Entrevista a Assunção Cristas:

27-09-2019
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Identidade de género nas escolas. “Estas questões devem ser tratadas com as famílias, as escolas e os professores”

Vamos então sair das europeias e falar de atualidade. Uma das matérias mais discutidas e mais polémicas da política portuguesa foi a do despacho sobre a identidade de género nas escolas. Olhemos para uma situação concreta: uma rapariga estudante do ensino secundário está no processo de mudança de sexo. Na sua opinião deve ser obrigada a ir à casa de banho das raparigas ou não?

Claro que não. E acho que deixei isso bastante claro. Na minha opinião essa rapariga pode ir à casa de banho onde se sentir mais confortável. E acho que isso se resolve conversando com a rapariga, que tem direito à sua tranquilidade e ao seu conforto, com a família, com a escola e com os professores. Aquilo que eu critiquei foi a forma desastrosa de criar ruído e de gerar confusão. Sobretudo por não tratar de forma humana estas situações.

Sente que essa posição é unânime no CDS ou sente que, como diz no seu livro que sentiu quando entrou partido, em matéria de costumes Assunção Cristas é mais conservadora ou mais liberal do que uma parte mais substancial do partido?

Sinto que as crianças devem ter direito à sua tranquilidade e que a sua situação deve ser reconhecida e tratada com toda a delicadeza e eficácia ao nível da escola. E isso é uma opinião de que todo o partido partilha. O CDS preocupa-se com as pessoas e com uma visão humana para todas as pessoas sem exceção, respeitando a sua identidade. Aqui não há nenhuma divergência. Aquilo que choca o CDS e parte do país é haver um despacho cujo alcance não se percebia.

Isso já está esclarecido?

Eu espero que sim. Acho que o próprio Governo percebeu que aquilo não é maneira de tratar um assunto como este, que envolve umas 200 crianças. Sobretudo não é esta a forma de olhar para uma questão tão delicada com um despacho vindo da 5 de outubro para todo o país. Estas questões devem ser tratadas com as famílias, as escolas e os professores, porque é esse olhar humano e de proximidade que resolve estes problemas, não é um despacho do Ministério da Educação.

Mas em matérias de costumes vê-se como uma pessoa mais liberal do que a maioria do CDS?

O CDS tem posições muito diferentes em relação a algumas matérias como tem posições absolutamente claras e unânimes em relação a outras. E convivo muito bem com isso. Sempre foi assim e sempre será. Por exemplo, posso garantir que nenhum deputado do CDS votará a favor da eutanásia, que é uma coisa que, tirando o PCP, mais nenhum partido poderá dizer. Isso para nós é fundamental e distingue-nos de outros partidos que concorrem também no espaço político de centro-direita.

Recandidatura? “Essa é a minha última preocupação”

Adolfo Mesquita Nunes aceitou ser administrador não-executivo da Galp e isso foi suficiente para que se entendesse, no partido, que devia deixar a vice-presidência do CDS. Mas apesar de ter tomado posse na empresa, ficou a coordenar o programa eleitoral do CDS, que é apresentado hoje. Porque é que não era compatível coma vice-presidência do CDS mas é compatível com a coordenação do programa eleitoral?

A coordenação do programa eleitoral do CDS até podia ser feita por uma pessoa de fora do partido, da mesma forma que muitos independentes contribuíram ao longo de todos estes meses para o programa do CDS… Estamos a falar de uma função executiva versus uma função de reflexão, de pensamento, de preparação e de agregação de um conjunto enorme de contributos que nos chegaram. São perfis completamente diferentes. De resto, devo dizer que, por mim, o Adolfo podia ter continuado como vice-presidente do CDS. Mas ele achou que era melhor sair, para proteger o partido e o colocar protegido de críticas, mas eu acho que não estamos em condições de prescindir de ninguém, a política precisa de gente válida, sólida, bem formada, como é o caso do Adolfo. Por isso, continuaremos sempre a contar com ele. O Adolfo continua no meu núcleo duro.

Saiu Adolfo Mesquita Nunes, saiu Mota Soares (que não foi eleito para o Parlamento Europeu), Nuno Magalhães deixa a liderança da bancada após as legislativas. Isto quer dizer que as figuras mais reconhecidas do partido estão a desistir de estar na primeira linha?

