André Ventura: O primeiro dia do resto da vida da extrema-direita portuguesa

06-11-2019
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O gabinete 1 202 fica no primeiro piso do edifício da Assembleia da República (AR) e, claramente, na legislatura anterior, era território do CDS-PP. À entrada do corredor está afixado um cartaz com o histórico Adelino Amaro da Costa.

Quando André Ventura entra no seu novo local de trabalho, repara que a impressora por instalar também está assinalada com as siglas CDS-PP. O fundo do caixote do lixo está forrado com uma folha de jornal com o rosto de… Paulo Portas. Quando se dá conta destes pormenores, a equipa do Chega solta uma gargalhada. “Já começou a limpeza”, diz um deles.

“Nem computador tenho, é um sinal de como vamos ser tratados, e aposto que a impressora não funciona”, graceja André Ventura. “Estes quadros não vão ficar nas paredes, parece uma coisa da ‘ideologia de género’, temos de os substituir por uns símbolos de Portugal”, afirma sobre os desenhos com figuras humanas abstratas que decoram o gabinete, antes de confessar que não tem sensibilidade artística. O Chega é conhecido pelo discurso nacionalista e contrário aos Direitos Humanos.

O primeiro dia da vida de André Ventura enquanto deputado começou há mais de duas horas, ainda se sacudia o pó dos altares e se aspirava o chão da nave central da Igreja de São Nicolau, em Lisboa. Iam entrando algumas pessoas na igreja, jovens, velhos, turistas e, pouco antes das nove da manhã, foi a vez do recém-eleito deputado do Chega entrar no templo.

Foi este o ponto de encontro escolhido para o encontro com os jornalistas que vão acompanhar a sua estreia na Assembleia da República, na sequência dos resultados das eleições legislativas do passado dia 6 de outubro, em que foi eleito com 22 mil votos em Lisboa, tendo somado um total de 66 mil em todo o país.

André Ventura chega acompanhado da mulher e, também, do diretor de comunicação do partido, Ricardo Regala, e do presidente da mesa do Chega, Luís Filipe Graça. A Igreja de São Nicolau fez parte da sua vida durante os tempos de estudante da licenciatura de Direito na Universidade Nova de Lisboa, altura em que vivia numa residência católica – chegou a frequentar o seminário. Além disso, foi também nesta mesma igreja que se casou.

Em São Nicolau celebram-se missas tridentinas, também conhecidas como missas do rito romano, associadas à fação mais conservadora da Igreja Católica. André Ventura sabe disso, mas diz não estar próximo dessa ala. Defende, por exemplo, os direitos conquistados pelos homossexuais (apesar de achar que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não devem chamar-se “casamento”…) e também é contra a criminalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) – mas não quer que a IVG seja comparticipada pelo Sistema Nacional de Saúde…

O novo deputado da Assembleia da República – o primeiro de extrema-direita a chegar ao hemiciclo – garante que a base dos apoiantes do seu partido são cristãos “e praticantes”, sublinha.

Quando é questionado sobre o facto de o seu partido ter propostas pouco cristãs, como a instituição da prisão perpétua, a castração química dos agressores sexuais ou a eliminação do acesso gratuito a serviços de saúde para imigrantes ilegais, nega que assim seja: “Não diria que não são propostas cristãs, mas são radicais. Queremos mais justiça e mais igualdade, tal como a visão cristã do mundo”.

Dez minutos são suficientes para as suas orações. O pequeno-almoço estava agendado para o café São Nicolau, ali ao lado, mas a esplanada do Vitória parece-lhe agora fazer mais sentido, tendo em conta a satisfação com a chegada ao Parlamento.

A funcionária do café não resiste a uma piada futebolística, já que André Ventura conquistou notoriedade pública sobretudo como comentador desportivo. Apesar de ser benfiquista, esclarece que a gravata vermelha não se deve a motivos clubísticos, mas ao desejo do Chega “de ser um partido chamativo”.

O deputado reitera o desejo de se manter como comentador televisivo, em paralelo com a atividade na AR, mas garante que não voltará a trocar a atividade política pela de comentador. Durante a campanha eleitoral para as eleições europeias, deixou de ir a um debate para manter o seu comentário televisivo. A televisão é boa para ganhar votos? André Ventura prefere refazer a frase: “É boa para comunicar”.

