Educação. Governo cerra fileiras em torno de ministro sob fogo

13-05-2016
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Educação. Governo cerra fileiras em torno de ministro sob fogo

Educação. Governo cerra fileiras em torno de ministro sob fogo

João Girão
Margarida Davim 10/05/2016 22:36

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Em seis meses, Tiago Brandão Rodrigues soma polémicas e é visto como um dos elos politicamente mais frágeis dentro do governo. Mas a estratégia está montada para o proteger e evitar uma imagem “ideológica” do ministro

Os perfis que apresentam Tiago Brandão Rodrigues falam no “ministro mais à esquerda” do governo de Costa. Mas esse é precisamente o epíteto que o governo quer evitar para o homem que está debaixo do fogo dos colégios com contrato de associação. Em São Bento, a ordem é para tentar evitar passar a ideia de que esta é uma questão ideológica.
“O que está em causa é a boa gestão das contas públicas”, sublinha uma fonte do executivo, lembrando que uma turma numa escola pública fica cerca de 20 mil euros mais barata, por ano, do que uma turma num dos colégios pagos pelo Estado para garantir um serviço público de educação. A mesma fonte nega até que se trate de uma questão de defesa das escolas públicas, porque “há várias zonas onde estas escolas privadas financiadas pelo Estado são consideradas concorrência desleal por colégios em que os pais têm de pagar as mensalidades”.
Erro de casting Visto por alguns membros do núcleo mais próximo de António Costa como “um erro de casting” cuja falta de experiência política pode causar embaraços, a estratégia tem sido a de responder à chuva de protestos das escolas privadas e dos partidos da direita com uma operação cerrada de defesa do ministro da Educação.
No Facebook multiplicam-se os posts de deputados socialistas a defender Brandão Rodrigues. E até o bloquista José Gusmão partilhou o vídeo do site Geringonça.com, feito pelo economista Ricardo Paes Mamede, para explicar que reduzir os custos com estes contratos nos locais onde há oferta pública era uma das exigências do memorando da troika assinado pelo governo de Passos Coelho.
Mais: foi criada a página no Facebook “Sem Escola Pública Não Há Liberdade A Sério” para contrariar uma campanha dos colégios que, à esquerda, se acredita estar a ser orquestrada por uma agência de comunicação.
No domingo tinha sido a vez de um dos pesos políticos pesados do governo, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, vir a terreiro defender o ministro das insinuações feitas por Passos, segundo as quais Tiago Brandão Rodrigues “parece que representa outros interesses que não são os da comunidade”.
Pedro Nuno Santos não deixou passar em claro um ataque que pretende colar o ministro da Educação aos sindicatos e respondeu, pedindo ao líder da oposição que clarificasse o que quis dizer. A ideia foi mostrar que o titular da pasta da Educação não está sozinho e evitar a ideia de fragilidade política.
Consciente de que Tiago Brandão Rodrigues tem tido um discurso que muitos qualificam como “datado” e “muito à esquerda” – recuperou, por exemplo, a expressão de 1979 “serviço nacional de educação” –, o governo tem cerrado fileiras em torno do ministro, mas evitando expô-lo demasiado. Para já, a defesa do Ministério da Educação tem ficado sobretudo a cargo da secretária de Estado Adjunta, Alexandra Leitão.
