Inflexão: O pecado de Juncker e o servilismo dos cães de fila

14-04-2019
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Estas
últimas semanas confirmam que não estaremos longe da realidade se dissermos que
os últimos sete anos ficarão profundamente inscritos na história social e
política da europa. A forma como a crise financeira foi habilmente transformada
pela elite europeia numa crise das dívidas soberanas, fez com que se operasse
uma profunda mudança na relação de forças à escala europeia, que se
traduziu num ataque sem precedentes a todos os direitos sociais, económicos,
culturais e políticos conquistados principalmente no século XX. Estes sete anos
representaram essa mudança de paradigma, em que austeridade se consubstanciou
enquanto filosofia integradora da maior regressão civilizacional de que muitos
e muitas teremos memória.

Mas
se este processo de regressão civilizacional em curso teve consequências
sociais brutais, a loucura europeia destes anos teve também consequências
políticas arrasadoras. Os chamados partidos socialistas protagonizaram uma
impressionante viragem à direita sendo protagonistas, aliados ou submissos de
todas as políticas de austeridade destes anos. Voltámos a ter que lidar com a
brutal ameaça das organizações fascistas e de extrema-direita. E assistimos
agora a uma recomposição na esquerda com um conjunto de partidos com um
programa anti-austeritário e de desobediência às instituições europeias que
conseguem ser maioritários nos seus países.

Era
impossível que os burocratas europeus assistissem sem reação a este furacão
político. Depois do governo do Syriza na Grécia ter colocado pela primeira vez
a hipótese de uma alternativa política de esquerda vencer na europa e depois do
governo alemão ter assumido que é ele quem dirige a política europeia,
Jean-Claude Juncker veio num tom surpreendente afirmar que “pecámos contra a
dignidade dos povos, especialmente da Grécia, em Portugal e na Irlanda”
referindo inclusive que “falta legitimidade democrática à troika”. De facto, só
podemos valorizar a autocrítica de Juncker : “Eu era presidente do Eurogrupo e
pareço estúpido em dizer isto, mas há que tirar lições da história e não
repetir erros”.

Quais
serão estas lições e qual a sua tradução política imediata? 

Vai
a Comissão Europeia tomar todas as diligências para que o governo grego possa
cumprir o programa político que foi democraticamente sufragado? Vai a Comissão
Europeia enfrentar a absurda posição alemã que consiste em dizer que as
eleições não contam para nada porque a Grécia só pode implementar mais
políticas de austeridade? Tenho dúvidas. Mas se a autocrítica tardia de Juncker
nos deve impressionar, o que foi mesmo arrebatador foi a reação das autoridades
portuguesas a esta declaração e ao estado de negociação entre a Grécia e a
europa. 

Luís
Marques Guedes irritou-se e foi direito ao assunto: “Acho, manifestamente, que
é uma declaração bastante infeliz do presidente da Comissão Europeia, porque
nunca a dignidade de Portugal ou dos portugueses foi beliscada pela troika ou
qualquer das suas instituições”. Nunca, jamais, em tempo algum. A profunda
crise social que Portugal vive nem sequer beliscou a dignidade de quem vive e
trabalha em Portugal.

Maria
Luís Albuquerque mostrou-se imensamente indignada pelo facto dos jornalistas só
lhe fazerem perguntas pela Grécia e não quererem saber nada sobre o seu milagre
da multiplicação. Isto é, num dia ter dito que não há dinheiro para investimento
e criação de emprego e no dia seguinte ter encontrado 14 mil milhões de euros
no fundo pote para pagar ao FMI em antecipado.

Cavaco
Silva enfureceu-se e à saída de uma feira rural onde não devia haver bolo-rei
para todos, decidiu dar declarações para dizer que os contribuintes portugueses
já pagaram o suficiente da irresponsabilidade do povo grego. Felizmente falta
pouco tempo para este senhor voltar para a sua marquise.

Paulo Portas, no seu estilo de chico
esperto, alternou entre o argumento de que “foi a dignidade dos portugueses, o
esforço e o sacrifício” que permitiu a recuperação do país (?!) e ao mesmo
tempo lembrou que classificou muitas vezes a situação de Portugal como a de um
protetorado.

Passos
Coelho, depois de ter mandado Maria Luís Albuquerque fazer serventia a
Schäuble, afirmou esta sexta-feira no parlamento de que não apoiará nenhuma
proposta que beneficie o povo grego e o povo europeu porque “não foi eleito
para defender os interesses do Syriza”.

Esta
elite de radicais que dirige Portugal só nos pode fazer sentir vergonha alheia.
Portaram-se estes dias como autênticos cães de fila bem treinados. Só que
daqueles que levam porrada dos donos a toda a hora e, ainda assim, voltam
sempre para o seu colo com um sorriso nos beiços.

