Ladrões de Bicicletas: Arrogância e desplante

10-10-2019
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O novo deputado da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo (JCF), formado pela London School of Economics e com um MBA na Universidade Nova de Lisboa, ex-dirigente do Turismo de Portugal convidado pelo então secretário de Estado do CDS Adolfo Mesquita Nunes, foi ao programa da RTP Prós & Contras com a arrogância dos novos partidos.

E afirmou que Portugal tem estado a crescer a um nível medíocre e que ninguém explica porquê.

Disse ele:

JCF: O mundo mudou nestes 45 anos não tem qualquer tipo de paralelo porque os partidos não mudaram nestes 45 anos. Portanto estão a deixar passar ao lado...

Fátima Campos Ferreira: E o que é que os novos partidos vão trazer de novo?

JCF: Desde logo este desassombro de dizer "não há com certeza grandes sancionamentos e grandes vitórias da Geringonça nestas eleições". Depois, dentro da nossa dimensão (...) pôr as ideias liberais na agenda política e fazer com que, à nossa pequena escala, os portugueses tenham menos medo da mudança e vontade de segurar aquilo que têm hoje. Porque aquilo que têm hoje - podem não ter noção disso - mas é medíocre. Nos últimos 20 anos, Portugal cresceu menos de 1% em termos reais, foi ultrapassado por 8 ou 9 países no PIB per capita da zona euro, somos o antepenúltimo país mais pobre. Eu não percebo por que não se faz mais a pergunta e por que é que não é respondida: os outros são melhores em quê? (...) os portugueses são tão bons como os melhores, mas têm um sistema que os abafa e que os impede de ser tão bons como deviam e mereciam ser.
E ele nem percebe - ou não sabe - que desde a década de 80 se estão a aplicar as ideias que ele diz defender. E que foram essas ideias que, precisamente, nos fizeram estar onde estamos, a crescer de forma medíocre e sendo um dos países mais pobres. Em que país é que João Cotrim de Figueiredo viveu?

Foi por causa precisamente dessas ideias, por esse consenso ideológico neoliberal - que até contaminou um Partido Socialista - que Portugal liberalizou a sua economia, privatizou aqueles que eram instrumentos públicos poderosos para mudar um país, tudo supostamente para pagar a dívida externa e reconstruir os velhos grupos económicos nacionais que, supostamente, iriam tornar o país mais moderno e competitivo e acabou quase tudo nas mãos do capital estrangeiro; libertou-se um sector financeiro deixando-o espraiar-se sem regulação e controlo, acabando por ter de ser - veja-se lá! - o Estado a pegar nos despojos da depradação libertária do capital; venderam-se empresas poderosas a nível internacional à pala da ideia de que libertadas do Estado iriam conceder melhores serviços e a preços mais baixos preços para os consumidores, tendo acontecido precisamente o contrário (como era expectável e já existia essa experiência); amachucou-se os trabalhadores com políticas vendidas como eficazes por organizações multilaterais (como o FMI) que visam um mais liberto mercado de Trabalho e que, na realidade, aumentaram a precariedade desses trabalhadores, diminuindo a parte dos salários no rendimento; essas medidas pretenderam igualmente esvaziar os sindicatos tidos como formas de organização de interesses corporativos; bombardearam a contratação colectiva como forma de esmifrar os salários dos trabalhadores, indo à boleia da ideia de que criavam rigidezes no funcionamento do mercado do Trabalho, de que era preciso libertá-lo; atou-se a economia à mais dura e inflexível das soluções económicas que é uma moeda única forte, que na prática favorece os interesses das economias desenvolvidas e aumenta os défices das menos desenvolvidas, à pala da ideia de que o contacto com os melhores competidores - liberto do controlo público da desvalorização cambial - aumentava o espírito empreendedor dos nossos empresários, embora no final isso tivesse torpedeado os sectores nacionais e promovido a transferência do investimento sobretudo para ramos de serviços não competitivos internacionalmente, contribuindo para o agravamento do défice externo do país que o torna mais volátil a qualquer pressão de quem detém a nossa dívida, os tais mercados internacionais. Algo que alimenta sempre uma nova vaga de medidas libertadoras, para aprofundar ainda mais essa decadência e proteger os interesses não nacionais.

Foi a liberdade promovida que favoreceu os mais fortes e deprimiu os mais fracos. E estes novos partidos apenas parecem defender velhas ideias dominantes em Portugal, que geraram este estado medíocre.

Na realidade, João Cotrim de Figueiredo ou está iludido, cego pela sua ideologia, ou visa apenas reformatar uma velha direita, ferida por ter aplicado essas mesmas ideias, como forma de as poder voltar a aplicar, como sendo novas.

Mas o resultado vai ser o mesmo: a pobreza geral que, anos mais tarde, ele vai negar existir. Como agora nega que essas velhas ideias tivessem sido realmente aplicadas.