Brandão Rodrigues não deve, porém, conseguir escapar ao tema que o tem bombardeado amanhã, na audição na Comissão de Educação no parlamento, onde vai falar de outra polémica: a demissão do secretário de Estado do Desporto, João Wengorovius Meneses.
A resposta do ministro deve, contudo, cingir-se ao que António Costa já disse aos representantes de escolas com contratos de associação que com ele se reuniram em Braga, na sexta-feira. O primeiro-ministro explicou na altura que cada situação será avaliada caso a caso e reiterou a ideia de que os contratos de três anos assinados pelo anterior governo estão em vigor e não serão alvo de qualquer alteração.
Fonte do executivo sublinha que a avaliação que deverá estar feita até ao final do mês pelo Ministério será apenas para decidir se haverá ou não novos contratos para novas turmas e que todos os alunos que estão nesse regime deverão concluir os ciclos letivos nas escolas que já frequentam.
Outra mensagem que o governo quer deixar clara é a de que estão em causa 79 escolas num universo de cerca de seis mil públicas e privadas. E que a redução deste tipo de contratos tem vindo a ser feita por questões demográficas – há menos alunos – e porque a rede escolar foi renovada com a construção dos novos centros educativos que vieram agregar os alunos de antigas escolas que fecharam por falta de estudantes.
Apesar da dimensão dos protestos – que ontem inundaram São Bento com 50 mil cartas escritas por pais, professores e alunos –, no governo a ideia é mostrar que a questão afeta uma minoria.
Ministro ainda sem chumbo Há apenas seis meses no governo, Tiago Brandão Rodrigues tem protagonizado várias polémicas. O fim dos exames do 4.o ano – que depois da intervenção do Presidente Marcelo se mantiveram neste ano letivo como opcionais –, o fim da Prova de Avaliação de Conhecimentos (PAC) e até as reuniões trimestrais com os sindicatos foram algumas delas. Mas Brandão Rodrigues ainda tem o benefício da dúvida.
“É difícil fazer a avaliação, porque a maior parte das medidas – como o fim dos exames ou da PAC – foram decididas na Assembleia da República”, frisa o dirigente da FNE João Dias da Silva. “A avaliação é difícil porque combina alguns elementos positivos com outros negativos ou, pelo menos, omissos”, comenta o professor, autor e blogger Paulo Guinote, que elogia “algumas decisões que eliminaram focos de conflito”, como o fim da PAC. E critica “a confusão” gerada pelo fim dos exames e pela introdução de novas provas de aferição no ensino básico.
Nas escolas, Guinote diz que não há ainda uma ideia muito clara sobre o ministro. “Entre as pessoas com maior militância partidária, a opinião sobre o ministro está polarizada de acordo com as ‘trincheiras’ de apoio ou oposição ao governo. Junto dos outros, é ainda uma imagem difusa, seja porque nas suas aparições públicas o seu discurso é muito datado, seja porque se tem noção de que nada de fundamental para a (re)dignificação da classe docente estar a ser mudado”, explica ao i Paulo Guinote.
Para Dias da Silva, falta “uma visão holística” da educação que mostre o que vale Tiago Brandão Rodrigues e que pode ser testado quando estiver (em breve) em cima da mesa a discussão sobre uma nova reorganização curricular. Entre quem esteve no anterior governo, diz-se que “nunca o ministério esteve tão controlado pelos sindicatos como agora”. Mas o líder da FNE desvaloriza e garante que as famosas reuniões periódicas anunciadas pela FENPROF até foram ideia sua. “E são só uma forma de democracia participada que em nada menoriza o ministro, pelo contrário”, frisa Dias da Silva.


