Luís Graça & Camaradas da Guiné

15-10-2019
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Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) >  Fotos do álbum do Torcato Mendonça, coleção "Fotos Falantes II".

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados Edição: LG]

1. Selfie é uma palavra que entrou há tempo no nosso vocabulário... Resulta da junção do substantivo self (em inglês "eu", "o próprio") e o sufixo ie. Designa  um tipo de fotografia de autorretrato, normalmente tirada com uma câmara digital de mão ou telemóvel com câmara. Foi considerada a palavra internacional do ano de 2013 pelo Oxford English Dictionary. Tornou-se "viral", como muitas outras modas... 

Em 2014 demos iníício a uma série chamada "selfies / autorretratos". Não teve muito sucesso. Publicámos até agora três. O Vasco Pires deu o pontapé de saída... No nosso tempo, na Guiné, não havia tempo nem pachorra para a gente de se ver ao espelho, quanto mais tirar uma "selfie"!... Um ou outro de nós tinha máquina fotográfica ou fotógrafo de serviço (que ganhava algum patacão tirando "chapas" ao pessoal), pelo que até há algumas belíssimas fotos e alguns bons álbuns fotográficos... 

É material, de grande interesse documental, não só para alimentar e desenvolver as nossas memórias como para enriquecer o acervo dos que hão de fazer, com rigor, honestidade, isenção e objetividade, a história daquele período de Portugal (bem como da Guiné-Bissau)... 

Enfim, a par das nossas memórias escritas, é um material  que andamos, há anos, desde pelo menos 2004,  a tentar salvar das garras do esquecimento, do  abandono, da destruição, dos alfarrabistas, da incineradora e do caixote do lixo...

Um desses álbuns, que veio enriquecer a fototeca da Tabanca Grande é o do Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), senador da nossa tertúçia, e uma dos mais ativos e produtivos colaboradores do nosso blogue (com cerca de 240 referências). É também, de há muito, um dos nossos conselheiros e colaboradores permanentes.

Nos últimos anos, porém, e até por razões de saúde, o Torcato Mendonça tem andado muito mais discreto, remetendo-se ao silêncio, ou intervindo uma vez por outra com um breve comentário. Sei que ele continua nosso fiel leitor. Respeito o seu silêncio, mas fico feliz sempre que o vejo vir à janela da sua morança...(Desculpem a metáfora: a Tabanca Grande não tem, propositadamente, portas e janelas).

Há muitos camaradas, mais novos, "periquitos" no blogue, que não puderam na devida altura acompanhar a sua vasta produção (postes, fotos, comentários), sempre de grande qualidade. São hoje uma referência incontornável...

Sabemos que não é "confortável" para os ex-combatentes falar, para os seus "pares", num blogue como o nosso, com a audiência que o nosso tem, sobre as "questões do foro íntimo", "ver-se ao espelho", e devolver, sob a forma de escrita, os seus "selfies", os seus "autorretratos... Ou partilhar fotos mais íntimas, retratos em grande plano, que mandávamos às esposas,  às namoradas, aos pais, à família, às madrinhas de guerra... DE um modo geral, preferimos as fotos de grupo... Estamos a falar dos nossos "verdes anos", à distância de meio século..

De qualquer modo, e de acordo com o subtítulo deste poste, quem vê caras, (nem sempre) vê corações... Daí a razão de ser  desta seleção de retratos do nosso querido amigo e camarada que vive no Fundão. São da da sua coleção "Fotos Falantes II"... A numeração, arbitrária, é nossa. Bem como a sau edição... E intencionalmente não lhe acrescentámos legendas... Fica o desafio para os nossos leitores... (LG)

O nosso "senador" no Fundão, em 2007. Foto de LG.

2. Excerto de um depoimento do Torcato Mendonça, publicado em 28/2/2015:

(...) "Sim, mudei muito"!  Digo-te porquê. Antes de ser militar, fui estudante e nalguns intervalos fiz 'diversos'. Caçado, sem esperar, pela tropa, aí talvez na especialidade comecei a sofrer uma metamorfose. Aos poucos, e já mais na Guiné, o rapaz alegre e 'bon vivant' foi-se ou, porque não, apagou-se mesmo. (...)

Quando vim, nada ou muito pouco restava do outro. Deram-me várias opções de escolha de vida.

Fui sentindo os anos passarem por mim, os meus filhos crescendo. A guerra estava guardada e, de quando em vez, saltitava para o presente e depois de amansada ia-se. Tratava-a com cuidado e sentia que nunca mais voltara de todo, em grande parte talvez. Nem isso. Fisicamente fui envelhecendo, como é natural. Apressado por “aquilo” e pelas cicatrizes físicas.

Optei, já o tinha feito em parte, e deixei a adaptação correr. O meu mentor, o meu companheiro- amigo, esse meu melhor amigo, esse homem que me deu o ser e muito saber, um dia morreu-me. Chorei nesse dia e compreendi que ainda sabia chorar. Mas tinha mudado muito.

Mais forte, a parte psicológica foi de certeza a de estabilização mais difícil. Nunca estabilizará. Por isso hoje, velho aos 70 anos, com a saúde (ou falta dela) a mostrar os rombos na carcaça nada tem a ver com a hipotética entrada normal na velhice. (...)

