As surpresas da noite eleitoral. PAN quadriplica e três novos inquilinos em São Bento

09-10-2019
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João Carlos Malta

joaomalta.pontofinal@gmail.com

A noite eleitoral trouxe novidades, e um Parlamento que pela primeira vez terá dez partidos. Confira quem são os estreantes e como o PAN tem pela primeira vez um grupo parlamentar de quatro elementos.

Livre leva activista negra a entrar no Parlamento

A cabeça-de-lista do Livre por Lisboa, Joacine Katar Moreira, foi eleita nas Legislativas de domingo. E no discurso de reacção aos resultados eleitorais quis desde logo deixar bem claro o tom que vai adoptar no seu mandato. “Não há lugar para extrema-direita no parlamento”, salientando que o seu partido será “a esquerda anti-fascista e anti-racista”.

A cabeça-de-lista do Livre por Lisboa nasceu na Guiné-Bissau há 37 anos e foi para Portugal com oito anos. Para pagar a licenciatura em História Moderna e Contemporânea, Joacine trabalhou em supermercados e em hotéis. De seguida, fez um mestrado em Estudos do Desenvolvimento e doutorou-se em Estudos Africanos no ISCTE, onde é investigadora do Centro de Estudos Internacionais.

A activista não é uma novata nas lides políticas, porque a primeira vez que concorreu pelo Livre foi nas legislativas de 2015. Joacine que tem um problema de gaguez acentuada, teve uma frase durante a campanha que ficou na memória. “Eu gaguejo quando falo, não gaguejo quando penso. O que é um risco enorme na Assembleia são os indivíduos que estão lá e que gaguejam quando pensam”, disse no programa “Gente Que Não Sabe Estar, da TVI, apresentado por Ricardo Araújo Pereira.

O partido fundado pelo historiador Rui Tavares promete ter como pontos fortes da sua acção na AR: o combate às alterações climáticas, a protecção do bem-estar do ecossistema e das espécies e a luta pela igualdade e pela justiça social.

Iniciativa Liberal promete oposição “implacável” ao PS

O partido Iniciativa Liberal (IL), três anos depois de ter sido criado, elegeu um deputado para a Assembleia da República. Um início de vida fulgurante que levou a uma comemoração efusiva do momento histórico. Fez ecoar na sede de campanha gritos de “liberdade” e fazer correr um banho de champanhe. O IL prometeu uma oposição “incansável e implacável” ao Partido Socialista.

Presidido por Carlos Guimarães Pinto, este novo partido elegeu um deputado, João Cotrim de Figueiredo, pelo círculo eleitoral de Lisboa. Carlos Pinto Guimarães avisou os socialistas que “agora vão ter uma oposição diferente”. “Uma oposição ideológica. Seremos a verdadeira voz da liberdade política e económica”, afirmou.

Este partido fez bandeira da redução de impostos durante a campanha, sendo que quer colocar o IRS com uma taxa única de 15%. Ao mesmo tempo, a ideia é reduzir o peso do Estado para assim combater a corrupção. O líder diz que o partido “chega aqui sem figuras mediáticas”. “Chegamos aqui pelas ideias. Ideias que irão fazer oposição ao socialismo”, reiterou.

Já Cotrim de Figueiredo prometeu ser uma “voz activa” na Assembleia da República. “Serei incansável e implacável para ser a voz do liberalismo no Parlamento”, prometeu.

João Cotrim de Figueiredo foi presidente do conselho directivo do Turismo de Portugal entre 2013 e 2016, é gestor e empresário.

PAN duplica resultado e passa a ter grupo parlamentar de quatro deputados

Já não será uma supressa depois dos resultados obtidos em Maio nas eleições Europeias, mas não deixa de ser uma das notas mais significativas da noite eleitoral e que faz do PAN e de André Silva dois dos grandes vencedores destas eleições. O porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) congratulou-se pela eleição de quatro deputados, que quadriplica em termos de eleitos o valor alcançado há quatro anos. Este partido mais que duplica os votos, em comparação com o resultado de 2015, com 166. 854 votantes.

No discurso de vitória, André Silva apontou baterias para os derrotados da noite, que na óptica do líder do PAN foi o “conservadorismo” de CDS-PP, PSD e PCP ter perdido a maioria no parlamento. Uma curiosidade foi este partido ter obtido oito votos em Barrancos — num total de 663 votantes — uma localidade alentejana conhecida pelos touros de morte.

