A história de Mané e Zezito

20-11-2015
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Manuela Ferreira Leite e José Sócrates detestam-se. Um mundo de diferenças os separa: as origens, a formação, os interesses, as crenças, a política, os gostos e, até, os clubes. Ambos divorciados, ambos teimosos, ambos intolerantes, são tão parecidos como os pólos opostos de uma bateria. Percorra as linhas paralelas das suas vidas e anteveja o embate eleitoral que se avizinha. Depois, venham os portugueses e escolham

Aos lábios de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, nascido faz 52 anos no próximo dia 6 de Setembro, bem poderiam aflorar, por estes dias, umas conhecidas estrofes de Cesário Verde, poeta que o primeiro-ministro admira mais ou menos secretamente e de quem é capaz de recitar sem teleponto. uma boa meia dúzia de poesias.

Olhando para Manuela Ferreira Leite, cada vez mais ameaçadora, depois da vitória do PSD, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, vêm a propósito os primeiros versos de Deslumbramentos: "Milady, é perigoso contemplá-la/ quando passa aromática e normal/ Com seu tipo tão nobre e tão de sala/ com seus gestos de neve e de metal." Apoiado numa longa maioria absoluta de quatro anos e meio, que lhe deixou os cabelos mais grisalhos e a silhueta, orgulhosamente conservada desde os 20 anos, um pouco mais cheia, o poderoso líder do PS, e do País, vê-se na contingência de perder o poder para uma senhora "de metal", politicamente fria, quase septua-genária, que mal conhece, e com quem nunca trocou outras palavras que não as da circunstância institucional. Manuela Ferreira Leite, que completará 69 anos a 7 de Dezembro, ex-braço-direito de Cavaco Silva no Banco de Portugal e no governo de Sá Carneiro, antiga ministra da Educação de um governo de Cavaco e de Estado e das Finanças no de Durão Barroso, provoca em Sócrates uma reacção gelada, inexplicável, de pele, por representar tudo o que o primeiro-ministro detesta, como, a seu tempo, veremos.

Manuela já tinha desistido destas andanças quando, em Maio de 2008, foram buscá-la à vitrina dos notáveis embalsamados do PSD, num apelo vital ao seu espírito de missão a que, como católica devota, nunca virara, antes, a cara. Extorquiram-na à sua reforma de consultora do Banco de Portugal e administradora não executiva do Banco Santander, arrancaram-na aos seus três filhos Nuno, agora com 36 anos, economista, João, 33, advogado, e Ana, 30, também economista e aos quatro netos, de quem, avó-galinha, tomava conta, nas ausências dos pais. E pediram-lhe que salvasse um PSD exangue por três anos de lutas intestinas e batesse o "invencível" José Sócrates, nas legislativas de 2009.

A bem dizer, à parte este desafio, nada os une, nenhuma coincidência os aproxima, nenhum amigo ou inimigo em comum os irmana ou antagoniza, nenhuma actividade, interesse ou hóbi os relaciona.

Nem a idade, nem a escola, nem a formação, nem as origens, nem o percurso profissional, nem a carreira política, nem os gostos, nem os gestos, nem as referências, nem a religião, nem o clube, nem o signo.

Sócrates ostenta a intransigência e a meticulosidade dos virginianos e Manuela o positivismo e o arrebatamento dos sagitarianos.

E até os antepassados os separam: o bisavô de Manuela, José Dias Ferreira, lente de Direito da Universidade de Coimbra, foi ministro da Fazenda como a bisneta seria das Finanças, mais de um século depois e presidente do Conselho do rei D. Carlos. Já o tio-bisavô de Sócrates, Manuel Pinto de Sousa, fundador do jornal Estrela do Minho e da tipografia Minerva, era um irredutível republicano liberal.

E, no entanto, pontos há, nestes aparentes extremos de personalidade e de histórias de vida, que se tocam. Ambos são divorciados, os dois têm fama de teimosos ou determinados e um e outro partilham a mesma hipersensibilidade à crítica e a aversão à comunicação social. A Mané e o Zezito, nomes familiares de juventude com que, amiúde, passarão aqui a ser tratados, são, no fundo, sanguíneos, cortantes e, se preciso for, arrogantes.

A PROFECIA DOS CARAPAUS

Que o diga o Presidente da República, que é um amigo pessoal da líder do PSD, e que a trouxe para a política, também ele vítima da frieza da "dama-de-ferro" portuguesa.

Esta é a história de uma desconsideração, até agora não contada, que Cavaco terá perdoado mas não esqueceu. Em Abril de 2008, na Madeira, dias antes da apresentação da candidatura de Manuela à liderança "laranja", o PR foi sondado por Alberto João Jardim: "Então, a sua amiga Manuela Ferreira Leite, sempre se candidata, ou quê?" E Cavaco, seguro do seu direito a informação privilegiada, numa resposta que, poucos dias depois, o faria perder a face perante o cáustico líder regional: "Duvido.

Se se candidatasse, eu já saberia." No dia seguinte, um domingo, em casa do Presidente, à volta de uns carapauzinhos fritos (especialidade de Maria Cavaco Silva), e enquanto ouviam a prédica dominical de Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira-dama deu mostras da proverbial intuição feminina: "Olha que ela vai candidatar-se. Se ela, amanhã, não for à festa de anos de fulano [um amigo comum], é porque se candidata mesmo, e anda a esconder." No dia seguinte, com a mesma finta de corpo com que driblou Cavaco Silva, e após gravar o programa em que participava, na Rádio Renascença, Falar Claro, Manuela evitou os repórteres que a aguardavam à porta da estação e escapou pela garagem, baixando a cabeça, no carro de Ribeiro Cristóvão, motorista improvisado. O veterano jornalista da emissora católica, e amigo político, ainda sugerira: "Mas porque é que não aproveitou para anunciar a sua candidatura aos microfones da Renascença?" E ela, cortante: "Não. Vou anunciar à Lusa. Eu sei separar as coisas." E foi o que fez.

A sua aversão a jornalistas e à comunicação social em geral só tem paralelo na que José Sócrates também sente. Manuela prefere não ler jornais e quase ignora o que se escreve sobre ela, que considera não ter a mínima influência na opinião pública. Sócrates repete uma das suas frases favoritas: "Um dia perfeito é aquele em que eu não apareço nos jornais." Mas, por ser mais "político" do que Manuela, é, também, mais cauteloso. É célebre a forma como se preparava (como se fosse para um exame como o de Vasco Santana na Canção de Lisboa...) para os debates dominicais, na RTP, com Santana Lopes.

Sócrates defende que a televisão "faz e desfaz". No seu caso, "fez".

O CHEVROLET, O RAPAZ E O BURRO

Mané nasce em Lisboa, no tempo áureo do salazarismo, em 1940, com a Europa a ferro e fogo e a capital lusa engalanada com a Exposição do Mundo Português. Zezito vem ao mundo no Hospital de Santo António, no Porto, no ano em que a Alemanha Federal, a Bélgica, a França, a Holanda, a Itália e o Luxemburgo assinam os tratados de Roma e fundam a CEE. No momento em que Mané nasce, completam-se 180 dias da ocupação nazi de Paris. No ano em que Zezito solta o primeiro vagido, a Guerra Fria digere mal a invasão soviética da Hungria.

