Correio da Manhã

16-04-2017
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Moradores do 6 de Maio esperam há mais de 20 anos por realojamento

15 de Abril de 2017 às 07:28

Bairro tem sido palco de várias demolições nos últimos meses, realizadas pela Câmara da Amadora.

A viverem em construções precárias no bairro 6 de Maio, na Amadora, cerca de 70 famílias estão há mais de 20 anos à espera que lhes seja atribuída uma habitação condigna no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER).

"Estamos à espera de uma resposta", disse à Lusa Sandra Andrade, que mora há cerca de 30 anos no bairro 6 de Maio e que foi recenseada no PER em 1995, data em que a Câmara da Amadora assinou o acordo para a erradicação dos bairros degradados.

De tanto esperar pelo realojamento, Sandra Andrade apegou-se de tal forma ao bairro que já não pretende sair, sugerindo a reabilitação do espaço.

"Já estou habituada a viver aqui. Eu ficava por aqui, mas somos obrigados a sair", declarou a moradora, adiantando que no final de abril está prevista uma resposta em relação ao realojamento, em que poderá escolher entre aceitar a habitação social atribuída pela autarquia ou uma indemnização de cerca de 50 mil euros.

Localizado a 15 minutos de carro de Lisboa, o 6 de Maio tem sido palco de várias demolições nos últimos meses, realizadas pela Câmara da Amadora, pelo que as construções que ainda existem estão rodeadas de entulho e lixo acumulado.

Nascida e criada no bairro, Cátia Silva, de 27 anos, foi recenseada no PER em 1995. Porém, em 2004, viajou com a família para França "à procura de uma vida melhor" e quando voltou, em 2011, foi informada pela Câmara da Amadora de que "a casa seria demolida e que tinha sido excluída do PER, porque tinha viajado para fora".

"Os meus pais construíram esta casa e continuam a pagar às Finanças tudo, está tudo legalizado, em termos de esgotos, eles pagam tudo, sempre pagaram tudo", declarou a jovem, recusando-se a aceitar que a casa seja demolida sem a garantia de realojamento.

Desempregada e a viver sozinha com uma filha de três anos, Cátia Silva não tem possibilidade de arrendar uma casa.

"Não estamos a exigir nada. É um direito nosso sermos realojados", afirmou a moradora, criticando a postura da autarquia da Amadora em relação às demolições sem pré-aviso.

Mentalmente preparada, Cátia Silva sabe que "a qualquer momento" a casa onde vive pode ser demolida, recordando que já houve situações de famílias que foram "despejadas com tudo dentro de casa, as casas foram demolidas e perderam tudo".

Como nem todas as construções precárias têm sido demolidas após o realojamento, existem hoje novas famílias a viver no bairro 6 de Maio.

Excluída do PER, Amália Teixeira ocupou há 14 anos uma das casas vagas. Entretanto, a Câmara da Amadora disse-lhe que vai ter de sair, porque a casa vai ser demolida.

"Eu estou aqui, porque eu estou sem condições de arranjar uma casa", confidenciou a moradora, que vive com o filho menor, a filha e a neta bebé.

Desde o início da erradicação do bairro 6 de Maio, "já foram solucionados os problemas habitacionais de 189 famílias, através do arrendamento social (realojamento) e de outros programas habitacionais municipais", informou a autarquia da Amadora, referindo que existem ainda 72 famílias a aguardar o realojamento em habitações condignas.

A acompanhar a situação dos moradores, a presidente do coletivo Habita -- Associação pelo Direito à Habitação e à Cidade, Rita Silva, defendeu que é preciso concluir o PER "o mais depressa possível" e desenvolver novas políticas sociais de habitação.

Na perspetiva da representante da Habita, a execução do programa PER teve "muitos problemas", desde o realojamento para as periferias, continuando a promover a "guetização", à exclusão de "uma percentagem enorme de pessoas que também tinham necessidades habitacionais e que viviam em condições muito precárias".

A nível nacional, existem cerca de 2.800 famílias das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto à espera de realojamento no âmbito do PER.

Fora do programa, cresce o número de famílias com carências habitacionais. Neste âmbito, o Governo já anunciou que vai promover um estudo a nível nacional para poder "ponderar uma resposta extraordinária".

