Citar o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder, para duvidar da legitimidade de Ventura é argumento que não pega. Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler. Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos, Silva, é um bom ministro.
É oportuno, afirmativo, sensato, cauteloso e não comete gafes – o que é importantíssimo no cargo que ocupa.
Mas quando se mete na política pura e dura parece outra pessoa.
É como Mário Centeno, que se transfigura quando critica a oposição
Certo dia, Santos Silva disse que era preciso «malhar na direita» – coisa pouco elegante para se dizer em democracia.
E este fim de semana definiu André Ventura como «um vírus» que importa combater.
Ora, dizer isto numa altura em que o coronavírus lançava o pânico no país, foi, no mínimo, de mau gosto.
Uma coisa é o combate político – outra é o recurso a expressões aviltantes para os adversários.
Recordo que André Ventura se submeteu ao juízo democrático, concorreu a eleições e foi regularmente eleito.
Não foi para o Parlamento através de uma ‘chapelada’ ou de um golpe baixo, mas sim dos votos de portugueses.
Tem, portanto, direitos iguais a qualquer outro deputado – e merece o mesmo respeito que os outros.
Qual é o seu crime?
Oferece frigoríficos, ou ventoinhas, ou panelas de pressão para angariar apoios?
Faz alguma coisa que não se possa fazer?
Não: limita-se a falar, a criticar, a dizer o que acha deste ou daquele assunto.
Mas não é isso o que fazem todos os políticos?
Há já quem o queira expulsar do Parlamento, silenciar, quiçá deportar.
E citam o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder.
Ora, o argumento não pega.
Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler.
Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.
De não saberem como lidar com ele e o combater.
Ferro Rodrigues já o mandou uma vez calar e recentemente proibiu o debate de um projeto seu – com o argumento de que era inconstitucional.
Mas quem define a constitucionalidade é o presidente da Assembleia da República ou o Tribunal Constitucional?
Agora foi Santos Silva que lhe chamou ‘vírus’.
Só que aqui, descontando a deselegância do ataque, a palavra até tem alguma razão de ser: tal como o sistema de saúde não estava preparado para lidar com o coronavírus, também o sistema político não estava preparado para lidar com um deputado como André Ventura.
Incapaz de lidar com o fenómeno, o regime receia uma ‘epidemia’.
Mas a culpa é de Ventura ou dos outros partidos?
É ele que diz coisas que não poderia dizer ou são os outros que, com os seus erros e omissões, lhe abrem o caminho?
A inopinada aprovação da eutanásia, por exemplo, feita à lufa-lufa logo a abrir a legislatura, quantos milhares de votos lhe terá dado?
Tanto quanto vejo, o êxito de André Ventura estriba-se em boa parte nos erros que os partidos do sistema cometem e no facto de dizer alto e bom som algumas evidências que os outros partidos calam.
Num ambiente politico dominado pela esquerda, onde o BE faz o papel de polícia, os partidos ditos da direita têm-se acobardado.
O CDS por exemplo, refugiou-se sempre num centrismo envergonhado.
Ora, Ventura veio quebrar estes tabus.
Ele fez o papel da criança que gritou «O rei vai nu» – e muitas pessoas sentiram-se livres para falar.
Assim, o que Ventura diz corresponde ao que muita gente pensa – só assim se compreende a notoriedade que conseguiu em poucos meses.
Perante isto, não me parece que a estratégia mais inteligente seja mandá-lo calar.
Isso faria dele um mártir da democracia.
O remédio tem de ser outro.
Santos Silva, Ferro Rodrigues, outros mais, como Manuel Alegre, em vez de olharem para André Ventura, deveriam antes ver-se ao espelho – e perceberem os erros que cometeram (e cometem) para Ventura crescer nas sondagens com tanta facilidade.
Em vez de o quererem calar, tentem perceber o que faz o seu sucesso.
Procurem aprender com ele: vejam como vai ao encontro dos sentimentos de muita gente que não tinha antes ninguém que a representasse.
O que está a corroer a democracia não é André Ventura: são as asneiras dos partidos do sistema e os problemas a que não conseguem dar resposta.
Essa, sim, é a questão.
André Ventura é apenas um mensageiro.