Em 1940, os alemães persistem firmes na Europa, Hitler e Estaline ainda se entendem, os americanos continuam alheios ao conflito. Em 1957, um objecto de 83 quilos, chamado Sputnik, vagueia a 934 km/hora, fazendo, em 90 minutos, a órbita terrestre e a cadela Laika submete-se a testes para embarcar, dias depois, no Sputnik 2. Em 1940 e 1957, porém, Portugal mantém-se imóvel na sua redoma e na sua modorra, uno e indivisível, do Minho a Timor. Nos 17 anos de hiato entre os nascimentos das personalidades que, em 2009, se candidatarão a chefe de Governo, António de Oliveira Salazar conduz Portugal com o mesmo pulso de ferro. Só que, se em 1940, Leitão de Barros compõe a estética do regime, num país adormecido e grato ao homem que "nos livrou da guerra", em 1957, Humberto Delgado prepara-se para varrer Portugal num carrossel de liberdade, prometendo, perante plateias entusiasmadas, que "obviamente o demite". Algo está para mudar, ainda que o país rural que Sócrates bem conhecerá, montado no simpático burrito de Vilar de Maçada, terra transmontana dos seus avós, seja mais vagaroso do que o "espada" Chevrolet em que Manuela percorre a Europa, com os pais, a irmã Júlia e o mano José (Dias Ferreira, hoje advogado, conhecido sportinguista e comentador de futebol). A segunda irmã nasce anos mais tarde, já Mané é uma jovem adulta.

Manuela atravessa, placidamente, entre viagens, dedicação aos pais e irmãos e aulas de preceptores privados, os anos 40 e 50, quando Sócrates ainda nem sequer é um anteprojecto do que virá a ser o casal Adelaide e Fernando Pinto de Sousa. Se tivermos de escolher, neste duo, qual deles foi o menino do papá, teremos de optar por Mané, a rapariga que o severo dr. Carlos Dias Ferreira manteve fechada na sua casa da Rua Filipe Folque, no centro de Lisboa, até ao 3.° ano do liceu, à custa de lições particulares com os melhores mestres. A severidade e a rédea curta que, mais tarde, a impediria, por ordem paterna, de participar na sua viagem de finalistas viriam a moldar o carácter austero e um pouco intransigente da futura "dama-de-ferro".

Rédea curta foi algo de que nunca se queixou o Zezito, mais livre e habituado, desde cedo, à condição de filho de pais separados.

É verdade que, dos 4 aos 8 anos, aquele que viria a ser primeiro-ministro e a presidir, no turno português, aos destinos de uma União Europeia nascida no seu ano, ainda se submeteu, penosamente, a lições de piano de que não lhe ficou memória. O rock'n'roll é uma "criança da sua criação" e as viagens de carro com os amigos, bem como um ou outro charro no tempo do Woodstock, fizeram parte da jornada. O Zezito defende os casamentos homossexuais e o aborto. A Mané defende a família como base da procriação.

Sócrates fintou um destino de pianista, farto das pancadas nos dedos que lhe dava a mestra Regina. Manuela remói, ainda hoje, a frustração de não ter sido médica.

Mas o dr. Carlos Dias Ferreira, sempre ele, sentenciou: "Filha minha que não vai para letras [a mana Júlia é catedrática na Faculdade de Letras de Lisboa] tem de ir para Económicas!" E ela foi.

FILHA E MÃE DE FAMÍLIA

Carlos Eugénio Dias Ferreira, o pai, e Julieta Carvalho, a mãe, eram ambos licenciados em Direito. Foi, assim, num ambiente desafogado da alta burguesia lisboeta que a Mané, muito chegada à irmã Ju (14 meses mais velha) e uma "mãezinha" para José (seis anos mais novo), que a futura líder do PSD se foi educando. Habituada ao estudo e aos livros no seu moderno apartamento do Restelo, com uma decoração arrojada, num jogo cromático de brancos e negros pouco consentâneos com o estilo saiacasaco da proprietária, tem uma biblioteca bem recheada aprendeu as primeiras letras com a avó Etelvina, antiga professora primária. O avô paterno, José, foi catedrático no antigo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) onde ela própria viria a licenciarse tendo deixado um tratado de Finanças Públicas. Apesar de lida, actualizada e esclarecida, como vemos, Mané passou ao lado de qualquer tipo de intervenção cívica, contra ou a favor do Estado Novo. A crise académica dá-se em 1962, ela obtém o diplomazinho em 1963. Apesar de cultivada e instruída, fará, anos mais tarde, os barões do PSD arrepelarem os cabelos pela sua pouca capacidade oratória, gaffes sucessivas e maus tratos ao português falado. Longe de confusões, mas muito gregária no seio da família, os seus valores foram sempre os da dedicação extrema aos seus (ainda hoje é capaz de interromper uma reunião de trabalho para acudir a um filho ou a um neto doente). A cozinha (embora um pisco a comer, muitos lhe gabam o dedo para confeccionar pratos de sabor bem português) e os lavores foram outros interesses, de onde está ausente uma actividade cultural visível. Um seu amigo e colaborador, ignorando quais os seus filmes de eleição ou restaurantes favoritos, reflecte, agora que pensa nisso, que é fácil trabalhar-se 20 anos com ela sem a conhecer verdadeiramente...

O pai controlava-lhe as leituras Camilo e Eça autores que aprecia, eram permitidos, as companhias e as saídas à rua. E formou-se no ISCEF com 16 valores, a melhor nota do seu ano. Antes, tivera as suas aulas de "ensino doméstico", em casa, recatada, com a irmã, antes de ingressar no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e, já uma barra a Matemática, no Liceu D. João de Castro.

'ÉRAMOS DE ESQUERDA!'

Os anos 60, que transformam a Mané na dra. Manuela, já a iniciar a sua vida profissional, como docente no seu ISCEF e como bolseira na Fundação Gulbenkian, quase a casar e a ser mãe, apanham um Zezito ainda de calções, durante as longas férias de Verão, a ir aos ninhos, arranhando-se nas silvas transmontanas de Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. Mané estuda, com bolsa da Gulbenkian, os "aspectos económicos da Educação"; Zezito esfola os joelhos a jogar ao berlinde. Salazar manda as tropas portuguesas para Angola e em força. Kennedy disputa com Krutchev a crise dos mísseis, em Cuba, e anuncia a ida de um americano à Lua, até ao fim da década.

Um pouco lunático, o pai de Zezito baptizara o filho com um nome grego.

Na Conservatória do Registo Civil, ainda levou à certa o conservador que, embora hesitante, deixou passar a homenagem ao grande filósofo. Cinco anos mais tarde, o irmão, que era para se chamar António Platão, já não passou no crivo, e ficou António José. Os amigos de Sócrates brincarão com ele, anos mais tarde, enquanto assistem, em grupo, aos jogos da equipa maravilha do Brasil, no Mundial de 1982, em que pontificam jogadores como Zico, Eder, Falcão e... Sócrates.

