Legislativas: 12 gráficos a ter em conta na noite eleitoral

06-11-2019
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Começamos pelos resultados dos partidos? Vamos lá:

PS: ponto de partida e os máximos e mínimos

Há quatro anos, o PS teve 32,3%, 1,7 milhões de votos e elegeu 86 deputados. Se olhar para o gráfico interativo aqui em baixo, perceberá que é um resultado na média da história do partido. Os piores resultados dos socialistas aconteceram em 1985 (no fim do bloco central e da intervenção do FMI) e 1987 (quando Cavaco ganhou a primeira maioria e o PRD ainda tinha força). Respetivamente, com 20,8% (1,2 milhões de votos) e 22,2% (1,3 milhões).

Como lhe explicámos aqui, a verdade é que em 15 eleições legislativas, o PS só passou a fasquia dos 40% por três vezes (Guterres fez 43,8% em 1995 e 44,1% em 1999, Sócrates chegou aos 45% em 2005).

Em votos absolutos, o máximo que conseguiu foram os 2,6 milhões da sua única maioria absoluta. Mas houve duas eleições em que ficou acima dos dois milhões: com Ferro Rodrigues em 2002; e com Sócrates em 2009. Nesses anos, em que o PS liderava governos mas em ciclos económicos difíceis - o PS ficou com 96 e 97 deputados.

PSD: encontrar uma fasquia

O PSD nunca desceu tanto como o PS: o pior resultado da história do partido aconteceu nas primeiras legislativas, num contexto político mais difícil e fragmentado, quando Sá Carneiro só obteve 24,4% e 1,3 milhões de votos. Fora desse período, o pior resultado em legislativas foi em 1983, quando Mota Pinto acabou por se juntar a Mário Soares no bloco central: 27,2% (1,5 milhões de votos); também os 28,8% de Santana Lopes em 2005 (1,7 milhões de votos); e os 29,1% de Manuela Ferreira Leite (nos mesmos 1,7 milhões).

Na verdade, o PS também nunca chegou tão alto: a maioria de Sócrates não chegou às de Cavaco Silva, 50,6% e 50,2%, até hoje mantendo o recorde do melhor resultado em legislativas - 2,9 milhões de votos nas urnas em 1991. Olhando para os últimos atos eleitorais, a última vez que os sociais-democratas passaram os 40% foi com Barroso em 2002 - (40,2%, 2,2 milhões de votos). Em 2011 Passos esteve perto, mas acabou com 38,7%.

Mais na média, encontra-se o resultado de Durão Barroso em 1999: 32,3% e 1,7 milhões de votos, que evitaram à justa uma maioria absoluta de António Guterres.

Bloco: altos e baixos para comparar

Sabe qual foi o melhor resultado do Bloco até hoje? A resposta é que... depende do critério. Se quiser usar a percentagem de votos, serão os 10,2% das últimas legislativas - que elegeram 19 deputados. Mas em número de votos o Bloco já fez melhor em 2009, quando chegou aos 558 mil votos - oito mil a mais do que há quatro anos, mesmo que ficando abaixo da fasquia dos 10% (foram 9,8%, face à diferença da abstenção).

Sendo um partido recente, não fará tanto sentido dar como piores resultados os dos anos do seu nascimento: na sua primeira eleição, em 1999, fez apenas 2,4% dos votos e só cresceu para valores mais altos em 2005. Desde aí, o seu pior score eleitoral aconteceu em 2011: só 5,2% e 288 mil votos. O contexto era outro: o país tinha pedido ajuda financeira, o Bloco recusou sentar-se à mesa com a troika e Sócrates estava a acabar o mandato, depois do chumbo do PEC4 na Assembleia - que juntou esquerda e direita.

CDS: viagem dos tempos de maior glória até ao táxi

Nestas eleições não vai poder comparar o CDS com 2015 - nessa eleição o partido juntou-se em coligação com o PSD de Passos Coelho.