“O conservadorismo perdeu a maioria que tinha no parlamento. PSD, CDS e PCP perderam mandatos e estão reunidas as condições para que Portugal avance em convergência com os valores do século XXI”, afirmou André Silva, que discursou no Museu da Cidade, em Lisboa.

Para o dirigente do PAN, havia duas maiorias parlamentares “e uma delas caiu, que foi a maioria conservadora, que impediu Portugal de avançar em várias matérias”. André Silva, que falou depois do discurso do secretário-geral do PS, António Costa, salientou que o PAN foi a quinta força política nos círculos de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, referindo que o resultado é sinal de que o partido “consolidou-se no sistema político português”. No final, o PAN disse ainda não estar interessado em acordos com o PS para a formação de Governo.

Extrema-direita chega à Assembleia da República

O advogado André Ventura — que se distinguiu mediaticamente nos programas de comentários de futebol da CMTV, como adepto do Benfica, e que se tornou uma figura polémica quando disse em entrevista ao “i” que os ciganos vivem à custa de subsídios — vai ser deputado na Assembleia da República, o que marcará a entrada de partidos de cariz populista e de extrema-direita no Parlamento.

O Chega obteve 1,3%, correspondentes a 66.442 votos. Na reacção aos resultados, Ventura — eleito por Lisboa — reafirmou que o Chega é um partido democrático “que quer fazer mais e melhor”. “Há 15 dias, diziam que não tínhamos hipótese alguma. Há uma semana, a hipótese era quase zero. Ontem diziam que o perigo estava a chegar. Hoje, o Chega é o partido pequeno mais votado de Portugal”, sublinhou Ventura, de um partido que chegou a ser quarta força política em alguns municípios do Alentejo.

“Pela primeira vez em 45 anos, o país não teve medo de votar num partido verdadeiramente de direita”, assumiu o candidato, que durante a campanha defendeu a reintrodução da pena de prisão perpétua em Portugal, a castração química dos pedófilos e a redução do número de deputados para 100.

Inflamado com o que conseguiu conquistar, o agora deputado elevou a fasquia para o futuro. “Garanto-vos que, daqui a oito anos, seremos o maior partido de Portugal”, disse, num discurso que terminaria ao som do hino nacional.

João Carlos Malta

joaomalta.pontofinal@gmail.com

A noite eleitoral trouxe novidades, e um Parlamento que pela primeira vez terá dez partidos. Confira quem são os estreantes e como o PAN tem pela primeira vez um grupo parlamentar de quatro elementos.

Livre leva activista negra a entrar no Parlamento

A cabeça-de-lista do Livre por Lisboa, Joacine Katar Moreira, foi eleita nas Legislativas de domingo. E no discurso de reacção aos resultados eleitorais quis desde logo deixar bem claro o tom que vai adoptar no seu mandato. “Não há lugar para extrema-direita no parlamento”, salientando que o seu partido será “a esquerda anti-fascista e anti-racista”.

A cabeça-de-lista do Livre por Lisboa nasceu na Guiné-Bissau há 37 anos e foi para Portugal com oito anos. Para pagar a licenciatura em História Moderna e Contemporânea, Joacine trabalhou em supermercados e em hotéis. De seguida, fez um mestrado em Estudos do Desenvolvimento e doutorou-se em Estudos Africanos no ISCTE, onde é investigadora do Centro de Estudos Internacionais.

A activista não é uma novata nas lides políticas, porque a primeira vez que concorreu pelo Livre foi nas legislativas de 2015. Joacine que tem um problema de gaguez acentuada, teve uma frase durante a campanha que ficou na memória. “Eu gaguejo quando falo, não gaguejo quando penso. O que é um risco enorme na Assembleia são os indivíduos que estão lá e que gaguejam quando pensam”, disse no programa “Gente Que Não Sabe Estar, da TVI, apresentado por Ricardo Araújo Pereira.

O partido fundado pelo historiador Rui Tavares promete ter como pontos fortes da sua acção na AR: o combate às alterações climáticas, a protecção do bem-estar do ecossistema e das espécies e a luta pela igualdade e pela justiça social.

Iniciativa Liberal promete oposição “implacável” ao PS

O partido Iniciativa Liberal (IL), três anos depois de ter sido criado, elegeu um deputado para a Assembleia da República. Um início de vida fulgurante que levou a uma comemoração efusiva do momento histórico. Fez ecoar na sede de campanha gritos de “liberdade” e fazer correr um banho de champanhe. O IL prometeu uma oposição “incansável e implacável” ao Partido Socialista.