Com a separação de facto, a mãe, Adelaide, que mais tarde viria a encontrar conforto espiritual no seio das Testemunhas de Jeová e, por motivos religiosos, nunca votou..., ficou a morar em Vila Real. E o pai, Fernando, arquitecto, mudou-se para a Covilhã, levando consigo o Zezito, que ali fez a primária e onde conheceu aquele que viria a entusiasmá-lo para a política, Jorge Patrão, irmão de Luís Patrão, o futuro chefe de gabinete de António Guterres, no Governo de 1995. Sem mais sobressaltos do que os mergulhos no Pinhão, em Vilar (onde ainda o recordam com simpatia, por haver dele a memória de um catraio comunicativo e educado), ou as temporadas na Praia de Buarcos, onde se apresentava com um farnel diário de quatro pães e uma resma de livros de cowboys, Zezito começa a destacar-se nas disciplinas de Matemática (que lhe molda o espírito metódico e o discurso rectilíneo), Filosofia (que o desperta para leituras de alguns clássicos e lhe faz jus ao nome) e Desenho (vocação essencial para o bacharelato como engenheiro técnico civil). Domingos Rijo, reitor e professor de Matemática no Liceu da Covilhã, depois Escola Secundária Frei Heitor Pinto, dizia dele que podia ter melhor notas, mas só estudava para o "Bom" e não era aplicadinho.

O 25 de Abril apanha-o a completar o liceu. Deriva para Coimbra, onde ingressa no recém-criado Instituto Superior de Engenharia.

Ali se faz, em 1979, engenheiro técnico. Anos mais tarde, de um currículo alegadamente enviado à AR, como deputado, constaria como "engenheiro civil".

(Licenciatura que, também de forma polémica, pelas supostas facilidades na sua obtenção, viria a completar na nossa conhecida Universidade Independente).

De Coimbra ficam as memórias de alguma boémia, sobretudo na discoteca Etc e no café Piza, dos óculos de massa grossa de que nunca gostou e lhe atrapalhavam as conquistas femininas (faria, mais tarde, uma intervenção cirúrgica, com laser, à miopia) e da iniciação política, primeiro na JSD (sol de pouca dura, até à cisão de Emídio Guerreiro, ainda em 1975) e, mais tarde, já formado e a trabalhar na Câmara da Covilhã, no PS. Jorge Patrão, companheiro desses tempos, sintetiza. "Éramos de esquerda!"

O TIROCÍNIO DE ZEZITO...

Zezito reaproxima-se da mãe, Adelaide, e dos irmãos, Ana Maria (que viria a falecer num estúpido acidente) e Tozé, já todos a morar em Cascais. Chega da província, sem preocupações de imagem e muito diferente do galã bem vestido que ficará em 6.° lugar num ranking mundial de homens públicos elegantes, em 2008. A sua estudada pose dos anos vindouros será construída na base do instinto de sobrevivência: "Quem quiser singrar na política, em Lisboa, e venha da província, tem de ser muito mais talentoso do que as pessoas de lá. Todos o observarão, para ver se sabe estar, se tem modos, se sabe pisar." Esta desconfiança de camponês marcar-lo-á, para sempre, nas difíceis relações com um mundo mediático que considera hostil. O rapaz que passeava na burra da tia Lucinda, em Trásos-Montes, transforma-se no cosmopolita que encomenda fettuccines no restaurante Mezzaluna. O Zezito que se agasalhava no casaquinho de malha transforma-se no eng.° Sócrates, de blaser Hugo Boss sobre T-shirt escura. E, agora sim, está na sua verdadeira pele. A actual deputada europeia Edite Estrela, que teve curiosidade em conhecê-lo quando ouviu Guterres elogiar o seu desempenho político em Castelo Branco, ficando sua amiga até hoje, lembravalhe que "estética rima com ética". O novo Zezito lê livros seleccionados de Ecologia e Filosofia Política e de História do Século XX, fixa as máximas e ensinamentos que podem interessar em debates, entrevistas ou simples conversas e dispara citações de Bernstein ou Karl Popper. Mundanizase.

O treino ser-lhe-á precioso, como político profissional a representar Portugal na União Europeia: é o inventor de uma fórmula de comunicação que lhe permite definir as prioridades da presidência portuguesa num discurso de 35 minutos ou numa declaração de 20 segundos.

Começara este processo de auto-aprendizagem em 1980, nas faldas da revolução.

O País acalma. Mário Soares lidera os primeiros governos constitucionais. Depois, o tufão Sá Carneiro-AD varre Portugal. Na Covilhã, e na distrital socialista de Castelo Branco, Sócrates resiste e faz crescer o PS.

Por essa altura, Manuela Ferreira Leite efectua a sua primeira aproximação à política.

... E A INICIAÇÃO DE MANÉ

Já não era sem tempo. Mané tem agora 40 anos e a sua conversão serôdia faz-se pela mão do amigo Aníbal Cavaco Silva, com quem se cruzara ainda no velho ISCEF, actual ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão). Ele, que já a convencera a integrar o gabinete de Estudos no Banco de Portugal, levava-a, agora, para sua chefe de gabinete, no Ministério das Finanças do Governo da AD, presidido por Sá Carneiro.

Mané demora, porém, a aderir ao PSD, o que faz em 1985, com Cavaco na liderança.

Entra no governo só em 1990, como secretária de Estado do Orçamento, onde se mantém até à conquista da segunda maioria absoluta. Estreita as relações pessoais e políticas com o líder. O País rende-se ao político de Boliqueime e ela, com outro grupo de mulheres, Isabel Mota, Teresa Gouveia, Leonor Beleza, formam uma vanguarda feminina do regime (que se manterá unida para lá do período de validade da hegemonia "laranja", quando passam a ser conhecidas como "as viúvas do cavaquismo"). É em 1991 que é eleita, pela primeira vez, para a Assembleia da República. E é em 1991 que a estrelinha de José Sócrates começa a brilhar.

Declarando-se "chocado" com a derrota humilhante do PS de Jorge Sampaio, António Guterres inicia a sua cavalgada rumo à liderança socialista. José Sócrates emerge, então, ao lado de nomes como Laurentino Dias (actual secretário de Estado do Desporto), Carlos Zorrinho (agora mentor do plano Tecnológico), Armando Vara (oriundo da esfera gamista e hoje administrador do BCP), António José Seguro, mais novo, à frente da JS, e, sobretudo, Jorge Coelho, como um dos "sub-40" de Guterres. O futuro "Luís Figo" desta "geração de ouro" socialista, grupo que levará Guterres ao poder em dois mandatos sucessivos, aparece como especialista na área ambiental.

Percebe-se já a noção do timing, que tanto jeito dará a Sócrates quando, 13 anos mais tarde, chegar, por sua vez, à liderança.

O Ambiente será uma das poucas áreas que, no futuro, continuará a permitir a intervenção do Estado, num mundo cada vez mais neoliberal. E a vaga está aberta, dentro do PS. Sócrates, deputado desde 1987 (eleito quando Cavaco conseguiu a primeira maioria), faz a operação aos olhos, frequenta os círculos da capital, lê cada vez mais e procura valorizar a sua formação académica. Primeiro, matriculando-se no curso de Direito da Universidade Lusíada, de que desiste. Depois, frequentando um curso de Engenharia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública. Para mais tarde, estará reservada a inscrição no ISEL e na Independente (onde terminará a polémica licenciatura em Engenharia Civil) e o MBA em Gestão de Empresas, pelo ISCTE. Entretanto, casa e torna-se pai de dois filhos, José Miguel e Eduardo, hoje com 15 e 13 anos, respectivamente.

