PAN, o partido que quer combater o regime por dentro com “soluções pragmáticas”

17-11-2019
marcar artigo

PolíticaPAN, o partido que quer combater o regime por dentro com “soluções pragmáticas”30-03-2019José FernandesCitou Gandhi, garantiu que a água que bebe é da torneira e chamou “maioria ultraconservadora” à esquerda parlamentar. Francisco Guerreiro foi o responsável pelo encerramento do sétimo congresso do PAN - os jornalistas não puderam assistir ao resto. Discursou em ambiente de euforia e muita fé, prometendo que “a forma de estar” e pensar que o PAN defende nos vai salvar dos populismos e até da extinção da espécieMariana Lima CunhaJosé FernandesA entrada é discreta, pouco visível e ainda menos publicitada. É preciso entrar no edifício da biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, para aceder ao auditório onde se concentram cerca de duzentos congressistas do PAN, este sábado juntos para o sétimo conclave do partido. Falamos de congressistas porque o dia é só mesmo para eles - a comunicação social só é convidada a entrar ao final da tarde, feitas as votações de moções e órgãos do partido, até porque não é sequer habitual o PAN receber atenção da imprensa nestes dias. Mas, assim que se entra naquela sala, sente-se uma alteração no ambiente. É euforia pura. O PAN parte para este congresso em clima de motivação máxima - as sondagens preveem crescimento (a mais recente do ISCTE e ICS para Expresso e SIC deu 3% ao partido, mais do que ao Aliança de Santana Lopes e o dobro do que o próprio PAN conseguiu em 2015) e o partido faz promessas confiantes: quer eleger nas europeias pela primeira vez e na Madeira pela segunda, promete juntar deputados a André Silva - o seu único representante na Assembleia da República - e criar um grupo parlamentar desta vez. Entre os congressistas sente-se essa crença - são frequentes os gritos de entusiasmo e as erupções de risos e aplausos a cada linha do discurso de Francisco Guerreiro, o cabeça de lista às eleições europeias. É ele que encerra o congresso. Por um lado, por ser o homem que querem sentar em Bruxelas. Por outro, por estarem a apostar na diversificação das vozes do partido, que não se resume a André Silva. Por isso, é Francisco que toma a palavra perante uma plateia entusiástica.As primeiras palavras são, lá está, para o “momento de crescimento e afirmação” que jura que o PAN está a viver. E esse crescimento assenta, acredita, na confirmação de uma tese que já vêm defendendo há muito: o PAN não é só um partido, antes o representante de uma forma de estar e de ver a vida diferente; o PAN funciona como braço político de uma nova consciência social que os partidos tradicionais não são capazes de ver a chegar; e o PAN concentra-se em “medidas pragmáticas e úteis” para o país, dispensando as habituais “trincheiras” entre esquerda e direita, pelo que não provoca o mesmo efeito de afastamento e cansaço nos eleitores que os partidos do chamado ‘sistema’. Consciente de que nem sempre o PAN é, ou foi neste caminho, levado a sério, Guerreiro puxa Gandhi para o seu discurso: o lema “Primeiro eles ignoram-te, depois riem-se de ti, depois combatem-te e depois tu vences” passa a ser “desconsiderado por muitos, ignorado por vários, ridicularizado por alguns, temos provado que é possível navegar pelo marasmo da política tradicional”. Há ataques à “obsoleta categorização esquerda-direita” que o PAN acredita afastar os eleitores. E a defesa das medidas práticas e úteis, sempre com a “matriz ideológica”, em que apostam para atrair mais pessoas, sobretudo das novas gerações, tendo em mente um “novo modelo político, social, cultural a implementar”. Em que é que se concretiza este modelo? Numa mistura de políticas normalmente mais associadas à esquerda, mas não exclusivamente - fazem-se críticas à obsessão pelo défice que se ouviriam no BE e no PCP, mas não se excluem parcerias público-privadas como nos partidos de esquerda; critica-se a “sobrecarga de impostos excessivos” e também se defendem causas como a regulamentação da banca ou o maior enfoque na prevenção no Serviço Nacional de Saúde.São causas dispersas, em que o partido insiste para provar que não vive apenas da causa animal nem fala apenas para um nicho de eleitorado ativista, mas que tem um projeto político transversal e por isso está habilitado a nadar na piscina dos partidos grandes (mesmo que se refira a eles como “partidos do regime” e à maioria parlamentar de esquerda como “maioria ultraconservadora” por não a ver combater os grandes interesses de indústrias como a agropecuária, a leiteira, o “baronato da