_______________

Nota do editor:

Ùltimos postes da série:

30 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13669: Selfies / autorretratos (3): Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses (Juvenal Amado)

22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav,

22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)

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Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) >  Fotos do álbum do Torcato Mendonça, coleção "Fotos Falantes II".

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados Edição: LG]

1. Selfie é uma palavra que entrou há tempo no nosso vocabulário... Resulta da junção do substantivo self (em inglês "eu", "o próprio") e o sufixo ie. Designa  um tipo de fotografia de autorretrato, normalmente tirada com uma câmara digital de mão ou telemóvel com câmara. Foi considerada a palavra internacional do ano de 2013 pelo Oxford English Dictionary. Tornou-se "viral", como muitas outras modas... 

Em 2014 demos iníício a uma série chamada "selfies / autorretratos". Não teve muito sucesso. Publicámos até agora três. O Vasco Pires deu o pontapé de saída... No nosso tempo, na Guiné, não havia tempo nem pachorra para a gente de se ver ao espelho, quanto mais tirar uma "selfie"!... Um ou outro de nós tinha máquina fotográfica ou fotógrafo de serviço (que ganhava algum patacão tirando "chapas" ao pessoal), pelo que até há algumas belíssimas fotos e alguns bons álbuns fotográficos... 

É material, de grande interesse documental, não só para alimentar e desenvolver as nossas memórias como para enriquecer o acervo dos que hão de fazer, com rigor, honestidade, isenção e objetividade, a história daquele período de Portugal (bem como da Guiné-Bissau)... 

Enfim, a par das nossas memórias escritas, é um material  que andamos, há anos, desde pelo menos 2004,  a tentar salvar das garras do esquecimento, do  abandono, da destruição, dos alfarrabistas, da incineradora e do caixote do lixo...

Um desses álbuns, que veio enriquecer a fototeca da Tabanca Grande é o do Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), senador da nossa tertúçia, e uma dos mais ativos e produtivos colaboradores do nosso blogue (com cerca de 240 referências). É também, de há muito, um dos nossos conselheiros e colaboradores permanentes.

Nos últimos anos, porém, e até por razões de saúde, o Torcato Mendonça tem andado muito mais discreto, remetendo-se ao silêncio, ou intervindo uma vez por outra com um breve comentário. Sei que ele continua nosso fiel leitor. Respeito o seu silêncio, mas fico feliz sempre que o vejo vir à janela da sua morança...(Desculpem a metáfora: a Tabanca Grande não tem, propositadamente, portas e janelas).

Há muitos camaradas, mais novos, "periquitos" no blogue, que não puderam na devida altura acompanhar a sua vasta produção (postes, fotos, comentários), sempre de grande qualidade. São hoje uma referência incontornável...

Sabemos que não é "confortável" para os ex-combatentes falar, para os seus "pares", num blogue como o nosso, com a audiência que o nosso tem, sobre as "questões do foro íntimo", "ver-se ao espelho", e devolver, sob a forma de escrita, os seus "selfies", os seus "autorretratos... Ou partilhar fotos mais íntimas, retratos em grande plano, que mandávamos às esposas,  às namoradas, aos pais, à família, às madrinhas de guerra... DE um modo geral, preferimos as fotos de grupo... Estamos a falar dos nossos "verdes anos", à distância de meio século..

De qualquer modo, e de acordo com o subtítulo deste poste, quem vê caras, (nem sempre) vê corações... Daí a razão de ser  desta seleção de retratos do nosso querido amigo e camarada que vive no Fundão. São da da sua coleção "Fotos Falantes II"... A numeração, arbitrária, é nossa. Bem como a sau edição... E intencionalmente não lhe acrescentámos legendas... Fica o desafio para os nossos leitores... (LG)

O nosso "senador" no Fundão, em 2007. Foto de LG.

2. Excerto de um depoimento do Torcato Mendonça, publicado em 28/2/2015:

(...) "Sim, mudei muito"!  Digo-te porquê. Antes de ser militar, fui estudante e nalguns intervalos fiz 'diversos'. Caçado, sem esperar, pela tropa, aí talvez na especialidade comecei a sofrer uma metamorfose. Aos poucos, e já mais na Guiné, o rapaz alegre e 'bon vivant' foi-se ou, porque não, apagou-se mesmo. (...)

Quando vim, nada ou muito pouco restava do outro. Deram-me várias opções de escolha de vida.

Fui sentindo os anos passarem por mim, os meus filhos crescendo. A guerra estava guardada e, de quando em vez, saltitava para o presente e depois de amansada ia-se. Tratava-a com cuidado e sentia que nunca mais voltara de todo, em grande parte talvez. Nem isso. Fisicamente fui envelhecendo, como é natural. Apressado por “aquilo” e pelas cicatrizes físicas.

Optei, já o tinha feito em parte, e deixei a adaptação correr. O meu mentor, o meu companheiro- amigo, esse meu melhor amigo, esse homem que me deu o ser e muito saber, um dia morreu-me. Chorei nesse dia e compreendi que ainda sabia chorar. Mas tinha mudado muito.

Mais forte, a parte psicológica foi de certeza a de estabilização mais difícil. Nunca estabilizará. Por isso hoje, velho aos 70 anos, com a saúde (ou falta dela) a mostrar os rombos na carcaça nada tem a ver com a hipotética entrada normal na velhice. (...)

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Nota do editor:

Ùltimos postes da série:

30 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13669: Selfies / autorretratos (3): Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses (Juvenal Amado)

22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav,

22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)

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