Nem “tsunami”, nem Montenegro: É Rui Rio quem vai dar a Costa

23-05-2019
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4ª parte – Epílogo?

Quatro horas antes de serem conhecidos os resultados da votação da moção de confiança de Rui Rio no Conselho Nacional do PSD, já a VISÃO antecipara o desfecho mais provável da longa noite “laranja”: o atual presidente do partido teria entre 20 a 30 votos mais do que os seus adversários, escrevemos, pelas 23 horas desta quinta, 18. A confirmação oficial surgiria já madrugada dentro, na sequência do sufrágio por voto secreto dos conselheiros nacionais: 75 votos favoráveis à moção do líder social-democrata e 50 aos seus opositores, tendo ainda sido registado um voto nulo. Ou seja, Rui Rio alcançou cerca de 60 por cento dos 126 votos contabilizados na sequência de um “tsunami” interno, que, a certa altura da noite, encrespou ainda mais e ameaçou tornar-se adverso à atual liderança.

O KO de Nuno Morais Sarmento aos críticos, com um discurso galvanizador para Rio, levantou a sala, puxou pela adrenalina dos dirigentes e encaminhou, de vez, a onda em direção aos interesses do atual líder do partido, deixando os adversários entregues aos seus castelos na areia. “Ninguém ganha as eleições se os outros não as perderem primeiro”, afirmou Rio, já triunfante, após descer a escadaria do hotel que horas antes subira otimista, mas sem certezas da contabilidade que o esperava. “Neste momento, já é claro que o PS pode perder as eleições. Metade está feito. Agora, temos de construir a possibilidade de o PSD ganhar”, reforçou, justificando as opções do seu percurso de onze meses à frente do partido, no qual encontrou um passivo de 14 milhões de euros e uma guerrilha interna desde o primeiro dia: “A estratégia tem etapas e a política do bota abaixo não é o meu estilo”, adiantou, esperando agora “alguma paz” e “tranquilidade” no PSD para poder “construir uma alternativa”.

A derrota estratégica daqueles que viam em Luís Montenegro uma opção imediata a Rui Rio fora assumida, pouco tempo antes, pelo ex-líder parlamentar Hugo Soares, embora recusando que as suas palavras fossem interpretadas como tal. “Contribuímos para espicaçar o PSD, que estava adormecido, e amanhã o partido estará mais vivo do que nunca para derrotar António Costa”, afirmou, puxando pelas boas intenções e lamentando que o coletivo do Conselho Jurisdição Nacional tivesse de abandonar a sala como forma de protesto pelo facto de o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto, ter ignorado um parecer daquele órgão no sentido de que a votação fosse secreta.

Na verdade, esse seria mesmo o método utilizado e tal terá ficado a dever-se à posição assumida pelo próprio Rui Rio já os relógios assinalavam as primeiras horas desta sexta-feira. Admitindo que a decisão contrariava os seus princípios, o presidente do PSD abriu uma exceção, aconselhando então o voto secreto. Alguns apaniguados eriçaram-se, mas o risco era calculado. Na folha Excel que o secretário-geral adjunto, Bruno Coimbra, elaborara, com requintes de ourivesaria, ao longo dos últimos dias, a contabilidade da direção do partido apontava para números muito próximos daqueles que foram confirmados pelos resultados oficiais, com ou sem recurso ao voto secreto.

Sem assento no conselho nacional, Luís Montenegro falará ao meio-dia de hoje, sexta, em Gaia, sobre os resultados desta reunião histórica. Epílogo ou mais etapa?

KO de Morais Sarmento empurra Rio para vitória

À entrada da madrugada, o reforço da liderança de Rui Rio era o cenário mais provável. Um gancho de Morais Sarmento aos adversários internos arrebatou a maioria dos conselheiros nacionais, com aplausos bem sonoros. Mas a pergunta mantém-se: que PSD irá despertar deste pesadelo?

