Costa renega “tentações esquerdistas”, Catarina encosta-o à direita

10-07-2016
marcar artigo

O debate entre António Costa e Catarina Martins, esta segunda-feira, na TVI24, começou com amenidades e acordo – o primeiro tema foi a resposta europeia, e portuguesa, à crise dos refugiados, e tanto o secretário-geral do PS como a coordenadora do BE concordaram que estamos perante um “falhanço da Europa” (Costa) e que os países europeus “têm a obrigação de recolher estes refugiados” (Martins). O líder socialista disse mesmo que “Portugal devia ser exemplar” no acolhimento de refugiados, lembrando, entre outras razões, que “temos um problema demográfico sério”. Ficaram por aí as anuências de cada um ao que o outro dizia.

Logo no tema seguinte – a Segurança Social –, Catarina Martins partiu para o ataque. Embora concordando com a análise de Costa sobre a sustentabilidade do sistema e a intocabilidade das pensões em pagamento, a dirigente do BE divergiu das propostas apresentadas pelo PS, nomeadamente o congelamento das pensões nos próximos quatro anos. Congelar equivale a cortar, por causa da inflação, lembrou Catarina Martins, e esse “corte”, pelas contas do próprio PS, ascende, numa legislatura, a 1660 milhões de euros.

“Não posso compreender como é que, estando de acordo que as pensões têm ser honradas, as pensões são sagradas, vão retirar 1660 milhões de euros às pensões”, disparou. “Como o PS não consegue acabar com a austeridade sem mudar nada do que conta, volta a ir aos pensionistas para os seus saldos orçamentais”, concluiu. Mais adiante, depois de lembrar o corte nos descontos da TSU, para aumentar o rendimento disponível e estimular o consumo, igualmente proposto pelo PS, Catarina acenou com a consequência dessa medida – “Esta medida retira sustentabilidade à SS e está a prometer pensões mais baixas no futuro”. “É a mesma lógica da direita”, atirou a líder do Bloco.

Na resposta, Costa rebateu as acusações (“É muito diferente daquilo que a direita propõe”) e denunciou o objetivo da oponente: “Percebo que queira meter no mesmo saco coisas que são diferentes”. E tentou virar o expediente contra a própria Catarina Martins, acusando-a de ser, ela sim, cúmplice do discurso da direita: “É essa fórmula de meter tudo no mesmo saco, e as pessoas acharem que fazer um congelamento é o mesmo que cortar, que permite à direita dizer que não há alternativa”.

“Não aprendem”, diz Costa

Foi muito isto o primeiro debate de Costa à esquerda: foi acusado de ser igual à direita e, na volta, acusou a adversária de favorecer o jogo da direita.

O mesmo quando se debateu o outro grande tema da noite, a dívida pública. Catarina Martins bateu-se pela sua reestruturação, admitindo, no limite, que essa negociação com a UE, “que é difícil”, possa obrigar ao “eventual rompimento com a União Monetária”.

Costa recusou essa caminho: nem restruturação, nem saída do euro, que provocaria uma desvalorização da moeda “absolutamente devastadora”. Acusou Catarina Martins de irresponsabilidade, por fazer da renegociação o pressuposto do programa do BE, quando isso “não depende exclusivamente de nós”, e recomendou à bloquista “alguma humildade” tendo em conta o que aconteceu na Grécia. “Não aprendem”, acusou Costa.

“Mas… mas… mas…”, ironiza Catarina

Na resposta, o líder do PS voltou a ser encostado à direita. Porque faz mesma análise que o BE sobre o euro mas “não retira a conclusão [reestruturação da dívida e eventual saída da moeda única], e acaba a fazer o mesmo que a direita, que é ir às pensões”, acusou Catarina Martins. “Vejo António Costa a dizer que tudo está mal na Europa e depois só diz mas… mas… mas… Não direi que é uma política pateta, mas é bastante de ficar de braços cruzados”, continuou a coordenadora do BE, considerando que, ao não ter “coragem” para propor a renegociação da dívida, o socialista “está à direita de Manuela Ferreira Leite”.

Às acusações de deriva direitista, Costa respondeu com um autorretrato moldado pela rejeição de tentações esquerdistas. “Eu fui sempre um moderado, fui sempre um social-democrata, nunca tive aquelas tentações esquerdistas (…) que se autossatisfazem a vida toda a produzir discursos e não serem capazes de resolver os problemas das pessoas”. O seu programa, disse, “desmente o discurso da direita, que o BE repete, de que não há alternativa no quadro do euro”.

As condições do BE para governar

E assim, entre acusações (houve mais uma: Catarina colou à direita a proposta do PS para os despedimentos, que considerou “uma forma de flexibilização”), chegaram ao fim, quando Catarina Martins, questionada sobre eventuais acordos pós-eleitorais com o PS, não os rejeitou.

Ao invés, colocou as condições para esse acordo. Neste termos: “Se o PS estiver disponível para abandonar a ideia de cortar 1660 milhões de euros nas pensões, o corte na TSU, o regime conciliatório que é uma forma de flexibilizar os despedimentos, eu no dia 5 de outubro cá estarei para que possamos conversar sobre um governo que possa salvar o país, pensar como reestruturar a dívida para termos futuro e emprego. Vai falar a seguir a mim. Se me disser que sim ou que vai pensar, já valeu pena. Se disser que não, ficaremos a saber que no dia 5 pretende telefonar a Rui Rio ou Paulo Portas”, para fazer acordos à direita.

“Vai pensar?”, perguntou o moderador a António Costa. O líder do PS repetiu a sua cartilha de olhos postos na câmara, mas não respondeu às condições de Catarina Martins.

