Mais união e muito trabalho são receita para o futuro da economia

23-10-2018
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Uma região que está “abaixo do potencial”, que junta “o meio rural ao meio urbano” e que se debate com falta de quadros. Esta foi, em traços muito gerais, a conclusão do XVII Encontro Fora da Caixa, uma iniciativa da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de que a EXAME é parceira e que aconteceu esta terça-feira, 5 de junho, no Teatro Luisa Todi, em Setúbal. O objetivo destes encontros é aproximar o banco público das comunidades locais, tentando aprender com elas e ajudá-las a resolver os problemas mais prementes, afirmou José João Guilherme, administrador da CGD no início da sessão.

O antigo Presidente da República António Ramalho Eanes deu o pontapé de saída com uma espécie de apanhado sobre as revoluções industriais que o mundo – e Portugal – já atravessou, numa espécie de mensagem de otimisto para a atual revolução 4.0. E pediu ao Estado mais comprometimento com a Educação, numa altura em que só ela poderá dar resposta aos avanços da tecnologia e da digitalização.

A conversa passou depois para Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, que partilhou o palco com o economista Daniel Bessa, numa espécie de entrevista simultânea – que acabaria numa conversa mais individualizada conduzida por Tiago Freire, diretor da EXAME. “Há 30 anos havia casas que não tinham saneamento básico em Setúbal”, recordou a presidente-executiva do grupo Luz Saúde que entre os 3 e os 18 anos viveu na cidade.

Depois de se licenciar em Engenharia Química – influenciada pela indústria da região – para desgosto do pai, médico, acabaria a trabalhar em saúde, e vê um forte potencial no distrito onde, aliás, o grupo que gere está presente e onde pretende continuar a investir. A responsável do grupo detido pela Fosun nota que uma cidade só atinge elevados graus de desenvolvimento se apostar em áreas como a educação e a saúde. E apesar de haver uma ligação emocional, um investimento da dimensão dos que são feitos em hospitais tem que garantir retorno. E Isabel Vaz é peremptória: “Do ponto de vista de recursos humanos, Setúbal tem uma média de enfermeiros por cada mil habitantes superior à média nacional e essa é uma grande vantagem. Em termos de médicos está equiparada, mas os enfermeiros vão tornar-se cada vez mais importantes”, afirma a gestora que acredita que a região ainda está abaixo do seu potencial sobretudo no que diz respeito ao Turismo e à Indústria, setor que se orgulha de ver renascer apesar de “estragar um bocadinho a paisagem”.

A região, alerta ainda, tem atualmente – e um pouco à semelhança do que acontece no resto do País – uma população muito envelhecida, e portanto o grupo encara a presença no distrito como “uma oportunidade de investimento e de complemento ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Vejo este distrito e invisto nelecomo um lugar com grande potencial”, remata durante um painel em que esteve à conversa com o diretor da EXAME, Tiago Freire.

Na altura, a responsável aproveitou para elogiar os esforços que têm sido feitos ao nível da saúde no SNS, mas lembrou que continuam a ser insuficientes. Razão pela qual, sublinhou, a complementariedade dos privados não pode acabar. “O SNS tem uma boa rede mas insuficiente. Apesar de o SNS cada vez estar a produzir mais, não chega. A procura é muito superior à oferta que conseguimos dar tanto no público como no privado”. E nota que “a saúde é um tema menos fraturante do que se pensa” em termos sociais e políticos. “Estamos todos de acordo no que respeita ao facto de que toda a gente deve ter acessos a tratamentos de saúde, não importa de onde venha ou se tenha condições preexistentes. Isso é um consenso politico”.

Aproveitou ainda para lamentar que os contratos de Parcerias Público-Privadas sejam demasiado inflexíveis e que a população, no geral, não saiba exatamente como funcionam.

Demasiado otimismo?

Logo depois, Daniel Bessa tomaria a palavra intercortando as suas já habituais veementes afirmações com longos períodos de pausas para pensar. Questionado sobre a sustentabilidade do atual modelo de crescimento do país, Bessa começou por afirmar que iria “dizer o mínimo antes de atirar: “Convivo muito mal com um conversa que sobrevaloriza as nossas realizações. Que transforma resultados normais em algo fantástico.[…] É melhor crescimento económico do século porque o século é uma miséria”, nota, referindo-se aos dados sobre o crescimento de 2,7% da economia portuguesa no ano passado.

