Estalos, fake news e insultos a Mendes. Por dentro de um Whatsapp do PSD

22-05-2019
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Domingo, dia 16, Isabel Meireles, vice-presidente do PSD, achou que Marques Mendes merecia “um estalo”. O comentador tinha acabado de dizer que, na “preocupação de controlar a Justiça e a comunicação social”, Rui Rio e José Sócrates são “irmãos siameses”. A dirigente do PSD não guardou para si o que sentia. “O Marques Mendes compara Rio a Sócrates!!! Só ao estalo!!”, escreveu, num grupo de WhatsApp criado por outro vice-presidente, Salvador Malheiro. A mensagem de Meireles, partilhada quando Mendes ainda não tinha acabado o seu comentário semanal, foi o rastilho para um rosário de insultos ao antigo líder do PSD.

“Rui Rio I” é um de quatro grupos de WhatsApp que Malheiro criou a 2 de dezembro, “a título pessoal”, e de que é único administrador - ou seja, é o presidente da Câmara de Ovar e “vice” de Rio quem autoriza a entrada ou a expulsão de novos membros. “Os grupos surgiram por solicitação de inúmeras pessoas”, diz Malheiro ao Expresso, explicando que convidou os seus “contactos pessoais”. “Para quem fica, os comentários são totalmente livres. É, na prática, como num encontro de pessoas, onde cada um diz o que entende.”

Na semana passada, quando o Expresso consultou o histórico desse grupo, tinha 250 participantes, entre dirigentes nacionais do PSD, deputados e responsáveis locais. Para além da regra de ser frequentado apenas por militantes laranja, parece haver apenas uma outra: críticos internos de Rui Rio não entram (pelo menos, críticos assumidos). Aliás, os críticos de Rio são um dos grandes alvos dos comentários e das informações partilhadas dentro do grupo.

No essencial, dentro deste grupo fechado partilham-se críticas ferozes aos sociais-democratas que não apoiam Rio (como foi o caso flagrante de Marques Mendes na semana passada), ataques à comunicação social, por dar palco a essas vozes discordantes, dicas sobre como fazer oposição, e partilha de informação sobre broncas do Governo e sobre as declarações de Rui Rio e as iniciativas do PSD.

O propósito deste grupo, assumido claramente por Salvador Malheiro quando o criou, é lançar uma rede de grupos semelhantes, para que a informação circule desde a cúpula até redes de base, de forma capilar. De acordo com mensagens partilhadas por Malheiro, os grupos originais por si criados totalizaram “cerca de 600 pessoas”. “A ideia agora” - explicou o vice-presidente do PSD que domina o aparelho partidário - “é que cada um possa criar a sua própria rede com grupos complementares e listas de destinatários sobretudo nas suas áreas geográficas!”

“Eu continuarei a ‘alimentar’ estes grupos originais com conteúdos naturalmente centrados no nosso Presidente Rui Rio!”, acrescentou Malheiro, que costuma terminar as suas mensagens com palavra de ordem como “O PSD somos todos Nós! VAMOS GANHAR!”. Noutra mensagem, insistiu: cada um deve “criar a sua própria rede com grupos complementares e listas de destinatários sobretudo nas suas áreas geográficas com conteúdos centrados no nosso Presidente Rui Rio”.

Na semana passada, Salvador Malheiro fazia o ponto da situação, noutro texto partilhado no grupo “Rui Rio I”: “Os grupos de Whatsapp estão a funcionar. Neste momento, para além dos quatro grupos iniciais, temos já grupos específicos a funcionar no Porto (diversos), em Aveiro, nas comunidades, em Castelo Branco, em Coimbra, nas Caldas da Rainha, em Barcelos. Somos já milhares de pessoas em rede! Peço-vos que continuem! Façam mais grupos! Vamos levar esta mensagem de verdade a todo o Portugal! Vamos ganhar! (...)”Apesar do autarca de Ovar frisar que esta é uma iniciativa sua, e não da direção do PSD, Rui Rio mostrou a sua aprovação pela iniciativa, através de uma mensagem que Malheiro divulgou: “Assim está bem. Assim podemos lutar para construir uma alternativa credível ao PS e à esquerda mais radical [emoji de aplauso]. Com gente cá dentro a fazer o jogo do próprio adversário na comunicação social é que não é possível [emoji a revirar os olhos]. Vamos em frente [emoji do V de vitória]”

O inimigo Marques Mendes

E o que têm lido esses “milhares” de pessoas a quem Malheiro pede que sejam reencaminhadas as mensagens dos quatro grupos originais? Esta semana, por exemplo, leram sobre Marques Mendes o que Maomé não disse do toucinho. Depois de ter comparado o ímpeto controleiro de Rio ao de Sócrates, o ex-líder do PSD foi acusado de tudo: de estar feito com Costa, de procurar palco, de querer agradar à comunicação social, de ter medo de um líder , e, claro, de ser “pequenino”. São várias as referências à estatura de Mendes, para o desqualificar - “Homem baixo ou é velhaco ou dançarino”; “pensei que este senhor era só baixinho fisicamente. Mas afinal é igualmente baixinho, diria mínimo, em termos intelectuais”, e assim por diante.