Enquanto bebe café na esplanada do Vitória, nome da mascote do seu clube, uma antiga parceira de ginásio vem dar-lhe os parabéns pela eleição. “Não sei se será tudo apoio por lá…”, comenta, com o aproximar da hora de partida para o Parlamento.

Ainda dá uma entrevista a uma rádio. Reitera aquela que será a sua primeira proposta no hemiciclo: a redução do número de deputados de 230 para 180, o mínimo permitido pela Constituição. “Será interessante ver o que o PSD de Rui Rio vai fazer porque no final da campanha também fizeram esta proposta”, atira o ex-vereador do PSD na Câmara Municipal de Loures.

Em novembro, também pretende apresentar uma proposta de revisão do código penal que implique, por exemplo, o agravamento das penas dos agressores sexuais de menores e também de quem agredir agentes de segurança.

“Vamos agitar as águas”, repete perante os jornalistas que o acompanham, dizendo-se “essencialmente contra o sistema”, apesar de agora fazer parte dele.

“Espero que hoje não haja manifestações ou sobressaltos a bem da legitimidade democrática.” Não houve.

O tabu de Ventura

A luta contra a corrupção é uma das suas bandeiras. André Ventura garante que se demitiria se se visse envolvido num caso de corrupção, mas “só se fosse condenado” ressalva. “Porque todos podemos ser injustamente acusados”.

Está na hora de abandonar a esplanada e arrancar para a Assembleia da República. Antes da partida, André Ventura cria o seu próprio tabu e deixa uma pergunta sem resposta. O deputado opta por não revelar se Pedro Passos Coelho, ex-líder do PSD que apoiou a sua candidatura à Câmara Municipal de Loures, o felicitou pela eleição. “Também posso ter o meu tabu”, afirma, sorridente.

Instala-se ao volante e segue viagem acompanhado pela mulher e por uma equipa de jornalistas. Os elementos do Chega que seguem noutro automóvel estão empenhados em ir publicando os vários momentos do dia nas redes sociais, meio de comunicação privilegiado com os apoiantes.

À chegada, sucedem-se as solicitações dos jornalistas, até um dos funcionários da AR dirá que “há deputados mais conhecidos do que outros”, e que André Ventura não deverá ter problemas em circular livremente pelas instalações porque todos o conhecem.

“Hoje é o dia da entrada das nossas propostas na casa da democracia e os partidos do sistema vão ter de se pronunciar sobre elas”, afirma, com a agressividade que lhe é conhecida, a uma televisão. Mas garante estar disponível para apoiar as propostas de outros partidos, incluindo de esquerda, se forem ao encontro das suas ideias. Aliás, critica o primeiro-ministro, António Costa, por ter dito logo na noite eleitoral que não contava com o Chega para nada.

“Não estamos aqui para fazer amigos, não me interessa se vou ser cumprimentado ou não”, diz, minutos antes da entrada no hemiciclo, com sessão agendada para as dez da manhã.

Entre a política e a logística

Com alguns minutos de atraso, e depois de alguma hesitação por parte da deputada do CDS Ana Rita Bessa, que precisa de se levantar para que André Ventura possa sentar-se, a chegada dá-se sem sobressaltos. A sua vizinha da frente é a líder cessante do CDS-PP, Assunção Cristas. São vários os cumprimentos distribuídos pela bancada dos democratas-cristãos.

A sessão dura breve minutos, apenas o tempo suficiente para a tomada de posse do novo Parlamento.

“Estou-me nas tintas para o meu lugar. Esta não é uma questão política, mas logística”, desvalorizará mais tarde, quando questionado sobre a contestação do CDS-PP ao facto de estar muito próximo da bancada parlamentar dos centristas.

Os jornalistas vão-se atravessando no seu caminho e sucedem-se as entrevistas – o seu à-vontade diante da comunicação social é evidente. Também antigos companheiros da política o cumprimentam pelos corredores do Parlamento, como a ex-ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa (PS). Na sessão da tarde no plenário, também Rui Rio se dirigiu ao deputado do Chega e conversaram durante alguns minutos.

