As tréguas do Bloco e o PCP na barricada

22-05-2019
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Os jogos estão a ser feitos. O Bloco passou ao modo de tréguas e só os comunistas continuam firmes na sua barricada. A política é um tabuleiro, mas às vezes o sacrifício dos princípios à tática pode ser fatal para o jogador, se depois os resultados forem fracos quando as cartas forem reveladas na mesa. O Bloco de Esquerda arrefeceu a irritação de há duas semanas e nem sequer mencionou um dos três temas quentes que estão a ensombrar a “geringonça": Catarina Martins não falou de professores enquanto a greve decorre, nem mencionou as leis laborais depois de o primeiro-ministro ter assinado a o acordo de Concertação Social sem dar sinal de querer mudar uma linha e ignorou o SNS. Jerónimo de Sousa falou dos três. E Os Verdes encostaram o Governo à direita. O posicionamento para o Orçamento do Estado (OE) está à vista.

Os jogos estão a ser feitos porque as reuniões para o OE com o Bloco começaram ao mais alto nível esta terça-feira, um dia antes deste debate quinzenal. António Costa e Catarina Martins estiveram fechados com as suas equipas numa sala mais de duas horas, e o normal é haver tréguas enquanto duas partes estão com um processo negocial aberto. De bandeira branca em punho, quinze dias depois de ter acusado o Governo de “prepotência” no caso dos professores, o Bloco levou para plenário a sugestão de um protesto junto dos EUA por causa do tratamento dado a crianças migrantes na fronteira do Texas, os fecho de balcões da Caixa e o pedido (repetido) de uma moratória para impedir os despejos. Foi o que se arranjou para fazer um debate “tipo” duro, mas a encenação retórica do Bloco não teve grande efeito.

Por agora, ainda não se sabe o que foi colocado na mesa das negociações, mas, com esta atitude, o Bloco dá a entender que professores, concertação e Saúde estão a ser negociados no âmbito do OE. O Bloco afinal é bem comportado. Catarina não esticou a corda. Estará à espera de obter ganhos de causa.

Com o BE cauteloso, a CDU cobriu todo o corredor esquerdo. Jerónimo de Sousa, que ainda não se reuniu com Costa para o OE, sublinhou a “teimosia” do Governo nos professores, perguntou a propósito das leis laborais se a parceria era para continuar o “caminho" ou "voltar para trás”, e apontou a "situação muito difícil” nos hospitais, "que se pode transformar numa crise de consequências imprevisíveis”. A atitude do PCP no debate alimenta a perspetiva de que serão os comunistas os mais difíceis de levar a votar o orçamento. Da mesma maneira que a “geringonça” só aconteceu porque o PCP quis entrar no barco, só continuará se os comunistas continuarem a registar “avanços" em vez de "recuos".

Mas a intervenção de Heloísa Apolónia, d’ Os Verdes teve ainda mais arestas que a de Jerónimo. Primeiro, perguntou a António Costa com quem estava contar para aprovar o pacote laboral acordado com os patrões e a UGT. O Expresso noticiou este sábado que as leis laborais avançavam com o Bloco Central e o secretário de Estado do Emprego chegou a dizer que estava à espera de uma configuração parlamentar sem os partidos da “geringonça”. Mas Costa não respondeu. Ou melhor, disse isto: “Conto com todos aqueles que querem combater a precariedade”, que é o mesmo que dizer que a esquerda tem a bandeira da precariedade, mas não a quer combater (pelo menos à maneira do Governo).

Heloísa garantiu que o Governo não contaria com o seu partido para as leis laborais. Também não terá o PCP, e dificilmente poderá ter a seu lado o Bloco. Isto levou à manifestação de incredulidade da deputada ecologista: "Não acredito que esteja a contar com o PSD para aprovar leis desta natureza. Estranho no final da legislatura assinar tantos acordos com o PSD. O país vê e reflete”. Mais um aviso. Em áreas fundamentais, ver o PS a regressar ao “arco da Concertação Social” pode ser mais difícil de aceitar para os comunistas. Aliás, o próprio Jerónimo comparou o PS à direita quando perguntou, a propósito dos professores: “Até quando vai continuar esta situação, ou os cortes ser permanentes, como queria o PSD, o CDS ou o FMI”?