Presidido por Carlos Guimarães Pinto, este novo partido elegeu um deputado, João Cotrim de Figueiredo, pelo círculo eleitoral de Lisboa. Carlos Pinto Guimarães avisou os socialistas que “agora vão ter uma oposição diferente”. “Uma oposição ideológica. Seremos a verdadeira voz da liberdade política e económica”, afirmou.

Este partido fez bandeira da redução de impostos durante a campanha, sendo que quer colocar o IRS com uma taxa única de 15%. Ao mesmo tempo, a ideia é reduzir o peso do Estado para assim combater a corrupção. O líder diz que o partido “chega aqui sem figuras mediáticas”. “Chegamos aqui pelas ideias. Ideias que irão fazer oposição ao socialismo”, reiterou.

Já Cotrim de Figueiredo prometeu ser uma “voz activa” na Assembleia da República. “Serei incansável e implacável para ser a voz do liberalismo no Parlamento”, prometeu.

João Cotrim de Figueiredo foi presidente do conselho directivo do Turismo de Portugal entre 2013 e 2016, é gestor e empresário.

PAN duplica resultado e passa a ter grupo parlamentar de quatro deputados

Já não será uma supressa depois dos resultados obtidos em Maio nas eleições Europeias, mas não deixa de ser uma das notas mais significativas da noite eleitoral e que faz do PAN e de André Silva dois dos grandes vencedores destas eleições. O porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) congratulou-se pela eleição de quatro deputados, que quadriplica em termos de eleitos o valor alcançado há quatro anos. Este partido mais que duplica os votos, em comparação com o resultado de 2015, com 166. 854 votantes.

No discurso de vitória, André Silva apontou baterias para os derrotados da noite, que na óptica do líder do PAN foi o “conservadorismo” de CDS-PP, PSD e PCP ter perdido a maioria no parlamento. Uma curiosidade foi este partido ter obtido oito votos em Barrancos — num total de 663 votantes — uma localidade alentejana conhecida pelos touros de morte.

“O conservadorismo perdeu a maioria que tinha no parlamento. PSD, CDS e PCP perderam mandatos e estão reunidas as condições para que Portugal avance em convergência com os valores do século XXI”, afirmou André Silva, que discursou no Museu da Cidade, em Lisboa.

Para o dirigente do PAN, havia duas maiorias parlamentares “e uma delas caiu, que foi a maioria conservadora, que impediu Portugal de avançar em várias matérias”. André Silva, que falou depois do discurso do secretário-geral do PS, António Costa, salientou que o PAN foi a quinta força política nos círculos de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, referindo que o resultado é sinal de que o partido “consolidou-se no sistema político português”. No final, o PAN disse ainda não estar interessado em acordos com o PS para a formação de Governo.

Extrema-direita chega à Assembleia da República

O advogado André Ventura — que se distinguiu mediaticamente nos programas de comentários de futebol da CMTV, como adepto do Benfica, e que se tornou uma figura polémica quando disse em entrevista ao “i” que os ciganos vivem à custa de subsídios — vai ser deputado na Assembleia da República, o que marcará a entrada de partidos de cariz populista e de extrema-direita no Parlamento.

O Chega obteve 1,3%, correspondentes a 66.442 votos. Na reacção aos resultados, Ventura — eleito por Lisboa — reafirmou que o Chega é um partido democrático “que quer fazer mais e melhor”. “Há 15 dias, diziam que não tínhamos hipótese alguma. Há uma semana, a hipótese era quase zero. Ontem diziam que o perigo estava a chegar. Hoje, o Chega é o partido pequeno mais votado de Portugal”, sublinhou Ventura, de um partido que chegou a ser quarta força política em alguns municípios do Alentejo.

“Pela primeira vez em 45 anos, o país não teve medo de votar num partido verdadeiramente de direita”, assumiu o candidato, que durante a campanha defendeu a reintrodução da pena de prisão perpétua em Portugal, a castração química dos pedófilos e a redução do número de deputados para 100.

Inflamado com o que conseguiu conquistar, o agora deputado elevou a fasquia para o futuro. “Garanto-vos que, daqui a oito anos, seremos o maior partido de Portugal”, disse, num discurso que terminaria ao som do hino nacional.

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