A partir daqui, valeu tudo. Há a insinuação de conluio com António Costa: “Ele já está no clube do Costa há muito, hoje apenas mostrou para todos ficarem com a certeza, o ‘cartão de sócio’”. A imputação de vileza: “Uma comparação sem nexo, com laivos fortes de mesquinhez e de ataque centrado no [Rui Rio].” A suspeita de um arranjo para “cair em graça na comunicação social”. A tentação da hipérbole: “Declarações terrivelmente desonestas não só para com o nosso presidente Rui Rio mas também para com os Portugueses, para com o PSD e para connosco, filiados do PSD. Qualquer pessoa que fale em Sócrates para o comparar com algum português, é uma ofensa para Portugal. Nunca ninguém roubou o suficiente para levar o país à bancarrota a não ser Sócrates.” A sugestão de ação disciplinar: “Dr. Rui Rio e dr. Malheiro (...) não podia [deixar] de vos pedir como militante do PSD para implementar medidas a estes senhores, a ter alguma contenção nos comentários e aproveitar os tempos de antena para unir o partido e não para o desunir o trabalho de um grupo de trabalho [sic]”. A outra sugestão: “Não há ninguém que dê uma palavrinha a este senhor?”. O wishfull thinking: “O tiro vai acabar por lhe sair pela culatra”. A denúncia de quem vê o lado bom da coisa: “Estes ataques são também um sinal positivo (...) Os lobistas e traficantes de influências deste país estão todos contra Rui Rio. Um sinal de que demonstra que estamos perante um projecto verdadeiramente renovador.” O mesmo otimismo denunciador, mas por outras palavras: “O problema de LMM é que a possibilidade de um homem íntegro e honesto com Rui Rio, chegar a primeiro ministro de Portugal é cada vez maior e de uma vez por todas a corrupção e os lobbies irão desaparecer do nosso espectro político”. O insulto com exercício de estilo: “Um parvo que subiu a cretino”. A insinuação indignada: “Ele diz o que quer assim como tantos outros o fazem em artigos de opinião e entrevistas compradas!” A indignação pura e dura: “Eu estou chocada!”; “É inaceitável e até revoltante!”; “Abjeto!”; “Execrável!”; “Como se combate isto?”

Feliciano denuncia “tráfico de informação”

Boa questão. Que não ficou sem resposta. Um ex-candidato autárquico deu a seguinte sugestão: “[Mendes] tem mesmo de ser enxovalhado sem pudor”. Também há quem aconselhe que Marques Mendes seja ignorado (“não percam tempo com MM”; “Não merece qualquer atenção”; “Não há alma viva [sic] dos comuns eleitores que tenha vontade de o ouvir”) e quem ache, pelo contrário, que isso seria um erro (“O que acabou de acontecer é muito grave e não devia ficar sem resposta, ignorar não é solução”). Salvador Malheiro, esse, demorou pouco a responder, com um post que reproduziu também nas redes sociais abertas: “Ao comparar Rui Rio a Sócrates, LMM foi longe demais! Foi Presidente do Partido. Tem responsabilidades acrescidas. QUE VERGONHA! O LMM perdeu toda a credibilidade junto dos portugueses!”

Apesar da comunicação social ser um dos bombos da festa neste grupo de Whatsapp, quando os conteúdos são convenientes, o jornalismo passa a ser um aliado. Sobre o “affair” Mendes, nenhuma peça jornalística foi tão elogiada como um “fact check” feito pelo site Polígrafo para responder à pergunta “Rui Rio nunca teve uma palavra de apoio a Joana Marques Vidal e deixou-a cair?”. O site chega à conclusão de que a acusação de Mendes é falsa e logo houve quem sugerisse que esse texto fosse amplamente partilhado. Um texto de opinião do jornalista Paulo Baldaia, publicado no “Jornal de Notícias”, muito duro em relação a Mendes, também mereceu aplausos (não foi o único texto de Baldaia que agradou aos membros do grupo).

Com a “casa a arder” por causa de Marques Mendes, o ex-secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte foi a contracorrente. Na sua única intervenção neste grupo até ao fecho deste texto, Barreiras Duarte deixou um recado que alguns dirigentes do PSD podem não ter gostado de ler: “Não nos vale de nada os nossos desabafos e comentários quando temos gente da equipa de Rui Rio a fazer todas as semanas tráfico de informação com estas pessoas.” E acrescentou: “As coisas só mudarão (e pouco) se tivermos a coragem de fazermos o histórico de seriedade, tráfico de influências, pressões políticas e de negócios, e muitas outras coisas, destes novos sérios, não aparelhistas e muito sérios e cultores dos valores éticos e morais irrepreensíveis…”, escreveu, em tom irónico. A denúncia, a sugestão e a ironia não tiveram comentários. Nem emojis.

Os outros inimigos internos

Mas Mendes não é o único social-democrata crítico de Rio que recebe mimos no grupo fechado que o Expresso visitou. Apesar de, a certa altura, Malheiro ter avisado as hostes de que “esta é uma plataforma de construção, divulgação e fortalecimento interno do nosso PSD e do nosso Presidente Rui Rio. Este espaço não deve ser usado para críticas internas que não são úteis nem viáveis”, houve quem discordasse. Alberto Machado, líder da distrital do Porto, deu resposta pronta ao vice-presidente do partido: “Então agradeço que expliquem aos militantes do Porto estes artitgos de oposição ao PSD, de militantes com responsabilidades, já que somos nós na distrital [que] todos os dias nos deparamos com a realidade desta meia dúzia de críticos na imprensa. Realço que o Miguel Morgado é deputado eleito pelo círculo do Porto, e o Porto não se revê nesta postura”. O dirigente portuense recebeu o apoio de outra militante do distrito, que recomendou: “Não podemos ficar indiferentes! Foram os votos do distrito que o levaram a deputado! Logo, tem de prestar contas! Que a Comissão Política Distrital o convoque!”