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João Girão
Margarida Davim 10/05/2016 22:36

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Em seis meses, Tiago Brandão Rodrigues soma polémicas e é visto como um dos elos politicamente mais frágeis dentro do governo. Mas a estratégia está montada para o proteger e evitar uma imagem “ideológica” do ministro

Os perfis que apresentam Tiago Brandão Rodrigues falam no “ministro mais à esquerda” do governo de Costa. Mas esse é precisamente o epíteto que o governo quer evitar para o homem que está debaixo do fogo dos colégios com contrato de associação. Em São Bento, a ordem é para tentar evitar passar a ideia de que esta é uma questão ideológica.
“O que está em causa é a boa gestão das contas públicas”, sublinha uma fonte do executivo, lembrando que uma turma numa escola pública fica cerca de 20 mil euros mais barata, por ano, do que uma turma num dos colégios pagos pelo Estado para garantir um serviço público de educação. A mesma fonte nega até que se trate de uma questão de defesa das escolas públicas, porque “há várias zonas onde estas escolas privadas financiadas pelo Estado são consideradas concorrência desleal por colégios em que os pais têm de pagar as mensalidades”.
Erro de casting Visto por alguns membros do núcleo mais próximo de António Costa como “um erro de casting” cuja falta de experiência política pode causar embaraços, a estratégia tem sido a de responder à chuva de protestos das escolas privadas e dos partidos da direita com uma operação cerrada de defesa do ministro da Educação.
No Facebook multiplicam-se os posts de deputados socialistas a defender Brandão Rodrigues. E até o bloquista José Gusmão partilhou o vídeo do site Geringonça.com, feito pelo economista Ricardo Paes Mamede, para explicar que reduzir os custos com estes contratos nos locais onde há oferta pública era uma das exigências do memorando da troika assinado pelo governo de Passos Coelho.
Mais: foi criada a página no Facebook “Sem Escola Pública Não Há Liberdade A Sério” para contrariar uma campanha dos colégios que, à esquerda, se acredita estar a ser orquestrada por uma agência de comunicação.
No domingo tinha sido a vez de um dos pesos políticos pesados do governo, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, vir a terreiro defender o ministro das insinuações feitas por Passos, segundo as quais Tiago Brandão Rodrigues “parece que representa outros interesses que não são os da comunidade”.
Pedro Nuno Santos não deixou passar em claro um ataque que pretende colar o ministro da Educação aos sindicatos e respondeu, pedindo ao líder da oposição que clarificasse o que quis dizer. A ideia foi mostrar que o titular da pasta da Educação não está sozinho e evitar a ideia de fragilidade política.
Consciente de que Tiago Brandão Rodrigues tem tido um discurso que muitos qualificam como “datado” e “muito à esquerda” – recuperou, por exemplo, a expressão de 1979 “serviço nacional de educação” –, o governo tem cerrado fileiras em torno do ministro, mas evitando expô-lo demasiado. Para já, a defesa do Ministério da Educação tem ficado sobretudo a cargo da secretária de Estado Adjunta, Alexandra Leitão.
Brandão Rodrigues não deve, porém, conseguir escapar ao tema que o tem bombardeado amanhã, na audição na Comissão de Educação no parlamento, onde vai falar de outra polémica: a demissão do secretário de Estado do Desporto, João Wengorovius Meneses.
A resposta do ministro deve, contudo, cingir-se ao que António Costa já disse aos representantes de escolas com contratos de associação que com ele se reuniram em Braga, na sexta-feira. O primeiro-ministro explicou na altura que cada situação será avaliada caso a caso e reiterou a ideia de que os contratos de três anos assinados pelo anterior governo estão em vigor e não serão alvo de qualquer alteração.
Fonte do executivo sublinha que a avaliação que deverá estar feita até ao final do mês pelo Ministério será apenas para decidir se haverá ou não novos contratos para novas turmas e que todos os alunos que estão nesse regime deverão concluir os ciclos letivos nas escolas que já frequentam.
Outra mensagem que o governo quer deixar clara é a de que estão em causa 79 escolas num universo de cerca de seis mil públicas e privadas. E que a redução deste tipo de contratos tem vindo a ser feita por questões demográficas – há menos alunos – e porque a rede escolar foi renovada com a construção dos novos centros educativos que vieram agregar os alunos de antigas escolas que fecharam por falta de estudantes.
Apesar da dimensão dos protestos – que ontem inundaram São Bento com 50 mil cartas escritas por pais, professores e alunos –, no governo a ideia é mostrar que a questão afeta uma minoria.
Ministro ainda sem chumbo Há apenas seis meses no governo, Tiago Brandão Rodrigues tem protagonizado várias polémicas. O fim dos exames do 4.o ano – que depois da intervenção do Presidente Marcelo se mantiveram neste ano letivo como opcionais –, o fim da Prova de Avaliação de Conhecimentos (PAC) e até as reuniões trimestrais com os sindicatos foram algumas delas. Mas Brandão Rodrigues ainda tem o benefício da dúvida.
“É difícil fazer a avaliação, porque a maior parte das medidas – como o fim dos exames ou da PAC – foram decididas na Assembleia da República”, frisa o dirigente da FNE João Dias da Silva. “A avaliação é difícil porque combina alguns elementos positivos com outros negativos ou, pelo menos, omissos”, comenta o professor, autor e blogger Paulo Guinote, que elogia “algumas decisões que eliminaram focos de conflito”, como o fim da PAC. E critica “a confusão” gerada pelo fim dos exames e pela introdução de novas provas de aferição no ensino básico.
Nas escolas, Guinote diz que não há ainda uma ideia muito clara sobre o ministro. “Entre as pessoas com maior militância partidária, a opinião sobre o ministro está polarizada de acordo com as ‘trincheiras’ de apoio ou oposição ao governo. Junto dos outros, é ainda uma imagem difusa, seja porque nas suas aparições públicas o seu discurso é muito datado, seja porque se tem noção de que nada de fundamental para a (re)dignificação da classe docente estar a ser mudado”, explica ao i Paulo Guinote.
Para Dias da Silva, falta “uma visão holística” da educação que mostre o que vale Tiago Brandão Rodrigues e que pode ser testado quando estiver (em breve) em cima da mesa a discussão sobre uma nova reorganização curricular. Entre quem esteve no anterior governo, diz-se que “nunca o ministério esteve tão controlado pelos sindicatos como agora”. Mas o líder da FNE desvaloriza e garante que as famosas reuniões periódicas anunciadas pela FENPROF até foram ideia sua. “E são só uma forma de democracia participada que em nada menoriza o ministro, pelo contrário”, frisa Dias da Silva.

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