PERCURSOS EM CONFRONTO

Na balança dos percursos profissionais pesa mais Ferreira Leite, como docente, economista e académica, com obra realizada e trabalhos publicados quase sempre no quadro da Administração Pública ou em instituições do Estado.

Já os percursos governativos de ambos, embora em áreas diferentes, têm em comum o facto de começarem de baixo para cima, numa ascensão fulgurante. Com Cavaco, Mané será secretária de Estado do Orçamento, secretária de Estado adjunta e do Orçamento e ministra da Educação.

Com Guterres, Zezito será secretário de Estado adjunto do ministro do Ambiente, ministro-adjunto com as tutelas da Toxicodependência, Juventude e Desporto e ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Neste campo, a balança tende a favor de Zezito, com obra governativa mais visível, nos múltiplos projectos de defesa do consumidor (por vezes afrontando bancos, seguradoras e operadoras de telecomunicações), na guerra da co-incineração e na conquista, para Portugal, da organização do Euro 2004.

Anos depois, numa viagem a bordo do Falcon, a caminho de uma cimeira ibero--americana, dir-nos-á que o segredo da liderança política está na capacidade de controlar a agenda, de a marcar e de antecipar os passos do adversário. Sábia lição de quem aproveitou o lugar deixado vago por Ferro Rodrigues e a aventura governativa de Pedro Santana Lopes, para chegar, ver e vencer. Sem adversário interno credível (apesar da concorrência dos esforçados Manuel Alegre e João Soares), toma conta do PS, em 2004. Pouco depois, o País cai-lhe aos pés, sem que se tenha desgastado na oposição. Sorte pura, feeling, ou os sábios conselhos de seu pai, Fernando Pinto de Sousa, com quem se abriu, ainda e sempre na velha aldeia de Vilar de Maçada, naquele Verão 2004, de política e de futebol. E onde decidiu a sua vida.

O INFINITO EXISTE

Ferreira Leite, primeira mulher a liderar um partido, em Portugal, é, paradoxalmente, criticada pelo seu fraco faro político e insensibilidade partidária. O espírito prático não a deixa ter excessiva consideração pelos seus concidadãos, de quem diz que basta terem os bolsos cheios para andarem contentes. A sua genuinidade, que aponta como trunfo, recusando a especialistas ou conselheiros o burilar da imagem ou do discurso, pode não ser, necessariamente, uma virtude, se se concluir que tanta autenticidade pode revelar incapacidade de adaptação, preguiça mental ou falta de humildade. Em matéria de teimosia e má catadura ser-lhe-á difícil descolar de José Sócrates.

Parecidos? Tanto quanto o são os pólos opostos de uma bateria. De Sócrates, Mané diz que chegou a primeiro-ministro por acidente e não lhe reconhece sentido de Estado. "Eu não acabei o curso ao domingo nem sou engenheira a brincar", deixou escapar um dia. De Manuela, Zezito pensa que se trata de uma personalidade difícil, retrógrada e imobilista, a verdadeira face do retrocesso civilizacional.

Sócrates mantém um PS domado, até que o partido perceba que o líder, em vez de fazer parte da solução, se tornou o problema o que, depois do caso Freeport, já esteve mais longe de acontecer. Manuela depara-se com um PSD desassossegado, desejoso de se ver livre dela, se falhar, do mesmo modo que se quis ver livre de todos os líderes que falharam. Os caminhos de Mané e Zezito seguem, pois, no fio da navalha, o percurso de duas linhas paralelas que só se encontram no infinito. E o infinito existe. Chega daqui a um mês, a 27 de Setembro, quando os portugueses escolherem. Ou um ou outro.

À lupa: Segredos... e feitios

>> MANUELA FERREIRA LEITE

HÁBITOS

Adepta do Sporting (mas os filhos saíram benfiquistas).

Dedicada à família. Cozinha.

Mantém um velho Volkswagen Polo. Pratica soduku. O colar de que nunca se separa pertenceu à sua mãe. Frequenta a missa dominical. Forreta, prefere produtos de marca branca e compara preços no supermercado, onde vai frequentemente.

TRABALHO

Exigente, tem um bom relacionamento com os colaboradores, de quem fixa as datas de aniversário e a quem pergunta "pela dor de cabeça" da esposa.

PARTICULARIDADES

Despreza técnicas de comunicação e vetou cartazes do PSD mais ousados ou imaginativos. Diverte-se com as piadas sobre si própria, que povoam a blogosfera. Odeia andar de avião.

VIRTUDES E DEFEITOS

Boa mãe e avó, sentido de responsabilidade, profissionalismo, seriedade.

Intolerância, espírito vingativo, isolamento nas decisões e teimosia.

AMIGOS NO PSD

Pacheco Pereira (principal conselheiro e ghost writer), Susana Toscano, Castro Almeida, Luís Marques Guedes, José Pedro Aguiar Branco, Paulo Rangel, Carlos Coelho, Marco Almeida, José Matos Correia. A amizade com Helena Lopes da Costa e a gratidão para com António Preto, crucial na vitória quando ela foi eleita presidente da distrital de Lisboa, explicarão o seu empenho em incluí-los nas listas de deputados.

'INIMIGOS' NO PSD

Pedro Passos Coelho, Luís Filipe Menezes, muitos "barões" das distritais. Pedro Santana Lopes (agora em acordo tácito por via da candidatura a Lisboa) está integrado. Luís Marques Mendes afastou-se.

>> JOSÉ SÓCRATES

HÁBITOS

Torce pelo Benfica. Pratica jogging e é fanático pelo esqui.

É apreciador de vinho tinto, comida italiana e japonesa. É fã de BD, sobretudo da Mafalda e de Calvin & Hobbes. Possui um Mercedes que raramente conduz. Gosta de vestir Hugo Boss e tem uma vasta colecção de camisas. Prefere as gravatas lisas e fi nas, de cores sóbrias, sobre camisa branca. Personaliza os ambientes de trabalho e tem, em São Bento, um boneco do anão Zangado (dos sete anões), oferecido por assessores, a quem não escapou a afi nidade de personalidades.

TRABALHO

Exige dedicação 24 horas por dia e liga aos assessores, se necessário for ou mesmo que não seja. às 3 ou 4 horas da manhã.

PARTICULARIDADES

Tem tendência a tratar por tu toda a gente. Começa muitas das frases dos discursos de improviso pelo advérbio de modo "verdadeiramente". Deixou de fumar mas, de vez em quando, recai.

Gosta de citar Bernstein, "O reino da democracia é o do compromisso", e Fernando Pessoa: "Não temo o que virá. Venha o que vier nunca será maior do que a minha alma." De si próprio disse um dia que, achando que tem razão, torna-se um "animal feroz".

VIRTUDES E DEFEITOS

Lealdade, capacidade em apreender os assuntos à primeira, prodigiosa memória, sentido de humor.

Teimosia, intolerância, incapacidade para ouvir críticas, irritabilidade fácil.

AMIGOS NO PS

António Guterres, António Vitorino (conselheiro principal), Edite Estrela, Armando Vara, Pedro Silva Pereira, Jorge Coelho.

'INIMIGOS' NO PS

Manuel Alegre, António José Seguro, Francisco Assis, Manuel Maria Carrilho, Vítor Ramalho.