3ª parte – Aberto até de madrugada

O Conselho Nacional do PSD entrou no dia seguinte, sem abandonar o clima de território comanche da noite anterior. A última tentação de Luís Montenegro perdia fôlego ao início da madrugada, enquanto a direção de Rio já dava a vitória por adquirida, prevendo uma votação favorável à moção de confiança relativamente folgada.

O período que se seguiu às conspirações e conjeturas de mesa posta teve recados, ironias e ataques para todos os gostos, em jeito de sobremesa, poupando-se nas eloquências. Os punhos de renda ficaram, de facto, em casa. Já passava da meia-noite quando o antigo ministro Nuno Morais Sarmento perguntou, numa espécie de gancho aos adversários: “Como vai ser quando cada um de nós, a seu bel prazer, tiver apetite para pôr em causa a direção?” Na sala, desataram a gritar “PSD, PSD!” e ele sentiu-se tão à-vontade como num ringue. E continuou: “Não vi nenhuma estratégia alternativa”. E se havia “deveria ter-se apresentado no congresso”. O deputado Carlos Abreu Amorim, falando grosso, enredou-se em questões formais e estatutárias e acabou assobiado, fora de combate. Um presidente de câmara não gostou de ouvir dizer que Luís Montenegro não servia nem para presidente de junta, André Coelho Lima falou do clima de “autofagia eleitoral com base em profecias e dogmas”, a direção foi acusada por alguns intervenientes de contribuir para a “guerrilha interna”, enquanto Cláudia André acusou os críticos de desafiarem o líder por motivos assentes em “estados de alma”. Passavam trinta minutos da meia-noite e ainda havia quem se mantivesse de garras afiadas. Alguns, porém, já lambiam as feridas pelos corredores, remoendo a acrimónia e ainda suspirando por um volte-face. O PSD, argumentavam, é esse partido que adora morder pela calada. Mesmo que seja para ferir os seus.

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Rio já faz as contas da vitória, mas reunião segue assanhada

Fontes da direção do PSD já fazem as contas dos prováveis votos favoráveis à moção de confiança de Rui Rio: no mínimo, por 20 ou 30 votos. Ou mais, se for por braço no ar. Luís Filipe Menezes encenou o momento telenovela da reunião, apoiando Rio. O pasmo desse momento ainda dura, mas a discussão segue tensa

2ª parte – A caminho da ceia

À hora a que o povo “laranja” se preparava para jantar, figuras próximas de Rio davam como adquirida a adesão maioritária à moção de confiança de Rui Rio, com uma diferença mínima de 20 ou 30 votos. “Com voto secreto será mais renhido, mas com voto de braço no ar, a diferença será certamente maior”, asseguram fontes da direção social-democrata à VISÃO. A hipótese de recorrer ao voto secreto estava ainda em discussão pouco depois das 22.30 horas, mas longe de ser um dado adquirido, estando os requerimentos sobre a forma de votação nas mãos do Conselho de Jurisdição Nacional. Sabe-se como o PSD é pródigo em reviravoltas e o ambiente na sala reúne vários condimentos para tal: a “família” social-democrata está assanhada e demorará ainda algum tempo a saber-se que PSD sairá desta contenda.

O recato e recolhimento familiar é que parece ter feito maravilhas a Luís Filipe Menezes, “reformado” destas lides. Quando o ex-presidente da Câmara de Gaia pediu a palavra para falar no Conselho Nacional, vários membros da direção de Rio tremeram. Na verdade, o historial discursivo e conflituoso do antigo e breve líder do partido dá margem para todas as memórias e vicissitudes. Isto, sem contar com o facto de os dois protagonistas serem uma espécie de inimigos íntimos no PSD. Ora, se alguém esperava que Menezes caísse para o lado Montenegro desta história, rapidamente ficou de queixo à banda. Da boca do antigo autarca saiu apenas…ternura.

