O centralismo da RDP

20-03-2019
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Um Requiem pela Rádio pública no Algarve

26 de Julho, uma
sexta-feira açoitada pelo vento suão, foi o primeiro dia do fim da Rádio
pública no Algarve, quando a Direcção de Informação da Antena 1 apoiada
pelo Conselho de Administração da RTP e pelo Governo, aproveitando o
inter-regno do «Portugal em Directo», no mês de Agosto, emitiu a
certidão de óbito do serviço público de rádio na região.

Num
silêncio sepulcral, radiosamente triste, a ameaça espalhada no éter a 7
de Outubro de 2011, da morte anunciada da RDP no Algarve, teve agora o
seu epílogo, pondo fim a 53 anos de Rádio pública no Algarve e no Baixo
Alentejo, cuja primeira emissão no Centro Regional Sul foi realizada no
dia 14 de Março de 1959.

Após algumas tentativas falhadas,
cumpriu-se o diktat da Direcção da RTP Rádio e do ministro Miguel Relvas
em acabar com a descentralização da rádio e silenciar a voz dos
algarvios na região.

A criação da RDP/Rádio Algarve em 1985
permitiu à Rádio pública materializar durante cinco anos um projecto
profissional, credível e bem dimensionado, fazendo renascer os Dias da
Rádio numa região cosmopolita e com um potencial turístico elevado como é
o Algarve.

Desde então, e nos últimos 21 anos, resultado das
políticas erráticas dos Governos PS e PSD para o sector da comunicação,
da incúria e do desleixo dos sucessivos conselhos de administração da
RDP, agora RTP, a Rádio pública no Algarve, tal como noutras regiões,
tem vindo a definhar até ao seu desaparecimento total.

O
afunilamento da Rádio pública no Algarve iniciou-se em 1991, quando o
Conselho de Administração da RDP, sem que nada o fizesse prever, a
limitou a cinco horas de emissão própria. Em 1996, subtraiu-lhe as duas
frequências, 100.7 no Sotavento e 100.9 no Barlavento, para fazer chegar
a Antena 3 à região. Já em 2003, o Conselho de Administração da RTP
“matou” a Rádio Algarve e as delegações da RDP, remetendo-as para 45
minutos de produção própria, de segunda a sexta, no “Portugal em
Directo”.

O mesmo Conselho de Administração da Rádio e Televisão
de Portugal e a Direcção de Informação da Antena 1 foram mais longe,
terminando com as emissões de fim-de-semana da RDP no Algarve, incluindo
os dias feriados e o feriado municipal de Faro, sendo que em Agosto, um
dos meses mais importantes do ano para a região, os ditos senhores
também mandaram a Rádio pública a banhos.

No final do mês de
Julho, a Direcção de Informação da Antena 1, superiormente dirigida pelo
jornalista Fausto Coutinho, limpou o espectro rádioeléctrico,
libertando as frequências regionais da RDP da presença dos 400 mil
indígenas que vivem no Algarve, nos quais me incluo.

Assim, e
desde o dia 08 de Outubro, «O Portugal em Directo», único espaço de
informação regional da Rádio pública, passou a ser emitido a partir da
delegação do Porto. Porquê a partir do Porto e não de Faro ou de
Coimbra? Será pela densidade populacional, pelo poder económico ou pela
magistratura de influências que a capital do Norte exerce no país?

Aquilo
que sabemos é que a sociedade algarvia aceitou com uma quietude
perturbadora a vontade asfixiante e centralista da RTP e da Direcção de
Informação da Antena 1 em coarctar a voz da região na Rádio pública, a
partir de Faro.

Como foi possível aos senhores deputados eleitos
pelo Algarve na Assembleia da República, da esquerda à direita, excepção
feita a Cristóvão Norte, que se bateu para que o Algarve não ficasse
sem a Rádio pública, consentiram tal desfecho? O que dizer da atitude
passiva dos senhores Presidentes de Câmara, que aceitaram esta afronta
sem pestanejar, esquecendo-se que o serviço público de rádio é também um
pólo de desenvolvimento do poder local?