Mas, olhando para os resultados históricos do partido, vemos muitos altos e baixos que nos dão pontos de referência. O pior, claro, são os 4,4% que o partido teve na sua maior crise – em 1987 e 1991, quando Cavaco Silva sugava os votos à direita e obteve as suas maiorias absolutas - 252 mil votos foi tudo o que Adriano Moreira conseguiu naquela altura.

Ao contrário, nos tempos mais quentes do pós-PREC, Freitas do Amaral conseguiu levar o CDS aos 16% (com 876 mil votos e 42 dos 262 deputados que a AR tinha). Seguiu-se a AD e, depois, o segundo melhor resultado do partido, em 1983: 12,6%, 716 mil votos. O de Paulo Portas em 2011 foi o terceiro: 11,7%, 654 mil votos registados (Portas conseguiu superar os dois dígitos também em 2009).

Pelo meio ficou um período intermédio, abaixo sempre dos 10%. Neste interregno, o pior score eleitoral é também de Portas: 7,2% 2005 – com 416 mil votos e 12 deputados. Foi no difícil contexto da demissão do Governo de Santana, quando a coligação de direita se desfez.

CDU: queda e estagnação

Se olhar para o gráfico abaixo, perceberá o quão longe vão os tempos áureos da CDU. Lá no topo da escala, encontrará os 18,8% de 1979 (data em que a AD chega ao poder). Álvaro Cunhal teve 1,1 milhões de votos - elegendo 44 deputados (dos 250 que a AR tinha na altura).

Desde aí que os comunistas não chegam aos dois dígitos e que não passam dos 500 mil votos. A verdade é que o resultado de 2015 foi o melhor desde 1999: Jerónimo de Sousa atingiu, nesse período de fim de troika, 8,3% e 445 mil votos.

Pelo meio, encontrará o pior registo de sempre do partido: 6,9% e 379 mil votos (só elegendo 12 deputados). Foi em 2002, no fim da era Guterres - e quando o Bloco já começava a subir. Foi a única votação em que ficou abaixo dos 400 mil eleitores.

PAN: pequena história do mais novo

E ainda temos o PAN. O partido mais jovem do Parlamento só foi ainda a duas eleições, crescendo de 1% para 1,4% em 2015 – quando elegeu André Silva com 75 mil votos (um pouco mais do que os quase 58 mil da sua primeira eleição. Nas europeias, porém, o partido já conseguiu 168 mil - pelo que pode ser outro comparador a ter em conta.

Esquerda vs. direita: quem ganhou mais?

Será uma das leituras inevitáveis da noite - sobretudo depois de a esquerda (CDU e BE) terem dado a Costa a possibilidade de governar em 2015, mesmo não tendo vencido as eleições: afinal, como fica a composição esquerda/direita no Parlamento?

É, por isso, interessante olhar para essa distribuição de deputados desde 1976. Pelo gráfico em baixo, perceberá que a direita esteve em maioria em seis legislaturas (incluindo as maiorias de Cavaco e as várias coligações com o CDS). Sempre que aconteceu, aliás, a direita ter a maioria dos assentos sem uma maioria de um só partido, acabou por governar em coligação.

Quanto à esquerda, ficou por cima oito vezes. Mas só uma (em 2005) com uma maioria do PS. De resto, tirando a tentativa de Soares governar com o CDS de Freitas em 1977, só agora - com António Costa - teve acordos parlamentares para levar até ao fim a legislatura. Antes, só Guterres o tinha conseguido, sem acordos de qualquer tipo (os restantes governos PS ficaram pelo caminho mais cedo).

Já, agora, antes de ver os pontos de análise seguintes, passe os olhos pela evolução dos votos dos portugueses nos partidos atualmente com representação parlamentar. Dá uma ideia clara da resistência dos dois maiores: PS e PSD.

O "centrão" resiste?

