Pela blogosfera nacional

10-10-2017
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Porquê? Porque ele adora

Passos testa em Loures as hipóteses de um Geert Wilders português.

Em 2011, Passos apresentou-se a eleições com um discurso por muitos considerado novo e fresco: ia acabar com a preguiça, com a dependência do Estado, com a intromissão do Estado na Economia, com as gorduras do Estado, com a ditadura do ensino público e da saúde pública e demais “frescuras” que, a par com mentiras descaradas como a não necessidade de cortar salários nem pensões face a um pedido de resgate por ele desejado, apesar da situação financeira nacional bem conhecida, convenceu demasiados incautos a votarem nele. Acresceu a esta estratégia o desgaste do adversário através da campanha ad hominem mais agressiva de que há memória, aqui com a ajuda dos amigos do CDS e da Justiça. Pois bem, ganhou. Manteve depois, no governo, a linguagem acusatória da preguiça (esquecendo e fazendo demasiada gente esquecer que ele próprio é um exemplo de chupismo que o deveria manter tímido, no mínimo, no desafio aos portugueses para que se desenvencilhassem, trabalhando mais, de preferência indo embora). Enfim. Quanto ao Estado na economia, viram-se e veem-se cada vez mais os extraordinários benefícios para os clientes das vendas que fez das maiores empresas e o parco contributo dessas vendas para a resolução dos problemas financeiros do país. As gorduras foram afinal um colossal aumento de impostos. Além disso, por alegadamente não querer saber dos bancos (sendo ele o Estado), nem dos privados nem do público, passou várias pesadas facturas aos portugueses cujo interesse dizia defender.

Foi corrido por intermédio de uma coligação adversa, aliás nunca por cá vista, que só mesmo um grande descalabro governativo como o amargamente constatado conseguiria pôr de pé e manter.

Mas continua por aí, o Passos.

Acusado, e bem, de ser, uns dias, zombie, outros dias uma triste Cassandra agoirenta ou um decadente profeta da desgraça, descobriu na recente tragédia dos incêndios e na vetustez comprovada das instalações militares (que pelos vistos desconhecia) uma poção energética milagrosa e bebeu-a, andando desde então a falar mais do que seria sempre aconselhável, pois não é raro estender-se ao comprido com frases incompreensíveis, grotescas, popularucho-atamancadas ou simplesmente mentirosas e falhadas. E a coisa andava assim. Pseudo-aguerrida a direita, mas triste como sempre.

Mas eis que entra em cena André Ventura, o candidato à Câmara de Loures. André Ventura representa a nova frescura por que Passos desesperava. É a sua fuga para a frente. Onde Cristas viu um potencial criador de ódios e problemas com vantagens políticas duvidosas, retirando-se, Passos viu um provocador corajoso, populista até mais não, mas que, falando melhor do que ele (parece que tem mais estudos), é talvez capaz de lhe abrir um caminho de oportunidade.

O raciocínio deve ser o seguinte: Ventura começa pelos ciganos (tema que não interessa assim tanto, pois são poucos e há sempre uma maneira airosa de o artista recuar um pouco), faz-se notado, Passos adora, dá-lhe o seu total apoio (no fundo, é o seu ídolo, o seu balão de oxigénio) e rapidamente ali está um aliado para ressuscitar o discurso dos preguiçosos, o único que conhece, mas que lamentavelmente nunca dirige a si mesmo. Muito em breve lá virão todos os subsídio-dependentes, os funcionários públicos e etc. Ventura é bem capaz de dizer o que nem o Passos ousa. Aliás, já começou: acusou António Costa de se imiscuir na campanha de um candidato autárquico, quando na realidade Costa o que fez foi acusar Passos Coelho de apoiar candidatos racistas. Impante com o sucesso junto das hordas passistas, Ventura aconselhou Costa a ir-se embora. Como é possível Passos não o adorar? Como seria possível retirar-lhe o apoio? Ventura é o seu alter-ego mais refinado e ousado.

O holandês lá acima referido não se deu particularmente bem nas últimas eleições com o seu discurso xenófobo e de incitamento ao ódio, o que é de assinalar tendo em conta o peso da imigração muçulmana nos Países Baixos. Por cá, exceptuando os ciganos, há as pessoas de origem africana, que ninguém ousará, penso eu, ofender. Não vejo, pois, que desenvolvimentos ou alvos poderá vir a ter este tipo de discurso. Mas, a nível nacional, Passos, para cujo peditório já demos, pode aproveitar o Ventura para criar uma extrema-direita toda fresca e acompanhar assim os tempos. É a única saída que lhe resta. Uma fuga em frente para fora do PSD. Ou será que o PSD acha tudo isto muito fresco e também adora?

Penélope, in Blog AspirinaB

http://aspirinab.com/

*

“Quem está cansado é um desistente e não um combatente e um criativo como ele (António Costa), que colocou o problema que havia acontecido em Tancos no seu devido lugar…”.

Carlos César, líder parlamentar do PS e empregador público de toda a família, em entrevista ao Expresso de 22.07.2017, pág. 9.

Ora aí está, por vezes até lhe foge a língua para a verdade.

Mas eu até diria mais: além de criativo, um prestidigitador e ilusionista, que pôs os chefes militares a verem sucata no que antes afirmavam como material bélico.