Menezes não escondeu o que o separou de Rio no passado. E foi aparentemente genuíno quando declarou o seu apoio à atual liderança por acreditar que o presidente do partido, mesmo quando esteve contra o próprio Menezes nas diversas lutas políticas, entre as quais a do Porto, o fez por estar convencido de que era melhor para o País. Ainda alguns conselheiros continuavam estupefactos e já Menezes descia a escadaria do interior do hotel para revelar aos jornalistas o que dissera na sala: para ele, não faz sentido mudar de presidente. “Basta fazer alguns acertos e tirar algumas pessoas da televisão”, ou seja, “alguns maus amigos que só se querem vingar do passado”, recomendou. Referiu-se diretamente a Manuela Ferreira Leite, “que não ajuda”. Para Luís Filipe Menezes, no atual momento do PSD “não há lugar para ódios, vinganças e ressentimentos”. Mas pode, no futuro, haver um lugar para Luís Montenegro, a quem reconhece qualidades. Ele, Menezes, é que não está disposto a facilitar a sangria. “Quero o melhor para os meus filhos e para o meu País”, assegurou, garantindo que estará ao lado de Rio “até à vitória nas legislativas”. Não foi preciso esperar muito para vê-lo aguardar por Rio e selar o momento da noite, no exterior do hotel, com um abraço. Diz quem viu que o líder do PSD até se comoveu. De facto, nem nas melhores telenovelas…

No site oficial, o PSD colocava por essa altura o vídeo com o discurso de Rio na abertura do Conselho Nacional. “A hipocrisia não faz parte do meu rol de defeitos”, afirmou, acusando os adversários internos de lhe terem feito “um repto para desertar”, mas não tendo a coragem de se apresentar a eleições diretas há quase um ano. “Não foi certamente a mim que me faltou a coragem”, ironizou Rui Rio. O presidente do partido responsabilizou os defensores da repetição das diretas pelo “espetáculo pouco dignificante” que o PSD estava a dar ao País. No seu caso, ironizou, “estou ainda à espera de perder, pela primeira vez, umas eleições”. Recusando ter qualquer “ambição pessoal ou vaidade”, Rio garante que a proposta dos opositores internos só tem um resultado: “Fazer um frete ao PS”. E acrescentou: “Com terramotos políticos como aqueles que estamos hoje aqui a resolver não será possível atingir aquilo que está perfeitamente ao nosso alcance”. Rio terminou a sua intervenção de quase 20 minutos pedindo “maturidade e sentido de responsabilidade”. Caso contrário, “a derrota será certa”, advertiu.

O discurso, porém, não acalmou as hostes próximas de Montenegro. Pedro Pinto pediu o fim da “fantochada” jurídica e uma rápida decisão sobre os termos da votação. O ex-líder parlamentar Hugo Soares foi mais meigo nos termos, mas, na prática, pediu o mesmo. O autarca de Ovar e dirigente nacional Salvador Malheiro é que também não perdoou: “Se Luís Montenegro quisesse estava aqui hoje e não tinha renunciado ao seu mandato de deputado”, referiu, à porta fechada. A deputada Joana Barata Lopes, que não apoiou Rui Rio e é próxima de Pedro Pinto, discordou da estratégia para demover o líder. “É demasiado grave que se leve o partido para diretas”, afirmou, lamentando ainda: “Tenho muita pena. A política das claques faz-nos mal”. A parlamentar Margarida Balseiro Lopes foi de idêntica opinião, recusando contribuir para o “triste espetáculo” que o PSD está a dar ao País. O espetáculo, porém, continua.

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Rio: “Não sou candidato a sondagens”

O líder do PSD abriu o Conselho Nacional recordando aos adversários internos que, ao contrário de alguns, está habituado a ganhar eleições e a perder nas sondagens. Rio acusa os críticos de querer estender um tapete vermelho a António Costa. Do interior da reunião há relatos de um ambiente tenso. E queixas sobre a falta de “miminhos”.

