PSD: uma direção desaparecida sem combate

10-07-2019
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PolíticaPSD: uma direção desaparecida sem combate 08-07-2019Entre os seis vice-presidentes do PSD, só um está na primeira linha do combate político - David Justino. Castro Almeida, cuja demissão foi agora conhecida, era a outra figura com alguma relevância pública, mas foi-se distanciando cada vez mais. Todos os outros raramente dão a cara pelo partidoFilipe Santos CostaNa equipa de seis vice-presidentes constituída por Rui Rio em fevereiro do ano passado, só um tem cumprido as funções de representação e combate político que normalmente são associadas a esta função: David Justino. Todos os outros "vices" de Rui Rio têm sido pouco mais do que decorativos. Manuel Castro Almeida era uma excepção neste apagão generalizado dos "vices" do PSD, mas soube-se este fim-de-semana que as divergências com os métodos de trabalho e a orientação imposta ao partido por Rio o levaram a distanciar-se cada vez mais, acabando por demitir-se há quase três semanas. Uma demissão mantida em segredo por Rio desde o dia 19 de junho. Nuno Morais Sarmento é o caso mais notório de uma direção desaparecida sem combate. Desde que subiu a vice-presidente, no congresso de Lisboa, contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que deu a cara pelo partido. Apesar de ser reconhecido como um dos quadros mais experientes e combativos da atual direção, esteve sempre afastado da primeira linha da luta política, e mesmo nos bastidores foi uma presença intermitente - ao que o Expresso sabe, Sarmento é dos vice-presidentes menos assíduos às reuniões da Comissão Permanente, justificando as ausências com os seus afazeres profissionais. Entrevistas, concedeu apenas uma, e no momento em que Rui Rio lutava pela sobrevivência política, após o desafio de Luís Montenegro à liderança. Na reta final da contagem de espingardas para o Conselho Nacional em que esteve em causa a presidência de Rio, Sarmento deu uma entrevista à RTP, de conteúdo bastante ambíguo, com tantas críticas como elogios ao líder do partido: desafiou-o a "corrigir" o estilo, e a "acertar o registo de intervenção", que apontou como um "erro". E reconheceu que ao longo desse primeiro ano de liderança "Rui Rio não logrou alcançar os resultados que pretendia"... porque "não teve tempo". As vices que quase ninguém viu Outros casos de quase total apagão político são as vice-presidentes Elina Fraga e Isabel Meireles. Ambos foram escolhas surpreendentes de Rio - não tinham qualquer peso político antes desta indicação, e continuaram sem tê-lo depois. Quando foram anunciadas no congresso de 2018, Isabel Meireles foi recebida com indiferença e Elina Fraga com alguma indignação, por ter sido uma das críticas mais ferozes da política de Justiça do PSD no Governo de Passos Coelho. Ambas voltaram rapidamente ao esquecimento - mas, no caso de Elina Fraga, só depois de algumas semanas de polémica por causa das suspeitas de que é alvo pela sua gestão na Ordem dos Advogados, quando era bastonária.Fraga quase nunca falou em público como vice-presidente. Uma das raras entrevistas que deu foi ao Expresso, e deixou então claro o apoio à recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República, a quem fez um rasgado elogio - mas Rio não seguiu essa linha de defesa da PGR, a quem só elogiou depois de consumado o seu afastamento. A ex-bastonária dos advogados nem sobre temas de Justiça fala. Quanto a Isabel Meireles, registaram-se alguns avistamentos nos dias quentes do desafio de Luís Montenegro a Rui Rio. Para além disso, apenas deu a cara sobre questões setoriais relacionadas com a construção europeia. É coordenadora da área de Assuntos Europeus no Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD e falou mais nessa função do que como vice-presidente do PSD. O homem da máquina e o homem do programa Salvador Malheiro, o vice-presidente que se quer assumir como o patrão da máquina partidária, é outro caso de apagamento progressivo. Nos últimos meses quase só se pronuncia sobre questões de Ambiente e Energia, setor em que é o porta-voz do CEN. No arranque desta direção, Malheiro chegou a ser apontado como hipótese para porta-voz da direção do PSD, e pouco depois do congresso de Lisboa chegou a dar uma entrevista ao DN e à TSF, respondendo à instabilidade interna que já então eram notória, sobretudo no grupo parlamentar. Mas a sua estrela empalideceu quando foram noticiados negócios suspeitos da Câmara de Ovar, a que preside. Malheiro está há mais de um ano sob investigação do Ministério Público. A sua atividade dentro do partido é intensa, com inúmeras deslocações a eventos partidários por todo o país, e tem tentado afirmar-se como o patrão do aparelho partidário, numa guerra surda com o secretário-geral, José Silvano. Mas tem sido muita ação para dentro do partido... e pouca para fora. David Justino é, de longe, o vice-presidente do PSD com maior visibilidade no combate político. O facto de ter substituído Luís Montenegro como representante social-democrata no programa "Almoços Grátis", da TSF, dá-lhe palco semanal. O