O vírus

07-03-2020
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Citar o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder, para duvidar da legitimidade de Ventura é argumento que não pega. Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler. Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos, Silva, é um bom ministro.

É oportuno, afirmativo, sensato, cauteloso e não comete gafes – o que é importantíssimo no cargo que ocupa.

Mas quando se mete na política pura e dura parece outra pessoa.

É como Mário Centeno, que se transfigura quando critica a oposição

Certo dia, Santos Silva disse que era preciso «malhar na direita» – coisa pouco elegante para se dizer em democracia.

E este fim de semana definiu André Ventura como «um vírus» que importa combater.

Ora, dizer isto numa altura em que o coronavírus lançava o pânico no país, foi, no mínimo, de mau gosto.

Uma coisa é o combate político – outra é o recurso a expressões aviltantes para os adversários.

Recordo que André Ventura se submeteu ao juízo democrático, concorreu a eleições e foi regularmente eleito.

Não foi para o Parlamento através de uma ‘chapelada’ ou de um golpe baixo, mas sim dos votos de portugueses.

Tem, portanto, direitos iguais a qualquer outro deputado – e merece o mesmo respeito que os outros.

Qual é o seu crime?

Oferece frigoríficos, ou ventoinhas, ou panelas de pressão para angariar apoios?

Faz alguma coisa que não se possa fazer?

Não: limita-se a falar, a criticar, a dizer o que acha deste ou daquele assunto.

Mas não é isso o que fazem todos os políticos?

Há já quem o queira expulsar do Parlamento, silenciar, quiçá deportar.

E citam o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder.

Ora, o argumento não pega.

Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler.

Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.

De não saberem como lidar com ele e o combater.

Ferro Rodrigues já o mandou uma vez calar e recentemente proibiu o debate de um projeto seu – com o argumento de que era inconstitucional.

Mas quem define a constitucionalidade é o presidente da Assembleia da República ou o Tribunal Constitucional?

Agora foi Santos Silva que lhe chamou ‘vírus’.

Só que aqui, descontando a deselegância do ataque, a palavra até tem alguma razão de ser: tal como o sistema de saúde não estava preparado para lidar com o coronavírus, também o sistema político não estava preparado para lidar com um deputado como André Ventura.

Incapaz de lidar com o fenómeno, o regime receia uma ‘epidemia’.

Mas a culpa é de Ventura ou dos outros partidos?

É ele que diz coisas que não poderia dizer ou são os outros que, com os seus erros e omissões, lhe abrem o caminho?

A inopinada aprovação da eutanásia, por exemplo, feita à lufa-lufa logo a abrir a legislatura, quantos milhares de votos lhe terá dado?

Tanto quanto vejo, o êxito de André Ventura estriba-se em boa parte nos erros que os partidos do sistema cometem e no facto de dizer alto e bom som algumas evidências que os outros partidos calam.

Num ambiente politico dominado pela esquerda, onde o BE faz o papel de polícia, os partidos ditos da direita têm-se acobardado.

O CDS por exemplo, refugiou-se sempre num centrismo envergonhado.

Ora, Ventura veio quebrar estes tabus.

Ele fez o papel da criança que gritou «O rei vai nu» – e muitas pessoas sentiram-se livres para falar.

Assim, o que Ventura diz corresponde ao que muita gente pensa – só assim se compreende a notoriedade que conseguiu em poucos meses.

Perante isto, não me parece que a estratégia mais inteligente seja mandá-lo calar.

Isso faria dele um mártir da democracia.

O remédio tem de ser outro.

Santos Silva, Ferro Rodrigues, outros mais, como Manuel Alegre, em vez de olharem para André Ventura, deveriam antes ver-se ao espelho – e perceberem os erros que cometeram (e cometem) para Ventura crescer nas sondagens com tanta facilidade.

Em vez de o quererem calar, tentem perceber o que faz o seu sucesso.

Procurem aprender com ele: vejam como vai ao encontro dos sentimentos de muita gente que não tinha antes ninguém que a representasse.

O que está a corroer a democracia não é André Ventura: são as asneiras dos partidos do sistema e os problemas a que não conseguem dar resposta.

Essa, sim, é a questão.

André Ventura é apenas um mensageiro.

Citar o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder, para duvidar da legitimidade de Ventura é argumento que não pega. Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler. Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos, Silva, é um bom ministro.