A longa fila do acolhimento, o processo burocrático de entrada na Assembleia, desmotiva o novo deputado, que desiste e opta por visitar o seu gabinete provisório. É recebido pelo secretário-geral adjunto da AR, José Manuel Araújo, que o conduz pelos corredores labirínticos do edifício. O líder do Chega não duvida de que se irá perder no edifício. “Sou péssimo em organização”, justifica.

O seu gabinete está entrincheirado entre a Iniciativa Liberal e o Livre, os outros dois partidos estreantes. Também a mulher vem conhecer o seu novo local de trabalho.

Depois de uma curta reunião com os assessores do partido, em que os jornalistas ficaram à porta, André Ventura e a sua entourage fazem um percurso de reconhecimento entre o gabinete e o hemiciclo para o deputado garantir que, depois do almoço, chegará a tempo da eleição do presidente da Assembleia da República.

Pelo caminho, distribuem-se cumprimentos, como ao socialista Jorge Lacão. E discute-se política, claro.

André Ventura volta a defender um Estado mínimo, “que não compita com os privados”, mas que os beneficie, contratualizando-lhes serviços. Defende a descida dos impostos, que acredita que possa ser compensada com o aumento da eficiência do Estado, a eliminação de organismos públicos ou o fim das subvenções dos políticos. Argumenta que “o valor pago por pensões a políticos dava para pagar um ano de tratamentos de VIH” – mesmo quando é alertado para o facto de a página de fact-checking Polígrafo já ter desmentido a sua afirmação, insiste.

Mantém o discurso contra os imigrantes, apesar de serem uma das fatias mais empreendedoras da população nacional. “Tem de haver controlo [das fronteiras] para não termos o descontrolo que há no resto da Europa”. E insiste na sua diatribe contra quem recebe o Rendimento Social de Inserção (escassos 3,2% da população a nível nacional).

Quando se encaminha para o almoço, à passagem pela estátua de D. Carlos I, no átrio principal, graceja: “Tenho esperança que um dia seja a minha [estátua] ”. André confia na sua ventura.

Os primeiros passos dos deputados estreantes

O gabinete 1 202 fica no primeiro piso do edifício da Assembleia da República (AR) e, claramente, na legislatura anterior, era território do CDS-PP. À entrada do corredor está afixado um cartaz com o histórico Adelino Amaro da Costa.

Quando André Ventura entra no seu novo local de trabalho, repara que a impressora por instalar também está assinalada com as siglas CDS-PP. O fundo do caixote do lixo está forrado com uma folha de jornal com o rosto de… Paulo Portas. Quando se dá conta destes pormenores, a equipa do Chega solta uma gargalhada. “Já começou a limpeza”, diz um deles.

“Nem computador tenho, é um sinal de como vamos ser tratados, e aposto que a impressora não funciona”, graceja André Ventura. “Estes quadros não vão ficar nas paredes, parece uma coisa da ‘ideologia de género’, temos de os substituir por uns símbolos de Portugal”, afirma sobre os desenhos com figuras humanas abstratas que decoram o gabinete, antes de confessar que não tem sensibilidade artística. O Chega é conhecido pelo discurso nacionalista e contrário aos Direitos Humanos.

O primeiro dia da vida de André Ventura enquanto deputado começou há mais de duas horas, ainda se sacudia o pó dos altares e se aspirava o chão da nave central da Igreja de São Nicolau, em Lisboa. Iam entrando algumas pessoas na igreja, jovens, velhos, turistas e, pouco antes das nove da manhã, foi a vez do recém-eleito deputado do Chega entrar no templo.

Foi este o ponto de encontro escolhido para o encontro com os jornalistas que vão acompanhar a sua estreia na Assembleia da República, na sequência dos resultados das eleições legislativas do passado dia 6 de outubro, em que foi eleito com 22 mil votos em Lisboa, tendo somado um total de 66 mil em todo o país.

André Ventura chega acompanhado da mulher e, também, do diretor de comunicação do partido, Ricardo Regala, e do presidente da mesa do Chega, Luís Filipe Graça. A Igreja de São Nicolau fez parte da sua vida durante os tempos de estudante da licenciatura de Direito na Universidade Nova de Lisboa, altura em que vivia numa residência católica – chegou a frequentar o seminário. Além disso, foi também nesta mesma igreja que se casou.