Manuela Ferreira Leite e José Sócrates detestam-se. Um mundo de diferenças os separa: as origens, a formação, os interesses, as crenças, a política, os gostos e, até, os clubes. Ambos divorciados, ambos teimosos, ambos intolerantes, são tão parecidos como os pólos opostos de uma bateria. Percorra as linhas paralelas das suas vidas e anteveja o embate eleitoral que se avizinha. Depois, venham os portugueses e escolham

Aos lábios de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, nascido faz 52 anos no próximo dia 6 de Setembro, bem poderiam aflorar, por estes dias, umas conhecidas estrofes de Cesário Verde, poeta que o primeiro-ministro admira mais ou menos secretamente e de quem é capaz de recitar sem teleponto. uma boa meia dúzia de poesias.

Olhando para Manuela Ferreira Leite, cada vez mais ameaçadora, depois da vitória do PSD, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, vêm a propósito os primeiros versos de Deslumbramentos: "Milady, é perigoso contemplá-la/ quando passa aromática e normal/ Com seu tipo tão nobre e tão de sala/ com seus gestos de neve e de metal." Apoiado numa longa maioria absoluta de quatro anos e meio, que lhe deixou os cabelos mais grisalhos e a silhueta, orgulhosamente conservada desde os 20 anos, um pouco mais cheia, o poderoso líder do PS, e do País, vê-se na contingência de perder o poder para uma senhora "de metal", politicamente fria, quase septua-genária, que mal conhece, e com quem nunca trocou outras palavras que não as da circunstância institucional. Manuela Ferreira Leite, que completará 69 anos a 7 de Dezembro, ex-braço-direito de Cavaco Silva no Banco de Portugal e no governo de Sá Carneiro, antiga ministra da Educação de um governo de Cavaco e de Estado e das Finanças no de Durão Barroso, provoca em Sócrates uma reacção gelada, inexplicável, de pele, por representar tudo o que o primeiro-ministro detesta, como, a seu tempo, veremos.

Manuela já tinha desistido destas andanças quando, em Maio de 2008, foram buscá-la à vitrina dos notáveis embalsamados do PSD, num apelo vital ao seu espírito de missão a que, como católica devota, nunca virara, antes, a cara. Extorquiram-na à sua reforma de consultora do Banco de Portugal e administradora não executiva do Banco Santander, arrancaram-na aos seus três filhos Nuno, agora com 36 anos, economista, João, 33, advogado, e Ana, 30, também economista e aos quatro netos, de quem, avó-galinha, tomava conta, nas ausências dos pais. E pediram-lhe que salvasse um PSD exangue por três anos de lutas intestinas e batesse o "invencível" José Sócrates, nas legislativas de 2009.

A bem dizer, à parte este desafio, nada os une, nenhuma coincidência os aproxima, nenhum amigo ou inimigo em comum os irmana ou antagoniza, nenhuma actividade, interesse ou hóbi os relaciona.

Nem a idade, nem a escola, nem a formação, nem as origens, nem o percurso profissional, nem a carreira política, nem os gostos, nem os gestos, nem as referências, nem a religião, nem o clube, nem o signo.

Sócrates ostenta a intransigência e a meticulosidade dos virginianos e Manuela o positivismo e o arrebatamento dos sagitarianos.

E até os antepassados os separam: o bisavô de Manuela, José Dias Ferreira, lente de Direito da Universidade de Coimbra, foi ministro da Fazenda como a bisneta seria das Finanças, mais de um século depois e presidente do Conselho do rei D. Carlos. Já o tio-bisavô de Sócrates, Manuel Pinto de Sousa, fundador do jornal Estrela do Minho e da tipografia Minerva, era um irredutível republicano liberal.

E, no entanto, pontos há, nestes aparentes extremos de personalidade e de histórias de vida, que se tocam. Ambos são divorciados, os dois têm fama de teimosos ou determinados e um e outro partilham a mesma hipersensibilidade à crítica e a aversão à comunicação social. A Mané e o Zezito, nomes familiares de juventude com que, amiúde, passarão aqui a ser tratados, são, no fundo, sanguíneos, cortantes e, se preciso for, arrogantes.

A PROFECIA DOS CARAPAUS

Que o diga o Presidente da República, que é um amigo pessoal da líder do PSD, e que a trouxe para a política, também ele vítima da frieza da "dama-de-ferro" portuguesa.

Esta é a história de uma desconsideração, até agora não contada, que Cavaco terá perdoado mas não esqueceu. Em Abril de 2008, na Madeira, dias antes da apresentação da candidatura de Manuela à liderança "laranja", o PR foi sondado por Alberto João Jardim: "Então, a sua amiga Manuela Ferreira Leite, sempre se candidata, ou quê?" E Cavaco, seguro do seu direito a informação privilegiada, numa resposta que, poucos dias depois, o faria perder a face perante o cáustico líder regional: "Duvido.

Se se candidatasse, eu já saberia." No dia seguinte, um domingo, em casa do Presidente, à volta de uns carapauzinhos fritos (especialidade de Maria Cavaco Silva), e enquanto ouviam a prédica dominical de Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira-dama deu mostras da proverbial intuição feminina: "Olha que ela vai candidatar-se. Se ela, amanhã, não for à festa de anos de fulano [um amigo comum], é porque se candidata mesmo, e anda a esconder." No dia seguinte, com a mesma finta de corpo com que driblou Cavaco Silva, e após gravar o programa em que participava, na Rádio Renascença, Falar Claro, Manuela evitou os repórteres que a aguardavam à porta da estação e escapou pela garagem, baixando a cabeça, no carro de Ribeiro Cristóvão, motorista improvisado. O veterano jornalista da emissora católica, e amigo político, ainda sugerira: "Mas porque é que não aproveitou para anunciar a sua candidatura aos microfones da Renascença?" E ela, cortante: "Não. Vou anunciar à Lusa. Eu sei separar as coisas." E foi o que fez.

A sua aversão a jornalistas e à comunicação social em geral só tem paralelo na que José Sócrates também sente. Manuela prefere não ler jornais e quase ignora o que se escreve sobre ela, que considera não ter a mínima influência na opinião pública. Sócrates repete uma das suas frases favoritas: "Um dia perfeito é aquele em que eu não apareço nos jornais." Mas, por ser mais "político" do que Manuela, é, também, mais cauteloso. É célebre a forma como se preparava (como se fosse para um exame como o de Vasco Santana na Canção de Lisboa...) para os debates dominicais, na RTP, com Santana Lopes.

Sócrates defende que a televisão "faz e desfaz". No seu caso, "fez".

O CHEVROLET, O RAPAZ E O BURRO

Mané nasce em Lisboa, no tempo áureo do salazarismo, em 1940, com a Europa a ferro e fogo e a capital lusa engalanada com a Exposição do Mundo Português. Zezito vem ao mundo no Hospital de Santo António, no Porto, no ano em que a Alemanha Federal, a Bélgica, a França, a Holanda, a Itália e o Luxemburgo assinam os tratados de Roma e fundam a CEE. No momento em que Mané nasce, completam-se 180 dias da ocupação nazi de Paris. No ano em que Zezito solta o primeiro vagido, a Guerra Fria digere mal a invasão soviética da Hungria.

