O estado da nação? É de campanha eleitoral (oito retratos do debate final)

11-07-2019
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1. António Costa chegou ao plenário e a primeira coisa que fez foi ligar, por telefone fixo, a Jerónimo de Sousa. Depois, a sua primeira frase do púlpito foi para agradecer aos parceiros de governo por terem “ousado derrubar um muro anacrónico” e votado “uma alternativa de Governo”. Em jeito de balanço, o tom do debate de Costa para Jerónimo e (sobretudo) Catarina Martins foi bastante cordato - muito mais do que nos últimos debates quinzenais.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

2. Depois de ter pedido mais a Costa nas leis laborais (onde não há caminho possível) e também nos manuais escolares gratuitos (onde ainda pode haver), Jerónimo de Sousa fechou a sua interpelação ao primeiro-ministro com olhos na próxima legislatura: “Andar para trás não, é preciso avançar. E temos muito caminho para avançar”. Depois da derrota nas autárquicas, depois da derrota nas europeias, o PCP parece inabalável. Do púlpito, Jerónimo de Sousa até apontou os primeiros pontos para um novo entendimento, sem pedir de mais: aumentos de salários, de pensões, de investimento. E fixou a nota da geringonça num satisfaz bem: “Este foi um tempo de avanços”.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

3. Catarina Martins foi um pouco mais exigente: de olhos postos no pós-legislativas, seguiu Francisco Louçã na acusação de que o PS não pode ficar por sua conta (“O Governo falhou nas áreas onde os acordos foram menos concretos”). No debate do estado da nação, ficou clara a estratégia do Bloco para a campanha: atacar o pedido de maioria absoluta do PS; lembrar na estrada, uma a uma, as propostas de Centeno em 2015 que a esquerda bloqueou (como o congelamento das pensões); e vincar, uma a uma, as medidas que o Bloco impôs ao PS durante estes quatro anos. Objetivo? Apelar a um novo tipo de “voto útil”, aquele que pretende obrigar o PS a manter-se ligado à esquerda. “Já ninguém é obrigado a escolher o mal menor. O que conta é escolher o programa”. Palavra de Catarina. 4. Costa adivinhou o discurso e levou resposta preparada ao Bloco: não é sério um parceiro assumir só a parte boa, “temos que assumir por inteiro o passivo e o ativo desta legislatura”. E até deu um exemplo de uma medida boa que chegou de outro lado da geringonça: “O investimento na ferrovia, por exemplo, não estava no acordo com o BE, mas estava no acordo com o PEV.” Foi a farpa mais aguda da tarde. Do lado do PS, o discurso para a campanha era já conhecido: vincar a estabilidade política, as contas certas, devolução de rendimentos, a “vitória da confiança” e “os riscos de voltar para trás”, expressão usada por Carlos César quase no final do debate”. Mas também uma pequena dose de humildade: “Sabemos que o país não é um oásis”, assumiu Costa, sabendo que haverá muitas queixas para justificar (sem poder disfarçar) durante os mais de dois meses de campanha. E depois? A avaliar pelo debate final da legislatura, ainda há caminhos possíveis para seguir à esquerda (na habitação, investimento no SNS, cuidadores informais, aumentos de pensões e apoios sociais, entre outros). E a herança de Passos ainda serve de cimento. Mas as negociações à esquerda, sendo necessárias, podem vir a ser redobradamente difíceis, porque Bloco e PCP já têm marcados no caderno o que querem evitar.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

5. E à direita? Assunção Cristas levou um trunfo na manga: uma redução enorme do IRC, de 21% para 12,5% em seis anos. A ideia era marcar a diferença, pelo menos, face ao PSD (que só propõe uma redução de quatro pontos numa legislatura). Mas diferença também no tom: Cristas falou em tom cordato, sublinhando que o seu CDS foi oposição “em muitos casos com esse encargo quase exclusivo”. O diagnóstico dos anos Costa não é diferente do PSD. Mas à direita, claramente, vamos ter uma disputa de estilos e ideias.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

6. Quanto ao PSD, não levou para o debate o quadro macro-económico que Rui Rio apresentou na semana passada, nem sequer as primeiras ideias do partido para as legislativas. Mas, se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé: Rocha Andrade, do PS, aproveitou para perguntar aos sociais-democratas, afinal, o que querem: mais despesa pública (como se ouviu no debate, a propósito do investimento no SNS) ou menos despesa (como o PS leu no quadro macro da semana passada)? 7. Se Marcelo classificou Costa como o otimista irritante, Fernando Negrão quis acabar a legislatura a roubar-lhe o ceptro. Depois de apresentar o que chamou de “livro negro da governação socialista” - pouco investimento, cativações, muitos impostos, dívida crescente, falta de meios na saúde e segurança social, incúria nas funções que envolvem a segurança do Estado, umas críticas contraditórias com outras -, o líder parlamentar social-democrata testou um grand finale: “Começámos esta legislatura como o partido mais votado. É dessa forma que esperamos começar a próxima legislatura, desta vez com a força suficiente para assumirmos um projeto alternativo.” Não, o optimismo não foi um acaso: “Podem ter uma surpresa em outubro, o PSD ganhará as eleições”, confirmou mais à frente no debate. Da bancada ouviram-se palmas (mas já quase não há críticos de Rui Rio por lá).

