“Acho que nunca sou olhada sem que vejam a minha cor”

14-10-2019
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Beatriz Gomes Dias, professora do ensino secundário

“No início da minha politização pensei mais na questão de classe. Só depois comecei a perceber a influência que a raça tinha na própria desigualdade.

Eu acho que era importante termos formação antirracista para professores e funcionários do Estado, juízes, médicos, para os administrativos que atendem na repartição das finanças, no SEF, para jornalistas, portanto precisávamos de ter para todos.

Também seria bom termos mediadores sócio-culturais que participassem no diálogo com as escolas, que entendam as comunidades e que possam trazer esse entendimento e a capacidade de ‘traduzir’ a linguagem da escola para as comunidades. Creio que só assim se aumentará o sucesso e a permanência dos alunos na escola e a possibilidade de eles desenharem o seu futuro.”

Carlos Pereira, humorista

“Quando eu comecei a fazer comédia havia uma coisa que a minha mãe me dizia muito: ‘a comédia em Portugal é coisa de brancos, não te metas nisso’. E quando comecei a fazer stand up era o único negro, fui dos primeiros a chegar mais longe.

Depois de olhares para mim percebes que podes fazer isto. Afinal podes subir para cima de um palco, não é só uma cena de brancos como a minha mãe diz. Quando tu és fixe, eles [os brancos] puxam-te para o lado deles.

Quando se tem características que eles assumem como sendo características de branco - que é «ele lê, anda de camisa, veste-se bem, sabe falar, tu és cá dos nossos, és português» -, olham um pouco para mim como o preto fixe. É ‘tipo’ o preto que é branco.”

José Reis, diretor de centro educativo do Ministério da Justiça

“Antes de viver no Casal de São José, eu vivia nas barracas e quando nós vivemos nas barracas não temos luz, não temos casa de banho, chove-nos em cima, convivemos com tudo o que é mau. Ou morremos ou ficamos mais fortes.

Eu sou luso cabo-verdiano e a cultura dos cabo-verdianos e a mensagem que os pais passam é que tu tens de estudar. Eu sempre ouvi os meus pais a dizer “vocês têm que estudar”. Nós somos pobres, mas a nossa riqueza é a nossa cabeça.”

Cristina Roldão, professora/investigadora

“Eu, por exemplo, nasci em Portugal, tenho nacionalidade portuguesa. Se for discriminada do ponto de vista étnico-racial - e já o fui várias vezes, como é óbvio -, tenho de ir à comissão para a igualdade e contra a discriminação racial, que está dentro do Alto Comissariado para as Migrações.

Eu não sou imigrante. E estou a dizer isto só para explicitar o que está em causa, porque não me quero distanciar da população imigrante, não tenho nada contra. Mas mostra como é que as coisas são concebidas. Nós precisamos de reconhecer que existe diversidade étnico racial em Portugal.”

Adriano Malalane, advogado

“Quando vim para Portugal estudar, estive 10 anos sem ver os meus pais. Não havia telemóvel, não havia dinheiro para fazer uma chamada telefónica. Estou aqui, sou uma pessoa normal. Nunca me queixei a ninguém, isso faz parte da minha história. Não me vou considerar vítima das circunstâncias da minha vida.

Uso isso para enfrentar novos desafios e superá-los no meu dia a dia. Eu conheço a história de África, a história dos africanos, a história da diáspora africana, o sofrimento pelo qual nós passamos, a escravatura, a discriminação.

Eu passei por essas experiências todas. Vivi na África do Sul no tempo do Apartheid. [Entristece-me] os meus concidadãos não lutarem para conseguir atingir os mesmos níveis, os mesmos patamares que os seus colegas brancos. Estão à espera de benesses, não se esforçam o suficiente.

Eu sou daquela geração que se dizia que para tu seres igual ao teu colega branco, tens de correr mais.”

Zia Soares, atriz

“Acho que nunca sou olhada sem que vejam a minha cor. Eu tenho 46 anos e isto é uma coisa que acontece a toda a hora, portanto já se vive com isso, já se aceita isso.

Não é talvez uma aceitação, mas é uma convivência com essa estranheza. Mas não é uma coisa em que se esteja sempre a pensar. E não podemos deixar de resistir e lutar [contra o preconceito] .”