Moradores do 6 de Maio esperam há mais de 20 anos por realojamento

15 de Abril de 2017 às 07:28

Bairro tem sido palco de várias demolições nos últimos meses, realizadas pela Câmara da Amadora.

A viverem em construções precárias no bairro 6 de Maio, na Amadora, cerca de 70 famílias estão há mais de 20 anos à espera que lhes seja atribuída uma habitação condigna no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER).

"Estamos à espera de uma resposta", disse à Lusa Sandra Andrade, que mora há cerca de 30 anos no bairro 6 de Maio e que foi recenseada no PER em 1995, data em que a Câmara da Amadora assinou o acordo para a erradicação dos bairros degradados.

De tanto esperar pelo realojamento, Sandra Andrade apegou-se de tal forma ao bairro que já não pretende sair, sugerindo a reabilitação do espaço.

"Já estou habituada a viver aqui. Eu ficava por aqui, mas somos obrigados a sair", declarou a moradora, adiantando que no final de abril está prevista uma resposta em relação ao realojamento, em que poderá escolher entre aceitar a habitação social atribuída pela autarquia ou uma indemnização de cerca de 50 mil euros.

Localizado a 15 minutos de carro de Lisboa, o 6 de Maio tem sido palco de várias demolições nos últimos meses, realizadas pela Câmara da Amadora, pelo que as construções que ainda existem estão rodeadas de entulho e lixo acumulado.

Nascida e criada no bairro, Cátia Silva, de 27 anos, foi recenseada no PER em 1995. Porém, em 2004, viajou com a família para França "à procura de uma vida melhor" e quando voltou, em 2011, foi informada pela Câmara da Amadora de que "a casa seria demolida e que tinha sido excluída do PER, porque tinha viajado para fora".

"Os meus pais construíram esta casa e continuam a pagar às Finanças tudo, está tudo legalizado, em termos de esgotos, eles pagam tudo, sempre pagaram tudo", declarou a jovem, recusando-se a aceitar que a casa seja demolida sem a garantia de realojamento.

Desempregada e a viver sozinha com uma filha de três anos, Cátia Silva não tem possibilidade de arrendar uma casa.

"Não estamos a exigir nada. É um direito nosso sermos realojados", afirmou a moradora, criticando a postura da autarquia da Amadora em relação às demolições sem pré-aviso.

Mentalmente preparada, Cátia Silva sabe que "a qualquer momento" a casa onde vive pode ser demolida, recordando que já houve situações de famílias que foram "despejadas com tudo dentro de casa, as casas foram demolidas e perderam tudo".

Como nem todas as construções precárias têm sido demolidas após o realojamento, existem hoje novas famílias a viver no bairro 6 de Maio.

Excluída do PER, Amália Teixeira ocupou há 14 anos uma das casas vagas. Entretanto, a Câmara da Amadora disse-lhe que vai ter de sair, porque a casa vai ser demolida.

"Eu estou aqui, porque eu estou sem condições de arranjar uma casa", confidenciou a moradora, que vive com o filho menor, a filha e a neta bebé.

Desde o início da erradicação do bairro 6 de Maio, "já foram solucionados os problemas habitacionais de 189 famílias, através do arrendamento social (realojamento) e de outros programas habitacionais municipais", informou a autarquia da Amadora, referindo que existem ainda 72 famílias a aguardar o realojamento em habitações condignas.

A acompanhar a situação dos moradores, a presidente do coletivo Habita -- Associação pelo Direito à Habitação e à Cidade, Rita Silva, defendeu que é preciso concluir o PER "o mais depressa possível" e desenvolver novas políticas sociais de habitação.

Na perspetiva da representante da Habita, a execução do programa PER teve "muitos problemas", desde o realojamento para as periferias, continuando a promover a "guetização", à exclusão de "uma percentagem enorme de pessoas que também tinham necessidades habitacionais e que viviam em condições muito precárias".

A nível nacional, existem cerca de 2.800 famílias das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto à espera de realojamento no âmbito do PER.

Fora do programa, cresce o número de famílias com carências habitacionais. Neste âmbito, o Governo já anunciou que vai promover um estudo a nível nacional para poder "ponderar uma resposta extraordinária".

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