Venha daí... descortinar

11-10-2018
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- Houve ou não reunião?

- Houve.

- O chefe de gabinete recebeu ou não um documento sobre a operação de encobrimento?

- Recebeu.

- Então sabia ou não sabia?

- Não descortinou.

O diálogo é imaginário, os factos não. E é uma espécie de “com a verdade me enganas”. O antigo chefe de gabinete do ministro da Defesa, que começou por dizer não ter descortinado nenhuma irregularidade nem encobrimento de suspeitos na reunião que teve no final do ano passado com o investigador da PJM Vasco Brazão, já confirmou ter recebido então documentação sobre a recuperação de armas. Entregou ontem essa documentação ao juiz de instrução do processo. Leu mas não percebeu, portanto.

Como revelamos aqui, o memorando da PJM entregue no Ministério da Defesa explicava a operação de encobrimento, referindo explicitamente que a chamada anónima para o piquete da PJM fora encenada pela própria polícia militar e que a entrega das armas fora feita na condição de a PJ não ser envolvida. O texto não identifica o informador (daí o então chefe de gabinete não ter descortinado nada sobre suspeitos).

Na investigação então em curso, e como também revelamos aqui, a PJM suspeitava que as munições desaparecidas de Tancos eram para as armas roubadas na PSP, as 57 Glocks que desapareceram do armeiro da sede da Polícia seis meses antes do assalto a Tancos. Destas, sete já foram recuperadas – e todas estavam nas mãos de traficantes de droga.

Procuram-se culpas, encontram-se desculpas. Começando pela hierarquia militar, como escreve Daniel Oliveira no Expresso Diário: “Eu quero saber porque é que as chefias militares ainda não deram explicações e ainda estão nos seus lugares. Os comandantes desta gente são o chefe do Estado Maior das Forças Armadas e o chefe do Estado Maior do Exército, não é o ministro.”

“O cerco a Azeredo Lopes está a apertar-se”, escreve por sua vez Manuel Carvalho no Público, “a cada dia que passa, a sua sustentação política é cada vez mais frágil”. O ministro da Defesa não sabia o que o seu chefe de gabinete disse que não descortinou? Ou foi também informado na mesma reunião por telefone, como denunciou Vasco Brazão?

Os testemunhos do antigo chefe de gabinete e do ex-diretor da PJM Luís Vieira, que estavam na reunião (já confirmada) onde foi entregue documentação (já confirmada), serão essenciais para deslindar: a defesa de Vasco Brazão quer que ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes “honre a verdade”. Já António Costa, durante o debate quinzenal de ontem na Assembleia da República de ontem em que pouco interessou além de Tancos, declarou de novo total confiança em Azeredo Lopes, garantindo que Azeredo Lopes desconhecia conteúdo do relatório de Tancos.

Azeredo Lopes é em 2018 o que Constança Urbano de Sousa foi em 2017: um ministro diminuído que se manterá até ao limite do possível, servindo como tampão político da polémica, que assim não sobe na hierarquia do governo. Porque o resto daquele diálogo imaginário, sobre quem então saberia ou não saberia, nem precisa de ser escrito.

- Houve ou não reunião?

- Houve.

- O chefe de gabinete recebeu ou não um documento sobre a operação de encobrimento?

- Recebeu.

- Então sabia ou não sabia?

- Não descortinou.

O diálogo é imaginário, os factos não. E é uma espécie de “com a verdade me enganas”. O antigo chefe de gabinete do ministro da Defesa, que começou por dizer não ter descortinado nenhuma irregularidade nem encobrimento de suspeitos na reunião que teve no final do ano passado com o investigador da PJM Vasco Brazão, já confirmou ter recebido então documentação sobre a recuperação de armas. Entregou ontem essa documentação ao juiz de instrução do processo. Leu mas não percebeu, portanto.

Como revelamos aqui, o memorando da PJM entregue no Ministério da Defesa explicava a operação de encobrimento, referindo explicitamente que a chamada anónima para o piquete da PJM fora encenada pela própria polícia militar e que a entrega das armas fora feita na condição de a PJ não ser envolvida. O texto não identifica o informador (daí o então chefe de gabinete não ter descortinado nada sobre suspeitos).

Na investigação então em curso, e como também revelamos aqui, a PJM suspeitava que as munições desaparecidas de Tancos eram para as armas roubadas na PSP, as 57 Glocks que desapareceram do armeiro da sede da Polícia seis meses antes do assalto a Tancos. Destas, sete já foram recuperadas – e todas estavam nas mãos de traficantes de droga.

Procuram-se culpas, encontram-se desculpas. Começando pela hierarquia militar, como escreve Daniel Oliveira no Expresso Diário: “Eu quero saber porque é que as chefias militares ainda não deram explicações e ainda estão nos seus lugares. Os comandantes desta gente são o chefe do Estado Maior das Forças Armadas e o chefe do Estado Maior do Exército, não é o ministro.”

“O cerco a Azeredo Lopes está a apertar-se”, escreve por sua vez Manuel Carvalho no Público, “a cada dia que passa, a sua sustentação política é cada vez mais frágil”. O ministro da Defesa não sabia o que o seu chefe de gabinete disse que não descortinou? Ou foi também informado na mesma reunião por telefone, como denunciou Vasco Brazão?

Os testemunhos do antigo chefe de gabinete e do ex-diretor da PJM Luís Vieira, que estavam na reunião (já confirmada) onde foi entregue documentação (já confirmada), serão essenciais para deslindar: a defesa de Vasco Brazão quer que ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes “honre a verdade”. Já António Costa, durante o debate quinzenal de ontem na Assembleia da República de ontem em que pouco interessou além de Tancos, declarou de novo total confiança em Azeredo Lopes, garantindo que Azeredo Lopes desconhecia conteúdo do relatório de Tancos.

Azeredo Lopes é em 2018 o que Constança Urbano de Sousa foi em 2017: um ministro diminuído que se manterá até ao limite do possível, servindo como tampão político da polémica, que assim não sobe na hierarquia do governo. Porque o resto daquele diálogo imaginário, sobre quem então saberia ou não saberia, nem precisa de ser escrito.

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