Em 1940, os alemães persistem firmes na Europa, Hitler e Estaline ainda se entendem, os americanos continuam alheios ao conflito. Em 1957, um objecto de 83 quilos, chamado Sputnik, vagueia a 934 km/hora, fazendo, em 90 minutos, a órbita terrestre e a cadela Laika submete-se a testes para embarcar, dias depois, no Sputnik 2. Em 1940 e 1957, porém, Portugal mantém-se imóvel na sua redoma e na sua modorra, uno e indivisível, do Minho a Timor. Nos 17 anos de hiato entre os nascimentos das personalidades que, em 2009, se candidatarão a chefe de Governo, António de Oliveira Salazar conduz Portugal com o mesmo pulso de ferro. Só que, se em 1940, Leitão de Barros compõe a estética do regime, num país adormecido e grato ao homem que "nos livrou da guerra", em 1957, Humberto Delgado prepara-se para varrer Portugal num carrossel de liberdade, prometendo, perante plateias entusiasmadas, que "obviamente o demite". Algo está para mudar, ainda que o país rural que Sócrates bem conhecerá, montado no simpático burrito de Vilar de Maçada, terra transmontana dos seus avós, seja mais vagaroso do que o "espada" Chevrolet em que Manuela percorre a Europa, com os pais, a irmã Júlia e o mano José (Dias Ferreira, hoje advogado, conhecido sportinguista e comentador de futebol). A segunda irmã nasce anos mais tarde, já Mané é uma jovem adulta.

Manuela atravessa, placidamente, entre viagens, dedicação aos pais e irmãos e aulas de preceptores privados, os anos 40 e 50, quando Sócrates ainda nem sequer é um anteprojecto do que virá a ser o casal Adelaide e Fernando Pinto de Sousa. Se tivermos de escolher, neste duo, qual deles foi o menino do papá, teremos de optar por Mané, a rapariga que o severo dr. Carlos Dias Ferreira manteve fechada na sua casa da Rua Filipe Folque, no centro de Lisboa, até ao 3.° ano do liceu, à custa de lições particulares com os melhores mestres. A severidade e a rédea curta que, mais tarde, a impediria, por ordem paterna, de participar na sua viagem de finalistas viriam a moldar o carácter austero e um pouco intransigente da futura "dama-de-ferro".

Rédea curta foi algo de que nunca se queixou o Zezito, mais livre e habituado, desde cedo, à condição de filho de pais separados.

É verdade que, dos 4 aos 8 anos, aquele que viria a ser primeiro-ministro e a presidir, no turno português, aos destinos de uma União Europeia nascida no seu ano, ainda se submeteu, penosamente, a lições de piano de que não lhe ficou memória. O rock'n'roll é uma "criança da sua criação" e as viagens de carro com os amigos, bem como um ou outro charro no tempo do Woodstock, fizeram parte da jornada. O Zezito defende os casamentos homossexuais e o aborto. A Mané defende a família como base da procriação.

Sócrates fintou um destino de pianista, farto das pancadas nos dedos que lhe dava a mestra Regina. Manuela remói, ainda hoje, a frustração de não ter sido médica.

Mas o dr. Carlos Dias Ferreira, sempre ele, sentenciou: "Filha minha que não vai para letras [a mana Júlia é catedrática na Faculdade de Letras de Lisboa] tem de ir para Económicas!" E ela foi.

FILHA E MÃE DE FAMÍLIA

Carlos Eugénio Dias Ferreira, o pai, e Julieta Carvalho, a mãe, eram ambos licenciados em Direito. Foi, assim, num ambiente desafogado da alta burguesia lisboeta que a Mané, muito chegada à irmã Ju (14 meses mais velha) e uma "mãezinha" para José (seis anos mais novo), que a futura líder do PSD se foi educando. Habituada ao estudo e aos livros no seu moderno apartamento do Restelo, com uma decoração arrojada, num jogo cromático de brancos e negros pouco consentâneos com o estilo saiacasaco da proprietária, tem uma biblioteca bem recheada aprendeu as primeiras letras com a avó Etelvina, antiga professora primária. O avô paterno, José, foi catedrático no antigo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) onde ela própria viria a licenciarse tendo deixado um tratado de Finanças Públicas. Apesar de lida, actualizada e esclarecida, como vemos, Mané passou ao lado de qualquer tipo de intervenção cívica, contra ou a favor do Estado Novo. A crise académica dá-se em 1962, ela obtém o diplomazinho em 1963. Apesar de cultivada e instruída, fará, anos mais tarde, os barões do PSD arrepelarem os cabelos pela sua pouca capacidade oratória, gaffes sucessivas e maus tratos ao português falado. Longe de confusões, mas muito gregária no seio da família, os seus valores foram sempre os da dedicação extrema aos seus (ainda hoje é capaz de interromper uma reunião de trabalho para acudir a um filho ou a um neto doente). A cozinha (embora um pisco a comer, muitos lhe gabam o dedo para confeccionar pratos de sabor bem português) e os lavores foram outros interesses, de onde está ausente uma actividade cultural visível. Um seu amigo e colaborador, ignorando quais os seus filmes de eleição ou restaurantes favoritos, reflecte, agora que pensa nisso, que é fácil trabalhar-se 20 anos com ela sem a conhecer verdadeiramente...

O pai controlava-lhe as leituras Camilo e Eça autores que aprecia, eram permitidos, as companhias e as saídas à rua. E formou-se no ISCEF com 16 valores, a melhor nota do seu ano. Antes, tivera as suas aulas de "ensino doméstico", em casa, recatada, com a irmã, antes de ingressar no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e, já uma barra a Matemática, no Liceu D. João de Castro.

'ÉRAMOS DE ESQUERDA!'

Os anos 60, que transformam a Mané na dra. Manuela, já a iniciar a sua vida profissional, como docente no seu ISCEF e como bolseira na Fundação Gulbenkian, quase a casar e a ser mãe, apanham um Zezito ainda de calções, durante as longas férias de Verão, a ir aos ninhos, arranhando-se nas silvas transmontanas de Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. Mané estuda, com bolsa da Gulbenkian, os "aspectos económicos da Educação"; Zezito esfola os joelhos a jogar ao berlinde. Salazar manda as tropas portuguesas para Angola e em força. Kennedy disputa com Krutchev a crise dos mísseis, em Cuba, e anuncia a ida de um americano à Lua, até ao fim da década.

Um pouco lunático, o pai de Zezito baptizara o filho com um nome grego.

Na Conservatória do Registo Civil, ainda levou à certa o conservador que, embora hesitante, deixou passar a homenagem ao grande filósofo. Cinco anos mais tarde, o irmão, que era para se chamar António Platão, já não passou no crivo, e ficou António José. Os amigos de Sócrates brincarão com ele, anos mais tarde, enquanto assistem, em grupo, aos jogos da equipa maravilha do Brasil, no Mundial de 1982, em que pontificam jogadores como Zico, Eder, Falcão e... Sócrates.