Ao contrário do debate anterior, António Costa voltou a ser mais complacente com os parceiros de esquerda. E voltou à antiga metáfora que usava para falar dos orçamentos: “Para que se possa prosseguir de uma forma sustentável é absolutamente essencial nunca darmos um passo maior do que a perna. Temos de dar passos para a frente com a confiança de não voltarmos a ter de dar passos para trás”. Continuar a usar estes conceitos, é outra uma forma de também não hostilizar os parceiros em tempo de negociações.

Apesar da expectativa do debate recair sobre a relação à esquerda, a maior parte do tempo foi dedicada a falar dos fundos europeus - o tema escolhido pelo Governo para esta tarde. António Costa disse que Portugal estava disponível para aumentar a contribuição nacional do orçamento europeu, mas também afirmou que “as taxas de cofinanciamento não devem ser alteradas”. É que com a atual configuração do financiamento comunitário, Portugal vai ter de investir mais dinheiro na comparticipação nacional para poder aplicar as verbas europeias. “Não se deve sobrecarregar o OE nacional com o esforço ajustamento que temos vindo ao cumprir”, afirmou Costa aos deputados, tal como o ministro Pedro Marques já tinha dito numa entrevista ao Expresso que os fundos poderiam ser uma “bomba” orçamental.

À direita, o PSD voltou pela segunda vez consecutiva a baixar o tom da oposição. Depois de uma fase em que pressionou o Governo com os casos de Sócrates, Manuel Pinho ou até do ministro Siza Vieira, Fernando Negrão regressou ao estilo mais institucional inaugurado com a liderança de Rui Rio. Falou de fundos europeus e pouco mais, na semana em que liderou as jornadas parlamentares do partido e em que, numa entrevista ao Observador, não fechou a porta a deixar passar o OE, com um “veremos”.

Já a líder do CDS viu o primeiro-ministro acusá-la de promover uma “catástrofe social” com a lei das rendas, depois de Catarina Martins ter dito que “não tem sentido nenhum que por um erro de Assunção Cristas as famílias dos bairros sejam agora despejadas”. A deputada centrista bem tentou agarrar Costa com perguntas sobre a reposição de comunicações nas zonas dos fogos, sobre os projetos piloto da reflorestação e acerca dos impostos dos combustíveis que serão discutidos esta quinta-feira-feira. Mas Costa fugiu às questões.

Neste momento, o Bloco e o PSD escondem trunfos, enquanto a CDU continua a jogar manilhas no Parlamento e ases na rua. Como acabará o jogo?

Os jogos estão a ser feitos. O Bloco passou ao modo de tréguas e só os comunistas continuam firmes na sua barricada. A política é um tabuleiro, mas às vezes o sacrifício dos princípios à tática pode ser fatal para o jogador, se depois os resultados forem fracos quando as cartas forem reveladas na mesa. O Bloco de Esquerda arrefeceu a irritação de há duas semanas e nem sequer mencionou um dos três temas quentes que estão a ensombrar a “geringonça": Catarina Martins não falou de professores enquanto a greve decorre, nem mencionou as leis laborais depois de o primeiro-ministro ter assinado a o acordo de Concertação Social sem dar sinal de querer mudar uma linha e ignorou o SNS. Jerónimo de Sousa falou dos três. E Os Verdes encostaram o Governo à direita. O posicionamento para o Orçamento do Estado (OE) está à vista.

Os jogos estão a ser feitos porque as reuniões para o OE com o Bloco começaram ao mais alto nível esta terça-feira, um dia antes deste debate quinzenal. António Costa e Catarina Martins estiveram fechados com as suas equipas numa sala mais de duas horas, e o normal é haver tréguas enquanto duas partes estão com um processo negocial aberto. De bandeira branca em punho, quinze dias depois de ter acusado o Governo de “prepotência” no caso dos professores, o Bloco levou para plenário a sugestão de um protesto junto dos EUA por causa do tratamento dado a crianças migrantes na fronteira do Texas, os fecho de balcões da Caixa e o pedido (repetido) de uma moratória para impedir os despejos. Foi o que se arranjou para fazer um debate “tipo” duro, mas a encenação retórica do Bloco não teve grande efeito.

Por agora, ainda não se sabe o que foi colocado na mesa das negociações, mas, com esta atitude, o Bloco dá a entender que professores, concertação e Saúde estão a ser negociados no âmbito do OE. O Bloco afinal é bem comportado. Catarina não esticou a corda. Estará à espera de obter ganhos de causa.

