Parlamento discute fake news

11-07-2019
marcar artigo

A menos de um ano das legislativas, e assombrados pela ascensão do populismo um pouco por todo o mundo, os partidos portugueses estão preocupados com o fenómeno das fake news (notícias falsas), que teve um impacto direto nas eleições que levaram Donald Trump à Casa Branca e que estão a marcar a campanha nas presidenciais do Brasil. Por isso, o Parlamento quer colocar o assunto na agenda política portuguesa.

Edite Estrela, presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, vai propor um debate sobre o tema. “Há uma nova forma de condicionar a opinião pública à revelia daquilo que é a mensagem política e o jornalismo. É uma alteração que merece ser refletida”, diz ao Expresso.

A proposta da deputada deverá ser aceite pelos partidos e contará com a participação dos responsáveis pelas redes sociais.

“A tecnologia é neutra, tem sangue novo e sangue podre. Felizmente entre nós não tem o sangue podre que tem no Brasil”, diz José Magalhães, deputado do PS que esta semana defendeu, num relatório entregue à Comissão de Cultura, que as fake news tenham “mais atenção” parlamentar.

Apesar de não existirem para já projetos-lei, os partidos querem colocar o tema na agenda. O PSD está a preparar duas conferências, uma delas no Parlamento. “A resposta parece-nos ser pela via das políticas públicas, mas estamos disponíveis para discutir outras iniciativas”, sublinha Margarida Mano, deputada do PSD.

Já o Bloco de Esquerda defende que a solução passa por envolver os media. “Deviam ser os órgãos de comunicação social a juntarem-se, como nos consórcios de investigação, e envolverem-se na difusão da verdade factual. São os media que têm a função social de proteger a informação como bem comum”, sustenta Jorge Costa, deputado bloquista. O partido já propôs ao presidente da Assembleia da República que chame os media e faça a ponte entre o Parlamento e os órgãos de comunicação social — proposta que foi bem acolhida por Ferro Rodrigues.

O PCP diz que o caminho é pela defesa do sector público da comunicação social. CDS e PAN consideram que é prematuro avançar com novas leis.

WHATSAPP SEM CONTROLO

Campanhas de desinformação e de propaganda sempre existiram, mas agora encontraram nas redes sociais o aliado perfeito. E estes fenómenos, que eram comuns nos sistemas ditatoriais, estão a acontecer em tempos de paz.

O impacto das fake news tem vindo a ganhar espaço desde a campanha do ‘Brexit’, altura em que circularam falsos textos a dizer que, ao sair da União Europeia, o Reino Unido ficava com 404 milhões de euros/dia para o Serviço Nacional de Saúde. O auge deu-se durante a campanha de Donald Trump, em que o próprio divulgava fake news. Num comício, o republicano falou sobre um atentado na Suécia, para o ligar aos refugiados, que nunca existiu.

E do Facebook as fake news transferem-se para o WhatsApp. A previsível eleição de Jair Bolsonaro deve muito a esta aplicação de mensagens. Uma investigação do jornal “A Folha” denunciou uma rede de empresários apoiantes do candidato que compraram pacotes de mensagens contra o PT. No Brasil, 48% dos cidadãos leem notícias através do WhatsApp e, ao contrário do Facebook, a rede de mensagens não tem qualquer filtro de controlo.

“É uma plataforma em que as pessoas aderem voluntariamente a grupos de trocas de mensagens e isso é difícil de controlar. É o mesmo que uma operadora de comunicações se imiscuir nas mensagens privadas de um grupo de amigos”, salienta Pedro Rebelo, especialista em redes sociais.

Mas do lado de quem promove a desinformação não há preocupações com a democracia e os direitos dos cidadãos. “Claro que é um fenómeno que também vai acontecer em Portugal. As campanhas democráticas no futuro vão ser estas”, alerta José Adelino Maltez, politólogo.

Em março, uma investigação conjunta do jornal inglês “The Observer” e do americano “The New York Times” denunciou o caso da Cambridge Analytica, uma empresa de consultadoria britânica que usou indevidamente dados de 87 milhões de utilizadores para ajudar a eleger Trump.