1ª Parte – Lanche

Houve um tempo em que o PCP era ostracizado na praça pública e pelos seus adversários políticos por obrigar os militantes a votar de braço no ar nas decisões tomadas dentro do “partido com paredes de vidro”, como lhe chamou o histórico secretário-geral Álvaro Cunhal. Aludia-se à falta de liberdade, transparência e democracia interna dos comunistas, mas, como se percebe agora pelo clima vivido no PSD, a legitimidade do braço no ar depende dos homens e das suas circunstâncias.

Rui Rio chegou à reunião do Conselho Nacional do partido, no Porto, desafiando uma máxima de sabedoria popular, mas de ciência incerta: aquela que diz que não se deve regressar a um lugar onde já se foi feliz. E ele já foi feliz, antes de o saber, na unidade hoteleira que escolheu para tentar derrotar, olhos nos olhos, a oposição interna. Como disse no início da sua intervenção perante os conselheiros nacionais, foi naquele mesmo hotel que começou a sua caminhada para conquistar a presidência da Câmara do Porto. Mas ele, que é homem das contas, dizia não ter, à chegada, a contabilidade feita.

As circunstâncias estão a anos luz desse tempo. Mas o homem é o mesmo. O mesmo que, numa tese de doutoramento recente sobre os profissionais da política, deixou a entender ao investigador que acredita na repetição de um modelo. Ou seja, considera que lhe vai acontecer na liderança do PSD o mesmo que ocorreu no Porto: primeiro estranha-se, depois entranha-se. À hora do lanche desta quinta, 17, os dirigentes do partido preparavam-se para uma longa noite, talvez madrugada, que acabará certamente indigesta para alguns. O eurodeputado Paulo Rangel pediu “transparência” e “voto de braço no ar”, o contrário do que pedem os adversários de Rio. O líder do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque defende uma “clarificação”, mas, na verdade, as trincheiras estão mais ou menos definidas há vários dias. Luís Montenegro, besta negra ou alma grande deste momento, consoante as perspetivas, até decidiu trabalhar no seu escritório do Porto, a poucas centenas de metros do local da reunião, mas quem acreditava que ele conseguisse trabalhar num clima destes? Ao final da tarde, o deputado ainda admitia que o chamassem para falar num órgão no qual não se senta. Às 18.10 chegava ao hotel Luís Filipe Menezes, que proferira declarações afetuosas em relação a Montenegro. Do adversário atual ao arqui-inimigo de outrora, não se pode dizer que o PSD de Rio não queira fazer a caça a todos os fantasmas. À vista e sem secretismos.

Na sua intervenção inicial, Rio fez o balanço do que já leva de liderança e lembrou aos mais distraídos: sondagens perdeu-as quase todas, eleições ganhou-as. “Não sou candidato a sondagens”, reforçou, para bom entendedor, acusando a oposição interna de optar por uma estratégia “irresponsável” e, provavelmente, estender um “tapete vermelho” a António Costa.

Enquanto Bruno Vitorino, líder do PSD-Setúbal, assumia as despesas de levantar incidentes processuais, entre os conselheiros nacionais existia uma certa inquietação. “Alguns deputados do meu tempo, queixam-se da falta de mimo desta direção. Estavam habituados a isso e sentem muito a ausência do líder nas concelhias e nas secções, lamentando que a atitude seja muito institucional e distante”, explicou à VISÃO o antigo parlamentar (2001-2004) e agora observador nesta reunião, Fernando Charrua. O professor que ficou conhecido por uma célebre anedota a propósito de José Sócrates, o que lhe valeu um processo disciplinar, resume: “O clima é de alguma tensão, mas tal não significa que as pessoas estejam, na maioria, inclinadas para derrubar Rui Rio. Querem mais miminhos, é um facto, mas não olham para Montenegro como solução. Mas se houver uma face oculta nos bastidores, pode ser que o caso mude de figura”, advertiu. Eram quase sete horas quando Fernando Charrua saiu para fumar. Adivinhava-se que a reunião durasse, na melhor das hipóteses, mais seis horas. Havia 75 intervenções previstas e arredar pé não fazia parte dos planos. Como amanhecerá o PSD?, é a pergunta que todos fazem nos corredores.