O
seu tempo será curto. Tic-tac. Tic-tac. 

Estas
últimas semanas confirmam que não estaremos longe da realidade se dissermos que
os últimos sete anos ficarão profundamente inscritos na história social e
política da europa. A forma como a crise financeira foi habilmente transformada
pela elite europeia numa crise das dívidas soberanas, fez com que se operasse
uma profunda mudança na relação de forças à escala europeia, que se
traduziu num ataque sem precedentes a todos os direitos sociais, económicos,
culturais e políticos conquistados principalmente no século XX. Estes sete anos
representaram essa mudança de paradigma, em que austeridade se consubstanciou
enquanto filosofia integradora da maior regressão civilizacional de que muitos
e muitas teremos memória.

Mas
se este processo de regressão civilizacional em curso teve consequências
sociais brutais, a loucura europeia destes anos teve também consequências
políticas arrasadoras. Os chamados partidos socialistas protagonizaram uma
impressionante viragem à direita sendo protagonistas, aliados ou submissos de
todas as políticas de austeridade destes anos. Voltámos a ter que lidar com a
brutal ameaça das organizações fascistas e de extrema-direita. E assistimos
agora a uma recomposição na esquerda com um conjunto de partidos com um
programa anti-austeritário e de desobediência às instituições europeias que
conseguem ser maioritários nos seus países.

Era
impossível que os burocratas europeus assistissem sem reação a este furacão
político. Depois do governo do Syriza na Grécia ter colocado pela primeira vez
a hipótese de uma alternativa política de esquerda vencer na europa e depois do
governo alemão ter assumido que é ele quem dirige a política europeia,
Jean-Claude Juncker veio num tom surpreendente afirmar que “pecámos contra a
dignidade dos povos, especialmente da Grécia, em Portugal e na Irlanda”
referindo inclusive que “falta legitimidade democrática à troika”. De facto, só
podemos valorizar a autocrítica de Juncker : “Eu era presidente do Eurogrupo e
pareço estúpido em dizer isto, mas há que tirar lições da história e não
repetir erros”.

Quais
serão estas lições e qual a sua tradução política imediata? 

Vai
a Comissão Europeia tomar todas as diligências para que o governo grego possa
cumprir o programa político que foi democraticamente sufragado? Vai a Comissão
Europeia enfrentar a absurda posição alemã que consiste em dizer que as
eleições não contam para nada porque a Grécia só pode implementar mais
políticas de austeridade? Tenho dúvidas. Mas se a autocrítica tardia de Juncker
nos deve impressionar, o que foi mesmo arrebatador foi a reação das autoridades
portuguesas a esta declaração e ao estado de negociação entre a Grécia e a
europa. 

Luís
Marques Guedes irritou-se e foi direito ao assunto: “Acho, manifestamente, que
é uma declaração bastante infeliz do presidente da Comissão Europeia, porque
nunca a dignidade de Portugal ou dos portugueses foi beliscada pela troika ou
qualquer das suas instituições”. Nunca, jamais, em tempo algum. A profunda
crise social que Portugal vive nem sequer beliscou a dignidade de quem vive e
trabalha em Portugal.

Maria
Luís Albuquerque mostrou-se imensamente indignada pelo facto dos jornalistas só
lhe fazerem perguntas pela Grécia e não quererem saber nada sobre o seu milagre
da multiplicação. Isto é, num dia ter dito que não há dinheiro para investimento
e criação de emprego e no dia seguinte ter encontrado 14 mil milhões de euros
no fundo pote para pagar ao FMI em antecipado.

Cavaco
Silva enfureceu-se e à saída de uma feira rural onde não devia haver bolo-rei
para todos, decidiu dar declarações para dizer que os contribuintes portugueses
já pagaram o suficiente da irresponsabilidade do povo grego. Felizmente falta
pouco tempo para este senhor voltar para a sua marquise.

Paulo Portas, no seu estilo de chico
esperto, alternou entre o argumento de que “foi a dignidade dos portugueses, o
esforço e o sacrifício” que permitiu a recuperação do país (?!) e ao mesmo
tempo lembrou que classificou muitas vezes a situação de Portugal como a de um
protetorado.

Passos
Coelho, depois de ter mandado Maria Luís Albuquerque fazer serventia a
Schäuble, afirmou esta sexta-feira no parlamento de que não apoiará nenhuma
proposta que beneficie o povo grego e o povo europeu porque “não foi eleito
para defender os interesses do Syriza”.

Esta
elite de radicais que dirige Portugal só nos pode fazer sentir vergonha alheia.
Portaram-se estes dias como autênticos cães de fila bem treinados. Só que
daqueles que levam porrada dos donos a toda a hora e, ainda assim, voltam
sempre para o seu colo com um sorriso nos beiços.

O
seu tempo será curto. Tic-tac. Tic-tac. 

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