Em São Nicolau celebram-se missas tridentinas, também conhecidas como missas do rito romano, associadas à fação mais conservadora da Igreja Católica. André Ventura sabe disso, mas diz não estar próximo dessa ala. Defende, por exemplo, os direitos conquistados pelos homossexuais (apesar de achar que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não devem chamar-se “casamento”…) e também é contra a criminalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) – mas não quer que a IVG seja comparticipada pelo Sistema Nacional de Saúde…

O novo deputado da Assembleia da República – o primeiro de extrema-direita a chegar ao hemiciclo – garante que a base dos apoiantes do seu partido são cristãos “e praticantes”, sublinha.

Quando é questionado sobre o facto de o seu partido ter propostas pouco cristãs, como a instituição da prisão perpétua, a castração química dos agressores sexuais ou a eliminação do acesso gratuito a serviços de saúde para imigrantes ilegais, nega que assim seja: “Não diria que não são propostas cristãs, mas são radicais. Queremos mais justiça e mais igualdade, tal como a visão cristã do mundo”.

Dez minutos são suficientes para as suas orações. O pequeno-almoço estava agendado para o café São Nicolau, ali ao lado, mas a esplanada do Vitória parece-lhe agora fazer mais sentido, tendo em conta a satisfação com a chegada ao Parlamento.

A funcionária do café não resiste a uma piada futebolística, já que André Ventura conquistou notoriedade pública sobretudo como comentador desportivo. Apesar de ser benfiquista, esclarece que a gravata vermelha não se deve a motivos clubísticos, mas ao desejo do Chega “de ser um partido chamativo”.

O deputado reitera o desejo de se manter como comentador televisivo, em paralelo com a atividade na AR, mas garante que não voltará a trocar a atividade política pela de comentador. Durante a campanha eleitoral para as eleições europeias, deixou de ir a um debate para manter o seu comentário televisivo. A televisão é boa para ganhar votos? André Ventura prefere refazer a frase: “É boa para comunicar”.

Enquanto bebe café na esplanada do Vitória, nome da mascote do seu clube, uma antiga parceira de ginásio vem dar-lhe os parabéns pela eleição. “Não sei se será tudo apoio por lá…”, comenta, com o aproximar da hora de partida para o Parlamento.

Ainda dá uma entrevista a uma rádio. Reitera aquela que será a sua primeira proposta no hemiciclo: a redução do número de deputados de 230 para 180, o mínimo permitido pela Constituição. “Será interessante ver o que o PSD de Rui Rio vai fazer porque no final da campanha também fizeram esta proposta”, atira o ex-vereador do PSD na Câmara Municipal de Loures.

Em novembro, também pretende apresentar uma proposta de revisão do código penal que implique, por exemplo, o agravamento das penas dos agressores sexuais de menores e também de quem agredir agentes de segurança.

“Vamos agitar as águas”, repete perante os jornalistas que o acompanham, dizendo-se “essencialmente contra o sistema”, apesar de agora fazer parte dele.

“Espero que hoje não haja manifestações ou sobressaltos a bem da legitimidade democrática.” Não houve.

O tabu de Ventura

A luta contra a corrupção é uma das suas bandeiras. André Ventura garante que se demitiria se se visse envolvido num caso de corrupção, mas “só se fosse condenado” ressalva. “Porque todos podemos ser injustamente acusados”.

Está na hora de abandonar a esplanada e arrancar para a Assembleia da República. Antes da partida, André Ventura cria o seu próprio tabu e deixa uma pergunta sem resposta. O deputado opta por não revelar se Pedro Passos Coelho, ex-líder do PSD que apoiou a sua candidatura à Câmara Municipal de Loures, o felicitou pela eleição. “Também posso ter o meu tabu”, afirma, sorridente.

Instala-se ao volante e segue viagem acompanhado pela mulher e por uma equipa de jornalistas. Os elementos do Chega que seguem noutro automóvel estão empenhados em ir publicando os vários momentos do dia nas redes sociais, meio de comunicação privilegiado com os apoiantes.