“Entristece-me que os portugueses estejam contentes com resultados razoáveis”, continuou, antes de deixar um alerta: “Eu aconselharia a uma gestão mais austera”. O especialista aproveitou ainda para instar o Executivo a mostrar compromisso com o pagamento da dívida, lembrando que esse é um dos principais problemas do País, e sublinhando que Portugal precisa de ganhar credibilidade para não estar tão sujeito às flutuações das emoções dos mercados.

Durante a mesma intervenção, o economista criticou fortemente aquilo que chamou de “excesso de criação de emprego”, salientando que o emprego está a crescer acima do PIB, portanto com decréscimo de produtividade”, o que está a provocar uma quebra nos salários, “porque a economia portuguesa está a criar emprego em setores de produtividade muito baixa – hotelaria, restauração, construção…[…] O salário está a baixar. E eu cada vez perceberia menos se o salário médio estivesse a subir”, rematou.

Em jeito de conclusão, o especialista falou da complexidade do sistema democrático, repetindo que esta “não se pode resumir a dizer a cada um aquilo que cada um quer ouvir; para não dizer a mentira que cada um quer ouvir. A inovação tem o perigo de nos transformar o consumidor da mentira que mais nos agrada”, avisou ainda.

A união faz a força

Logo após a conversa com Isabel Vaz e Daniel Bessa foi a vez de os empresários da região subirem ao palco, acompanhados de um dos administradores da CGD, Francisco Cary, para falarem da sua experiência na região. O responsável do banco público aproveitou a ocasião para apaudir o trabalho desenvolvido pelas várias empresas e para garantir que a instituição está disponível para financiar as boas empresas e os bons projetos que lhes chegarem. “O bom crédito às empresas tem espaço para crescer”, salientou.

Leonor Freitas, da Casa Ermelinda Freitas falou do seu “regresso ao mundo rural por amor” ao negócio da família e explicou como foi possível tornar uma marca praticamente desconhecida que vendia a sua produção de uvas a granel, numa empresa que atualmente exporta parte da sua produção e tem centenas de hectares de terras que dão frutos. A empresária, que garante ter sido educada para sair de Setúbal lamenta que o mundo rural ainda seja visto com desdém por parte da sociedade e acredita que é a união das empresas da região que poderá ajudá-la a prosperar.

O tom foi seguido por Cristina Sousa, CEO da Raporal, uma empresa que fatura cerca de 100 milhões de euros e que opera na área das rações para animais, criação, transporte e abate de gado sobretudo suíno. Com praticamente 50 anos de existência e mais de 600 pessoas a trabalhar direta e indiretamente para a empresa, a Raporal tem-se debatido, no entanto, com algumas dificuldades na captação de quadros superiores – problema partilhado por Leonor Freitas, ainda que num menor grau, segundo a empresária.

Cristina Sousa lamenta que a sua atividade não seja vista “como sexy”, e dá como exemplo o facto de não conseguir encontrar candidatos, sequer, para trabalhar na área financeira, “no ar condicionado de uma empresa que vale alguns milhões de euros”, atirou em jeito de provocação. Quanto aos funcionários para trabalhar no campo, a situação é ainda pior, afirmou.

João Castello Branco, da Semapa, um dos maiores empregadores da região, afirmou que as maiores dificuldades se têm prendido com a contratação de pessoas qualificadas para funções específicas como a manutenção, por exemplo.

Os três empresários frisaram, praticamente a uma só voz, a necessidade de se trabalhar em estreita colaboração com o Instituto Politécnico de Setúbal, por exemplo, de forma a conseguir captar o interesse dos alunos que, já sendo da região, possam dar um contributo ao desenvolvimento do tecido empresarial através da sua formação superior. E todos sublinharam o atual trabalhdo da Associação de Indústria da Península de Setúbal (AISET) que, acreditam, poderá ser a resposta ao futuro da região: um trabalho que promova a união e os esforços conjuntos dos vários empresários de forma a dar resposta às particularidades da região. “Os problemas são dos empresários. Não podemos estar à espera que os outros os resolvam”, concluiu Leonor Freitas, que se assumiu como extremamente otimista nos tempos que ainda estão para chegar.

O encerramento do Encontro ficou a cargo do CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, que optou por fazer uma exposição da evolução da economia nacional e internacional nos últimos anos, com particular enfoque nas atrativas taxas de juro atuais – que ajudam a dinamizar a economia – e nos resultados mais sustentados da banca nacional. O responsável falou ainda do regresso da confiança dos consumidores e das inúmeras oportunidades que o atual ambiente favorável – em termos globais e europeus – permite às empresas e às regiões do País.

