O estado da campanha. Petardo de Tancos virou os guiões do avesso

27-09-2019
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Quando Jerónimo de Sousa desabafou que "está difícil isto, pois está", ainda não sabia o que aí vinha. A divulgação da acusação do Ministério Público sobre Tancos e a confirmação de que o ex-ministro da Defesa de António Costa foi acusado de quatro crimes - denegação de justiça, prevaricação, abuso de poder e favorecimento - caiu na campanha eleitoral como uma bomba e foi vê-los a todos, candidatos e staffs, às voltas com improvisos, reuniões de emergência, ziguezagues, tiros no escuro e guinadas no discurso, forçados pelo tema que se impôs. Boa notícia: a campanha light acabou. Choque energético: acabaram as falinhas mansas entre o primeiro-ministro e o líder da oposição. Expetativa em alta para as cenas dos próximos capítulos.

A grande surpresa no meio do 'tufão Tancos' (desta vez, o nome não é feminino) chama-se Rui Rio. O líder do PSD, que sempre recusou aproveitamentos políticos de casos judiciais ou mediatismos de processos ainda a aguardar condenação, não resistiu ao cheiro da pólvora. Trocou um ponto da agenda por uma conferência de imprensa inesperada. E abocanhou o caso de Tancos com estrondo, disposto a complicar a vida a António Costa como responsável por um Governo a braços com "um assunto grave em termos de funcionamento do Estado de direito democrático".

Mesmo depois de Costa o acusar de ter "atingido a dignidade desta campanha" e de abdicar do que diz serem "os seus princípios fundamentais", Rui Rio não vacilou. Pelo contrário, mostrou-se disposto a manter a pressão: "Do ponto de vista político temos o direito e até o dever de perguntar ao primeiro-ministro se sabia ou não sabia ..."

Lá se foi a boa vizinhança entre os 'donos' do centrão - se mais debates houvesse, já não iam ser mansos. Por muito que António Costa tenha acabado o dia de ontem em silêncio sobre Tancos e sobre Rui Rio, apostado em voltar rapidamente ao roteiro da estabilidade que definiu para esta campanha, a tarde ilustrou bem o mau-estar nas hostes. Acabadinho de saír duma ação com startups, mal soube que o líder do PSD tinha agarrado o tema maldito, Costa reuniu de emergência (e de pé) com membros do seu núcleo duro e disparou forte contra Rio.

E agora, guerra ou tréguas? Se depender da líder do CDS, guerra, seguramente. Assunção Cristas foi a primeira a agarrar Tancos - "então um deputado do PS sabia e o primeiro-ministro não sabia?" - e não largou o tema. Nem quando levou um banho de champanhe nas caves da Murganheira perante um José Ribeiro e Castro, ex-líder do partido, que marcou presença mas não para a elogiar a ela. Não é só para Jerónimo de Sousa que "está difícil isto, pois está". Mas Tancos deu gás a Assunção, líder de um partido que propôs a comissão de inquérito parlamentar ao roubo das armas e que com o PSD votou contra o relatório aprovado pelas esquerdas a ilibar Azeredo Lopes.

Vamos aos ziguezagues da esquerda. BE e CDU começaram por desvalorizar Tancos. De manhã, Catarina Martins enxotava o tema que dizia não ser útil para ninguém nesta campanha. Mas à tarde, com os media focados quase em exclusivo na acusação do ex-ministro de Costa, a líder do Bloco percebeu o peso político do dia e corrigiu a rota: "Se o Ministério Público tiver razão, responsáveis políticos mentiram numa comissão de inquérito. Parece-nos muito grave".

Jerónimo de Sousa também se adaptou ao vento e após desvalorizar o assunto fez uma declaração aos jornalistas sobre Tancos: "Ninguém pode ignorar a gravidade do que aconteceu. Apure-se tudo". Mas o que mais preocupa os comunistas é o cheiro a dificuldades no terreno. "Está pouca gente", relata o Expresso ter-se ouvido em Moura, num encontro com populares. Jerónimo dramatiza: antecipa "sombras negras" se o PS ficar "de mãos livres". É a tentativa de crescer com alguma bipolarização à esquerda.

Para António Costa, crescer passa por repôr a campanha nos carris, com salas cheias e loas à estabilidade. E o líder do PAN volta a ser uma voz amiga. "Em todas os partidos há pessoas que prevaricam", afirmou André Silva no Algarve, onde admitiu falar com todos, "incluindo com o PS", quem sabe se para aprovar Orçamentos, ano a ano.

Para Costa, com a tensão PS/direita a crescer e a campanha a cortar pontes, talvez dê jeito. Como dará jeito não afunilar o canal com o Presidente da República. O primeiro-ministro emendou a mão do silêncio com que na véspera reagira às notícias que pareciam envolver Marcelo Rebelo de Sousa na tramóia de Tancos: "Creio que o senhor Presidente está acima de qualquer suspeita", afirmou. Mas a campanha já beliscou as relações Belém/S. Bento.