Aí está o que, pelo menos até aqui, parece ser uma característica muito particular do sistema político português: a resistência dos dois partidos do centro. Nas últimas legislativas, PS e PSD mantiveram-se na casa dos 70% dos votos (ainda que distantes do recorde de 1991, em que chegaram a 79,7%. A excepção à regra? Foi em 1985, depois do bloco central (o único que realmente governou em conjunto, durante a segunda intervenção do FMI). Pouco passaram juntos, nessa eleição, os 50%.

Se olharmos para as últimas eleições parlamentares em alguns dos principais partidos da Europa, conseguimos rapidamente perceber que basta PS e PSD somarem ainda mais de 60% para que se mantenham como excepção.

Vamos a exemplos? Na Alemanha, a CDU de Merkel baixou e o SPD quase desapareceu; em Espanha, PSOE resiste (embora com dificuldades notórias em subir e garantir a formação de governo) e PP desceu. Em Itália o PD (que agora voltou ao Governo com o Cinco Estrelas) desceu muito, assim como o maior partido de centr-direita (as sondagens dizem mesmo que será a Liga, de Salvini, a subir para os 30%). E em França, os tradicionais partidos do centro foram substituídos pelo movimento lançado pelo Presidente Macron (enquanto a extrema-direita disputa eleições, na casa dos 30%.

E os partidos que não entram?

A dispersão de votos é outro fator a ter em conta nas eleições deste domingo. Pelo que, tendo em conta o número recorde de partidos que concorrem a estas legislativas - 21 -, fomos revisitar o número de votos "desperdiçados" desde 1975 - desperdiçados apenas e só no sentido de não terem chegado para eleger deputados de outros partidos para a Assembleia.

Seguindo este critério, o ano em que os portugueses mais votaram em partidos não eleitos foi mesmo em 2015: 311 mil votos foram para eles. O número bateu o recorde antigo de 1980 (ano da maioria da AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral), onde 268 mil pessoas votaram "fora da caixa" dos eleitos.

O ano em que isso menos aconteceu foi em 2002: o aparecimento do Bloco e a forte polarização nos partidos já com assento parlamentar fizeram com que apenas 88 mil pessoas votassem noutros quadrados do boletim de voto. Desde aí, esse número não parou de subir.

Só mais um: abstenção e participação

Talvez saiba pelo menos isto: o ano em que a abstenção foi maior em eleições legislativas foi 2015: 44,1% dos eleitores registados não quiseram ir às urnas. Foi, por coincidência, também o ano em que menos participação eleitoral tivémos (5 milhões 408 votos). Mas foi por pouco, já que em 1999 votaram apenas 5 milhões 415 portugueses - apesar de a abstenção nesse ano ter sido só de 38,9%. Confuso?

Se olhar para o gráfico em baixo perceberá porquê: é que na verdade a participação efectiva dos portugueses mantém-se bastante estável (ver linha a azul), entre um máximo de 6 milhões de votos contados (em 1979) e o tal mínimo de 5,4 milhões de 2015. A diferença entre essa participação muito constante e uma abstenção altíssima tem a ver apenas com o número crescente de eleitores registados ao longo da nossa democracia. Dito de outra forma: há cada vez mais eleitores, mas vota o quase sempre mesmo número.

Isto acontece porque, em primeiro lugar, a população aumentou (de onde se concluiu que há, percentualmente, mais pessoas sem vontade de votar); mas também porque os cadernos eleitorais ficam desatualizados (p.e. com as pessoas que morrem mas continuam nos cadernos eleitorais). Na verdade, este último factor é importante para perceber o fenómeno, porque nesta década houve já anos em que a população "encolheu", face ao seu envelhecimento progressivo e à emigração.

Este domingo é natural que a abstenção aumente de novo. Porque a Assembleia decidiu tornar automático o recenseamento dos nossos emigrantes, o que alarga o número de registos (e sabemos que a maioria tenderá a não votar, por desinteresse ou pelas dificuldades logísticas). O que falta saber é se, apesar disso, a participação sobe - como aconteceu nas europeias.