O caso colocou o Facebook sob pressão, obrigando Mark Zuckerberg a pedir desculpa, a testemunhar no Congresso americano, no Parlamento Europeu e a anunciar medidas de controlo. Contactada pelo Expresso, a gigante rede social garante que tem tomado medidas fortes para combater as notícias falsas. “Trabalhamos muito para encontrar o equilíbrio certo entre incentivar a liberdade de expressão e promover uma comunidade segura e autêntica, e acreditamos que reduzir a disseminação de notícias falsas e dar mais informações às pessoas atinge esse equilíbrio”, afirma fonte oficial.

MEDIA SEM PODER

Em 2017, a Alemanha tornou-se o primeiro país a apertar o cerco às fake news. A lei do Facebook, como ficou conhecida, obriga as redes sociais a retirar páginas de falsas notícias e de conteúdos de ódio em 24 horas. E quem não cumprir pode ter sanções que vão até aos 50 milhões de euros. A Itália seguiu-lhe os passos e a França está a discutir uma proposta de lei do Governo no mesmo sentido. Por cá, fonte oficial do Ministério da Cultura, que tutela a área da comunicação, garante que “o Governo está naturalmente a acompanhar esta questão e o que está a ser discutido noutros países europeus.”

Um estudo da Universidade de Stanford, realizado o ano passado, indica que nas redes sociais o tráfego para sites de notícias falsas é maior. “É uma nova e complexa forma de comunicação, que atravessa fronteiras. Nesta fase, a forma mais eficaz de as combater seria a desconstrução através dos media”, defende Felisbela Lopes, investigadora da Universidade do Minho.

A académica reconhece, no entanto, que os órgãos de comunicação social perderam poder. Para tal, contribuíram também páginas nas redes sociais como ‘Os Truques da Imprensa Portuguesa’, que se assume como vigia aos órgãos de comunicação social. E, com frequência, classifica notícias que contêm erros como sendo fake news, apesar de não haver nenhuma intenção propositada de levar ao engano.

A menos de um ano das legislativas, e assombrados pela ascensão do populismo um pouco por todo o mundo, os partidos portugueses estão preocupados com o fenómeno das fake news (notícias falsas), que teve um impacto direto nas eleições que levaram Donald Trump à Casa Branca e que estão a marcar a campanha nas presidenciais do Brasil. Por isso, o Parlamento quer colocar o assunto na agenda política portuguesa.

Edite Estrela, presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, vai propor um debate sobre o tema. “Há uma nova forma de condicionar a opinião pública à revelia daquilo que é a mensagem política e o jornalismo. É uma alteração que merece ser refletida”, diz ao Expresso.

A proposta da deputada deverá ser aceite pelos partidos e contará com a participação dos responsáveis pelas redes sociais.

“A tecnologia é neutra, tem sangue novo e sangue podre. Felizmente entre nós não tem o sangue podre que tem no Brasil”, diz José Magalhães, deputado do PS que esta semana defendeu, num relatório entregue à Comissão de Cultura, que as fake news tenham “mais atenção” parlamentar.

Apesar de não existirem para já projetos-lei, os partidos querem colocar o tema na agenda. O PSD está a preparar duas conferências, uma delas no Parlamento. “A resposta parece-nos ser pela via das políticas públicas, mas estamos disponíveis para discutir outras iniciativas”, sublinha Margarida Mano, deputada do PSD.

Já o Bloco de Esquerda defende que a solução passa por envolver os media. “Deviam ser os órgãos de comunicação social a juntarem-se, como nos consórcios de investigação, e envolverem-se na difusão da verdade factual. São os media que têm a função social de proteger a informação como bem comum”, sustenta Jorge Costa, deputado bloquista. O partido já propôs ao presidente da Assembleia da República que chame os media e faça a ponte entre o Parlamento e os órgãos de comunicação social — proposta que foi bem acolhida por Ferro Rodrigues.

O PCP diz que o caminho é pela defesa do sector público da comunicação social. CDS e PAN consideram que é prematuro avançar com novas leis.