Nesta maldade infringida
aos algarvios, onde estiveram os paladinos da criação da região
administrativa do Algarve, que num silêncio comprometedor contribuíram
para o fim da regionalização da Rádio pública? E os agentes empresariais
e culturais desta terra a Sul, que frequentemente reclamam melhores
condições ao estado para desenvolver a sua actividade, como puderam
passar por esta situação, como cão por vinha vindimada?

Não é
limitando o pulsar de uma região, a sueltos inormativos de 5 ou 10
minutos, a partir da Antena 1 no Centro de Produção do Porto de segunda a
sexta-feira, das 13h15 às 14h00 num horário com audiências de rádio
praticamente nulas, que em consciência podemos falar em qualidade ou
exigência no serviço público. Isto sim, é uma ameaça à cidadania.

Graças
ao imobilismo e à entropia dos algarvios, a região perdeu a batalha do
serviço público de rádio e o Algarve está mais pobre. Como foi possível
que nos retirassem a possibilidade de debater as questões que nos
respeitam nas ondas do éter: o turismo, as pescas, a agricultura, a
universidade, a cultura, isto é, o futuro do Algarve?

Senhor
ministro Miguel Relvas, a forma de garantir a liberdade, a independência
e o pluralismo do serviço público de rádio no Algarve é devolver à
RDP/Algarve as frequências do Sotavento e do Barlavento, que estão a
difundir a programação da Antena 3, dotando a delegação de Faro de
recursos humanos e financeiros para que a região possa dispor de algumas
horas de emissão no campo da informação e do entretenimento, trazendo
de volta Os Dias da Rádio, a que todos nós temos direito.

Porque
perdemos a escuta da rádio realizada no Algarve e para os algarvios,
num acesso de paixão pela telefonia e pelos afectos que me ligam à magia
do som, e homenageando as dezenas de profissionais que ao longo de
cinco décadas trabalharam neste meio de comunicação, afirmando a
identidade e a cultura do povo algarvio, gostaria de exortar todos para
um Requiem pela rádio pública na região.

Vítor Madeira

in Jornal do Algarve 

Um Requiem pela Rádio pública no Algarve

26 de Julho, uma
sexta-feira açoitada pelo vento suão, foi o primeiro dia do fim da Rádio
pública no Algarve, quando a Direcção de Informação da Antena 1 apoiada
pelo Conselho de Administração da RTP e pelo Governo, aproveitando o
inter-regno do «Portugal em Directo», no mês de Agosto, emitiu a
certidão de óbito do serviço público de rádio na região.

Num
silêncio sepulcral, radiosamente triste, a ameaça espalhada no éter a 7
de Outubro de 2011, da morte anunciada da RDP no Algarve, teve agora o
seu epílogo, pondo fim a 53 anos de Rádio pública no Algarve e no Baixo
Alentejo, cuja primeira emissão no Centro Regional Sul foi realizada no
dia 14 de Março de 1959.

Após algumas tentativas falhadas,
cumpriu-se o diktat da Direcção da RTP Rádio e do ministro Miguel Relvas
em acabar com a descentralização da rádio e silenciar a voz dos
algarvios na região.

A criação da RDP/Rádio Algarve em 1985
permitiu à Rádio pública materializar durante cinco anos um projecto
profissional, credível e bem dimensionado, fazendo renascer os Dias da
Rádio numa região cosmopolita e com um potencial turístico elevado como é
o Algarve.

Desde então, e nos últimos 21 anos, resultado das
políticas erráticas dos Governos PS e PSD para o sector da comunicação,
da incúria e do desleixo dos sucessivos conselhos de administração da
RDP, agora RTP, a Rádio pública no Algarve, tal como noutras regiões,
tem vindo a definhar até ao seu desaparecimento total.

O
afunilamento da Rádio pública no Algarve iniciou-se em 1991, quando o
Conselho de Administração da RDP, sem que nada o fizesse prever, a
limitou a cinco horas de emissão própria. Em 1996, subtraiu-lhe as duas
frequências, 100.7 no Sotavento e 100.9 no Barlavento, para fazer chegar
a Antena 3 à região. Já em 2003, o Conselho de Administração da RTP
“matou” a Rádio Algarve e as delegações da RDP, remetendo-as para 45
minutos de produção própria, de segunda a sexta, no “Portugal em
Directo”.