Começamos pelos resultados dos partidos? Vamos lá:

PS: ponto de partida e os máximos e mínimos

Há quatro anos, o PS teve 32,3%, 1,7 milhões de votos e elegeu 86 deputados. Se olhar para o gráfico interativo aqui em baixo, perceberá que é um resultado na média da história do partido. Os piores resultados dos socialistas aconteceram em 1985 (no fim do bloco central e da intervenção do FMI) e 1987 (quando Cavaco ganhou a primeira maioria e o PRD ainda tinha força). Respetivamente, com 20,8% (1,2 milhões de votos) e 22,2% (1,3 milhões).

Como lhe explicámos aqui, a verdade é que em 15 eleições legislativas, o PS só passou a fasquia dos 40% por três vezes (Guterres fez 43,8% em 1995 e 44,1% em 1999, Sócrates chegou aos 45% em 2005).

Em votos absolutos, o máximo que conseguiu foram os 2,6 milhões da sua única maioria absoluta. Mas houve duas eleições em que ficou acima dos dois milhões: com Ferro Rodrigues em 2002; e com Sócrates em 2009. Nesses anos, em que o PS liderava governos mas em ciclos económicos difíceis - o PS ficou com 96 e 97 deputados.

PSD: encontrar uma fasquia

O PSD nunca desceu tanto como o PS: o pior resultado da história do partido aconteceu nas primeiras legislativas, num contexto político mais difícil e fragmentado, quando Sá Carneiro só obteve 24,4% e 1,3 milhões de votos. Fora desse período, o pior resultado em legislativas foi em 1983, quando Mota Pinto acabou por se juntar a Mário Soares no bloco central: 27,2% (1,5 milhões de votos); também os 28,8% de Santana Lopes em 2005 (1,7 milhões de votos); e os 29,1% de Manuela Ferreira Leite (nos mesmos 1,7 milhões).

Na verdade, o PS também nunca chegou tão alto: a maioria de Sócrates não chegou às de Cavaco Silva, 50,6% e 50,2%, até hoje mantendo o recorde do melhor resultado em legislativas - 2,9 milhões de votos nas urnas em 1991. Olhando para os últimos atos eleitorais, a última vez que os sociais-democratas passaram os 40% foi com Barroso em 2002 - (40,2%, 2,2 milhões de votos). Em 2011 Passos esteve perto, mas acabou com 38,7%.

Mais na média, encontra-se o resultado de Durão Barroso em 1999: 32,3% e 1,7 milhões de votos, que evitaram à justa uma maioria absoluta de António Guterres.

Bloco: altos e baixos para comparar

Sabe qual foi o melhor resultado do Bloco até hoje? A resposta é que... depende do critério. Se quiser usar a percentagem de votos, serão os 10,2% das últimas legislativas - que elegeram 19 deputados. Mas em número de votos o Bloco já fez melhor em 2009, quando chegou aos 558 mil votos - oito mil a mais do que há quatro anos, mesmo que ficando abaixo da fasquia dos 10% (foram 9,8%, face à diferença da abstenção).

Sendo um partido recente, não fará tanto sentido dar como piores resultados os dos anos do seu nascimento: na sua primeira eleição, em 1999, fez apenas 2,4% dos votos e só cresceu para valores mais altos em 2005. Desde aí, o seu pior score eleitoral aconteceu em 2011: só 5,2% e 288 mil votos. O contexto era outro: o país tinha pedido ajuda financeira, o Bloco recusou sentar-se à mesa com a troika e Sócrates estava a acabar o mandato, depois do chumbo do PEC4 na Assembleia - que juntou esquerda e direita.

CDS: viagem dos tempos de maior glória até ao táxi

Nestas eleições não vai poder comparar o CDS com 2015 - nessa eleição o partido juntou-se em coligação com o PSD de Passos Coelho.

