A Esquerda refém do PS

09-12-2019
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Parece-me óbvio que os Partidos de Esquerda que suportam o Governo, PCP e Bloco (os Verdes só lá estão para fazer número e para a Heloísa Apolónia descansar a garganta), estão reféns do PS e do compromisso a que chegaram para a Legislatura. Tanto um como o outro sabem perfeitamente que, se tirarem o tapete a António Costa, os votos futuros vão direitinhos para ele. E lá se vai a Geringonça e o condicionamento das opções do Governo.

É por isso que, muito provavelmente, vamos ver até 2019 sucessivos Orçamentos que não são mesmo de Esquerda a serem viabilizados pela Esquerda mesmo. Só espero que António Costa não caia na tentação de, lá mais para a frente, armadilhar o caminho ao PCP e Bloco para se vitimizar, indo a eleições antecipadas e ganhando com maioria.

Como é óbvio, não vou ser injusto ao ponto de esquecer as limitações que continuam a ser impostas ao Governo por Bruxelas. E também não vou comparar com os Orçamentos de Passos / Portas, porque não há comparação possível. Só os comentadores de Direita é que acham que subir o IRS ou baixar as pensões é a mesma coisa que subir o imposto do álcool ou do tabaco.

Mas apesar dos progressos registados com a reversão das anteriores medidas de austeridade, dava para ir muito mais longe e para fazer um Orçamento realmente de Esquerda. A medida que parecia indicar o trilho que ia ser seguido – o fim dos contratos de associação – não teve afinal qualquer continuidade. Foi uma vez sem exemplo.

Os grandes grupos económicos e as grandes fortunas continuam sem pagar o que deviam e continuam a beneficiar de um sem-número de benefícios e isenções fiscais. Mariana Mortágua pariu um rato (salvo seja), porque o Governo decidiu que, relativamente ao tal imposto imobiliário extraordinário, só paga quem tiver imóveis cujo valor atinja os 600 mil euros – e mesmo assim, a ridicularia de 0,3% só será paga na parcela que fica acima dos 600 mil; e mesmo assim, só paga se tiver dívidas ao Fisco; e mesmo assim, deve haver uma escapatória qualquer para os poucos que ficam.

A vergonha do Governo em ir buscar a quem mais tem contrasta, de forma flagrante, com a insensibilidade social perante aqueles que têm menos.

A sério que não entendo como gente de Esquerda pode classificar como razoável a medida de não aumentar parte significativa das pensões mínimas, embora tenha a certeza de que, se fosse o PSD a tomar a mesma medida, o discurso seria outro.

E é ouvi-los com justificações que mais parecem retiradas do manual das mentiras de Passos Coelho – «Quais eram as alternativas?» ou «Queriam que cortasse nos salários e nas pensões?»

Não, não queria nem acho que fosse necessário. Assim de repente, cortar à bruta nas rendas excessivas da EDP e dessas grandes empresas de energia era suficiente. E fazer uma «lei Mortágua» a sério e não a fingir. E deixar a sobretaxa quietinha para os escalões mais elevados, que estava lá muito bem. Mas não, o Governo preferiu retirar a sobretaxa a quem ganha mais de 80 mil euros por ano (e grande escândalo que não seja logo em Janeiro) em vez de aumentar as pensões mínimas. E preferiu não taxar o imobiliário de luxo. E preferiu não afrontar os grandes grupos.

Perante tudo isto, PCP e Bloco bem podem criticar o Governo e acusá-lo de não fazer um Orçamento de Esquerda. É verdade. Mas também é verdade que votaram a favor. Porque sabem, como todos sabemos, que a alternativa, o regresso da Direita ao poder, seria bem pior. Porque sabem, como António Costa também sabe, que no fundo estão reféns do PS e continuarão a estar, se não quiserem hipotecar a sua sobrevivência política, até ao fim da Legislatura.

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Parece-me óbvio que os Partidos de Esquerda que suportam o Governo, PCP e Bloco (os Verdes só lá estão para fazer número e para a Heloísa Apolónia descansar a garganta), estão reféns do PS e do compromisso a que chegaram para a Legislatura. Tanto um como o outro sabem perfeitamente que, se tirarem o tapete a António Costa, os votos futuros vão direitinhos para ele. E lá se vai a Geringonça e o condicionamento das opções do Governo.

É por isso que, muito provavelmente, vamos ver até 2019 sucessivos Orçamentos que não são mesmo de Esquerda a serem viabilizados pela Esquerda mesmo. Só espero que António Costa não caia na tentação de, lá mais para a frente, armadilhar o caminho ao PCP e Bloco para se vitimizar, indo a eleições antecipadas e ganhando com maioria.

Como é óbvio, não vou ser injusto ao ponto de esquecer as limitações que continuam a ser impostas ao Governo por Bruxelas. E também não vou comparar com os Orçamentos de Passos / Portas, porque não há comparação possível. Só os comentadores de Direita é que acham que subir o IRS ou baixar as pensões é a mesma coisa que subir o imposto do álcool ou do tabaco.

Mas apesar dos progressos registados com a reversão das anteriores medidas de austeridade, dava para ir muito mais longe e para fazer um Orçamento realmente de Esquerda. A medida que parecia indicar o trilho que ia ser seguido – o fim dos contratos de associação – não teve afinal qualquer continuidade. Foi uma vez sem exemplo.

Os grandes grupos económicos e as grandes fortunas continuam sem pagar o que deviam e continuam a beneficiar de um sem-número de benefícios e isenções fiscais. Mariana Mortágua pariu um rato (salvo seja), porque o Governo decidiu que, relativamente ao tal imposto imobiliário extraordinário, só paga quem tiver imóveis cujo valor atinja os 600 mil euros – e mesmo assim, a ridicularia de 0,3% só será paga na parcela que fica acima dos 600 mil; e mesmo assim, só paga se tiver dívidas ao Fisco; e mesmo assim, deve haver uma escapatória qualquer para os poucos que ficam.

A vergonha do Governo em ir buscar a quem mais tem contrasta, de forma flagrante, com a insensibilidade social perante aqueles que têm menos.

A sério que não entendo como gente de Esquerda pode classificar como razoável a medida de não aumentar parte significativa das pensões mínimas, embora tenha a certeza de que, se fosse o PSD a tomar a mesma medida, o discurso seria outro.

E é ouvi-los com justificações que mais parecem retiradas do manual das mentiras de Passos Coelho – «Quais eram as alternativas?» ou «Queriam que cortasse nos salários e nas pensões?»

Não, não queria nem acho que fosse necessário. Assim de repente, cortar à bruta nas rendas excessivas da EDP e dessas grandes empresas de energia era suficiente. E fazer uma «lei Mortágua» a sério e não a fingir. E deixar a sobretaxa quietinha para os escalões mais elevados, que estava lá muito bem. Mas não, o Governo preferiu retirar a sobretaxa a quem ganha mais de 80 mil euros por ano (e grande escândalo que não seja logo em Janeiro) em vez de aumentar as pensões mínimas. E preferiu não taxar o imobiliário de luxo. E preferiu não afrontar os grandes grupos.

Perante tudo isto, PCP e Bloco bem podem criticar o Governo e acusá-lo de não fazer um Orçamento de Esquerda. É verdade. Mas também é verdade que votaram a favor. Porque sabem, como todos sabemos, que a alternativa, o regresso da Direita ao poder, seria bem pior. Porque sabem, como António Costa também sabe, que no fundo estão reféns do PS e continuarão a estar, se não quiserem hipotecar a sua sobrevivência política, até ao fim da Legislatura.

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