João Moura, presidente da distrital de Santarém, deu outro conselho: “Usando uma dose ponderada de sangue de lagarto, pratiquemos o silêncio como resposta aos instalados ‘estrebuchantes’ que temem a desinstalação”.

O mesmo Malheiro que recomendou que o grupo de Whatsapp não servisse para críticas internas, reproduziu aí, uns dias depois, um trabalho do Público sobre “protagonistas e candidatos a sê-lo [que] lutam pelo seu espaço no PSD”, focado em Pedro Duarte, Luís Montenegro e Paulo Rangel, entre outros, com comentário: “Isto é que divide o PSD. Isto é que dá força ao PS! (...)”

Outra troca de mensagens deixou claro que, mesmo entre os rioístas, não é pacífico o que fazer em relação aos críticos. Quando Arnaldo Paredes, dirigente da concelhia de Coimbra, escreveu “Eu quero que terminem as guerras fraticidas (...) Ganha o PS e desgastamo-nos nós. Por favor parem”, André Coelho Lima, da Comissão Política Nacional, veio a jogo fazer uma advertência: “Todos estamos de acordo com a importância de terminarem as guerras internas (...). No entanto, não podemos esquecer que, infelizmente, não está ao nosso alcance fazê-lo! Se de cada vez que pretendemos levantar a cabeça nos aparecer um companheiro ou eleito nosso a tentar desacreditar-nos, ora acusando o PSD de ‘definhamento’, ora pondo constantemente pedras no caminho de Rui Rio, por muito que o tentemos ignorar não há como o ignorar. Até porque a comunicação social não no-lo [sic] deixa fazê-lo.” É aos que não gostaram do resultado das diretas “que deve ser dirigido o pedido de que ‘por favor parem’.

De resto, o clima de conflito interno fica bem patente logo numa das primeiras mensagens, de Ester Amorim, que integra a Comissão de Auditoria Financeira do PSD: “Ser líder do PSD eleito em eleições diretas é não estar refém de deputados, concelhias ou distritais (...). Infelizmente com muita apreensão existem no nosso partido militantes e dirigentes de extrema-direita que todos os dias nas redes sociais se declaram inimigos da atual liderança. (...) A essas pessoas que se intitulam do partido mas que tudo fazem para o destruir não lhes vamos dar essa alegria (...)”.

Os ataques à comunicação social

Outra obsessão do PSD, que contamina também as conversa do grupo “Rui Rio I”, é a comunicação social. Ou, nas palavras de uma conselheira nacional do partido, “a vergonha que se constata na comunicação social, que não releva os principais problemas do país e enfatiza todas as situações que fragilizam o PSD”. Não é só o problema do palco mediático de Marques Mendes (como, noutros tempos, era um problema o palco mediático de Marcelo). Salvador Malheiro partilhou um post de um perfil falso do Facebook acusando o Expresso de escrever “fake news”. Noutra mensagem, sobre outra notícia do Expresso, garantiu que “esta notícia é falsa!” (o Expresso reafirmou a sua veracidade), e a essa denúncia voltou a juntar o desafio: “Façam grupos, convidem amigos. Partilhem conteúdos centrados no nosso Presidente! Vamos dar a esta ‘maioria silenciosa’ a potência e a visibilidade merecidas”.

Ao escrutínio de Malheiro também não escapou o tratamento que a SIC e a RTP deram a uma declaração de Rui Rio: “A peça da SIC no Jornal da Noite relativamente à problemática dos enfermeiros é demasiado curta e nitidamente parcial, não relatando tudo o que foi dito pelo nosso Presidente”, por isso deixou o link da notícia da RTP, “bem melhor e imparcial”.

Elina Fraga também se incomodou com uma notícia do Expresso: “O título pode até ser apelativo, mas não é rigoroso, nem verdadeiro: o PSD não propôs a introdução da figura da delação premiada no ordenamento jurídico português” - pormenor: quando Elina partilhou esta mensagem, o PSD já tinha recuado, admitindo um erro ao propor a delação premiada; quando o Expresso publicou a notícia, ainda não houvera recuo.

Uma autarca de freguesia em Lisboa também fez a sua análise: “Julgo que os maiores obstáculos estão na comunicação social (Observador, SIC, Expresso, principalmente) e em alguns comentadores”. E deixou uma recomendação: “Estes grupos internos são positivos e dinâmicos, mas a comunicação social não pode ficar ausente da estratégia política”. Ao que Isabel Meireles acrescentou, numa mensagem publicada às 5h59 da manhã: “Já estamos a conseguir penetrar na Visão, Público, Jornal de Negócios e JN. Faltam as televisões!” Como que a confirmar esta “penetração”, Salvador Malheiro publicou algumas notícias desses jornais (“Boooa!”, reagiu Meireles).

Mas quando o autarca de Ovar se viu confrontado por uma notícia do Observador sobre uma guerra de poder entre Malheiro e José Silvano, divulgou-a com o comentário “quando as fake news já só são funny news”. Foi a deixa para dar tareia no Observador. “A estratégia do dividir internamente para depois conquistar é básica, primária e não produz grandes resultados se for feita com tão pouca inteligência”, escreveu um. Outro membro publicou uma imagem do carpool que o jornal online fez com Luís Montenegro no último congresso do PSD, explicando-a assim: “Este pascácio [sinónimo de lorpa, ou idiota], LM [Luís Montenegro], já no congresso do PSD andava à boleia do pasquim do JMF [José Manuel Fernandes], para gáudio do MR [Miguel Relvas?]!!!”