WHATSAPP SEM CONTROLO

Campanhas de desinformação e de propaganda sempre existiram, mas agora encontraram nas redes sociais o aliado perfeito. E estes fenómenos, que eram comuns nos sistemas ditatoriais, estão a acontecer em tempos de paz.

O impacto das fake news tem vindo a ganhar espaço desde a campanha do ‘Brexit’, altura em que circularam falsos textos a dizer que, ao sair da União Europeia, o Reino Unido ficava com 404 milhões de euros/dia para o Serviço Nacional de Saúde. O auge deu-se durante a campanha de Donald Trump, em que o próprio divulgava fake news. Num comício, o republicano falou sobre um atentado na Suécia, para o ligar aos refugiados, que nunca existiu.

E do Facebook as fake news transferem-se para o WhatsApp. A previsível eleição de Jair Bolsonaro deve muito a esta aplicação de mensagens. Uma investigação do jornal “A Folha” denunciou uma rede de empresários apoiantes do candidato que compraram pacotes de mensagens contra o PT. No Brasil, 48% dos cidadãos leem notícias através do WhatsApp e, ao contrário do Facebook, a rede de mensagens não tem qualquer filtro de controlo.

“É uma plataforma em que as pessoas aderem voluntariamente a grupos de trocas de mensagens e isso é difícil de controlar. É o mesmo que uma operadora de comunicações se imiscuir nas mensagens privadas de um grupo de amigos”, salienta Pedro Rebelo, especialista em redes sociais.

Mas do lado de quem promove a desinformação não há preocupações com a democracia e os direitos dos cidadãos. “Claro que é um fenómeno que também vai acontecer em Portugal. As campanhas democráticas no futuro vão ser estas”, alerta José Adelino Maltez, politólogo.

Em março, uma investigação conjunta do jornal inglês “The Observer” e do americano “The New York Times” denunciou o caso da Cambridge Analytica, uma empresa de consultadoria britânica que usou indevidamente dados de 87 milhões de utilizadores para ajudar a eleger Trump.

O caso colocou o Facebook sob pressão, obrigando Mark Zuckerberg a pedir desculpa, a testemunhar no Congresso americano, no Parlamento Europeu e a anunciar medidas de controlo. Contactada pelo Expresso, a gigante rede social garante que tem tomado medidas fortes para combater as notícias falsas. “Trabalhamos muito para encontrar o equilíbrio certo entre incentivar a liberdade de expressão e promover uma comunidade segura e autêntica, e acreditamos que reduzir a disseminação de notícias falsas e dar mais informações às pessoas atinge esse equilíbrio”, afirma fonte oficial.

MEDIA SEM PODER

Em 2017, a Alemanha tornou-se o primeiro país a apertar o cerco às fake news. A lei do Facebook, como ficou conhecida, obriga as redes sociais a retirar páginas de falsas notícias e de conteúdos de ódio em 24 horas. E quem não cumprir pode ter sanções que vão até aos 50 milhões de euros. A Itália seguiu-lhe os passos e a França está a discutir uma proposta de lei do Governo no mesmo sentido. Por cá, fonte oficial do Ministério da Cultura, que tutela a área da comunicação, garante que “o Governo está naturalmente a acompanhar esta questão e o que está a ser discutido noutros países europeus.”

Um estudo da Universidade de Stanford, realizado o ano passado, indica que nas redes sociais o tráfego para sites de notícias falsas é maior. “É uma nova e complexa forma de comunicação, que atravessa fronteiras. Nesta fase, a forma mais eficaz de as combater seria a desconstrução através dos media”, defende Felisbela Lopes, investigadora da Universidade do Minho.

A académica reconhece, no entanto, que os órgãos de comunicação social perderam poder. Para tal, contribuíram também páginas nas redes sociais como ‘Os Truques da Imprensa Portuguesa’, que se assume como vigia aos órgãos de comunicação social. E, com frequência, classifica notícias que contêm erros como sendo fake news, apesar de não haver nenhuma intenção propositada de levar ao engano.

marcar artigo