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

1. António Costa chegou ao plenário e a primeira coisa que fez foi ligar, por telefone fixo, a Jerónimo de Sousa. Depois, a sua primeira frase do púlpito foi para agradecer aos parceiros de governo por terem “ousado derrubar um muro anacrónico” e votado “uma alternativa de Governo”. Em jeito de balanço, o tom do debate de Costa para Jerónimo e (sobretudo) Catarina Martins foi bastante cordato - muito mais do que nos últimos debates quinzenais.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

2. Depois de ter pedido mais a Costa nas leis laborais (onde não há caminho possível) e também nos manuais escolares gratuitos (onde ainda pode haver), Jerónimo de Sousa fechou a sua interpelação ao primeiro-ministro com olhos na próxima legislatura: “Andar para trás não, é preciso avançar. E temos muito caminho para avançar”. Depois da derrota nas autárquicas, depois da derrota nas europeias, o PCP parece inabalável. Do púlpito, Jerónimo de Sousa até apontou os primeiros pontos para um novo entendimento, sem pedir de mais: aumentos de salários, de pensões, de investimento. E fixou a nota da geringonça num satisfaz bem: “Este foi um tempo de avanços”.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

3. Catarina Martins foi um pouco mais exigente: de olhos postos no pós-legislativas, seguiu Francisco Louçã na acusação de que o PS não pode ficar por sua conta (“O Governo falhou nas áreas onde os acordos foram menos concretos”). No debate do estado da nação, ficou clara a estratégia do Bloco para a campanha: atacar o pedido de maioria absoluta do PS; lembrar na estrada, uma a uma, as propostas de Centeno em 2015 que a esquerda bloqueou (como o congelamento das pensões); e vincar, uma a uma, as medidas que o Bloco impôs ao PS durante estes quatro anos. Objetivo? Apelar a um novo tipo de “voto útil”, aquele que pretende obrigar o PS a manter-se ligado à esquerda. “Já ninguém é obrigado a escolher o mal menor. O que conta é escolher o programa”. Palavra de Catarina. 4. Costa adivinhou o discurso e levou resposta preparada ao Bloco: não é sério um parceiro assumir só a parte boa, “temos que assumir por inteiro o passivo e o ativo desta legislatura”. E até deu um exemplo de uma medida boa que chegou de outro lado da geringonça: “O investimento na ferrovia, por exemplo, não estava no acordo com o BE, mas estava no acordo com o PEV.” Foi a farpa mais aguda da tarde. Do lado do PS, o discurso para a campanha era já conhecido: vincar a estabilidade política, as contas certas, devolução de rendimentos, a “vitória da confiança” e “os riscos de voltar para trás”, expressão usada por Carlos César quase no final do debate”. Mas também uma pequena dose de humildade: “Sabemos que o país não é um oásis”, assumiu Costa, sabendo que haverá muitas queixas para justificar (sem poder disfarçar) durante os mais de dois meses de campanha. E depois? A avaliar pelo debate final da legislatura, ainda há caminhos possíveis para seguir à esquerda (na habitação, investimento no SNS, cuidadores informais, aumentos de pensões e apoios sociais, entre outros). E a herança de Passos ainda serve de cimento. Mas as negociações à esquerda, sendo necessárias, podem vir a ser redobradamente difíceis, porque Bloco e PCP já têm marcados no caderno o que querem evitar.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

5. E à direita? Assunção Cristas levou um trunfo na manga: uma redução enorme do IRC, de 21% para 12,5% em seis anos. A ideia era marcar a diferença, pelo menos, face ao PSD (que só propõe uma redução de quatro pontos numa legislatura). Mas diferença também no tom: Cristas falou em tom cordato, sublinhando que o seu CDS foi oposição “em muitos casos com esse encargo quase exclusivo”. O diagnóstico dos anos Costa não é diferente do PSD. Mas à direita, claramente, vamos ter uma disputa de estilos e ideias.

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

6. Quanto ao PSD, não levou para o debate o quadro macro-económico que Rui Rio apresentou na semana passada, nem sequer as primeiras ideias do partido para as legislativas. Mas, se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé: Rocha Andrade, do PS, aproveitou para perguntar aos sociais-democratas, afinal, o que querem: mais despesa pública (como se ouviu no debate, a propósito do investimento no SNS) ou menos despesa (como o PS leu no quadro macro da semana passada)? 7. Se Marcelo classificou Costa como o otimista irritante, Fernando Negrão quis acabar a legislatura a roubar-lhe o ceptro. Depois de apresentar o que chamou de “livro negro da governação socialista” - pouco investimento, cativações, muitos impostos, dívida crescente, falta de meios na saúde e segurança social, incúria nas funções que envolvem a segurança do Estado, umas críticas contraditórias com outras -, o líder parlamentar social-democrata testou um grand finale: “Começámos esta legislatura como o partido mais votado. É dessa forma que esperamos começar a próxima legislatura, desta vez com a força suficiente para assumirmos um projeto alternativo.” Não, o optimismo não foi um acaso: “Podem ter uma surpresa em outubro, o PSD ganhará as eleições”, confirmou mais à frente no debate. Da bancada ouviram-se palmas (mas já quase não há críticos de Rui Rio por lá).

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

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