À pergunta sobre se estes grupos não acabam por acicatar um amboente de hostilidade em relação à comunicação social, Malheiro respondeu ao Expresso: “Não creio”. E sobre a chuva de ataques a Marques Mendes por causa dos seus comentários na SIC, diz mesmo: “O número de críticas [a Mendes] que tenho ouvido em reuniões de militantes do PSD é claramente superior às que li nos grupos de WhatsApp”.

O “palhaço das selfies” e o “estúpido do Cabrita”

Apesar do desdém demonstrado por alguma comunicação social, a mesma comunicação social revela-se útil, e também é citada com abundância, quando se trata de criticar o governo, o PS ou até o Presidente da República. Numa mensagem, os socialistas são tratados como “coristas com cara de pau”; noutra, Marcelo é “o palhaço das selfis [sic]”; noutra ainda, o ministro da Administração Interna é “o estúpido do Cabrita”.

Boa parte desses comentários referem-se a notícias que os membros do grupo consideram importante o PSD explorar: Centeno a pedir medidas adicionais a Portugal, a antecipação do pagamento dívida ao FMI, o surto de greves, a saída de Paulo Trigo Pereira da bancada do PS, o Tribunal Constitucional a arquivar o caso contra Siza Vieira, a demissão de um diretor da CP que avisou para riscos de segurança nas automotoras e a lei da rolha imposta na empresa, a rutura dos bombeiros com o MAI, o acidente com o helicóptero do INEM (Duarte Marques, sempre muito proativo, é dos que mais puxa por estes temas). Também há notícias que vêm do fundo do baú: Malheiro recuperou uma sobre “Costa coordena recandidatura de Sócrates”, com o comentário: “Muitos já se esqueceram. Nós não”.

Os media tradicionais não são, porém, a única fonte a que estes sociais-democratas recorrem. Uma imagem do partido Iniciativa Liberal sobre diferença de tratamento entre trabalhadores do público e do privado foi partilhada, depois de ser cortada a parte da imagem que identificava a sua autoria. E Isabel Meireles disponibilizou um vídeo que foi buscar ao site Direita Política, uma das mais famosas páginas de fake news portuguesas. Neste caso, o vídeo era real, mas antigo, sobre as escutas do caso Casa Pia entre Ferro Rodrigues e António Costa (2003). O título do vídeo é eloquente: “Se todos os portugueses virem este vídeo, o PS será DIZIMADO nas próximas eleições. DIVULGUE!”. Meireles divulgou.

Sondagens e “sondagens”

Ainda na comunicação social, Salvador Malheiro teve o cuidado de partilhar o link para votar num inquérito online do Forum TSF que convinha ao PSD. E também exortou o grupo a votar numa sondagem do site Opinion Podium sobre a avaliação do desempenho de Rui Rio e quem devia ser o líder do PSD (apesar do empenho de Malheiro, Rio sai-se mal em ambos os items - no desempenho, 62% dos que responderam acharam “negativo” ou “muito negativo”; sobre quem devia ser o líder, 34,3% votaram Passos, só 28,6% escolheram Rio…)

Por falar em sondagem, na sexta-feira, 14, o administrador do grupo tratou de preparar as hostes para as más notícias do inquérito de Aximage que seria divulgado nesse fim-de-semana. Trata-se da mesma sondagem que, em novembro, os rioístas divulgaram nas redes sociais, pois dava um crescimento de dois pontos percentuais ao PSD; agora descia 1,7 pontos percentuais. Para Malheiro, agora essas “sondagens” escrevem-se com aspas. Com mais contestação social, com “uma viragem à esquerda do PS”, com “sinais de maior unidade dentro do PSD”, entre outros fatores, o “vice” de Rio ironiza - “com tudo isto, é óbvio que quem tem de descer nas ‘sondagens’ é o… PSD. Deus queira que as greves acabem para o PS começar a descer e o PSD a subir.” Comentários de outros membros: as sondagens são “encomendadas” e são “dos chuchas”.

Rio, o “grande líder”

O grupo de Whatsapp também serve para o seu propósito central: promover a mensagem do PSD e a imagem de Rui Rio. O “nosso Presidente”, sempre com P maiúsculo. O “Grande Líder”, como se lhe refere um membro, também com maiúsculas. As intervenções públicas de Rio na comunicação social são partilhadas, bem como os seus tweets, que Malheiro disponibiliza quase em tempo real. Há quem faça questão de adjetivar com generosidade as qualidades de Rio e o brilhantismo das suas intervenções.

Também há quem partilhe as suas próprias intervenções - tweets, entrevistas, declarações à comunicação social. Dois dos documentos já produzidos pelo Conselho Estratégico Nacional foram divulgados na rede - sobre política de natalidade e utilização de fundos europeus.

E há até quem faça política com um toque de humor, como João Moura, de Santarém. Aproximando-se o Natal, brindou os restantes membros do grupo com um meme com a imagem de Jesus ao colo de Maria - só que com os rostos bíblicos substituídos, respetivamente, pelos de António Costa e Marcelo.

Nota1: Em regra, optou-se por não reproduzir erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos textos originais;

Nota2: Este texto é uma versão longa do artigo publicado este sábado na edição do Expresso em papel, com o título: “Só ao estalo!”, diz vice-presidente.