Não, penso que não. O Adolfo, como acabou de dizer, continua na linha da frente. O Pedro Mota Soares, lamentamos muito que não tenha sido eleito porque se perdeu um grande eurodeputado, mas se há coisa que às vezes sentimos no CDS é que nos faltam vozes sólidas e fortes que não estejam no grupo parlamentar. Acabamos por estar muito centrados no grupo parlamentar. Foi o que aconteceu com Diogo Feio, por exemplo, que é coordenador do gabinete de estudos do CDS e que faz parte do meu núcleo duro, e vai acontecer certamente com o Pedro Mota Soares, com quem eu conto sempre na linha da frente do CDS, agora fora do Parlamento. O Nuno Magalhães vai continuar a ser deputado, compreenderá que oito anos de líder parlamentar não existe em nenhum partido. É natural que todos os ciclos tenham um momento de transição. Portanto, o que vamos assistir é a um grupo parlamentar renovado, gente que continua e gente que vem de fora. Vamos ter jovens no grupo parlamentar, independentes, pessoas experientes, e isso corresponde a uma vitalidade e alargamento do próprio partido.

Só para esclarecer uma questão em relação a Adolfo Mesquita Nunes: é apenas uma questão cosmética? Deixa de ser vice-presidente porque parecia mal, mas continua a influenciar?

Não tem funções executivas no partido mas continua obviamente na reflexão e no núcleo duro do CDS, não vejo nenhum problema em relação a isso.

Ele é que viu.

Ele viu um problema em ter funções executivas. Eu não vi, far-me-á essa justiça.

Então não sente que há já quem esteja a fazer um percurso próprio para a eventualidade de uma sucessão na liderança?

Não, de forma alguma. As pessoas estão todas empenhadas em que o CDS tenha um grande resultado, e prova disso é que o CDS tem-se vindo a alargar, tem vindo a trazer outras pessoas. Como a Raquel Abecassis, que é independente e cabeça de lista por Leiria, ou o Rui Lopes da Silva, por Coimbra, ou o Francisco Rodrigues dos Santos, líder da JP, ou ainda Sebastião Bugalho, só para dizer alguns que acho que vão fazer um excelente trabalho no grupo parlamentar do CDS. Mas seria se em cada eleição ficasse tudo igual, era sinal de que o partido não tinha vitalidade nem capacidade de alargar.

Identidade de género nas escolas. “Estas questões devem ser tratadas com as famílias, as escolas e os professores”

Vamos então sair das europeias e falar de atualidade. Uma das matérias mais discutidas e mais polémicas da política portuguesa foi a do despacho sobre a identidade de género nas escolas. Olhemos para uma situação concreta: uma rapariga estudante do ensino secundário está no processo de mudança de sexo. Na sua opinião deve ser obrigada a ir à casa de banho das raparigas ou não?

Claro que não. E acho que deixei isso bastante claro. Na minha opinião essa rapariga pode ir à casa de banho onde se sentir mais confortável. E acho que isso se resolve conversando com a rapariga, que tem direito à sua tranquilidade e ao seu conforto, com a família, com a escola e com os professores. Aquilo que eu critiquei foi a forma desastrosa de criar ruído e de gerar confusão. Sobretudo por não tratar de forma humana estas situações.

Sente que essa posição é unânime no CDS ou sente que, como diz no seu livro que sentiu quando entrou partido, em matéria de costumes Assunção Cristas é mais conservadora ou mais liberal do que uma parte mais substancial do partido?

Sinto que as crianças devem ter direito à sua tranquilidade e que a sua situação deve ser reconhecida e tratada com toda a delicadeza e eficácia ao nível da escola. E isso é uma opinião de que todo o partido partilha. O CDS preocupa-se com as pessoas e com uma visão humana para todas as pessoas sem exceção, respeitando a sua identidade. Aqui não há nenhuma divergência. Aquilo que choca o CDS e parte do país é haver um despacho cujo alcance não se percebia.

Isso já está esclarecido?

Eu espero que sim. Acho que o próprio Governo percebeu que aquilo não é maneira de tratar um assunto como este, que envolve umas 200 crianças. Sobretudo não é esta a forma de olhar para uma questão tão delicada com um despacho vindo da 5 de outubro para todo o país. Estas questões devem ser tratadas com as famílias, as escolas e os professores, porque é esse olhar humano e de proximidade que resolve estes problemas, não é um despacho do Ministério da Educação.

Mas em matérias de costumes vê-se como uma pessoa mais liberal do que a maioria do CDS?