Mas, olhando para os resultados históricos do partido, vemos muitos altos e baixos que nos dão pontos de referência. O pior, claro, são os 4,4% que o partido teve na sua maior crise – em 1987 e 1991, quando Cavaco Silva sugava os votos à direita e obteve as suas maiorias absolutas - 252 mil votos foi tudo o que Adriano Moreira conseguiu naquela altura.

Ao contrário, nos tempos mais quentes do pós-PREC, Freitas do Amaral conseguiu levar o CDS aos 16% (com 876 mil votos e 42 dos 262 deputados que a AR tinha). Seguiu-se a AD e, depois, o segundo melhor resultado do partido, em 1983: 12,6%, 716 mil votos. O de Paulo Portas em 2011 foi o terceiro: 11,7%, 654 mil votos registados (Portas conseguiu superar os dois dígitos também em 2009).

Pelo meio ficou um período intermédio, abaixo sempre dos 10%. Neste interregno, o pior score eleitoral é também de Portas: 7,2% 2005 – com 416 mil votos e 12 deputados. Foi no difícil contexto da demissão do Governo de Santana, quando a coligação de direita se desfez.

CDU: queda e estagnação

Se olhar para o gráfico abaixo, perceberá o quão longe vão os tempos áureos da CDU. Lá no topo da escala, encontrará os 18,8% de 1979 (data em que a AD chega ao poder). Álvaro Cunhal teve 1,1 milhões de votos - elegendo 44 deputados (dos 250 que a AR tinha na altura).

Desde aí que os comunistas não chegam aos dois dígitos e que não passam dos 500 mil votos. A verdade é que o resultado de 2015 foi o melhor desde 1999: Jerónimo de Sousa atingiu, nesse período de fim de troika, 8,3% e 445 mil votos.

Pelo meio, encontrará o pior registo de sempre do partido: 6,9% e 379 mil votos (só elegendo 12 deputados). Foi em 2002, no fim da era Guterres - e quando o Bloco já começava a subir. Foi a única votação em que ficou abaixo dos 400 mil eleitores.

PAN: pequena história do mais novo

E ainda temos o PAN. O partido mais jovem do Parlamento só foi ainda a duas eleições, crescendo de 1% para 1,4% em 2015 – quando elegeu André Silva com 75 mil votos (um pouco mais do que os quase 58 mil da sua primeira eleição. Nas europeias, porém, o partido já conseguiu 168 mil - pelo que pode ser outro comparador a ter em conta.

Esquerda vs. direita: quem ganhou mais?

Será uma das leituras inevitáveis da noite - sobretudo depois de a esquerda (CDU e BE) terem dado a Costa a possibilidade de governar em 2015, mesmo não tendo vencido as eleições: afinal, como fica a composição esquerda/direita no Parlamento?

É, por isso, interessante olhar para essa distribuição de deputados desde 1976. Pelo gráfico em baixo, perceberá que a direita esteve em maioria em seis legislaturas (incluindo as maiorias de Cavaco e as várias coligações com o CDS). Sempre que aconteceu, aliás, a direita ter a maioria dos assentos sem uma maioria de um só partido, acabou por governar em coligação.

Quanto à esquerda, ficou por cima oito vezes. Mas só uma (em 2005) com uma maioria do PS. De resto, tirando a tentativa de Soares governar com o CDS de Freitas em 1977, só agora - com António Costa - teve acordos parlamentares para levar até ao fim a legislatura. Antes, só Guterres o tinha conseguido, sem acordos de qualquer tipo (os restantes governos PS ficaram pelo caminho mais cedo).

Já, agora, antes de ver os pontos de análise seguintes, passe os olhos pela evolução dos votos dos portugueses nos partidos atualmente com representação parlamentar. Dá uma ideia clara da resistência dos dois maiores: PS e PSD.

O "centrão" resiste?