Domingo, dia 16, Isabel Meireles, vice-presidente do PSD, achou que Marques Mendes merecia “um estalo”. O comentador tinha acabado de dizer que, na “preocupação de controlar a Justiça e a comunicação social”, Rui Rio e José Sócrates são “irmãos siameses”. A dirigente do PSD não guardou para si o que sentia. “O Marques Mendes compara Rio a Sócrates!!! Só ao estalo!!”, escreveu, num grupo de WhatsApp criado por outro vice-presidente, Salvador Malheiro. A mensagem de Meireles, partilhada quando Mendes ainda não tinha acabado o seu comentário semanal, foi o rastilho para um rosário de insultos ao antigo líder do PSD.

“Rui Rio I” é um de quatro grupos de WhatsApp que Malheiro criou a 2 de dezembro, “a título pessoal”, e de que é único administrador - ou seja, é o presidente da Câmara de Ovar e “vice” de Rio quem autoriza a entrada ou a expulsão de novos membros. “Os grupos surgiram por solicitação de inúmeras pessoas”, diz Malheiro ao Expresso, explicando que convidou os seus “contactos pessoais”. “Para quem fica, os comentários são totalmente livres. É, na prática, como num encontro de pessoas, onde cada um diz o que entende.”

Na semana passada, quando o Expresso consultou o histórico desse grupo, tinha 250 participantes, entre dirigentes nacionais do PSD, deputados e responsáveis locais. Para além da regra de ser frequentado apenas por militantes laranja, parece haver apenas uma outra: críticos internos de Rui Rio não entram (pelo menos, críticos assumidos). Aliás, os críticos de Rio são um dos grandes alvos dos comentários e das informações partilhadas dentro do grupo.

No essencial, dentro deste grupo fechado partilham-se críticas ferozes aos sociais-democratas que não apoiam Rio (como foi o caso flagrante de Marques Mendes na semana passada), ataques à comunicação social, por dar palco a essas vozes discordantes, dicas sobre como fazer oposição, e partilha de informação sobre broncas do Governo e sobre as declarações de Rui Rio e as iniciativas do PSD.

O propósito deste grupo, assumido claramente por Salvador Malheiro quando o criou, é lançar uma rede de grupos semelhantes, para que a informação circule desde a cúpula até redes de base, de forma capilar. De acordo com mensagens partilhadas por Malheiro, os grupos originais por si criados totalizaram “cerca de 600 pessoas”. “A ideia agora” - explicou o vice-presidente do PSD que domina o aparelho partidário - “é que cada um possa criar a sua própria rede com grupos complementares e listas de destinatários sobretudo nas suas áreas geográficas!”

“Eu continuarei a ‘alimentar’ estes grupos originais com conteúdos naturalmente centrados no nosso Presidente Rui Rio!”, acrescentou Malheiro, que costuma terminar as suas mensagens com palavra de ordem como “O PSD somos todos Nós! VAMOS GANHAR!”. Noutra mensagem, insistiu: cada um deve “criar a sua própria rede com grupos complementares e listas de destinatários sobretudo nas suas áreas geográficas com conteúdos centrados no nosso Presidente Rui Rio”.

Na semana passada, Salvador Malheiro fazia o ponto da situação, noutro texto partilhado no grupo “Rui Rio I”: “Os grupos de Whatsapp estão a funcionar. Neste momento, para além dos quatro grupos iniciais, temos já grupos específicos a funcionar no Porto (diversos), em Aveiro, nas comunidades, em Castelo Branco, em Coimbra, nas Caldas da Rainha, em Barcelos. Somos já milhares de pessoas em rede! Peço-vos que continuem! Façam mais grupos! Vamos levar esta mensagem de verdade a todo o Portugal! Vamos ganhar! (...)”Apesar do autarca de Ovar frisar que esta é uma iniciativa sua, e não da direção do PSD, Rui Rio mostrou a sua aprovação pela iniciativa, através de uma mensagem que Malheiro divulgou: “Assim está bem. Assim podemos lutar para construir uma alternativa credível ao PS e à esquerda mais radical [emoji de aplauso]. Com gente cá dentro a fazer o jogo do próprio adversário na comunicação social é que não é possível [emoji a revirar os olhos]. Vamos em frente [emoji do V de vitória]”

O inimigo Marques Mendes

E o que têm lido esses “milhares” de pessoas a quem Malheiro pede que sejam reencaminhadas as mensagens dos quatro grupos originais? Esta semana, por exemplo, leram sobre Marques Mendes o que Maomé não disse do toucinho. Depois de ter comparado o ímpeto controleiro de Rio ao de Sócrates, o ex-líder do PSD foi acusado de tudo: de estar feito com Costa, de procurar palco, de querer agradar à comunicação social, de ter medo de um líder , e, claro, de ser “pequenino”. São várias as referências à estatura de Mendes, para o desqualificar - “Homem baixo ou é velhaco ou dançarino”; “pensei que este senhor era só baixinho fisicamente. Mas afinal é igualmente baixinho, diria mínimo, em termos intelectuais”, e assim por diante.

