de Jerónimo de Sousa com a população de Moura. Ainda não tinha sido desmontado o local de campanha (e a organização da CDU é ultra-rápida a fazê-lo) e já a mulher respondia ao Expresso sobre o motivo da falta de mobilização. "Anda tudo encantado com o Costa, é o que é", diz , disfarçando a evidente falta de dentes com o leque que abana em frente do rosto. O diagnóstico estava feito.

Há quatro anos, na mesma praça, o cenário era bem diferente. O que agora era uma manifesta falta de quorum, antes era uma casa cheia. Onde antes havia entusiasmo, agora sobrava uma espécie de anemia geral que só o coro de mulheres de Santo Amador conseguiu compensar. E, além disso, o grupo de cante alentejano, trajado a rigor, ajudou (e muito) a compor a audiência que escasseava no local de encontro.

Mas, sobretudo, há quatro anos, o que era ainda mais diferente era o mundo político em que vivia a CDU. O PCP tinha a presidência da Cãmara local, que perdeu nas últimas eleições autárquicas para as mãos do PS. Viviam-se os últimos anos da troika e o poder de fogo do partido era dirigido em bateria para PS, PSD e CDS, metidos no mesmo rol de adversários a abater.

A geringonça baralhou tudo e mudou o cenário. A luta eleitoral nas Legislativas até nem parece difícil vista de Moura, O concelho pertence a Beja, onde, historicamente, as contas dos três deputados eleitos que aquele distrito elege no Parlamento são repartidos irmamente: um para o PS, outro para o PSD e outro para a CDU. Desta vez, os riscos de perda eleitoral, segundo as sondagens de rua e de café, tendem mais para um derrube do deputado social-democrata, do que para as bandas de João Dias, o enfermeiro que, desde meados da última Legislatura, passou a integrar os corredores de São Bento.

O cabeça de lista conhece o terreno e mantém o ânimo alto, pedindo aos que se juntam para o ouvir e cumprimentar "que não desistam", que se lembrem como "os deputados da CDU são os melhores" e que "é preciso avançar e não andar para trás".

As sombras de Jerónimo

O líder comunista falou a seguir do cabeça de lista de Beja. Depois de Moura e da concentração de adeptos a meio gás, Jerónimo viu uma "bonita praça" pronta para o receber em Serpa. Mas com as mesas postas para o jantar, os 300 convivas amplificam a ideia de que há ali uma multidão que, afinal, não está ali. Jerónimo conhece de cor aquele terreno e, mais que ninguem, sabe que o partido já conheceu melhores recepções por aquelas paragens.

Talvez por isso, o tom dos seus discursos tenha começado a mudar. E a dramatização chegou à campanha da CDU. Em Moura, como em Serpa, o líder acabou por quase abandonar os textos que levava escritos e as improvisações carregaram nas tintas da dificuldade, dos perigos e dos riscos desta corrida eleitoral. "Estamos confiantes", disse no início da noite. "Mas", acrescentou pouco depois, "algumas sombras negras indicam que não temos condições para continuar a avançar". O motivo é simples: "o PS, que se diz de esquerda e socialista, pode estar ao lado da direita", ou, ainda pior pode conseguir ficar de "mãos livres" e com uma maioria absoluta inverter o sentido de marcha.

A lei laboral, as resistências a aumentar os salários e, sobretudo, no seu "alentejo tão envelhecido" os entraves colocados pelos socialistas aos aumentos de pensões e ao alívio das condições de acesso á reforma são alguns "exemplos de que isto pode andar para trás outra vez", avisou Jerónimo de Sousa.

O voto da CDU tornou-se "importantíssimo" para travar a maioria absoluta dos socialistas. "O PS necessita de ficar com as mãos livres", repete o líder do PCP, que sem usar a expressão "maioria absoluta", fala num Parlamento onde os deputados se "transformam numa espécie de cartorio notarial, sempre pronto a carimbar as decisões do Governo". Agora que a campanha caminha a passos largos para um momento decisivo, Jerónimo não tem dúvidas. "O PS pensa nisso", nesse mundo parlamentar sem geringonça e "faz coisas que não devia". A questão está em saber se Jerónimo o consegue travar.

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