É oportuno, afirmativo, sensato, cauteloso e não comete gafes – o que é importantíssimo no cargo que ocupa.

Mas quando se mete na política pura e dura parece outra pessoa.

É como Mário Centeno, que se transfigura quando critica a oposição

Certo dia, Santos Silva disse que era preciso «malhar na direita» – coisa pouco elegante para se dizer em democracia.

E este fim de semana definiu André Ventura como «um vírus» que importa combater.

Ora, dizer isto numa altura em que o coronavírus lançava o pânico no país, foi, no mínimo, de mau gosto.

Uma coisa é o combate político – outra é o recurso a expressões aviltantes para os adversários.

Recordo que André Ventura se submeteu ao juízo democrático, concorreu a eleições e foi regularmente eleito.

Não foi para o Parlamento através de uma ‘chapelada’ ou de um golpe baixo, mas sim dos votos de portugueses.

Tem, portanto, direitos iguais a qualquer outro deputado – e merece o mesmo respeito que os outros.

Qual é o seu crime?

Oferece frigoríficos, ou ventoinhas, ou panelas de pressão para angariar apoios?

Faz alguma coisa que não se possa fazer?

Não: limita-se a falar, a criticar, a dizer o que acha deste ou daquele assunto.

Mas não é isso o que fazem todos os políticos?

Há já quem o queira expulsar do Parlamento, silenciar, quiçá deportar.

E citam o caso de Hitler, que usou a democracia para chegar ao poder.

Ora, o argumento não pega.

Primeiro, porque Portugal não é a Alemanha; segundo, porque o ambiente na Europa não tem nada que ver com o dos anos 20 e 30; terceiro, porque Ventura não é Hitler.

Aqueles que querem silenciar Ventura não são movidos por questões de princípio – mas pelo facto de não saberem como se lhe opor.

De não saberem como lidar com ele e o combater.

Ferro Rodrigues já o mandou uma vez calar e recentemente proibiu o debate de um projeto seu – com o argumento de que era inconstitucional.

Mas quem define a constitucionalidade é o presidente da Assembleia da República ou o Tribunal Constitucional?

Agora foi Santos Silva que lhe chamou ‘vírus’.

Só que aqui, descontando a deselegância do ataque, a palavra até tem alguma razão de ser: tal como o sistema de saúde não estava preparado para lidar com o coronavírus, também o sistema político não estava preparado para lidar com um deputado como André Ventura.

Incapaz de lidar com o fenómeno, o regime receia uma ‘epidemia’.

Mas a culpa é de Ventura ou dos outros partidos?

É ele que diz coisas que não poderia dizer ou são os outros que, com os seus erros e omissões, lhe abrem o caminho?

A inopinada aprovação da eutanásia, por exemplo, feita à lufa-lufa logo a abrir a legislatura, quantos milhares de votos lhe terá dado?

Tanto quanto vejo, o êxito de André Ventura estriba-se em boa parte nos erros que os partidos do sistema cometem e no facto de dizer alto e bom som algumas evidências que os outros partidos calam.

Num ambiente politico dominado pela esquerda, onde o BE faz o papel de polícia, os partidos ditos da direita têm-se acobardado.

O CDS por exemplo, refugiou-se sempre num centrismo envergonhado.

Ora, Ventura veio quebrar estes tabus.

Ele fez o papel da criança que gritou «O rei vai nu» – e muitas pessoas sentiram-se livres para falar.

Assim, o que Ventura diz corresponde ao que muita gente pensa – só assim se compreende a notoriedade que conseguiu em poucos meses.

Perante isto, não me parece que a estratégia mais inteligente seja mandá-lo calar.

Isso faria dele um mártir da democracia.

O remédio tem de ser outro.

Santos Silva, Ferro Rodrigues, outros mais, como Manuel Alegre, em vez de olharem para André Ventura, deveriam antes ver-se ao espelho – e perceberem os erros que cometeram (e cometem) para Ventura crescer nas sondagens com tanta facilidade.

Em vez de o quererem calar, tentem perceber o que faz o seu sucesso.

Procurem aprender com ele: vejam como vai ao encontro dos sentimentos de muita gente que não tinha antes ninguém que a representasse.

O que está a corroer a democracia não é André Ventura: são as asneiras dos partidos do sistema e os problemas a que não conseguem dar resposta.

Essa, sim, é a questão.

André Ventura é apenas um mensageiro.

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