Com a separação de facto, a mãe, Adelaide, que mais tarde viria a encontrar conforto espiritual no seio das Testemunhas de Jeová e, por motivos religiosos, nunca votou..., ficou a morar em Vila Real. E o pai, Fernando, arquitecto, mudou-se para a Covilhã, levando consigo o Zezito, que ali fez a primária e onde conheceu aquele que viria a entusiasmá-lo para a política, Jorge Patrão, irmão de Luís Patrão, o futuro chefe de gabinete de António Guterres, no Governo de 1995. Sem mais sobressaltos do que os mergulhos no Pinhão, em Vilar (onde ainda o recordam com simpatia, por haver dele a memória de um catraio comunicativo e educado), ou as temporadas na Praia de Buarcos, onde se apresentava com um farnel diário de quatro pães e uma resma de livros de cowboys, Zezito começa a destacar-se nas disciplinas de Matemática (que lhe molda o espírito metódico e o discurso rectilíneo), Filosofia (que o desperta para leituras de alguns clássicos e lhe faz jus ao nome) e Desenho (vocação essencial para o bacharelato como engenheiro técnico civil). Domingos Rijo, reitor e professor de Matemática no Liceu da Covilhã, depois Escola Secundária Frei Heitor Pinto, dizia dele que podia ter melhor notas, mas só estudava para o "Bom" e não era aplicadinho.

O 25 de Abril apanha-o a completar o liceu. Deriva para Coimbra, onde ingressa no recém-criado Instituto Superior de Engenharia.

Ali se faz, em 1979, engenheiro técnico. Anos mais tarde, de um currículo alegadamente enviado à AR, como deputado, constaria como "engenheiro civil".

(Licenciatura que, também de forma polémica, pelas supostas facilidades na sua obtenção, viria a completar na nossa conhecida Universidade Independente).

De Coimbra ficam as memórias de alguma boémia, sobretudo na discoteca Etc e no café Piza, dos óculos de massa grossa de que nunca gostou e lhe atrapalhavam as conquistas femininas (faria, mais tarde, uma intervenção cirúrgica, com laser, à miopia) e da iniciação política, primeiro na JSD (sol de pouca dura, até à cisão de Emídio Guerreiro, ainda em 1975) e, mais tarde, já formado e a trabalhar na Câmara da Covilhã, no PS. Jorge Patrão, companheiro desses tempos, sintetiza. "Éramos de esquerda!"

O TIROCÍNIO DE ZEZITO...

Zezito reaproxima-se da mãe, Adelaide, e dos irmãos, Ana Maria (que viria a falecer num estúpido acidente) e Tozé, já todos a morar em Cascais. Chega da província, sem preocupações de imagem e muito diferente do galã bem vestido que ficará em 6.° lugar num ranking mundial de homens públicos elegantes, em 2008. A sua estudada pose dos anos vindouros será construída na base do instinto de sobrevivência: "Quem quiser singrar na política, em Lisboa, e venha da província, tem de ser muito mais talentoso do que as pessoas de lá. Todos o observarão, para ver se sabe estar, se tem modos, se sabe pisar." Esta desconfiança de camponês marcar-lo-á, para sempre, nas difíceis relações com um mundo mediático que considera hostil. O rapaz que passeava na burra da tia Lucinda, em Trásos-Montes, transforma-se no cosmopolita que encomenda fettuccines no restaurante Mezzaluna. O Zezito que se agasalhava no casaquinho de malha transforma-se no eng.° Sócrates, de blaser Hugo Boss sobre T-shirt escura. E, agora sim, está na sua verdadeira pele. A actual deputada europeia Edite Estrela, que teve curiosidade em conhecê-lo quando ouviu Guterres elogiar o seu desempenho político em Castelo Branco, ficando sua amiga até hoje, lembravalhe que "estética rima com ética". O novo Zezito lê livros seleccionados de Ecologia e Filosofia Política e de História do Século XX, fixa as máximas e ensinamentos que podem interessar em debates, entrevistas ou simples conversas e dispara citações de Bernstein ou Karl Popper. Mundanizase.

O treino ser-lhe-á precioso, como político profissional a representar Portugal na União Europeia: é o inventor de uma fórmula de comunicação que lhe permite definir as prioridades da presidência portuguesa num discurso de 35 minutos ou numa declaração de 20 segundos.

Começara este processo de auto-aprendizagem em 1980, nas faldas da revolução.

O País acalma. Mário Soares lidera os primeiros governos constitucionais. Depois, o tufão Sá Carneiro-AD varre Portugal. Na Covilhã, e na distrital socialista de Castelo Branco, Sócrates resiste e faz crescer o PS.

Por essa altura, Manuela Ferreira Leite efectua a sua primeira aproximação à política.

... E A INICIAÇÃO DE MANÉ

Já não era sem tempo. Mané tem agora 40 anos e a sua conversão serôdia faz-se pela mão do amigo Aníbal Cavaco Silva, com quem se cruzara ainda no velho ISCEF, actual ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão). Ele, que já a convencera a integrar o gabinete de Estudos no Banco de Portugal, levava-a, agora, para sua chefe de gabinete, no Ministério das Finanças do Governo da AD, presidido por Sá Carneiro.

Mané demora, porém, a aderir ao PSD, o que faz em 1985, com Cavaco na liderança.

Entra no governo só em 1990, como secretária de Estado do Orçamento, onde se mantém até à conquista da segunda maioria absoluta. Estreita as relações pessoais e políticas com o líder. O País rende-se ao político de Boliqueime e ela, com outro grupo de mulheres, Isabel Mota, Teresa Gouveia, Leonor Beleza, formam uma vanguarda feminina do regime (que se manterá unida para lá do período de validade da hegemonia "laranja", quando passam a ser conhecidas como "as viúvas do cavaquismo"). É em 1991 que é eleita, pela primeira vez, para a Assembleia da República. E é em 1991 que a estrelinha de José Sócrates começa a brilhar.

Declarando-se "chocado" com a derrota humilhante do PS de Jorge Sampaio, António Guterres inicia a sua cavalgada rumo à liderança socialista. José Sócrates emerge, então, ao lado de nomes como Laurentino Dias (actual secretário de Estado do Desporto), Carlos Zorrinho (agora mentor do plano Tecnológico), Armando Vara (oriundo da esfera gamista e hoje administrador do BCP), António José Seguro, mais novo, à frente da JS, e, sobretudo, Jorge Coelho, como um dos "sub-40" de Guterres. O futuro "Luís Figo" desta "geração de ouro" socialista, grupo que levará Guterres ao poder em dois mandatos sucessivos, aparece como especialista na área ambiental.

Percebe-se já a noção do timing, que tanto jeito dará a Sócrates quando, 13 anos mais tarde, chegar, por sua vez, à liderança.

O Ambiente será uma das poucas áreas que, no futuro, continuará a permitir a intervenção do Estado, num mundo cada vez mais neoliberal. E a vaga está aberta, dentro do PS. Sócrates, deputado desde 1987 (eleito quando Cavaco conseguiu a primeira maioria), faz a operação aos olhos, frequenta os círculos da capital, lê cada vez mais e procura valorizar a sua formação académica. Primeiro, matriculando-se no curso de Direito da Universidade Lusíada, de que desiste. Depois, frequentando um curso de Engenharia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública. Para mais tarde, estará reservada a inscrição no ISEL e na Independente (onde terminará a polémica licenciatura em Engenharia Civil) e o MBA em Gestão de Empresas, pelo ISCTE. Entretanto, casa e torna-se pai de dois filhos, José Miguel e Eduardo, hoje com 15 e 13 anos, respectivamente.