caça”). E defende até que será esta maneira do PAN de contrariar “o fosso entre as realidades sociais e as soluções políticas convencionais” o caminho certo para combater o populismo. Inegável é a prioridade que o partido continua a dar à causa animal, mensurável pelos aplausos entusiásticos cada vez que Francisco Guerreiro promete lutar pela “abolição da tauromaquia”, por exemplo. Mas nesta corrida às europeias muito do ênfase é colocado na ecologia - outra das principais bandeiras é pressionar, na Europa, os outros países para fechar não só Almaraz mas também “todas as centrais nucleares da Europa”. Ao lado de Francisco está uma intérprete de língua gestual (e o PAN já conseguiu aprovar a colocação destes profissionais nas urgências hospitalares), e enquanto fala faz graças para comprovar que acredita neste “modo de vida”: pára para beber água a meio do discurso e garante que veio “da torneira”. Estas preocupações existem também porque tem “uma filha recém-nascida” - e é com um verdadeiro partido ecologista, defende, que se protegerão os mais novos. A ovação final faz-se em pé, os gritos de “Força, Francisco!” - não passa qualquer hino - enchem a sala. Resta saber se o ‘feeling’ dos congressistas que abandonam o auditório lisboeta estará em sintonia com o dos eleitores, em maio e em outubro.RelacionadosPAN não quer ser o partido que põe os animais à frente das pessoas30-03-2019Mariana Lima CunhaÚltimasAngola. Os desafios do novo líder da UNITAHá 22 minutosNelson Francisco Sul em LuandaCaso do bebé no ecoponto: advogada conheceu Sara durante voluntariado de apoio a sem-abrigoHá 35 minutosHugo FrancoSete perguntas para perceber o assistente virtual do GoogleHá 41 minutosOficial: Cotrim Figueiredo é candidato à liderança da Iniciativa LiberalHá uma horaLusaSuspenso resort que ameaçava índiosHá uma horaChristiana MartinsPortugueses ajudam Merck na investigação contra o cancroHá uma horaAna Sofia SantosHong Kong: Polícia ameaça disparar balas reais se protestantes usarem armas letaisHá uma horaLusaTribunal penhora rendimentos de Gama Leão. Quais rendimentos?Há uma horaAbílio FerreiraPríncipe André à entrevista à BBC nega envolvimento com Virginia Giuffre16:43ExpressoLusaJosé Eduardo Martins compara Montenegro a uma "garrafa de ketchup por estrear": "Quando sai, estraga o prato"15:24Miguel Santos Carrapatoso

PolíticaPAN, o partido que quer combater o regime por dentro com “soluções pragmáticas”30-03-2019José FernandesCitou Gandhi, garantiu que a água que bebe é da torneira e chamou “maioria ultraconservadora” à esquerda parlamentar. Francisco Guerreiro foi o responsável pelo encerramento do sétimo congresso do PAN - os jornalistas não puderam assistir ao resto. Discursou em ambiente de euforia e muita fé, prometendo que “a forma de estar” e pensar que o PAN defende nos vai salvar dos populismos e até da extinção da espécieMariana Lima CunhaJosé FernandesA entrada é discreta, pouco visível e ainda menos publicitada. É preciso entrar no edifício da biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, para aceder ao auditório onde se concentram cerca de duzentos congressistas do PAN, este sábado juntos para o sétimo conclave do partido. Falamos de congressistas porque o dia é só mesmo para eles - a comunicação social só é convidada a entrar ao final da tarde, feitas as votações de moções e órgãos do partido, até porque não é sequer habitual o PAN receber atenção da imprensa nestes dias. Mas, assim que se entra naquela sala, sente-se uma alteração no ambiente. É euforia pura. O PAN parte para este congresso em clima de motivação máxima - as sondagens preveem crescimento (a mais recente do ISCTE e ICS para Expresso e SIC deu 3% ao partido, mais do que ao Aliança de Santana Lopes e o dobro do que o próprio PAN conseguiu em 2015) e o partido faz promessas confiantes: quer eleger nas europeias pela primeira vez e na Madeira pela segunda, promete juntar deputados a André Silva - o seu único representante na Assembleia da República - e criar um grupo parlamentar desta vez. Entre os congressistas sente-se essa crença - são frequentes os gritos de entusiasmo e as erupções de risos e aplausos a cada linha do discurso de Francisco Guerreiro, o cabeça de lista às eleições europeias. É ele que encerra o congresso. Por um lado, por ser o homem que querem sentar em Bruxelas. Por outro, por estarem a apostar na diversificação das vozes do partido, que não se resume a André Silva. Por isso, é Francisco que toma a palavra perante uma plateia entusiástica.As primeiras palavras são, lá está, para o “momento de crescimento e afirmação” que