frente-a-frente todas as quartas-feiras com Carlos César coloca Justino como o mais destacado membro da direção do PSD na defesa das posições do partido e no ataque às políticas do Governo. Por outro lado, preside ao CEN, o que significa que coordena a elaboração das alternativas políticas com que o PSD se vai apresentar a votos. O amigo de Rio que se fartou do líder Até há poucos meses, Manuel Castro Almeida era o outro vice-presidente do PSD que mostrava vontade de falar publicamente em nome do PSD, e espaço de manobra suficiente para o fazer. Castro Almeida tem um currículo político longo, que inclui passagens pelo Parlamento, por vários Governos e pela presidência de uma autarquia (São João da Madeira), e uma amizade de muitos anos com Rui Rio. Este ainda lhe acrescentou peso político, ao nomeá-lo representante do PSD nas negociações com o Governo para um pacto sobre os fundos europeus - um dos dois acordos de regime que o líder do PSD quis fazer com Costa mal tomou conta do partido (o outro foi sobre descentralização). Castro Almeida tinha peso político, proximidade ao líder e autonomia suficientes para não precisar de pedir licença para dizer publicamente o que pensa. Muitas vezes pensava diferente de Rio. E várias vezes o disse, ou deu a entender, em entrevistas que deu: queria um PSD mais firme na oposição, mais ativo na apresentação de alternativas, e mais pacificado internamente, fazendo pontes entre os apoiantes de Rio e os seus críticos. Em nenhum dos casos Rio quis seguir-lhe os conselhos. Pior ainda: Castro Almeida não se conformava com o estilo de liderança de Rio, que raramente discutiu com a sua direção as grandes (e pequenas) decisões políticas. Desde há ano e meio que, semana após semana, a Comissão Permanente é surpreendida com factos consumados decididos pelo líder sem ouvir os seus "vices" - a título de exemplo, a posição do PSD sobre a recondução (ou não) da PGR nunca foi tema de conversa na Permanente; mas também uma decisão tão corriqueira como o lançamento de uma campanha de outdoors apanhou os vices de surpresa. Cansado de fazer figura de corpo presente na direção de um partido de cuja estratégia discorda e de um líder que decide tudo em circuito fechado, fora dos órgãos partidários, Manuel Castro Almeida bateu com a porta. Em seu lugar, na vice-presidência que fica vaga, Rio vai colocar o presidente da Câmara de Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro. Um desconhecido da política nacional, que está lá longe, nos Açores...RelacionadosRio escolhe para vice-presidente do PSD presidente da Câmara de Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro07-07-2019LusaDemissão de Castro Almeida "só pode ter sido por razões muito fortes"07-07-2019Vítor MatosÚltimasMais antigo 'Homo sapiens' não africano tem 210 mil anos e é gregoHá 10 minutosLusaO último carocha sai hoje da fábricaHá 21 minutosLuís M. FariaAeroporto londrino de Gatwick suspende todos os voos por “problema de controlo do tráfego aéreo”Há 34 minutosLusaO estado da nação? É de campanha eleitoral (oito retratos do debate final)Há 41 minutosDavid DinisCâmara do Porto suspende arrendamentos de curta duração em zonas onde a pressão do AL é igual ou superior a 50%Há uma horaIsabel PauloConcessão Douro Litoral. Tribunal dá razão aos fundos credoresAgoraAbílio FerreiraUma juíza não pode forçar outra mulher a abortar16:03Henrique RaposoPortugal vai atrair mais de 1000 milhões de euros de fundos europeus para a ciência até 202016:03Virgílio AzevedoControlar a corrupção em Portugal – o que nos tem dito o GRECO?16:03António João MaiaEuropa contrata drone português para vigiar zonas costeiras16:03Vítor Andrade

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Uma demissão mantida em segredo por Rio desde o dia 19 de junho. Nuno Morais Sarmento é o caso mais notório de uma direção desaparecida sem combate. Desde que subiu a vice-presidente, no congresso de Lisboa, contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que deu a cara pelo partido. Apesar de ser reconhecido como um dos quadros mais experientes e combativos da atual direção, esteve sempre afastado da primeira linha da luta política, e mesmo nos bastidores foi uma presença intermitente - ao que o Expresso sabe, Sarmento é dos vice-presidentes menos assíduos às reuniões da Comissão Permanente, justificando as ausências com os seus afazeres profissionais. Entrevistas, concedeu apenas uma, e no momento em que Rui Rio lutava pela sobrevivência política, após o desafio de Luís Montenegro à liderança. Na reta final da contagem de espingardas para o Conselho Nacional em que esteve em causa a presidência de Rio, Sarmento deu uma entrevista à RTP, de conteúdo bastante ambíguo, com tantas críticas como elogios ao líder do partido: desafiou-o a "corrigir" o estilo, e a "acertar o registo de intervenção", que apontou como um "erro". E reconheceu que ao longo desse primeiro ano de liderança "Rui Rio não logrou alcançar os resultados que pretendia"... porque "não teve tempo". As vices que quase ninguém viu Outros casos de quase total apagão político são as vice-presidentes Elina Fraga e Isabel Meireles. Ambos