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Citar o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder, para duvidar da legitimidade de Ventura é argumento que não pega. Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler. Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos, Silva, é um bom ministro.
É oportuno, afirmativo, sensato, cauteloso e não comete gafes – o que é importantíssimo no cargo que ocupa.
Mas quando se mete na política pura e dura parece outra pessoa.
É como Mário Centeno, que se transfigura quando critica a oposição
Certo dia, Santos Silva disse que era preciso «malhar na direita» – coisa pouco elegante para se dizer em democracia.
E este fim de semana definiu André Ventura como «um vírus» que importa combater.
Ora, dizer isto numa altura em que o coronavírus lançava o pânico no país, foi, no mínimo, de mau gosto.
Uma coisa é o combate político – outra é o recurso a expressões aviltantes para os adversários.
Recordo que André Ventura se submeteu ao juízo democrático, concorreu a eleições e foi regularmente eleito.
Não foi para o Parlamento através de uma ‘chapelada’ ou de um golpe baixo, mas sim dos votos de portugueses.
Tem, portanto, direitos iguais a qualquer outro deputado – e merece o mesmo respeito que os outros.
Qual é o seu crime?
Oferece frigoríficos, ou ventoinhas, ou panelas de pressão para angariar apoios?
Faz alguma coisa que não se possa fazer?
Não: limita-se a falar, a criticar, a dizer o que acha deste ou daquele assunto.
Mas não é isso o que fazem todos os políticos?
Há já quem o queira expulsar do Parlamento, silenciar, quiçá deportar.
E citam o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder.
Ora, o argumento não pega.
Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler.
Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.
De não saberem como lidar com ele e o combater.
Ferro Rodrigues já o mandou uma vez calar e recentemente proibiu o debate de um projeto seu – com o argumento de que era inconstitucional.
Mas quem define a constitucionalidade é o presidente da Assembleia da República ou o Tribunal Constitucional?
Agora foi Santos Silva que lhe chamou ‘vírus’.
Só que aqui, descontando a deselegância do ataque, a palavra até tem alguma razão de ser: tal como o sistema de saúde não estava preparado para lidar com o coronavírus, também o sistema político não estava preparado para lidar com um deputado como André Ventura.
Incapaz de lidar com o fenómeno, o regime receia uma ‘epidemia’.
Mas a culpa é de Ventura ou dos outros partidos?
É ele que diz coisas que não poderia dizer ou são os outros que, com os seus erros e omissões, lhe abrem o caminho?
A inopinada aprovação da eutanásia, por exemplo, feita à lufa-lufa logo a abrir a legislatura, quantos milhares de votos lhe terá dado?
Tanto quanto vejo, o êxito de André Ventura estriba-se em boa parte nos erros que os partidos do sistema cometem e no facto de dizer alto e bom som algumas evidências que os outros partidos calam.
Num ambiente politico dominado pela esquerda, onde o BE faz o papel de polícia, os partidos ditos da direita têm-se acobardado.
O CDS por exemplo, refugiou-se sempre num centrismo envergonhado.
Ora, Ventura veio quebrar estes tabus.
Ele fez o papel da criança que gritou «O rei vai nu» – e muitas pessoas sentiram-se livres para falar.
Assim, o que Ventura diz corresponde ao que muita gente pensa – só assim se compreende a notoriedade que conseguiu em poucos meses.
Perante isto, não me parece que a estratégia mais inteligente seja mandá-lo calar.
Isso faria dele um mártir da democracia.
O remédio tem de ser outro.
Santos Silva, Ferro Rodrigues, outros mais, como Manuel Alegre, em vez de olharem para André Ventura, deveriam antes ver-se ao espelho – e perceberem os erros que cometeram (e cometem) para Ventura crescer nas sondagens com tanta facilidade.
Em vez de o quererem calar, tentem perceber o que faz o seu sucesso.
Procurem aprender com ele: vejam como vai ao encontro dos sentimentos de muita gente que não tinha antes ninguém que a representasse.
O que está a corroer a democracia não é André Ventura: são as asneiras dos partidos do sistema e os problemas a que não conseguem dar resposta.
Essa, sim, é a questão.
André Ventura é apenas um mensageiro.