jura que o PAN está a viver. E esse crescimento assenta, acredita, na confirmação de uma tese que já vêm defendendo há muito: o PAN não é só um partido, antes o representante de uma forma de estar e de ver a vida diferente; o PAN funciona como braço político de uma nova consciência social que os partidos tradicionais não são capazes de ver a chegar; e o PAN concentra-se em “medidas pragmáticas e úteis” para o país, dispensando as habituais “trincheiras” entre esquerda e direita, pelo que não provoca o mesmo efeito de afastamento e cansaço nos eleitores que os partidos do chamado ‘sistema’. Consciente de que nem sempre o PAN é, ou foi neste caminho, levado a sério, Guerreiro puxa Gandhi para o seu discurso: o lema “Primeiro eles ignoram-te, depois riem-se de ti, depois combatem-te e depois tu vences” passa a ser “desconsiderado por muitos, ignorado por vários, ridicularizado por alguns, temos provado que é possível navegar pelo marasmo da política tradicional”. Há ataques à “obsoleta categorização esquerda-direita” que o PAN acredita afastar os eleitores. E a defesa das medidas práticas e úteis, sempre com a “matriz ideológica”, em que apostam para atrair mais pessoas, sobretudo das novas gerações, tendo em mente um “novo modelo político, social, cultural a implementar”. Em que é que se concretiza este modelo? Numa mistura de políticas normalmente mais associadas à esquerda, mas não exclusivamente - fazem-se críticas à obsessão pelo défice que se ouviriam no BE e no PCP, mas não se excluem parcerias público-privadas como nos partidos de esquerda; critica-se a “sobrecarga de impostos excessivos” e também se defendem causas como a regulamentação da banca ou o maior enfoque na prevenção no Serviço Nacional de Saúde.São causas dispersas, em que o partido insiste para provar que não vive apenas da causa animal nem fala apenas para um nicho de eleitorado ativista, mas que tem um projeto político transversal e por isso está habilitado a nadar na piscina dos partidos grandes (mesmo que se refira a eles como “partidos do regime” e à maioria parlamentar de esquerda como “maioria ultraconservadora” por não a ver combater os grandes interesses de indústrias como a agropecuária, a leiteira, o “baronato da caça”). E defende até que será esta maneira do PAN de contrariar “o fosso entre as realidades sociais e as soluções políticas convencionais” o caminho certo para combater o populismo. Inegável é a prioridade que o partido continua a dar à causa animal, mensurável pelos aplausos entusiásticos cada vez que Francisco Guerreiro promete lutar pela “abolição da tauromaquia”, por exemplo. Mas nesta corrida às europeias muito do ênfase é colocado na ecologia - outra das principais bandeiras é pressionar, na Europa, os outros países para fechar não só Almaraz mas também “todas as centrais nucleares da Europa”. Ao lado de Francisco está uma intérprete de língua gestual (e o PAN já conseguiu aprovar a colocação destes profissionais nas urgências hospitalares), e enquanto fala faz graças para comprovar que acredita neste “modo de vida”: pára para beber água a meio do discurso e garante que veio “da torneira”. Estas preocupações existem também porque tem “uma filha recém-nascida” - e é com um verdadeiro partido ecologista, defende, que se protegerão os mais novos. A ovação final faz-se em pé, os gritos de “Força, Francisco!” - não passa qualquer hino - enchem a sala. Resta saber se o ‘feeling’ dos congressistas que abandonam o auditório lisboeta estará em sintonia com o dos eleitores, em maio e em outubro.RelacionadosPAN não quer ser o partido que põe os animais à frente das pessoas30-03-2019Mariana Lima CunhaÚltimasAngola. Os desafios do novo líder da UNITAHá 22 minutosNelson Francisco Sul em LuandaCaso do bebé no ecoponto: advogada conheceu Sara durante voluntariado de apoio a sem-abrigoHá 35 minutosHugo FrancoSete perguntas para perceber o assistente virtual do GoogleHá 41 minutosOficial: Cotrim Figueiredo é candidato à liderança da Iniciativa LiberalHá uma horaLusaSuspenso resort que ameaçava índiosHá uma horaChristiana MartinsPortugueses ajudam Merck na investigação contra o cancroHá uma horaAna Sofia SantosHong Kong: Polícia ameaça disparar balas reais se protestantes usarem armas letaisHá uma horaLusaTribunal penhora rendimentos de Gama Leão. Quais rendimentos?Há uma horaAbílio FerreiraPríncipe André à entrevista à BBC nega envolvimento com Virginia Giuffre16:43ExpressoLusaJosé Eduardo Martins compara Montenegro a uma "garrafa de ketchup por estrear": "Quando sai, estraga o prato"15:24Miguel Santos Carrapatoso

marcar artigo