A partir daqui, valeu tudo. Há a insinuação de conluio com António Costa: “Ele já está no clube do Costa há muito, hoje apenas mostrou para todos ficarem com a certeza, o ‘cartão de sócio’”. A imputação de vileza: “Uma comparação sem nexo, com laivos fortes de mesquinhez e de ataque centrado no [Rui Rio].” A suspeita de um arranjo para “cair em graça na comunicação social”. A tentação da hipérbole: “Declarações terrivelmente desonestas não só para com o nosso presidente Rui Rio mas também para com os Portugueses, para com o PSD e para connosco, filiados do PSD. Qualquer pessoa que fale em Sócrates para o comparar com algum português, é uma ofensa para Portugal. Nunca ninguém roubou o suficiente para levar o país à bancarrota a não ser Sócrates.” A sugestão de ação disciplinar: “Dr. Rui Rio e dr. Malheiro (...) não podia [deixar] de vos pedir como militante do PSD para implementar medidas a estes senhores, a ter alguma contenção nos comentários e aproveitar os tempos de antena para unir o partido e não para o desunir o trabalho de um grupo de trabalho [sic]”. A outra sugestão: “Não há ninguém que dê uma palavrinha a este senhor?”. O wishfull thinking: “O tiro vai acabar por lhe sair pela culatra”. A denúncia de quem vê o lado bom da coisa: “Estes ataques são também um sinal positivo (...) Os lobistas e traficantes de influências deste país estão todos contra Rui Rio. Um sinal de que demonstra que estamos perante um projecto verdadeiramente renovador.” O mesmo otimismo denunciador, mas por outras palavras: “O problema de LMM é que a possibilidade de um homem íntegro e honesto com Rui Rio, chegar a primeiro ministro de Portugal é cada vez maior e de uma vez por todas a corrupção e os lobbies irão desaparecer do nosso espectro político”. O insulto com exercício de estilo: “Um parvo que subiu a cretino”. A insinuação indignada: “Ele diz o que quer assim como tantos outros o fazem em artigos de opinião e entrevistas compradas!” A indignação pura e dura: “Eu estou chocada!”; “É inaceitável e até revoltante!”; “Abjeto!”; “Execrável!”; “Como se combate isto?”

Feliciano denuncia “tráfico de informação”

Boa questão. Que não ficou sem resposta. Um ex-candidato autárquico deu a seguinte sugestão: “[Mendes] tem mesmo de ser enxovalhado sem pudor”. Também há quem aconselhe que Marques Mendes seja ignorado (“não percam tempo com MM”; “Não merece qualquer atenção”; “Não há alma viva [sic] dos comuns eleitores que tenha vontade de o ouvir”) e quem ache, pelo contrário, que isso seria um erro (“O que acabou de acontecer é muito grave e não devia ficar sem resposta, ignorar não é solução”). Salvador Malheiro, esse, demorou pouco a responder, com um post que reproduziu também nas redes sociais abertas: “Ao comparar Rui Rio a Sócrates, LMM foi longe demais! Foi Presidente do Partido. Tem responsabilidades acrescidas. QUE VERGONHA! O LMM perdeu toda a credibilidade junto dos portugueses!”

Apesar da comunicação social ser um dos bombos da festa neste grupo de Whatsapp, quando os conteúdos são convenientes, o jornalismo passa a ser um aliado. Sobre o “affair” Mendes, nenhuma peça jornalística foi tão elogiada como um “fact check” feito pelo site Polígrafo para responder à pergunta “Rui Rio nunca teve uma palavra de apoio a Joana Marques Vidal e deixou-a cair?”. O site chega à conclusão de que a acusação de Mendes é falsa e logo houve quem sugerisse que esse texto fosse amplamente partilhado. Um texto de opinião do jornalista Paulo Baldaia, publicado no “Jornal de Notícias”, muito duro em relação a Mendes, também mereceu aplausos (não foi o único texto de Baldaia que agradou aos membros do grupo).

Com a “casa a arder” por causa de Marques Mendes, o ex-secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte foi a contracorrente. Na sua única intervenção neste grupo até ao fecho deste texto, Barreiras Duarte deixou um recado que alguns dirigentes do PSD podem não ter gostado de ler: “Não nos vale de nada os nossos desabafos e comentários quando temos gente da equipa de Rui Rio a fazer todas as semanas tráfico de informação com estas pessoas.” E acrescentou: “As coisas só mudarão (e pouco) se tivermos a coragem de fazermos o histórico de seriedade, tráfico de influências, pressões políticas e de negócios, e muitas outras coisas, destes novos sérios, não aparelhistas e muito sérios e cultores dos valores éticos e morais irrepreensíveis…”, escreveu, em tom irónico. A denúncia, a sugestão e a ironia não tiveram comentários. Nem emojis.

Os outros inimigos internos

Mas Mendes não é o único social-democrata crítico de Rio que recebe mimos no grupo fechado que o Expresso visitou. Apesar de, a certa altura, Malheiro ter avisado as hostes de que “esta é uma plataforma de construção, divulgação e fortalecimento interno do nosso PSD e do nosso Presidente Rui Rio. Este espaço não deve ser usado para críticas internas que não são úteis nem viáveis”, houve quem discordasse. Alberto Machado, líder da distrital do Porto, deu resposta pronta ao vice-presidente do partido: “Então agradeço que expliquem aos militantes do Porto estes artitgos de oposição ao PSD, de militantes com responsabilidades, já que somos nós na distrital [que] todos os dias nos deparamos com a realidade desta meia dúzia de críticos na imprensa. Realço que o Miguel Morgado é deputado eleito pelo círculo do Porto, e o Porto não se revê nesta postura”. O dirigente portuense recebeu o apoio de outra militante do distrito, que recomendou: “Não podemos ficar indiferentes! Foram os votos do distrito que o levaram a deputado! Logo, tem de prestar contas! Que a Comissão Política Distrital o convoque!”

