Piriquita: Travesseiros e queijadas por ‘ordem’ do Rei D. Carlos

17-02-2017
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Padaria que conquistou a boca de D. Carlos com as queijadas tornou-se ponto de paragem obrigatória em Sintra. O negócio familiar já vai na sétima geração, após Constança, a quem o rei terá batizado de PIRIQUITA, se ter casado com o padeiro Amaro dos Santos e dar nome à casa onde o bolo em forma de travesseiro é rei e a queijada, rainha.

O livro de receitas da pastelaria Piriquita não está guardado a sete chaves?! “Está lá por casa, a minha mãe é que sabe onde o tem, eu também sei, mas não há necessidade de o esconder, isto é um negócio familiar que já vai na sétima geração”, contou ao DN Fernando Cunha, sócio-gerente da tradicional e centenária casa de doces da vila de Sintra.

A mãe é Maria Leonor Cunha (na foto), após casamento com António Cunha, filho de Constança Luísa e neto da Constança “Piriquita”. É ela a dona do segredo do recheio dos travesseiros, que fizeram da pastelaria um ponto de paragem obrigatória. Só ela e Rui Cunha, o outro filho, fazem o recheio dos pastéis. Mais ninguém. E assim se mantém o segredo na família, pelo menos, há 152 anos.

Mas vamos ao início, se conseguirmos. A fábrica de queijadas Piriquita surge na segunda metade do século XIX, no centro da vila de Sintra, na Rua das Padarias, local onde ainda hoje se encontra. Fundada por Constança Gomes, que o rei D. Carlos terá batizado de “Piriquita” por ser “uma senhora baixinha”. Ter-se-á casado aos 16 anos com Amaro dos Santos, que era padeiro, e nessa altura (1862) começou o fabrico das queijadas para satisfazer a gula do rei D. Carlos, que gostava de passar férias em Sintra e, dizem os autos, ou seja, a boca do povo, gostava de passear pela vila e ir comprar pão à padaria (hoje Piriquita). Fã de queijadas, um dia terá levado a receita para a padeira as fazer. E assim nasceram as queijadas de Sintra da Piriquita.

Os travesseiros, esses, apareceram mais tarde. Durante os períodos das Guerras Mundiais, a Piriquita sentiu a necessidade de inovar, e Constança Luísa, ao ler um livro de receitas antigas, deu de caras com a receita do travesseiro, que hoje dá fama e proveito à pastelaria e superou as queijadas.

Com a forma de um travesseiro (almofada), o bolo à base de massa folhada, creme de ovo e amêndoa tem um ingrediente secreto que o torna apetecível às bocas de todo o mundo. São centenas os turistas que passam pelo espaço diariamente e chegam fazer fila para provar as iguarias.

O tal ingrediente secreto permanece na família há sete gerações e mais de 150 anos. Nem os pasteleiros o sabem. E já sobreviveu a alguns episódios de espionagem. Um antigo pasteleiro/distribuidor dos pastéis da casa, julgando conhecer a receita dos travesseiros, ofereceu-se a uma pastelaria rival. “Disse que sabia a receita e contrataram-no por 200 contos (mil euros) por mês, na altura era uma fortuna. Mas passado um tempo o dono queixou-se e contou-me que quentes ainda se comiam, agora frios só serviam como arma de arremesso”, lembrou Fernando, rindo-se da audácia…

O crescimento da fábrica acompanhou a evolução de Sintra até chegar a Património Mundial. E também assistiu à substituição da monarquia pela república em Portugal. “Eu desconfio que o meu avô era republicano e que a padaria, na altura, serviu para alguns encontros revolucionários ou tertúlias. Quando fizemos obras no espaço da Piriquita 2 esburacámos uma parede e encontrámos relíquias arqueológicas e umas armas escondidas, o que me fez lembrar de uma conversa, quando tinha uns 7 anos, com um amigo do meu avô a perguntar: ‘Onde será que ele escondeu as armas?’”

A monarquia e o rei D. Carlos caíram e a República foi instaurada. Agora não há eleições nem candidato à presidência do País ou de Sintra que faça campanha sem parar na Piriquita. Um facto que orgulha a família, embora gostem de dizer que os que mais gostam são os clientes satisfeitos.

E para isso é preciso manter a qualidade. Fernando Cunha orgulha-se de dizer que não abdica de ter matéria-prima de qualidade para aumentar o lucro. E também é em nome disso que tem recusado o franchising: “Primeiro, isso implicava revelar a nossa receita, o segredo e mais-valia da família, e não o fazendo tínhamos de ser nós a fabricar, congelar e enviar e os pastéis, e sinceramente eles são bons mas é a ferver, que é como quem diz, acabadinhos de sair do forno.”