À chegada, sucedem-se as solicitações dos jornalistas, até um dos funcionários da AR dirá que “há deputados mais conhecidos do que outros”, e que André Ventura não deverá ter problemas em circular livremente pelas instalações porque todos o conhecem.

“Hoje é o dia da entrada das nossas propostas na casa da democracia e os partidos do sistema vão ter de se pronunciar sobre elas”, afirma, com a agressividade que lhe é conhecida, a uma televisão. Mas garante estar disponível para apoiar as propostas de outros partidos, incluindo de esquerda, se forem ao encontro das suas ideias. Aliás, critica o primeiro-ministro, António Costa, por ter dito logo na noite eleitoral que não contava com o Chega para nada.

“Não estamos aqui para fazer amigos, não me interessa se vou ser cumprimentado ou não”, diz, minutos antes da entrada no hemiciclo, com sessão agendada para as dez da manhã.

Entre a política e a logística

Com alguns minutos de atraso, e depois de alguma hesitação por parte da deputada do CDS Ana Rita Bessa, que precisa de se levantar para que André Ventura possa sentar-se, a chegada dá-se sem sobressaltos. A sua vizinha da frente é a líder cessante do CDS-PP, Assunção Cristas. São vários os cumprimentos distribuídos pela bancada dos democratas-cristãos.

A sessão dura breve minutos, apenas o tempo suficiente para a tomada de posse do novo Parlamento.

“Estou-me nas tintas para o meu lugar. Esta não é uma questão política, mas logística”, desvalorizará mais tarde, quando questionado sobre a contestação do CDS-PP ao facto de estar muito próximo da bancada parlamentar dos centristas.

Os jornalistas vão-se atravessando no seu caminho e sucedem-se as entrevistas – o seu à-vontade diante da comunicação social é evidente. Também antigos companheiros da política o cumprimentam pelos corredores do Parlamento, como a ex-ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa (PS). Na sessão da tarde no plenário, também Rui Rio se dirigiu ao deputado do Chega e conversaram durante alguns minutos.

A longa fila do acolhimento, o processo burocrático de entrada na Assembleia, desmotiva o novo deputado, que desiste e opta por visitar o seu gabinete provisório. É recebido pelo secretário-geral adjunto da AR, José Manuel Araújo, que o conduz pelos corredores labirínticos do edifício. O líder do Chega não duvida de que se irá perder no edifício. “Sou péssimo em organização”, justifica.

O seu gabinete está entrincheirado entre a Iniciativa Liberal e o Livre, os outros dois partidos estreantes. Também a mulher vem conhecer o seu novo local de trabalho.

Depois de uma curta reunião com os assessores do partido, em que os jornalistas ficaram à porta, André Ventura e a sua entourage fazem um percurso de reconhecimento entre o gabinete e o hemiciclo para o deputado garantir que, depois do almoço, chegará a tempo da eleição do presidente da Assembleia da República.

Pelo caminho, distribuem-se cumprimentos, como ao socialista Jorge Lacão. E discute-se política, claro.

André Ventura volta a defender um Estado mínimo, “que não compita com os privados”, mas que os beneficie, contratualizando-lhes serviços. Defende a descida dos impostos, que acredita que possa ser compensada com o aumento da eficiência do Estado, a eliminação de organismos públicos ou o fim das subvenções dos políticos. Argumenta que “o valor pago por pensões a políticos dava para pagar um ano de tratamentos de VIH” – mesmo quando é alertado para o facto de a página de fact-checking Polígrafo já ter desmentido a sua afirmação, insiste.

Mantém o discurso contra os imigrantes, apesar de serem uma das fatias mais empreendedoras da população nacional. “Tem de haver controlo [das fronteiras] para não termos o descontrolo que há no resto da Europa”. E insiste na sua diatribe contra quem recebe o Rendimento Social de Inserção (escassos 3,2% da população a nível nacional).

Quando se encaminha para o almoço, à passagem pela estátua de D. Carlos I, no átrio principal, graceja: “Tenho esperança que um dia seja a minha [estátua] ”. André confia na sua ventura.

Os primeiros passos dos deputados estreantes

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