PERCURSOS EM CONFRONTO

Na balança dos percursos profissionais pesa mais Ferreira Leite, como docente, economista e académica, com obra realizada e trabalhos publicados quase sempre no quadro da Administração Pública ou em instituições do Estado.

Já os percursos governativos de ambos, embora em áreas diferentes, têm em comum o facto de começarem de baixo para cima, numa ascensão fulgurante. Com Cavaco, Mané será secretária de Estado do Orçamento, secretária de Estado adjunta e do Orçamento e ministra da Educação.

Com Guterres, Zezito será secretário de Estado adjunto do ministro do Ambiente, ministro-adjunto com as tutelas da Toxicodependência, Juventude e Desporto e ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Neste campo, a balança tende a favor de Zezito, com obra governativa mais visível, nos múltiplos projectos de defesa do consumidor (por vezes afrontando bancos, seguradoras e operadoras de telecomunicações), na guerra da co-incineração e na conquista, para Portugal, da organização do Euro 2004.

Anos depois, numa viagem a bordo do Falcon, a caminho de uma cimeira ibero--americana, dir-nos-á que o segredo da liderança política está na capacidade de controlar a agenda, de a marcar e de antecipar os passos do adversário. Sábia lição de quem aproveitou o lugar deixado vago por Ferro Rodrigues e a aventura governativa de Pedro Santana Lopes, para chegar, ver e vencer. Sem adversário interno credível (apesar da concorrência dos esforçados Manuel Alegre e João Soares), toma conta do PS, em 2004. Pouco depois, o País cai-lhe aos pés, sem que se tenha desgastado na oposição. Sorte pura, feeling, ou os sábios conselhos de seu pai, Fernando Pinto de Sousa, com quem se abriu, ainda e sempre na velha aldeia de Vilar de Maçada, naquele Verão 2004, de política e de futebol. E onde decidiu a sua vida.

O INFINITO EXISTE

Ferreira Leite, primeira mulher a liderar um partido, em Portugal, é, paradoxalmente, criticada pelo seu fraco faro político e insensibilidade partidária. O espírito prático não a deixa ter excessiva consideração pelos seus concidadãos, de quem diz que basta terem os bolsos cheios para andarem contentes. A sua genuinidade, que aponta como trunfo, recusando a especialistas ou conselheiros o burilar da imagem ou do discurso, pode não ser, necessariamente, uma virtude, se se concluir que tanta autenticidade pode revelar incapacidade de adaptação, preguiça mental ou falta de humildade. Em matéria de teimosia e má catadura ser-lhe-á difícil descolar de José Sócrates.

Parecidos? Tanto quanto o são os pólos opostos de uma bateria. De Sócrates, Mané diz que chegou a primeiro-ministro por acidente e não lhe reconhece sentido de Estado. "Eu não acabei o curso ao domingo nem sou engenheira a brincar", deixou escapar um dia. De Manuela, Zezito pensa que se trata de uma personalidade difícil, retrógrada e imobilista, a verdadeira face do retrocesso civilizacional.

Sócrates mantém um PS domado, até que o partido perceba que o líder, em vez de fazer parte da solução, se tornou o problema o que, depois do caso Freeport, já esteve mais longe de acontecer. Manuela depara-se com um PSD desassossegado, desejoso de se ver livre dela, se falhar, do mesmo modo que se quis ver livre de todos os líderes que falharam. Os caminhos de Mané e Zezito seguem, pois, no fio da navalha, o percurso de duas linhas paralelas que só se encontram no infinito. E o infinito existe. Chega daqui a um mês, a 27 de Setembro, quando os portugueses escolherem. Ou um ou outro.

À lupa: Segredos... e feitios

>> MANUELA FERREIRA LEITE

HÁBITOS

Adepta do Sporting (mas os filhos saíram benfiquistas).

Dedicada à família. Cozinha.

Mantém um velho Volkswagen Polo. Pratica soduku. O colar de que nunca se separa pertenceu à sua mãe. Frequenta a missa dominical. Forreta, prefere produtos de marca branca e compara preços no supermercado, onde vai frequentemente.

TRABALHO

Exigente, tem um bom relacionamento com os colaboradores, de quem fixa as datas de aniversário e a quem pergunta "pela dor de cabeça" da esposa.

PARTICULARIDADES

Despreza técnicas de comunicação e vetou cartazes do PSD mais ousados ou imaginativos. Diverte-se com as piadas sobre si própria, que povoam a blogosfera. Odeia andar de avião.

VIRTUDES E DEFEITOS

Boa mãe e avó, sentido de responsabilidade, profissionalismo, seriedade.

Intolerância, espírito vingativo, isolamento nas decisões e teimosia.

AMIGOS NO PSD

Pacheco Pereira (principal conselheiro e ghost writer), Susana Toscano, Castro Almeida, Luís Marques Guedes, José Pedro Aguiar Branco, Paulo Rangel, Carlos Coelho, Marco Almeida, José Matos Correia. A amizade com Helena Lopes da Costa e a gratidão para com António Preto, crucial na vitória quando ela foi eleita presidente da distrital de Lisboa, explicarão o seu empenho em incluí-los nas listas de deputados.

'INIMIGOS' NO PSD

Pedro Passos Coelho, Luís Filipe Menezes, muitos "barões" das distritais. Pedro Santana Lopes (agora em acordo tácito por via da candidatura a Lisboa) está integrado. Luís Marques Mendes afastou-se.

>> JOSÉ SÓCRATES

HÁBITOS

Torce pelo Benfica. Pratica jogging e é fanático pelo esqui.

É apreciador de vinho tinto, comida italiana e japonesa. É fã de BD, sobretudo da Mafalda e de Calvin & Hobbes. Possui um Mercedes que raramente conduz. Gosta de vestir Hugo Boss e tem uma vasta colecção de camisas. Prefere as gravatas lisas e fi nas, de cores sóbrias, sobre camisa branca. Personaliza os ambientes de trabalho e tem, em São Bento, um boneco do anão Zangado (dos sete anões), oferecido por assessores, a quem não escapou a afi nidade de personalidades.

TRABALHO

Exige dedicação 24 horas por dia e liga aos assessores, se necessário for ou mesmo que não seja. às 3 ou 4 horas da manhã.

PARTICULARIDADES

Tem tendência a tratar por tu toda a gente. Começa muitas das frases dos discursos de improviso pelo advérbio de modo "verdadeiramente". Deixou de fumar mas, de vez em quando, recai.

Gosta de citar Bernstein, "O reino da democracia é o do compromisso", e Fernando Pessoa: "Não temo o que virá. Venha o que vier nunca será maior do que a minha alma." De si próprio disse um dia que, achando que tem razão, torna-se um "animal feroz".

VIRTUDES E DEFEITOS

Lealdade, capacidade em apreender os assuntos à primeira, prodigiosa memória, sentido de humor.

Teimosia, intolerância, incapacidade para ouvir críticas, irritabilidade fácil.

AMIGOS NO PS

António Guterres, António Vitorino (conselheiro principal), Edite Estrela, Armando Vara, Pedro Silva Pereira, Jorge Coelho.

'INIMIGOS' NO PS

Manuel Alegre, António José Seguro, Francisco Assis, Manuel Maria Carrilho, Vítor Ramalho.

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