Beatriz Gomes Dias, professora do ensino secundário

“No início da minha politização pensei mais na questão de classe. Só depois comecei a perceber a influência que a raça tinha na própria desigualdade.

Eu acho que era importante termos formação antirracista para professores e funcionários do Estado, juízes, médicos, para os administrativos que atendem na repartição das finanças, no SEF, para jornalistas, portanto precisávamos de ter para todos.

Também seria bom termos mediadores sócio-culturais que participassem no diálogo com as escolas, que entendam as comunidades e que possam trazer esse entendimento e a capacidade de ‘traduzir’ a linguagem da escola para as comunidades. Creio que só assim se aumentará o sucesso e a permanência dos alunos na escola e a possibilidade de eles desenharem o seu futuro.”

Carlos Pereira, humorista

“Quando eu comecei a fazer comédia havia uma coisa que a minha mãe me dizia muito: ‘a comédia em Portugal é coisa de brancos, não te metas nisso’. E quando comecei a fazer stand up era o único negro, fui dos primeiros a chegar mais longe.

Depois de olhares para mim percebes que podes fazer isto. Afinal podes subir para cima de um palco, não é só uma cena de brancos como a minha mãe diz. Quando tu és fixe, eles [os brancos] puxam-te para o lado deles.

Quando se tem características que eles assumem como sendo características de branco - que é «ele lê, anda de camisa, veste-se bem, sabe falar, tu és cá dos nossos, és português» -, olham um pouco para mim como o preto fixe. É ‘tipo’ o preto que é branco.”

José Reis, diretor de centro educativo do Ministério da Justiça

“Antes de viver no Casal de São José, eu vivia nas barracas e quando nós vivemos nas barracas não temos luz, não temos casa de banho, chove-nos em cima, convivemos com tudo o que é mau. Ou morremos ou ficamos mais fortes.

Eu sou luso cabo-verdiano e a cultura dos cabo-verdianos e a mensagem que os pais passam é que tu tens de estudar. Eu sempre ouvi os meus pais a dizer “vocês têm que estudar”. Nós somos pobres, mas a nossa riqueza é a nossa cabeça.”

Cristina Roldão, professora/investigadora

“Eu, por exemplo, nasci em Portugal, tenho nacionalidade portuguesa. Se for discriminada do ponto de vista étnico-racial - e já o fui várias vezes, como é óbvio -, tenho de ir à comissão para a igualdade e contra a discriminação racial, que está dentro do Alto Comissariado para as Migrações.

Eu não sou imigrante. E estou a dizer isto só para explicitar o que está em causa, porque não me quero distanciar da população imigrante, não tenho nada contra. Mas mostra como é que as coisas são concebidas. Nós precisamos de reconhecer que existe diversidade étnico racial em Portugal.”

Adriano Malalane, advogado

“Quando vim para Portugal estudar, estive 10 anos sem ver os meus pais. Não havia telemóvel, não havia dinheiro para fazer uma chamada telefónica. Estou aqui, sou uma pessoa normal. Nunca me queixei a ninguém, isso faz parte da minha história. Não me vou considerar vítima das circunstâncias da minha vida.

Uso isso para enfrentar novos desafios e superá-los no meu dia a dia. Eu conheço a história de África, a história dos africanos, a história da diáspora africana, o sofrimento pelo qual nós passamos, a escravatura, a discriminação.

Eu passei por essas experiências todas. Vivi na África do Sul no tempo do Apartheid. [Entristece-me] os meus concidadãos não lutarem para conseguir atingir os mesmos níveis, os mesmos patamares que os seus colegas brancos. Estão à espera de benesses, não se esforçam o suficiente.

Eu sou daquela geração que se dizia que para tu seres igual ao teu colega branco, tens de correr mais.”

Zia Soares, atriz

“Acho que nunca sou olhada sem que vejam a minha cor. Eu tenho 46 anos e isto é uma coisa que acontece a toda a hora, portanto já se vive com isso, já se aceita isso.

Não é talvez uma aceitação, mas é uma convivência com essa estranheza. Mas não é uma coisa em que se esteja sempre a pensar. E não podemos deixar de resistir e lutar [contra o preconceito] .”

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