foram escolhas surpreendentes de Rio - não tinham qualquer peso político antes desta indicação, e continuaram sem tê-lo depois. Quando foram anunciadas no congresso de 2018, Isabel Meireles foi recebida com indiferença e Elina Fraga com alguma indignação, por ter sido uma das críticas mais ferozes da política de Justiça do PSD no Governo de Passos Coelho. Ambas voltaram rapidamente ao esquecimento - mas, no caso de Elina Fraga, só depois de algumas semanas de polémica por causa das suspeitas de que é alvo pela sua gestão na Ordem dos Advogados, quando era bastonária.Fraga quase nunca falou em público como vice-presidente. Uma das raras entrevistas que deu foi ao Expresso, e deixou então claro o apoio à recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República, a quem fez um rasgado elogio - mas Rio não seguiu essa linha de defesa da PGR, a quem só elogiou depois de consumado o seu afastamento. A ex-bastonária dos advogados nem sobre temas de Justiça fala. Quanto a Isabel Meireles, registaram-se alguns avistamentos nos dias quentes do desafio de Luís Montenegro a Rui Rio. Para além disso, apenas deu a cara sobre questões setoriais relacionadas com a construção europeia. É coordenadora da área de Assuntos Europeus no Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD e falou mais nessa função do que como vice-presidente do PSD. O homem da máquina e o homem do programa Salvador Malheiro, o vice-presidente que se quer assumir como o patrão da máquina partidária, é outro caso de apagamento progressivo. Nos últimos meses quase só se pronuncia sobre questões de Ambiente e Energia, setor em que é o porta-voz do CEN. No arranque desta direção, Malheiro chegou a ser apontado como hipótese para porta-voz da direção do PSD, e pouco depois do congresso de Lisboa chegou a dar uma entrevista ao DN e à TSF, respondendo à instabilidade interna que já então eram notória, sobretudo no grupo parlamentar. Mas a sua estrela empalideceu quando foram noticiados negócios suspeitos da Câmara de Ovar, a que preside. Malheiro está há mais de um ano sob investigação do Ministério Público. A sua atividade dentro do partido é intensa, com inúmeras deslocações a eventos partidários por todo o país, e tem tentado afirmar-se como o patrão do aparelho partidário, numa guerra surda com o secretário-geral, José Silvano. Mas tem sido muita ação para dentro do partido... e pouca para fora. David Justino é, de longe, o vice-presidente do PSD com maior visibilidade no combate político. O facto de ter substituído Luís Montenegro como representante social-democrata no programa "Almoços Grátis", da TSF, dá-lhe palco semanal. O frente-a-frente todas as quartas-feiras com Carlos César coloca Justino como o mais destacado membro da direção do PSD na defesa das posições do partido e no ataque às políticas do Governo. Por outro lado, preside ao CEN, o que significa que coordena a elaboração das alternativas políticas com que o PSD se vai apresentar a votos. O amigo de Rio que se fartou do líder Até há poucos meses, Manuel Castro Almeida era o outro vice-presidente do PSD que mostrava vontade de falar publicamente em nome do PSD, e espaço de manobra suficiente para o fazer. Castro Almeida tem um currículo político longo, que inclui passagens pelo Parlamento, por vários Governos e pela presidência de uma autarquia (São João da Madeira), e uma amizade de muitos anos com Rui Rio. Este ainda lhe acrescentou peso político, ao nomeá-lo representante do PSD nas negociações com o Governo para um pacto sobre os fundos europeus - um dos dois acordos de regime que o líder do PSD quis fazer com Costa mal tomou conta do partido (o outro foi sobre descentralização). Castro Almeida tinha peso político, proximidade ao líder e autonomia suficientes para não precisar de pedir licença para dizer publicamente o que pensa. Muitas vezes pensava diferente de Rio. E várias vezes o disse, ou deu a entender, em entrevistas que deu: queria um PSD mais firme na oposição, mais ativo na apresentação de alternativas, e mais pacificado internamente, fazendo pontes entre os apoiantes de Rio e os seus críticos. Em nenhum dos casos Rio quis seguir-lhe os conselhos. Pior ainda: Castro Almeida não se conformava com o estilo de liderança de Rio, que raramente discutiu com a sua direção as grandes (e pequenas) decisões políticas. Desde há ano e meio que, semana após semana, a Comissão Permanente é surpreendida com factos consumados decididos pelo líder sem ouvir os seus "vices" - a título de exemplo, a posição do PSD sobre a recondução (ou não) da PGR nunca foi tema de conversa na Permanente; mas também uma decisão tão corriqueira como o lançamento de uma campanha de outdoors apanhou os vices de surpresa. Cansado de fazer figura de corpo presente na direção de um partido de cuja estratégia discorda e de um líder que decide tudo em circuito fechado, fora dos órgãos partidários, Manuel Castro Almeida bateu com a porta. Em seu lugar, na vice-presidência que fica vaga, Rio vai colocar o presidente da Câmara de Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro. 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