O novo deputado da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo (JCF), formado pela London School of Economics e com um MBA na Universidade Nova de Lisboa, ex-dirigente do Turismo de Portugal convidado pelo então secretário de Estado do CDS Adolfo Mesquita Nunes, foi ao programa da RTP Prós & Contras com a arrogância dos novos partidos.

E afirmou que Portugal tem estado a crescer a um nível medíocre e que ninguém explica porquê.

Disse ele:

JCF: O mundo mudou nestes 45 anos não tem qualquer tipo de paralelo porque os partidos não mudaram nestes 45 anos. Portanto estão a deixar passar ao lado...

Fátima Campos Ferreira: E o que é que os novos partidos vão trazer de novo?

JCF: Desde logo este desassombro de dizer "não há com certeza grandes sancionamentos e grandes vitórias da Geringonça nestas eleições". Depois, dentro da nossa dimensão (...) pôr as ideias liberais na agenda política e fazer com que, à nossa pequena escala, os portugueses tenham menos medo da mudança e vontade de segurar aquilo que têm hoje. Porque aquilo que têm hoje - podem não ter noção disso - mas é medíocre. Nos últimos 20 anos, Portugal cresceu menos de 1% em termos reais, foi ultrapassado por 8 ou 9 países no PIB per capita da zona euro, somos o antepenúltimo país mais pobre. Eu não percebo por que não se faz mais a pergunta e por que é que não é respondida: os outros são melhores em quê? (...) os portugueses são tão bons como os melhores, mas têm um sistema que os abafa e que os impede de ser tão bons como deviam e mereciam ser.
E ele nem percebe - ou não sabe - que desde a década de 80 se estão a aplicar as ideias que ele diz defender. E que foram essas ideias que, precisamente, nos fizeram estar onde estamos, a crescer de forma medíocre e sendo um dos países mais pobres. Em que país é que João Cotrim de Figueiredo viveu?

Foi por causa precisamente dessas ideias, por esse consenso ideológico neoliberal - que até contaminou um Partido Socialista - que Portugal liberalizou a sua economia, privatizou aqueles que eram instrumentos públicos poderosos para mudar um país, tudo supostamente para pagar a dívida externa e reconstruir os velhos grupos económicos nacionais que, supostamente, iriam tornar o país mais moderno e competitivo e acabou quase tudo nas mãos do capital estrangeiro; libertou-se um sector financeiro deixando-o espraiar-se sem regulação e controlo, acabando por ter de ser - veja-se lá! - o Estado a pegar nos despojos da depradação libertária do capital; venderam-se empresas poderosas a nível internacional à pala da ideia de que libertadas do Estado iriam conceder melhores serviços e a preços mais baixos preços para os consumidores, tendo acontecido precisamente o contrário (como era expectável e já existia essa experiência); amachucou-se os trabalhadores com políticas vendidas como eficazes por organizações multilaterais (como o FMI) que visam um mais liberto mercado de Trabalho e que, na realidade, aumentaram a precariedade desses trabalhadores, diminuindo a parte dos salários no rendimento; essas medidas pretenderam igualmente esvaziar os sindicatos tidos como formas de organização de interesses corporativos; bombardearam a contratação colectiva como forma de esmifrar os salários dos trabalhadores, indo à boleia da ideia de que criavam rigidezes no funcionamento do mercado do Trabalho, de que era preciso libertá-lo; atou-se a economia à mais dura e inflexível das soluções económicas que é uma moeda única forte, que na prática favorece os interesses das economias desenvolvidas e aumenta os défices das menos desenvolvidas, à pala da ideia de que o contacto com os melhores competidores - liberto do controlo público da desvalorização cambial - aumentava o espírito empreendedor dos nossos empresários, embora no final isso tivesse torpedeado os sectores nacionais e promovido a transferência do investimento sobretudo para ramos de serviços não competitivos internacionalmente, contribuindo para o agravamento do défice externo do país que o torna mais volátil a qualquer pressão de quem detém a nossa dívida, os tais mercados internacionais. Algo que alimenta sempre uma nova vaga de medidas libertadoras, para aprofundar ainda mais essa decadência e proteger os interesses não nacionais.

Foi a liberdade promovida que favoreceu os mais fortes e deprimiu os mais fracos. E estes novos partidos apenas parecem defender velhas ideias dominantes em Portugal, que geraram este estado medíocre.

Na realidade, João Cotrim de Figueiredo ou está iludido, cego pela sua ideologia, ou visa apenas reformatar uma velha direita, ferida por ter aplicado essas mesmas ideias, como forma de as poder voltar a aplicar, como sendo novas.

Mas o resultado vai ser o mesmo: a pobreza geral que, anos mais tarde, ele vai negar existir. Como agora nega que essas velhas ideias tivessem sido realmente aplicadas.

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