Aí está o que, pelo menos até aqui, parece ser uma característica muito particular do sistema político português: a resistência dos dois partidos do centro. Nas últimas legislativas, PS e PSD mantiveram-se na casa dos 70% dos votos (ainda que distantes do recorde de 1991, em que chegaram a 79,7%. A excepção à regra? Foi em 1985, depois do bloco central (o único que realmente governou em conjunto, durante a segunda intervenção do FMI). Pouco passaram juntos, nessa eleição, os 50%.

Se olharmos para as últimas eleições parlamentares em alguns dos principais partidos da Europa, conseguimos rapidamente perceber que basta PS e PSD somarem ainda mais de 60% para que se mantenham como excepção.

Vamos a exemplos? Na Alemanha, a CDU de Merkel baixou e o SPD quase desapareceu; em Espanha, PSOE resiste (embora com dificuldades notórias em subir e garantir a formação de governo) e PP desceu. Em Itália o PD (que agora voltou ao Governo com o Cinco Estrelas) desceu muito, assim como o maior partido de centr-direita (as sondagens dizem mesmo que será a Liga, de Salvini, a subir para os 30%). E em França, os tradicionais partidos do centro foram substituídos pelo movimento lançado pelo Presidente Macron (enquanto a extrema-direita disputa eleições, na casa dos 30%.

E os partidos que não entram?

A dispersão de votos é outro fator a ter em conta nas eleições deste domingo. Pelo que, tendo em conta o número recorde de partidos que concorrem a estas legislativas - 21 -, fomos revisitar o número de votos "desperdiçados" desde 1975 - desperdiçados apenas e só no sentido de não terem chegado para eleger deputados de outros partidos para a Assembleia.

Seguindo este critério, o ano em que os portugueses mais votaram em partidos não eleitos foi mesmo em 2015: 311 mil votos foram para eles. O número bateu o recorde antigo de 1980 (ano da maioria da AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral), onde 268 mil pessoas votaram "fora da caixa" dos eleitos.

O ano em que isso menos aconteceu foi em 2002: o aparecimento do Bloco e a forte polarização nos partidos já com assento parlamentar fizeram com que apenas 88 mil pessoas votassem noutros quadrados do boletim de voto. Desde aí, esse número não parou de subir.

Só mais um: abstenção e participação

Talvez saiba pelo menos isto: o ano em que a abstenção foi maior em eleições legislativas foi 2015: 44,1% dos eleitores registados não quiseram ir às urnas. Foi, por coincidência, também o ano em que menos participação eleitoral tivémos (5 milhões 408 votos). Mas foi por pouco, já que em 1999 votaram apenas 5 milhões 415 portugueses - apesar de a abstenção nesse ano ter sido só de 38,9%. Confuso?

Se olhar para o gráfico em baixo perceberá porquê: é que na verdade a participação efectiva dos portugueses mantém-se bastante estável (ver linha a azul), entre um máximo de 6 milhões de votos contados (em 1979) e o tal mínimo de 5,4 milhões de 2015. A diferença entre essa participação muito constante e uma abstenção altíssima tem a ver apenas com o número crescente de eleitores registados ao longo da nossa democracia. Dito de outra forma: há cada vez mais eleitores, mas vota o quase sempre mesmo número.

Isto acontece porque, em primeiro lugar, a população aumentou (de onde se concluiu que há, percentualmente, mais pessoas sem vontade de votar); mas também porque os cadernos eleitorais ficam desatualizados (p.e. com as pessoas que morrem mas continuam nos cadernos eleitorais). Na verdade, este último factor é importante para perceber o fenómeno, porque nesta década houve já anos em que a população "encolheu", face ao seu envelhecimento progressivo e à emigração.

Este domingo é natural que a abstenção aumente de novo. Porque a Assembleia decidiu tornar automático o recenseamento dos nossos emigrantes, o que alarga o número de registos (e sabemos que a maioria tenderá a não votar, por desinteresse ou pelas dificuldades logísticas). O que falta saber é se, apesar disso, a participação sobe - como aconteceu nas europeias.

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