Com o BE cauteloso, a CDU cobriu todo o corredor esquerdo. Jerónimo de Sousa, que ainda não se reuniu com Costa para o OE, sublinhou a “teimosia” do Governo nos professores, perguntou a propósito das leis laborais se a parceria era para continuar o “caminho" ou "voltar para trás”, e apontou a "situação muito difícil” nos hospitais, "que se pode transformar numa crise de consequências imprevisíveis”. A atitude do PCP no debate alimenta a perspetiva de que serão os comunistas os mais difíceis de levar a votar o orçamento. Da mesma maneira que a “geringonça” só aconteceu porque o PCP quis entrar no barco, só continuará se os comunistas continuarem a registar “avanços" em vez de "recuos".

Mas a intervenção de Heloísa Apolónia, d’ Os Verdes teve ainda mais arestas que a de Jerónimo. Primeiro, perguntou a António Costa com quem estava contar para aprovar o pacote laboral acordado com os patrões e a UGT. O Expresso noticiou este sábado que as leis laborais avançavam com o Bloco Central e o secretário de Estado do Emprego chegou a dizer que estava à espera de uma configuração parlamentar sem os partidos da “geringonça”. Mas Costa não respondeu. Ou melhor, disse isto: “Conto com todos aqueles que querem combater a precariedade”, que é o mesmo que dizer que a esquerda tem a bandeira da precariedade, mas não a quer combater (pelo menos à maneira do Governo).

Heloísa garantiu que o Governo não contaria com o seu partido para as leis laborais. Também não terá o PCP, e dificilmente poderá ter a seu lado o Bloco. Isto levou à manifestação de incredulidade da deputada ecologista: "Não acredito que esteja a contar com o PSD para aprovar leis desta natureza. Estranho no final da legislatura assinar tantos acordos com o PSD. O país vê e reflete”. Mais um aviso. Em áreas fundamentais, ver o PS a regressar ao “arco da Concertação Social” pode ser mais difícil de aceitar para os comunistas. Aliás, o próprio Jerónimo comparou o PS à direita quando perguntou, a propósito dos professores: “Até quando vai continuar esta situação, ou os cortes ser permanentes, como queria o PSD, o CDS ou o FMI”?

Ao contrário do debate anterior, António Costa voltou a ser mais complacente com os parceiros de esquerda. E voltou à antiga metáfora que usava para falar dos orçamentos: “Para que se possa prosseguir de uma forma sustentável é absolutamente essencial nunca darmos um passo maior do que a perna. Temos de dar passos para a frente com a confiança de não voltarmos a ter de dar passos para trás”. Continuar a usar estes conceitos, é outra uma forma de também não hostilizar os parceiros em tempo de negociações.

Apesar da expectativa do debate recair sobre a relação à esquerda, a maior parte do tempo foi dedicada a falar dos fundos europeus - o tema escolhido pelo Governo para esta tarde. António Costa disse que Portugal estava disponível para aumentar a contribuição nacional do orçamento europeu, mas também afirmou que “as taxas de cofinanciamento não devem ser alteradas”. É que com a atual configuração do financiamento comunitário, Portugal vai ter de investir mais dinheiro na comparticipação nacional para poder aplicar as verbas europeias. “Não se deve sobrecarregar o OE nacional com o esforço ajustamento que temos vindo ao cumprir”, afirmou Costa aos deputados, tal como o ministro Pedro Marques já tinha dito numa entrevista ao Expresso que os fundos poderiam ser uma “bomba” orçamental.

À direita, o PSD voltou pela segunda vez consecutiva a baixar o tom da oposição. Depois de uma fase em que pressionou o Governo com os casos de Sócrates, Manuel Pinho ou até do ministro Siza Vieira, Fernando Negrão regressou ao estilo mais institucional inaugurado com a liderança de Rui Rio. Falou de fundos europeus e pouco mais, na semana em que liderou as jornadas parlamentares do partido e em que, numa entrevista ao Observador, não fechou a porta a deixar passar o OE, com um “veremos”.

Já a líder do CDS viu o primeiro-ministro acusá-la de promover uma “catástrofe social” com a lei das rendas, depois de Catarina Martins ter dito que “não tem sentido nenhum que por um erro de Assunção Cristas as famílias dos bairros sejam agora despejadas”. A deputada centrista bem tentou agarrar Costa com perguntas sobre a reposição de comunicações nas zonas dos fogos, sobre os projetos piloto da reflorestação e acerca dos impostos dos combustíveis que serão discutidos esta quinta-feira-feira. Mas Costa fugiu às questões.

Neste momento, o Bloco e o PSD escondem trunfos, enquanto a CDU continua a jogar manilhas no Parlamento e ases na rua. Como acabará o jogo?

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