Uma região que está “abaixo do potencial”, que junta “o meio rural ao meio urbano” e que se debate com falta de quadros. Esta foi, em traços muito gerais, a conclusão do XVII Encontro Fora da Caixa, uma iniciativa da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de que a EXAME é parceira e que aconteceu esta terça-feira, 5 de junho, no Teatro Luisa Todi, em Setúbal. O objetivo destes encontros é aproximar o banco público das comunidades locais, tentando aprender com elas e ajudá-las a resolver os problemas mais prementes, afirmou José João Guilherme, administrador da CGD no início da sessão.

O antigo Presidente da República António Ramalho Eanes deu o pontapé de saída com uma espécie de apanhado sobre as revoluções industriais que o mundo – e Portugal – já atravessou, numa espécie de mensagem de otimisto para a atual revolução 4.0. E pediu ao Estado mais comprometimento com a Educação, numa altura em que só ela poderá dar resposta aos avanços da tecnologia e da digitalização.

A conversa passou depois para Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, que partilhou o palco com o economista Daniel Bessa, numa espécie de entrevista simultânea – que acabaria numa conversa mais individualizada conduzida por Tiago Freire, diretor da EXAME. “Há 30 anos havia casas que não tinham saneamento básico em Setúbal”, recordou a presidente-executiva do grupo Luz Saúde que entre os 3 e os 18 anos viveu na cidade.

Depois de se licenciar em Engenharia Química – influenciada pela indústria da região – para desgosto do pai, médico, acabaria a trabalhar em saúde, e vê um forte potencial no distrito onde, aliás, o grupo que gere está presente e onde pretende continuar a investir. A responsável do grupo detido pela Fosun nota que uma cidade só atinge elevados graus de desenvolvimento se apostar em áreas como a educação e a saúde. E apesar de haver uma ligação emocional, um investimento da dimensão dos que são feitos em hospitais tem que garantir retorno. E Isabel Vaz é peremptória: “Do ponto de vista de recursos humanos, Setúbal tem uma média de enfermeiros por cada mil habitantes superior à média nacional e essa é uma grande vantagem. Em termos de médicos está equiparada, mas os enfermeiros vão tornar-se cada vez mais importantes”, afirma a gestora que acredita que a região ainda está abaixo do seu potencial sobretudo no que diz respeito ao Turismo e à Indústria, setor que se orgulha de ver renascer apesar de “estragar um bocadinho a paisagem”.

A região, alerta ainda, tem atualmente – e um pouco à semelhança do que acontece no resto do País – uma população muito envelhecida, e portanto o grupo encara a presença no distrito como “uma oportunidade de investimento e de complemento ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Vejo este distrito e invisto nelecomo um lugar com grande potencial”, remata durante um painel em que esteve à conversa com o diretor da EXAME, Tiago Freire.

Na altura, a responsável aproveitou para elogiar os esforços que têm sido feitos ao nível da saúde no SNS, mas lembrou que continuam a ser insuficientes. Razão pela qual, sublinhou, a complementariedade dos privados não pode acabar. “O SNS tem uma boa rede mas insuficiente. Apesar de o SNS cada vez estar a produzir mais, não chega. A procura é muito superior à oferta que conseguimos dar tanto no público como no privado”. E nota que “a saúde é um tema menos fraturante do que se pensa” em termos sociais e políticos. “Estamos todos de acordo no que respeita ao facto de que toda a gente deve ter acessos a tratamentos de saúde, não importa de onde venha ou se tenha condições preexistentes. Isso é um consenso politico”.

Aproveitou ainda para lamentar que os contratos de Parcerias Público-Privadas sejam demasiado inflexíveis e que a população, no geral, não saiba exatamente como funcionam.

Demasiado otimismo?

Logo depois, Daniel Bessa tomaria a palavra intercortando as suas já habituais veementes afirmações com longos períodos de pausas para pensar. Questionado sobre a sustentabilidade do atual modelo de crescimento do país, Bessa começou por afirmar que iria “dizer o mínimo antes de atirar: “Convivo muito mal com um conversa que sobrevaloriza as nossas realizações. Que transforma resultados normais em algo fantástico.[…] É melhor crescimento económico do século porque o século é uma miséria”, nota, referindo-se aos dados sobre o crescimento de 2,7% da economia portuguesa no ano passado.