O mesmo Conselho de Administração da Rádio e Televisão
de Portugal e a Direcção de Informação da Antena 1 foram mais longe,
terminando com as emissões de fim-de-semana da RDP no Algarve, incluindo
os dias feriados e o feriado municipal de Faro, sendo que em Agosto, um
dos meses mais importantes do ano para a região, os ditos senhores
também mandaram a Rádio pública a banhos.

No final do mês de
Julho, a Direcção de Informação da Antena 1, superiormente dirigida pelo
jornalista Fausto Coutinho, limpou o espectro rádioeléctrico,
libertando as frequências regionais da RDP da presença dos 400 mil
indígenas que vivem no Algarve, nos quais me incluo.

Assim, e
desde o dia 08 de Outubro, «O Portugal em Directo», único espaço de
informação regional da Rádio pública, passou a ser emitido a partir da
delegação do Porto. Porquê a partir do Porto e não de Faro ou de
Coimbra? Será pela densidade populacional, pelo poder económico ou pela
magistratura de influências que a capital do Norte exerce no país?

Aquilo
que sabemos é que a sociedade algarvia aceitou com uma quietude
perturbadora a vontade asfixiante e centralista da RTP e da Direcção de
Informação da Antena 1 em coarctar a voz da região na Rádio pública, a
partir de Faro.

Como foi possível aos senhores deputados eleitos
pelo Algarve na Assembleia da República, da esquerda à direita, excepção
feita a Cristóvão Norte, que se bateu para que o Algarve não ficasse
sem a Rádio pública, consentiram tal desfecho? O que dizer da atitude
passiva dos senhores Presidentes de Câmara, que aceitaram esta afronta
sem pestanejar, esquecendo-se que o serviço público de rádio é também um
pólo de desenvolvimento do poder local?

Nesta maldade infringida
aos algarvios, onde estiveram os paladinos da criação da região
administrativa do Algarve, que num silêncio comprometedor contribuíram
para o fim da regionalização da Rádio pública? E os agentes empresariais
e culturais desta terra a Sul, que frequentemente reclamam melhores
condições ao estado para desenvolver a sua actividade, como puderam
passar por esta situação, como cão por vinha vindimada?

Não é
limitando o pulsar de uma região, a sueltos inormativos de 5 ou 10
minutos, a partir da Antena 1 no Centro de Produção do Porto de segunda a
sexta-feira, das 13h15 às 14h00 num horário com audiências de rádio
praticamente nulas, que em consciência podemos falar em qualidade ou
exigência no serviço público. Isto sim, é uma ameaça à cidadania.

Graças
ao imobilismo e à entropia dos algarvios, a região perdeu a batalha do
serviço público de rádio e o Algarve está mais pobre. Como foi possível
que nos retirassem a possibilidade de debater as questões que nos
respeitam nas ondas do éter: o turismo, as pescas, a agricultura, a
universidade, a cultura, isto é, o futuro do Algarve?

Senhor
ministro Miguel Relvas, a forma de garantir a liberdade, a independência
e o pluralismo do serviço público de rádio no Algarve é devolver à
RDP/Algarve as frequências do Sotavento e do Barlavento, que estão a
difundir a programação da Antena 3, dotando a delegação de Faro de
recursos humanos e financeiros para que a região possa dispor de algumas
horas de emissão no campo da informação e do entretenimento, trazendo
de volta Os Dias da Rádio, a que todos nós temos direito.

Porque
perdemos a escuta da rádio realizada no Algarve e para os algarvios,
num acesso de paixão pela telefonia e pelos afectos que me ligam à magia
do som, e homenageando as dezenas de profissionais que ao longo de
cinco décadas trabalharam neste meio de comunicação, afirmando a
identidade e a cultura do povo algarvio, gostaria de exortar todos para
um Requiem pela rádio pública na região.

Vítor Madeira

in Jornal do Algarve 

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