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4ª parte – Epílogo?

Quatro horas antes de serem conhecidos os resultados da votação da moção de confiança de Rui Rio no Conselho Nacional do PSD, já a VISÃO antecipara o desfecho mais provável da longa noite “laranja”: o atual presidente do partido teria entre 20 a 30 votos mais do que os seus adversários, escrevemos, pelas 23 horas desta quinta, 18. A confirmação oficial surgiria já madrugada dentro, na sequência do sufrágio por voto secreto dos conselheiros nacionais: 75 votos favoráveis à moção do líder social-democrata e 50 aos seus opositores, tendo ainda sido registado um voto nulo. Ou seja, Rui Rio alcançou cerca de 60 por cento dos 126 votos contabilizados na sequência de um “tsunami” interno, que, a certa altura da noite, encrespou ainda mais e ameaçou tornar-se adverso à atual liderança.

O KO de Nuno Morais Sarmento aos críticos, com um discurso galvanizador para Rio, levantou a sala, puxou pela adrenalina dos dirigentes e encaminhou, de vez, a onda em direção aos interesses do atual líder do partido, deixando os adversários entregues aos seus castelos na areia. “Ninguém ganha as eleições se os outros não as perderem primeiro”, afirmou Rio, já triunfante, após descer a escadaria do hotel que horas antes subira otimista, mas sem certezas da contabilidade que o esperava. “Neste momento, já é claro que o PS pode perder as eleições. Metade está feito. Agora, temos de construir a possibilidade de o PSD ganhar”, reforçou, justificando as opções do seu percurso de onze meses à frente do partido, no qual encontrou um passivo de 14 milhões de euros e uma guerrilha interna desde o primeiro dia: “A estratégia tem etapas e a política do bota abaixo não é o meu estilo”, adiantou, esperando agora “alguma paz” e “tranquilidade” no PSD para poder “construir uma alternativa”.

A derrota estratégica daqueles que viam em Luís Montenegro uma opção imediata a Rui Rio fora assumida, pouco tempo antes, pelo ex-líder parlamentar Hugo Soares, embora recusando que as suas palavras fossem interpretadas como tal. “Contribuímos para espicaçar o PSD, que estava adormecido, e amanhã o partido estará mais vivo do que nunca para derrotar António Costa”, afirmou, puxando pelas boas intenções e lamentando que o coletivo do Conselho Jurisdição Nacional tivesse de abandonar a sala como forma de protesto pelo facto de o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto, ter ignorado um parecer daquele órgão no sentido de que a votação fosse secreta.

Na verdade, esse seria mesmo o método utilizado e tal terá ficado a dever-se à posição assumida pelo próprio Rui Rio já os relógios assinalavam as primeiras horas desta sexta-feira. Admitindo que a decisão contrariava os seus princípios, o presidente do PSD abriu uma exceção, aconselhando então o voto secreto. Alguns apaniguados eriçaram-se, mas o risco era calculado. Na folha Excel que o secretário-geral adjunto, Bruno Coimbra, elaborara, com requintes de ourivesaria, ao longo dos últimos dias, a contabilidade da direção do partido apontava para números muito próximos daqueles que foram confirmados pelos resultados oficiais, com ou sem recurso ao voto secreto.

Sem assento no conselho nacional, Luís Montenegro falará ao meio-dia de hoje, sexta, em Gaia, sobre os resultados desta reunião histórica. Epílogo ou mais etapa?

KO de Morais Sarmento empurra Rio para vitória

À entrada da madrugada, o reforço da liderança de Rui Rio era o cenário mais provável. Um gancho de Morais Sarmento aos adversários internos arrebatou a maioria dos conselheiros nacionais, com aplausos bem sonoros. Mas a pergunta mantém-se: que PSD irá despertar deste pesadelo?