Quando Jerónimo de Sousa desabafou que "está difícil isto, pois está", ainda não sabia o que aí vinha. A divulgação da acusação do Ministério Público sobre Tancos e a confirmação de que o ex-ministro da Defesa de António Costa foi acusado de quatro crimes - denegação de justiça, prevaricação, abuso de poder e favorecimento - caiu na campanha eleitoral como uma bomba e foi vê-los a todos, candidatos e staffs, às voltas com improvisos, reuniões de emergência, ziguezagues, tiros no escuro e guinadas no discurso, forçados pelo tema que se impôs. Boa notícia: a campanha light acabou. Choque energético: acabaram as falinhas mansas entre o primeiro-ministro e o líder da oposição. Expetativa em alta para as cenas dos próximos capítulos.

A grande surpresa no meio do 'tufão Tancos' (desta vez, o nome não é feminino) chama-se Rui Rio. O líder do PSD, que sempre recusou aproveitamentos políticos de casos judiciais ou mediatismos de processos ainda a aguardar condenação, não resistiu ao cheiro da pólvora. Trocou um ponto da agenda por uma conferência de imprensa inesperada. E abocanhou o caso de Tancos com estrondo, disposto a complicar a vida a António Costa como responsável por um Governo a braços com "um assunto grave em termos de funcionamento do Estado de direito democrático".

Mesmo depois de Costa o acusar de ter "atingido a dignidade desta campanha" e de abdicar do que diz serem "os seus princípios fundamentais", Rui Rio não vacilou. Pelo contrário, mostrou-se disposto a manter a pressão: "Do ponto de vista político temos o direito e até o dever de perguntar ao primeiro-ministro se sabia ou não sabia ..."

Lá se foi a boa vizinhança entre os 'donos' do centrão - se mais debates houvesse, já não iam ser mansos. Por muito que António Costa tenha acabado o dia de ontem em silêncio sobre Tancos e sobre Rui Rio, apostado em voltar rapidamente ao roteiro da estabilidade que definiu para esta campanha, a tarde ilustrou bem o mau-estar nas hostes. Acabadinho de saír duma ação com startups, mal soube que o líder do PSD tinha agarrado o tema maldito, Costa reuniu de emergência (e de pé) com membros do seu núcleo duro e disparou forte contra Rio.

E agora, guerra ou tréguas? Se depender da líder do CDS, guerra, seguramente. Assunção Cristas foi a primeira a agarrar Tancos - "então um deputado do PS sabia e o primeiro-ministro não sabia?" - e não largou o tema. Nem quando levou um banho de champanhe nas caves da Murganheira perante um José Ribeiro e Castro, ex-líder do partido, que marcou presença mas não para a elogiar a ela. Não é só para Jerónimo de Sousa que "está difícil isto, pois está". Mas Tancos deu gás a Assunção, líder de um partido que propôs a comissão de inquérito parlamentar ao roubo das armas e que com o PSD votou contra o relatório aprovado pelas esquerdas a ilibar Azeredo Lopes.

Vamos aos ziguezagues da esquerda. BE e CDU começaram por desvalorizar Tancos. De manhã, Catarina Martins enxotava o tema que dizia não ser útil para ninguém nesta campanha. Mas à tarde, com os media focados quase em exclusivo na acusação do ex-ministro de Costa, a líder do Bloco percebeu o peso político do dia e corrigiu a rota: "Se o Ministério Público tiver razão, responsáveis políticos mentiram numa comissão de inquérito. Parece-nos muito grave".

Jerónimo de Sousa também se adaptou ao vento e após desvalorizar o assunto fez uma declaração aos jornalistas sobre Tancos: "Ninguém pode ignorar a gravidade do que aconteceu. Apure-se tudo". Mas o que mais preocupa os comunistas é o cheiro a dificuldades no terreno. "Está pouca gente", relata o Expresso ter-se ouvido em Moura, num encontro com populares. Jerónimo dramatiza: antecipa "sombras negras" se o PS ficar "de mãos livres". É a tentativa de crescer com alguma bipolarização à esquerda.

Para António Costa, crescer passa por repôr a campanha nos carris, com salas cheias e loas à estabilidade. E o líder do PAN volta a ser uma voz amiga. "Em todas os partidos há pessoas que prevaricam", afirmou André Silva no Algarve, onde admitiu falar com todos, "incluindo com o PS", quem sabe se para aprovar Orçamentos, ano a ano.

Para Costa, com a tensão PS/direita a crescer e a campanha a cortar pontes, talvez dê jeito. Como dará jeito não afunilar o canal com o Presidente da República. O primeiro-ministro emendou a mão do silêncio com que na véspera reagira às notícias que pareciam envolver Marcelo Rebelo de Sousa na tramóia de Tancos: "Creio que o senhor Presidente está acima de qualquer suspeita", afirmou. Mas a campanha já beliscou as relações Belém/S. Bento.

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