O CDS tem posições muito diferentes em relação a algumas matérias como tem posições absolutamente claras e unânimes em relação a outras. E convivo muito bem com isso. Sempre foi assim e sempre será. Por exemplo, posso garantir que nenhum deputado do CDS votará a favor da eutanásia, que é uma coisa que, tirando o PCP, mais nenhum partido poderá dizer. Isso para nós é fundamental e distingue-nos de outros partidos que concorrem também no espaço político de centro-direita.

Recandidatura? “Essa é a minha última preocupação”

Adolfo Mesquita Nunes aceitou ser administrador não-executivo da Galp e isso foi suficiente para que se entendesse, no partido, que devia deixar a vice-presidência do CDS. Mas apesar de ter tomado posse na empresa, ficou a coordenar o programa eleitoral do CDS, que é apresentado hoje. Porque é que não era compatível coma vice-presidência do CDS mas é compatível com a coordenação do programa eleitoral?

A coordenação do programa eleitoral do CDS até podia ser feita por uma pessoa de fora do partido, da mesma forma que muitos independentes contribuíram ao longo de todos estes meses para o programa do CDS… Estamos a falar de uma função executiva versus uma função de reflexão, de pensamento, de preparação e de agregação de um conjunto enorme de contributos que nos chegaram. São perfis completamente diferentes. De resto, devo dizer que, por mim, o Adolfo podia ter continuado como vice-presidente do CDS. Mas ele achou que era melhor sair, para proteger o partido e o colocar protegido de críticas, mas eu acho que não estamos em condições de prescindir de ninguém, a política precisa de gente válida, sólida, bem formada, como é o caso do Adolfo. Por isso, continuaremos sempre a contar com ele. O Adolfo continua no meu núcleo duro.

Saiu Adolfo Mesquita Nunes, saiu Mota Soares (que não foi eleito para o Parlamento Europeu), Nuno Magalhães deixa a liderança da bancada após as legislativas. Isto quer dizer que as figuras mais reconhecidas do partido estão a desistir de estar na primeira linha?

Não, penso que não. O Adolfo, como acabou de dizer, continua na linha da frente. O Pedro Mota Soares, lamentamos muito que não tenha sido eleito porque se perdeu um grande eurodeputado, mas se há coisa que às vezes sentimos no CDS é que nos faltam vozes sólidas e fortes que não estejam no grupo parlamentar. Acabamos por estar muito centrados no grupo parlamentar. Foi o que aconteceu com Diogo Feio, por exemplo, que é coordenador do gabinete de estudos do CDS e que faz parte do meu núcleo duro, e vai acontecer certamente com o Pedro Mota Soares, com quem eu conto sempre na linha da frente do CDS, agora fora do Parlamento. O Nuno Magalhães vai continuar a ser deputado, compreenderá que oito anos de líder parlamentar não existe em nenhum partido. É natural que todos os ciclos tenham um momento de transição. Portanto, o que vamos assistir é a um grupo parlamentar renovado, gente que continua e gente que vem de fora. Vamos ter jovens no grupo parlamentar, independentes, pessoas experientes, e isso corresponde a uma vitalidade e alargamento do próprio partido.

Só para esclarecer uma questão em relação a Adolfo Mesquita Nunes: é apenas uma questão cosmética? Deixa de ser vice-presidente porque parecia mal, mas continua a influenciar?

Não tem funções executivas no partido mas continua obviamente na reflexão e no núcleo duro do CDS, não vejo nenhum problema em relação a isso.

Ele é que viu.

Ele viu um problema em ter funções executivas. Eu não vi, far-me-á essa justiça.

Então não sente que há já quem esteja a fazer um percurso próprio para a eventualidade de uma sucessão na liderança?

Não, de forma alguma. As pessoas estão todas empenhadas em que o CDS tenha um grande resultado, e prova disso é que o CDS tem-se vindo a alargar, tem vindo a trazer outras pessoas. Como a Raquel Abecassis, que é independente e cabeça de lista por Leiria, ou o Rui Lopes da Silva, por Coimbra, ou o Francisco Rodrigues dos Santos, líder da JP, ou ainda Sebastião Bugalho, só para dizer alguns que acho que vão fazer um excelente trabalho no grupo parlamentar do CDS. Mas seria se em cada eleição ficasse tudo igual, era sinal de que o partido não tinha vitalidade nem capacidade de alargar.

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