João Moura, presidente da distrital de Santarém, deu outro conselho: “Usando uma dose ponderada de sangue de lagarto, pratiquemos o silêncio como resposta aos instalados ‘estrebuchantes’ que temem a desinstalação”.

O mesmo Malheiro que recomendou que o grupo de Whatsapp não servisse para críticas internas, reproduziu aí, uns dias depois, um trabalho do Público sobre “protagonistas e candidatos a sê-lo [que] lutam pelo seu espaço no PSD”, focado em Pedro Duarte, Luís Montenegro e Paulo Rangel, entre outros, com comentário: “Isto é que divide o PSD. Isto é que dá força ao PS! (...)”

Outra troca de mensagens deixou claro que, mesmo entre os rioístas, não é pacífico o que fazer em relação aos críticos. Quando Arnaldo Paredes, dirigente da concelhia de Coimbra, escreveu “Eu quero que terminem as guerras fraticidas (...) Ganha o PS e desgastamo-nos nós. Por favor parem”, André Coelho Lima, da Comissão Política Nacional, veio a jogo fazer uma advertência: “Todos estamos de acordo com a importância de terminarem as guerras internas (...). No entanto, não podemos esquecer que, infelizmente, não está ao nosso alcance fazê-lo! Se de cada vez que pretendemos levantar a cabeça nos aparecer um companheiro ou eleito nosso a tentar desacreditar-nos, ora acusando o PSD de ‘definhamento’, ora pondo constantemente pedras no caminho de Rui Rio, por muito que o tentemos ignorar não há como o ignorar. Até porque a comunicação social não no-lo [sic] deixa fazê-lo.” É aos que não gostaram do resultado das diretas “que deve ser dirigido o pedido de que ‘por favor parem’.

De resto, o clima de conflito interno fica bem patente logo numa das primeiras mensagens, de Ester Amorim, que integra a Comissão de Auditoria Financeira do PSD: “Ser líder do PSD eleito em eleições diretas é não estar refém de deputados, concelhias ou distritais (...). Infelizmente com muita apreensão existem no nosso partido militantes e dirigentes de extrema-direita que todos os dias nas redes sociais se declaram inimigos da atual liderança. (...) A essas pessoas que se intitulam do partido mas que tudo fazem para o destruir não lhes vamos dar essa alegria (...)”.

Os ataques à comunicação social

Outra obsessão do PSD, que contamina também as conversa do grupo “Rui Rio I”, é a comunicação social. Ou, nas palavras de uma conselheira nacional do partido, “a vergonha que se constata na comunicação social, que não releva os principais problemas do país e enfatiza todas as situações que fragilizam o PSD”. Não é só o problema do palco mediático de Marques Mendes (como, noutros tempos, era um problema o palco mediático de Marcelo). Salvador Malheiro partilhou um post de um perfil falso do Facebook acusando o Expresso de escrever “fake news”. Noutra mensagem, sobre outra notícia do Expresso, garantiu que “esta notícia é falsa!” (o Expresso reafirmou a sua veracidade), e a essa denúncia voltou a juntar o desafio: “Façam grupos, convidem amigos. Partilhem conteúdos centrados no nosso Presidente! Vamos dar a esta ‘maioria silenciosa’ a potência e a visibilidade merecidas”.

Ao escrutínio de Malheiro também não escapou o tratamento que a SIC e a RTP deram a uma declaração de Rui Rio: “A peça da SIC no Jornal da Noite relativamente à problemática dos enfermeiros é demasiado curta e nitidamente parcial, não relatando tudo o que foi dito pelo nosso Presidente”, por isso deixou o link da notícia da RTP, “bem melhor e imparcial”.

Elina Fraga também se incomodou com uma notícia do Expresso: “O título pode até ser apelativo, mas não é rigoroso, nem verdadeiro: o PSD não propôs a introdução da figura da delação premiada no ordenamento jurídico português” - pormenor: quando Elina partilhou esta mensagem, o PSD já tinha recuado, admitindo um erro ao propor a delação premiada; quando o Expresso publicou a notícia, ainda não houvera recuo.

Uma autarca de freguesia em Lisboa também fez a sua análise: “Julgo que os maiores obstáculos estão na comunicação social (Observador, SIC, Expresso, principalmente) e em alguns comentadores”. E deixou uma recomendação: “Estes grupos internos são positivos e dinâmicos, mas a comunicação social não pode ficar ausente da estratégia política”. Ao que Isabel Meireles acrescentou, numa mensagem publicada às 5h59 da manhã: “Já estamos a conseguir penetrar na Visão, Público, Jornal de Negócios e JN. Faltam as televisões!” Como que a confirmar esta “penetração”, Salvador Malheiro publicou algumas notícias desses jornais (“Boooa!”, reagiu Meireles).

Mas quando o autarca de Ovar se viu confrontado por uma notícia do Observador sobre uma guerra de poder entre Malheiro e José Silvano, divulgou-a com o comentário “quando as fake news já só são funny news”. Foi a deixa para dar tareia no Observador. “A estratégia do dividir internamente para depois conquistar é básica, primária e não produz grandes resultados se for feita com tão pouca inteligência”, escreveu um. Outro membro publicou uma imagem do carpool que o jornal online fez com Luís Montenegro no último congresso do PSD, explicando-a assim: “Este pascácio [sinónimo de lorpa, ou idiota], LM [Luís Montenegro], já no congresso do PSD andava à boleia do pasquim do JMF [José Manuel Fernandes], para gáudio do MR [Miguel Relvas?]!!!”