O debate entre António Costa e Catarina Martins, esta segunda-feira, na TVI24, começou com amenidades e acordo – o primeiro tema foi a resposta europeia, e portuguesa, à crise dos refugiados, e tanto o secretário-geral do PS como a coordenadora do BE concordaram que estamos perante um “falhanço da Europa” (Costa) e que os países europeus “têm a obrigação de recolher estes refugiados” (Martins). O líder socialista disse mesmo que “Portugal devia ser exemplar” no acolhimento de refugiados, lembrando, entre outras razões, que “temos um problema demográfico sério”. Ficaram por aí as anuências de cada um ao que o outro dizia.

Logo no tema seguinte – a Segurança Social –, Catarina Martins partiu para o ataque. Embora concordando com a análise de Costa sobre a sustentabilidade do sistema e a intocabilidade das pensões em pagamento, a dirigente do BE divergiu das propostas apresentadas pelo PS, nomeadamente o congelamento das pensões nos próximos quatro anos. Congelar equivale a cortar, por causa da inflação, lembrou Catarina Martins, e esse “corte”, pelas contas do próprio PS, ascende, numa legislatura, a 1660 milhões de euros.

“Não posso compreender como é que, estando de acordo que as pensões têm ser honradas, as pensões são sagradas, vão retirar 1660 milhões de euros às pensões”, disparou. “Como o PS não consegue acabar com a austeridade sem mudar nada do que conta, volta a ir aos pensionistas para os seus saldos orçamentais”, concluiu. Mais adiante, depois de lembrar o corte nos descontos da TSU, para aumentar o rendimento disponível e estimular o consumo, igualmente proposto pelo PS, Catarina acenou com a consequência dessa medida – “Esta medida retira sustentabilidade à SS e está a prometer pensões mais baixas no futuro”. “É a mesma lógica da direita”, atirou a líder do Bloco.

Na resposta, Costa rebateu as acusações (“É muito diferente daquilo que a direita propõe”) e denunciou o objetivo da oponente: “Percebo que queira meter no mesmo saco coisas que são diferentes”. E tentou virar o expediente contra a própria Catarina Martins, acusando-a de ser, ela sim, cúmplice do discurso da direita: “É essa fórmula de meter tudo no mesmo saco, e as pessoas acharem que fazer um congelamento é o mesmo que cortar, que permite à direita dizer que não há alternativa”.

“Não aprendem”, diz Costa

Foi muito isto o primeiro debate de Costa à esquerda: foi acusado de ser igual à direita e, na volta, acusou a adversária de favorecer o jogo da direita.

O mesmo quando se debateu o outro grande tema da noite, a dívida pública. Catarina Martins bateu-se pela sua reestruturação, admitindo, no limite, que essa negociação com a UE, “que é difícil”, possa obrigar ao “eventual rompimento com a União Monetária”.

Costa recusou essa caminho: nem restruturação, nem saída do euro, que provocaria uma desvalorização da moeda “absolutamente devastadora”. Acusou Catarina Martins de irresponsabilidade, por fazer da renegociação o pressuposto do programa do BE, quando isso “não depende exclusivamente de nós”, e recomendou à bloquista “alguma humildade” tendo em conta o que aconteceu na Grécia. “Não aprendem”, acusou Costa.

“Mas… mas… mas…”, ironiza Catarina

Na resposta, o líder do PS voltou a ser encostado à direita. Porque faz mesma análise que o BE sobre o euro mas “não retira a conclusão [reestruturação da dívida e eventual saída da moeda única], e acaba a fazer o mesmo que a direita, que é ir às pensões”, acusou Catarina Martins. “Vejo António Costa a dizer que tudo está mal na Europa e depois só diz mas… mas… mas… Não direi que é uma política pateta, mas é bastante de ficar de braços cruzados”, continuou a coordenadora do BE, considerando que, ao não ter “coragem” para propor a renegociação da dívida, o socialista “está à direita de Manuela Ferreira Leite”.

Às acusações de deriva direitista, Costa respondeu com um autorretrato moldado pela rejeição de tentações esquerdistas. “Eu fui sempre um moderado, fui sempre um social-democrata, nunca tive aquelas tentações esquerdistas (…) que se autossatisfazem a vida toda a produzir discursos e não serem capazes de resolver os problemas das pessoas”. O seu programa, disse, “desmente o discurso da direita, que o BE repete, de que não há alternativa no quadro do euro”.

As condições do BE para governar

E assim, entre acusações (houve mais uma: Catarina colou à direita a proposta do PS para os despedimentos, que considerou “uma forma de flexibilização”), chegaram ao fim, quando Catarina Martins, questionada sobre eventuais acordos pós-eleitorais com o PS, não os rejeitou.

Ao invés, colocou as condições para esse acordo. Neste termos: “Se o PS estiver disponível para abandonar a ideia de cortar 1660 milhões de euros nas pensões, o corte na TSU, o regime conciliatório que é uma forma de flexibilizar os despedimentos, eu no dia 5 de outubro cá estarei para que possamos conversar sobre um governo que possa salvar o país, pensar como reestruturar a dívida para termos futuro e emprego. Vai falar a seguir a mim. Se me disser que sim ou que vai pensar, já valeu pena. Se disser que não, ficaremos a saber que no dia 5 pretende telefonar a Rui Rio ou Paulo Portas”, para fazer acordos à direita.

“Vai pensar?”, perguntou o moderador a António Costa. O líder do PS repetiu a sua cartilha de olhos postos na câmara, mas não respondeu às condições de Catarina Martins.

marcar artigo