discurso dos dias

18-03-2019
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Desde a Idade Média que as
lágrimas são um dom. A modernidade, com a sua racionalidade, tentará calar
manifestações emotivas: lágrimas, prantos, carpideiras. Hoje vive-se uma
ambivalência: se por um lado a psicologia fala em inteligência emocional, a
televisão é “emoção e espectáculo”; por outro permanece uma atitude, herdeira
de um positivismo, que condena a expressão do dom das lágrimas – “um homem não
chora”. E se um homem não chora, pelo menos em público, uma mulher que hoje
ocupa lugares públicos também não chora. Para muitas/os seria uma fraqueza, uma
indignidade na igualdade de género.

Na política, de Margaret
Thatcher a Angela Merkel temos vários exemplos de mulheres que adoptaram uma
postura masculina, ou uma caricatura de uma posição masculina. Aliás, é difícil
encontrar uma mulher, na actividade política, que tome uma posição feminina,
podendo-nos interrogarmos sobre o que é a feminilidade em política. É o género
independente da ideologia? Não me parece.

Um ou outro caso sai fora da
regra. Penso no caso da Ministra da Administração Interna Constança Urbano de
Sousa. Não será na atitude política que Constança marca a diferença – aliás difícil
numa pasta como a administração interna –, mas será na postura. Podem
considerar a emotividade, traduzida nas lágrimas de Constança, como algo
kitsch, como um sinal de fraqueza ou até como uma imitação exagerada da atitude
política de Marcelo Rebelo de Sousa. Pode-se ainda pensar que as lágrimas de
Constança Urbano de Sousa são de actriz, que são usadas para proveito político.
Não me parece que estejamos perante qualquer destas hipóteses cínicas. Creio
que as lágrimas de Constança perante a tragédia de Pedrogão Grande, são genuínas.
Aliás, não é a primeira vez que a ministra se emociona em público.

O grande repórter Ryszard
Kapuściński dizia que o jornalismo não era profissão para cínicos. Mas o que
mais encontramos no jornalismo é cinismo: o cinismo dos directores de
informação que se aproveitam das grandes tragédias para aumentar as audiências.
Passaram já quase duas semanas sobre o trágico fogo de Pedrogão Grande, e os
meios de comunicação social ainda não se calaram sobre quem teve a culpa das 64
vítimas mortais. PSD e CDS-PP agarraram-se ao caso, esquecendo que a existir culpas
eles também são culpados porque passaram nos últimos 15 anos por dois governos.
Enfim, se o jornalismo é muitas vezes cínico, mais vezes é a política
partidária em que vivemos.

Mas no caso de Constança Urbano
de Sousa parece existir uma genuinidade política que se embrenha com a vida das
pessoas. Só assim se compreendem as lágrimas de Constança: ela tomou os mortos
de Pedrogão como seus mortos, por isso disse ontem no Parlamento que aquele
Sábado tinha sido o “momento mais difícil” da sua vida. Este tipo de política é
estranho e pode causar confusão em quem anda na política. Mas é de políticos
como estes que precisamos para uma nova política, uma política da imanência,
uma política que verdadeiramente sirva as pessoas. 

Desde a Idade Média que as
lágrimas são um dom. A modernidade, com a sua racionalidade, tentará calar
manifestações emotivas: lágrimas, prantos, carpideiras. Hoje vive-se uma
ambivalência: se por um lado a psicologia fala em inteligência emocional, a
televisão é “emoção e espectáculo”; por outro permanece uma atitude, herdeira
de um positivismo, que condena a expressão do dom das lágrimas – “um homem não
chora”. E se um homem não chora, pelo menos em público, uma mulher que hoje
ocupa lugares públicos também não chora. Para muitas/os seria uma fraqueza, uma
indignidade na igualdade de género.

Na política, de Margaret
Thatcher a Angela Merkel temos vários exemplos de mulheres que adoptaram uma
postura masculina, ou uma caricatura de uma posição masculina. Aliás, é difícil
encontrar uma mulher, na actividade política, que tome uma posição feminina,
podendo-nos interrogarmos sobre o que é a feminilidade em política. É o género
independente da ideologia? Não me parece.

Um ou outro caso sai fora da
regra. Penso no caso da Ministra da Administração Interna Constança Urbano de
Sousa. Não será na atitude política que Constança marca a diferença – aliás difícil
numa pasta como a administração interna –, mas será na postura. Podem
considerar a emotividade, traduzida nas lágrimas de Constança, como algo
kitsch, como um sinal de fraqueza ou até como uma imitação exagerada da atitude
política de Marcelo Rebelo de Sousa. Pode-se ainda pensar que as lágrimas de
Constança Urbano de Sousa são de actriz, que são usadas para proveito político.
Não me parece que estejamos perante qualquer destas hipóteses cínicas. Creio
que as lágrimas de Constança perante a tragédia de Pedrogão Grande, são genuínas.
Aliás, não é a primeira vez que a ministra se emociona em público.

O grande repórter Ryszard
Kapuściński dizia que o jornalismo não era profissão para cínicos. Mas o que
mais encontramos no jornalismo é cinismo: o cinismo dos directores de
informação que se aproveitam das grandes tragédias para aumentar as audiências.
Passaram já quase duas semanas sobre o trágico fogo de Pedrogão Grande, e os
meios de comunicação social ainda não se calaram sobre quem teve a culpa das 64
vítimas mortais. PSD e CDS-PP agarraram-se ao caso, esquecendo que a existir culpas
eles também são culpados porque passaram nos últimos 15 anos por dois governos.
Enfim, se o jornalismo é muitas vezes cínico, mais vezes é a política
partidária em que vivemos.

Mas no caso de Constança Urbano
de Sousa parece existir uma genuinidade política que se embrenha com a vida das
pessoas. Só assim se compreendem as lágrimas de Constança: ela tomou os mortos
de Pedrogão como seus mortos, por isso disse ontem no Parlamento que aquele
Sábado tinha sido o “momento mais difícil” da sua vida. Este tipo de política é
estranho e pode causar confusão em quem anda na política. Mas é de políticos
como estes que precisamos para uma nova política, uma política da imanência,
uma política que verdadeiramente sirva as pessoas. 

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