ISAURA ALMEIDA

Padaria que conquistou a boca de D. Carlos com as queijadas tornou-se ponto de paragem obrigatória em Sintra. O negócio familiar já vai na sétima geração, após Constança, a quem o rei terá batizado de PIRIQUITA, se ter casado com o padeiro Amaro dos Santos e dar nome à casa onde o bolo em forma de travesseiro é rei e a queijada, rainha.

O livro de receitas da pastelaria Piriquita não está guardado a sete chaves?! “Está lá por casa, a minha mãe é que sabe onde o tem, eu também sei, mas não há necessidade de o esconder, isto é um negócio familiar que já vai na sétima geração”, contou ao DN Fernando Cunha, sócio-gerente da tradicional e centenária casa de doces da vila de Sintra.

A mãe é Maria Leonor Cunha (na foto), após casamento com António Cunha, filho de Constança Luísa e neto da Constança “Piriquita”. É ela a dona do segredo do recheio dos travesseiros, que fizeram da pastelaria um ponto de paragem obrigatória. Só ela e Rui Cunha, o outro filho, fazem o recheio dos pastéis. Mais ninguém. E assim se mantém o segredo na família, pelo menos, há 152 anos.

Mas vamos ao início, se conseguirmos. A fábrica de queijadas Piriquita surge na segunda metade do século XIX, no centro da vila de Sintra, na Rua das Padarias, local onde ainda hoje se encontra. Fundada por Constança Gomes, que o rei D. Carlos terá batizado de “Piriquita” por ser “uma senhora baixinha”. Ter-se-á casado aos 16 anos com Amaro dos Santos, que era padeiro, e nessa altura (1862) começou o fabrico das queijadas para satisfazer a gula do rei D. Carlos, que gostava de passar férias em Sintra e, dizem os autos, ou seja, a boca do povo, gostava de passear pela vila e ir comprar pão à padaria (hoje Piriquita). Fã de queijadas, um dia terá levado a receita para a padeira as fazer. E assim nasceram as queijadas de Sintra da Piriquita.

Os travesseiros, esses, apareceram mais tarde. Durante os períodos das Guerras Mundiais, a Piriquita sentiu a necessidade de inovar, e Constança Luísa, ao ler um livro de receitas antigas, deu de caras com a receita do travesseiro, que hoje dá fama e proveito à pastelaria e superou as queijadas.

Com a forma de um travesseiro (almofada), o bolo à base de massa folhada, creme de ovo e amêndoa tem um ingrediente secreto que o torna apetecível às bocas de todo o mundo. São centenas os turistas que passam pelo espaço diariamente e chegam fazer fila para provar as iguarias.

O tal ingrediente secreto permanece na família há sete gerações e mais de 150 anos. Nem os pasteleiros o sabem. E já sobreviveu a alguns episódios de espionagem. Um antigo pasteleiro/distribuidor dos pastéis da casa, julgando conhecer a receita dos travesseiros, ofereceu-se a uma pastelaria rival. “Disse que sabia a receita e contrataram-no por 200 contos (mil euros) por mês, na altura era uma fortuna. Mas passado um tempo o dono queixou-se e contou-me que quentes ainda se comiam, agora frios só serviam como arma de arremesso”, lembrou Fernando, rindo-se da audácia…

O crescimento da fábrica acompanhou a evolução de Sintra até chegar a Património Mundial. E também assistiu à substituição da monarquia pela república em Portugal. “Eu desconfio que o meu avô era republicano e que a padaria, na altura, serviu para alguns encontros revolucionários ou tertúlias. Quando fizemos obras no espaço da Piriquita 2 esburacámos uma parede e encontrámos relíquias arqueológicas e umas armas escondidas, o que me fez lembrar de uma conversa, quando tinha uns 7 anos, com um amigo do meu avô a perguntar: ‘Onde será que ele escondeu as armas?’”

A monarquia e o rei D. Carlos caíram e a República foi instaurada. Agora não há eleições nem candidato à presidência do País ou de Sintra que faça campanha sem parar na Piriquita. Um facto que orgulha a família, embora gostem de dizer que os que mais gostam são os clientes satisfeitos.

E para isso é preciso manter a qualidade. Fernando Cunha orgulha-se de dizer que não abdica de ter matéria-prima de qualidade para aumentar o lucro. E também é em nome disso que tem recusado o franchising: “Primeiro, isso implicava revelar a nossa receita, o segredo e mais-valia da família, e não o fazendo tínhamos de ser nós a fabricar, congelar e enviar e os pastéis, e sinceramente eles são bons mas é a ferver, que é como quem diz, acabadinhos de sair do forno.”

ISAURA ALMEIDA

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