3ª parte – Aberto até de madrugada

O Conselho Nacional do PSD entrou no dia seguinte, sem abandonar o clima de território comanche da noite anterior. A última tentação de Luís Montenegro perdia fôlego ao início da madrugada, enquanto a direção de Rio já dava a vitória por adquirida, prevendo uma votação favorável à moção de confiança relativamente folgada.

O período que se seguiu às conspirações e conjeturas de mesa posta teve recados, ironias e ataques para todos os gostos, em jeito de sobremesa, poupando-se nas eloquências. Os punhos de renda ficaram, de facto, em casa. Já passava da meia-noite quando o antigo ministro Nuno Morais Sarmento perguntou, numa espécie de gancho aos adversários: “Como vai ser quando cada um de nós, a seu bel prazer, tiver apetite para pôr em causa a direção?” Na sala, desataram a gritar “PSD, PSD!” e ele sentiu-se tão à-vontade como num ringue. E continuou: “Não vi nenhuma estratégia alternativa”. E se havia “deveria ter-se apresentado no congresso”. O deputado Carlos Abreu Amorim, falando grosso, enredou-se em questões formais e estatutárias e acabou assobiado, fora de combate. Um presidente de câmara não gostou de ouvir dizer que Luís Montenegro não servia nem para presidente de junta, André Coelho Lima falou do clima de “autofagia eleitoral com base em profecias e dogmas”, a direção foi acusada por alguns intervenientes de contribuir para a “guerrilha interna”, enquanto Cláudia André acusou os críticos de desafiarem o líder por motivos assentes em “estados de alma”. Passavam trinta minutos da meia-noite e ainda havia quem se mantivesse de garras afiadas. Alguns, porém, já lambiam as feridas pelos corredores, remoendo a acrimónia e ainda suspirando por um volte-face. O PSD, argumentavam, é esse partido que adora morder pela calada. Mesmo que seja para ferir os seus.

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Rio já faz as contas da vitória, mas reunião segue assanhada

Fontes da direção do PSD já fazem as contas dos prováveis votos favoráveis à moção de confiança de Rui Rio: no mínimo, por 20 ou 30 votos. Ou mais, se for por braço no ar. Luís Filipe Menezes encenou o momento telenovela da reunião, apoiando Rio. O pasmo desse momento ainda dura, mas a discussão segue tensa

2ª parte – A caminho da ceia

À hora a que o povo “laranja” se preparava para jantar, figuras próximas de Rio davam como adquirida a adesão maioritária à moção de confiança de Rui Rio, com uma diferença mínima de 20 ou 30 votos. “Com voto secreto será mais renhido, mas com voto de braço no ar, a diferença será certamente maior”, asseguram fontes da direção social-democrata à VISÃO. A hipótese de recorrer ao voto secreto estava ainda em discussão pouco depois das 22.30 horas, mas longe de ser um dado adquirido, estando os requerimentos sobre a forma de votação nas mãos do Conselho de Jurisdição Nacional. Sabe-se como o PSD é pródigo em reviravoltas e o ambiente na sala reúne vários condimentos para tal: a “família” social-democrata está assanhada e demorará ainda algum tempo a saber-se que PSD sairá desta contenda.

O recato e recolhimento familiar é que parece ter feito maravilhas a Luís Filipe Menezes, “reformado” destas lides. Quando o ex-presidente da Câmara de Gaia pediu a palavra para falar no Conselho Nacional, vários membros da direção de Rio tremeram. Na verdade, o historial discursivo e conflituoso do antigo e breve líder do partido dá margem para todas as memórias e vicissitudes. Isto, sem contar com o facto de os dois protagonistas serem uma espécie de inimigos íntimos no PSD. Ora, se alguém esperava que Menezes caísse para o lado Montenegro desta história, rapidamente ficou de queixo à banda. Da boca do antigo autarca saiu apenas…ternura.