“Entristece-me que os portugueses estejam contentes com resultados razoáveis”, continuou, antes de deixar um alerta: “Eu aconselharia a uma gestão mais austera”. O especialista aproveitou ainda para instar o Executivo a mostrar compromisso com o pagamento da dívida, lembrando que esse é um dos principais problemas do País, e sublinhando que Portugal precisa de ganhar credibilidade para não estar tão sujeito às flutuações das emoções dos mercados.

Durante a mesma intervenção, o economista criticou fortemente aquilo que chamou de “excesso de criação de emprego”, salientando que o emprego está a crescer acima do PIB, portanto com decréscimo de produtividade”, o que está a provocar uma quebra nos salários, “porque a economia portuguesa está a criar emprego em setores de produtividade muito baixa – hotelaria, restauração, construção…[…] O salário está a baixar. E eu cada vez perceberia menos se o salário médio estivesse a subir”, rematou.

Em jeito de conclusão, o especialista falou da complexidade do sistema democrático, repetindo que esta “não se pode resumir a dizer a cada um aquilo que cada um quer ouvir; para não dizer a mentira que cada um quer ouvir. A inovação tem o perigo de nos transformar o consumidor da mentira que mais nos agrada”, avisou ainda.

A união faz a força

Logo após a conversa com Isabel Vaz e Daniel Bessa foi a vez de os empresários da região subirem ao palco, acompanhados de um dos administradores da CGD, Francisco Cary, para falarem da sua experiência na região. O responsável do banco público aproveitou a ocasião para apaudir o trabalho desenvolvido pelas várias empresas e para garantir que a instituição está disponível para financiar as boas empresas e os bons projetos que lhes chegarem. “O bom crédito às empresas tem espaço para crescer”, salientou.

Leonor Freitas, da Casa Ermelinda Freitas falou do seu “regresso ao mundo rural por amor” ao negócio da família e explicou como foi possível tornar uma marca praticamente desconhecida que vendia a sua produção de uvas a granel, numa empresa que atualmente exporta parte da sua produção e tem centenas de hectares de terras que dão frutos. A empresária, que garante ter sido educada para sair de Setúbal lamenta que o mundo rural ainda seja visto com desdém por parte da sociedade e acredita que é a união das empresas da região que poderá ajudá-la a prosperar.

O tom foi seguido por Cristina Sousa, CEO da Raporal, uma empresa que fatura cerca de 100 milhões de euros e que opera na área das rações para animais, criação, transporte e abate de gado sobretudo suíno. Com praticamente 50 anos de existência e mais de 600 pessoas a trabalhar direta e indiretamente para a empresa, a Raporal tem-se debatido, no entanto, com algumas dificuldades na captação de quadros superiores – problema partilhado por Leonor Freitas, ainda que num menor grau, segundo a empresária.

Cristina Sousa lamenta que a sua atividade não seja vista “como sexy”, e dá como exemplo o facto de não conseguir encontrar candidatos, sequer, para trabalhar na área financeira, “no ar condicionado de uma empresa que vale alguns milhões de euros”, atirou em jeito de provocação. Quanto aos funcionários para trabalhar no campo, a situação é ainda pior, afirmou.

João Castello Branco, da Semapa, um dos maiores empregadores da região, afirmou que as maiores dificuldades se têm prendido com a contratação de pessoas qualificadas para funções específicas como a manutenção, por exemplo.

Os três empresários frisaram, praticamente a uma só voz, a necessidade de se trabalhar em estreita colaboração com o Instituto Politécnico de Setúbal, por exemplo, de forma a conseguir captar o interesse dos alunos que, já sendo da região, possam dar um contributo ao desenvolvimento do tecido empresarial através da sua formação superior. E todos sublinharam o atual trabalhdo da Associação de Indústria da Península de Setúbal (AISET) que, acreditam, poderá ser a resposta ao futuro da região: um trabalho que promova a união e os esforços conjuntos dos vários empresários de forma a dar resposta às particularidades da região. “Os problemas são dos empresários. Não podemos estar à espera que os outros os resolvam”, concluiu Leonor Freitas, que se assumiu como extremamente otimista nos tempos que ainda estão para chegar.

O encerramento do Encontro ficou a cargo do CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, que optou por fazer uma exposição da evolução da economia nacional e internacional nos últimos anos, com particular enfoque nas atrativas taxas de juro atuais – que ajudam a dinamizar a economia – e nos resultados mais sustentados da banca nacional. O responsável falou ainda do regresso da confiança dos consumidores e das inúmeras oportunidades que o atual ambiente favorável – em termos globais e europeus – permite às empresas e às regiões do País.

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