À pergunta sobre se estes grupos não acabam por acicatar um amboente de hostilidade em relação à comunicação social, Malheiro respondeu ao Expresso: “Não creio”. E sobre a chuva de ataques a Marques Mendes por causa dos seus comentários na SIC, diz mesmo: “O número de críticas [a Mendes] que tenho ouvido em reuniões de militantes do PSD é claramente superior às que li nos grupos de WhatsApp”.

O “palhaço das selfies” e o “estúpido do Cabrita”

Apesar do desdém demonstrado por alguma comunicação social, a mesma comunicação social revela-se útil, e também é citada com abundância, quando se trata de criticar o governo, o PS ou até o Presidente da República. Numa mensagem, os socialistas são tratados como “coristas com cara de pau”; noutra, Marcelo é “o palhaço das selfis [sic]”; noutra ainda, o ministro da Administração Interna é “o estúpido do Cabrita”.

Boa parte desses comentários referem-se a notícias que os membros do grupo consideram importante o PSD explorar: Centeno a pedir medidas adicionais a Portugal, a antecipação do pagamento dívida ao FMI, o surto de greves, a saída de Paulo Trigo Pereira da bancada do PS, o Tribunal Constitucional a arquivar o caso contra Siza Vieira, a demissão de um diretor da CP que avisou para riscos de segurança nas automotoras e a lei da rolha imposta na empresa, a rutura dos bombeiros com o MAI, o acidente com o helicóptero do INEM (Duarte Marques, sempre muito proativo, é dos que mais puxa por estes temas). Também há notícias que vêm do fundo do baú: Malheiro recuperou uma sobre “Costa coordena recandidatura de Sócrates”, com o comentário: “Muitos já se esqueceram. Nós não”.

Os media tradicionais não são, porém, a única fonte a que estes sociais-democratas recorrem. Uma imagem do partido Iniciativa Liberal sobre diferença de tratamento entre trabalhadores do público e do privado foi partilhada, depois de ser cortada a parte da imagem que identificava a sua autoria. E Isabel Meireles disponibilizou um vídeo que foi buscar ao site Direita Política, uma das mais famosas páginas de fake news portuguesas. Neste caso, o vídeo era real, mas antigo, sobre as escutas do caso Casa Pia entre Ferro Rodrigues e António Costa (2003). O título do vídeo é eloquente: “Se todos os portugueses virem este vídeo, o PS será DIZIMADO nas próximas eleições. DIVULGUE!”. Meireles divulgou.

Sondagens e “sondagens”

Ainda na comunicação social, Salvador Malheiro teve o cuidado de partilhar o link para votar num inquérito online do Forum TSF que convinha ao PSD. E também exortou o grupo a votar numa sondagem do site Opinion Podium sobre a avaliação do desempenho de Rui Rio e quem devia ser o líder do PSD (apesar do empenho de Malheiro, Rio sai-se mal em ambos os items - no desempenho, 62% dos que responderam acharam “negativo” ou “muito negativo”; sobre quem devia ser o líder, 34,3% votaram Passos, só 28,6% escolheram Rio…)

Por falar em sondagem, na sexta-feira, 14, o administrador do grupo tratou de preparar as hostes para as más notícias do inquérito de Aximage que seria divulgado nesse fim-de-semana. Trata-se da mesma sondagem que, em novembro, os rioístas divulgaram nas redes sociais, pois dava um crescimento de dois pontos percentuais ao PSD; agora descia 1,7 pontos percentuais. Para Malheiro, agora essas “sondagens” escrevem-se com aspas. Com mais contestação social, com “uma viragem à esquerda do PS”, com “sinais de maior unidade dentro do PSD”, entre outros fatores, o “vice” de Rio ironiza - “com tudo isto, é óbvio que quem tem de descer nas ‘sondagens’ é o… PSD. Deus queira que as greves acabem para o PS começar a descer e o PSD a subir.” Comentários de outros membros: as sondagens são “encomendadas” e são “dos chuchas”.

Rio, o “grande líder”

O grupo de Whatsapp também serve para o seu propósito central: promover a mensagem do PSD e a imagem de Rui Rio. O “nosso Presidente”, sempre com P maiúsculo. O “Grande Líder”, como se lhe refere um membro, também com maiúsculas. As intervenções públicas de Rio na comunicação social são partilhadas, bem como os seus tweets, que Malheiro disponibiliza quase em tempo real. Há quem faça questão de adjetivar com generosidade as qualidades de Rio e o brilhantismo das suas intervenções.

Também há quem partilhe as suas próprias intervenções - tweets, entrevistas, declarações à comunicação social. Dois dos documentos já produzidos pelo Conselho Estratégico Nacional foram divulgados na rede - sobre política de natalidade e utilização de fundos europeus.

E há até quem faça política com um toque de humor, como João Moura, de Santarém. Aproximando-se o Natal, brindou os restantes membros do grupo com um meme com a imagem de Jesus ao colo de Maria - só que com os rostos bíblicos substituídos, respetivamente, pelos de António Costa e Marcelo.

Nota1: Em regra, optou-se por não reproduzir erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos textos originais;

Nota2: Este texto é uma versão longa do artigo publicado este sábado na edição do Expresso em papel, com o título: “Só ao estalo!”, diz vice-presidente.

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