Menezes não escondeu o que o separou de Rio no passado. E foi aparentemente genuíno quando declarou o seu apoio à atual liderança por acreditar que o presidente do partido, mesmo quando esteve contra o próprio Menezes nas diversas lutas políticas, entre as quais a do Porto, o fez por estar convencido de que era melhor para o País. Ainda alguns conselheiros continuavam estupefactos e já Menezes descia a escadaria do interior do hotel para revelar aos jornalistas o que dissera na sala: para ele, não faz sentido mudar de presidente. “Basta fazer alguns acertos e tirar algumas pessoas da televisão”, ou seja, “alguns maus amigos que só se querem vingar do passado”, recomendou. Referiu-se diretamente a Manuela Ferreira Leite, “que não ajuda”. Para Luís Filipe Menezes, no atual momento do PSD “não há lugar para ódios, vinganças e ressentimentos”. Mas pode, no futuro, haver um lugar para Luís Montenegro, a quem reconhece qualidades. Ele, Menezes, é que não está disposto a facilitar a sangria. “Quero o melhor para os meus filhos e para o meu País”, assegurou, garantindo que estará ao lado de Rio “até à vitória nas legislativas”. Não foi preciso esperar muito para vê-lo aguardar por Rio e selar o momento da noite, no exterior do hotel, com um abraço. Diz quem viu que o líder do PSD até se comoveu. De facto, nem nas melhores telenovelas…

No site oficial, o PSD colocava por essa altura o vídeo com o discurso de Rio na abertura do Conselho Nacional. “A hipocrisia não faz parte do meu rol de defeitos”, afirmou, acusando os adversários internos de lhe terem feito “um repto para desertar”, mas não tendo a coragem de se apresentar a eleições diretas há quase um ano. “Não foi certamente a mim que me faltou a coragem”, ironizou Rui Rio. O presidente do partido responsabilizou os defensores da repetição das diretas pelo “espetáculo pouco dignificante” que o PSD estava a dar ao País. No seu caso, ironizou, “estou ainda à espera de perder, pela primeira vez, umas eleições”. Recusando ter qualquer “ambição pessoal ou vaidade”, Rio garante que a proposta dos opositores internos só tem um resultado: “Fazer um frete ao PS”. E acrescentou: “Com terramotos políticos como aqueles que estamos hoje aqui a resolver não será possível atingir aquilo que está perfeitamente ao nosso alcance”. Rio terminou a sua intervenção de quase 20 minutos pedindo “maturidade e sentido de responsabilidade”. Caso contrário, “a derrota será certa”, advertiu.

O discurso, porém, não acalmou as hostes próximas de Montenegro. Pedro Pinto pediu o fim da “fantochada” jurídica e uma rápida decisão sobre os termos da votação. O ex-líder parlamentar Hugo Soares foi mais meigo nos termos, mas, na prática, pediu o mesmo. O autarca de Ovar e dirigente nacional Salvador Malheiro é que também não perdoou: “Se Luís Montenegro quisesse estava aqui hoje e não tinha renunciado ao seu mandato de deputado”, referiu, à porta fechada. A deputada Joana Barata Lopes, que não apoiou Rui Rio e é próxima de Pedro Pinto, discordou da estratégia para demover o líder. “É demasiado grave que se leve o partido para diretas”, afirmou, lamentando ainda: “Tenho muita pena. A política das claques faz-nos mal”. A parlamentar Margarida Balseiro Lopes foi de idêntica opinião, recusando contribuir para o “triste espetáculo” que o PSD está a dar ao País. O espetáculo, porém, continua.

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Rio: “Não sou candidato a sondagens”

O líder do PSD abriu o Conselho Nacional recordando aos adversários internos que, ao contrário de alguns, está habituado a ganhar eleições e a perder nas sondagens. Rio acusa os críticos de querer estender um tapete vermelho a António Costa. Do interior da reunião há relatos de um ambiente tenso. E queixas sobre a falta de “miminhos”.

1ª Parte – Lanche

Houve um tempo em que o PCP era ostracizado na praça pública e pelos seus adversários políticos por obrigar os militantes a votar de braço no ar nas decisões tomadas dentro do “partido com paredes de vidro”, como lhe chamou o histórico secretário-geral Álvaro Cunhal. Aludia-se à falta de liberdade, transparência e democracia interna dos comunistas, mas, como se percebe agora pelo clima vivido no PSD, a legitimidade do braço no ar depende dos homens e das suas circunstâncias.

Rui Rio chegou à reunião do Conselho Nacional do partido, no Porto, desafiando uma máxima de sabedoria popular, mas de ciência incerta: aquela que diz que não se deve regressar a um lugar onde já se foi feliz. E ele já foi feliz, antes de o saber, na unidade hoteleira que escolheu para tentar derrotar, olhos nos olhos, a oposição interna. Como disse no início da sua intervenção perante os conselheiros nacionais, foi naquele mesmo hotel que começou a sua caminhada para conquistar a presidência da Câmara do Porto. Mas ele, que é homem das contas, dizia não ter, à chegada, a contabilidade feita.

As circunstâncias estão a anos luz desse tempo. Mas o homem é o mesmo. O mesmo que, numa tese de doutoramento recente sobre os profissionais da política, deixou a entender ao investigador que acredita na repetição de um modelo. Ou seja, considera que lhe vai acontecer na liderança do PSD o mesmo que ocorreu no Porto: primeiro estranha-se, depois entranha-se. À hora do lanche desta quinta, 17, os dirigentes do partido preparavam-se para uma longa noite, talvez madrugada, que acabará certamente indigesta para alguns. O eurodeputado Paulo Rangel pediu “transparência” e “voto de braço no ar”, o contrário do que pedem os adversários de Rio. O líder do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque defende uma “clarificação”, mas, na verdade, as trincheiras estão mais ou menos definidas há vários dias. Luís Montenegro, besta negra ou alma grande deste momento, consoante as perspetivas, até decidiu trabalhar no seu escritório do Porto, a poucas centenas de metros do local da reunião, mas quem acreditava que ele conseguisse trabalhar num clima destes? Ao final da tarde, o deputado ainda admitia que o chamassem para falar num órgão no qual não se senta. Às 18.10 chegava ao hotel Luís Filipe Menezes, que proferira declarações afetuosas em relação a Montenegro. Do adversário atual ao arqui-inimigo de outrora, não se pode dizer que o PSD de Rio não queira fazer a caça a todos os fantasmas. À vista e sem secretismos.

Na sua intervenção inicial, Rio fez o balanço do que já leva de liderança e lembrou aos mais distraídos: sondagens perdeu-as quase todas, eleições ganhou-as. “Não sou candidato a sondagens”, reforçou, para bom entendedor, acusando a oposição interna de optar por uma estratégia “irresponsável” e, provavelmente, estender um “tapete vermelho” a António Costa.

Enquanto Bruno Vitorino, líder do PSD-Setúbal, assumia as despesas de levantar incidentes processuais, entre os conselheiros nacionais existia uma certa inquietação. “Alguns deputados do meu tempo, queixam-se da falta de mimo desta direção. Estavam habituados a isso e sentem muito a ausência do líder nas concelhias e nas secções, lamentando que a atitude seja muito institucional e distante”, explicou à VISÃO o antigo parlamentar (2001-2004) e agora observador nesta reunião, Fernando Charrua. O professor que ficou conhecido por uma célebre anedota a propósito de José Sócrates, o que lhe valeu um processo disciplinar, resume: “O clima é de alguma tensão, mas tal não significa que as pessoas estejam, na maioria, inclinadas para derrubar Rui Rio. Querem mais miminhos, é um facto, mas não olham para Montenegro como solução. Mas se houver uma face oculta nos bastidores, pode ser que o caso mude de figura”, advertiu. Eram quase sete horas quando Fernando Charrua saiu para fumar. Adivinhava-se que a reunião durasse, na melhor das hipóteses, mais seis horas. Havia 75 intervenções previstas e arredar pé não fazia parte dos planos. Como amanhecerá o PSD?, é a pergunta que todos fazem nos corredores.

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