Pinho Cardão » blog Quarta República

http://quartarepublica.blogspot.pt/

**

O que se passou nos últimos dias apresenta todos os contornos de uma campanha orquestrada entre comunicação social e políticos. A página dos truques faz a resenha, que aqui fica para memória futura. Creio não errar ao afirmar estarmos perante o mais rasca lixo humano, político e jornalístico a que assistimos na política pós-25 de Abril. Faltou referir o episódio do suicídio, bem como o patético ultimato do líder para lamentar do PSD e a sua vanglória pelos resultados (?) alcançados. Merece esta gente um lugar no Parlamento? Eu acho que não.

A cobertura mediática da tragédia de Pedrógão Grande foi logo desde o início bastante discutida. Câmaras a captar testemunhos sem filtro e em momentos inapropriados, diretos ao lado de cadáveres, drones que sobrevoavam a (rapidamente denominada) ‘Estrada da Morte’, o estranhíssimo caso do correspondente do El Mundo – Sebastião Pereira, a não-queda do Canadair… No fundo, um espetáculo intenso e com uma carga emocional invulgar, que se traduziu inevitavelmente em notícias com contornos que até agora desconhecíamos.

Poderíamos dizer, em resumo, que para além de toda a tragédia de Pedrógão Grande, este foi, também, um laboratório com alguns dos maiores desafios contemporâneos que a imprensa tradicional enfrenta: perante a turbilhão informativo do twitter, perante os lives do facebook, perante o acesso franco do público à opinião de inúmeros especialistas e “especialistas”, perante as fontes e as “fontes” que surgiam, ainda mais, de todo o lado…

Ao longo das últimas semanas, têm sido diversas as reflexões produzidas em torno do sucedido e as opiniões são mais ou menos convergentes num ponto: houve jornalistas e órgãos que tiveram prestações exemplares (demos aqui o exemplo de José António Pereira, da RTP) e houve quem tivesse reagido com grande dificuldade. Houve casos de aproveitamento explícito, especulação, propagação de notícias falsas e sensacionalismo.

Mais de um mês depois, quando já tudo parecia ter assentado, a polémica reacendeu, desta vez em torno do número de mortos do incêndio. É certo que desde 24 de Junho víamos este assunto aflorado nas redes sociais, através de muitos apontamentos individuais que sugeriam “isto e aquilo” com elevado grau de certeza, mas reduzido grau de credibilidade. Foi, no entanto, no passado sábado, 23 de Julho, que o caso ganhou outra robustez. O Expresso fez manchete com “Lista de 64 mortos exclui vítimas de Pedrógão” e estava prometido um escândalo com proporções inimagináveis.

Já aqui falámos, no próprio dia da publicação do jornal, de como este título planta a dúvida em relação ao número de vítimas, sem apresentar depois factos que confirmem a afirmação que faz. O Expresso diz na primeira página que o número era superior no plural, mas na própria peça menciona apenas mais um caso no singular, que não sendo considerado como “morte direta”, acabaria por nem pertencer à lista. Depois, afirmava que se tratava de uma lista “que o governo não queria divulgar”, sendo que ela pertencia ao Ministério Público e, estando sob segredo de justiça, era apenas ao próprio Ministério Público que cabia a possibilidade de a tornar pública. Por fim, ignorava que os critérios que determinavam os conceitos de “morte direta” e “morte indireta” eram oficiais e muito anteriores à tragédia.

“Durante semanas, o Expresso vasculhou o terreno, confrontou nomes e locais e foi construindo, passo a passo, uma lista própria e que acabou por ser confirmada como idêntica à oficial.” – Entre a manchete, o título da notícia e o seu conteúdo há uma contradição nos termos, explícita para qualquer leitor.

É esta a primeira vez que os rumores de semanas ganham forma de notícia, e logo através de um dos jornais mais lidos do país.

No mesmo dia, o jornal i lança no online uma notícia de última hora: “Incêndios. Empresária contou mais de 80 mortos em Pedrógão Grande”. Segundo a notícia, uma empresária de Lisboa, Isabel Monteiro, fez uma lista provisória com os nomes das vítimas a fim de criar um memorial de homenagem. A lista contava com mais de 80 nomes e, segundo contou ao i, o número podia ainda ser muito superior. A empresária tinha 73 vítimas mortais confirmadas pelas famílias, com nomes, moradas e local da morte.

O caso ganhava densidade à medida que outros órgãos juntavam fontes aparentemente novas e diversas à suspeita lançada pela manchete do Expresso. Mesmo considerando que essa manchete era posta em causa pela própria notícia, ela lançava a lebre, e o caso era excessivamente grave para ficar ali resolvido. Os leitores exigiam esclarecimentos.

Na segunda-feira, dia 24, o i faz manchete em papel com uma investigação que “aponta para um número de mortes muito superior ao anunciado pelo governo” e cita diversas fontes. Mais de 80, dizem uns. Pelo menos 95, dizem outros. 73 foi o número assumido pelo jornal, confirmado através da lista de Isabel Monteiro. Já não estava em causa a questão do critério para considerar “mortes diretas.” Entre estes 7 novos casos, garantia o i, havia quem tivesse morrido diretamente por força do fogo. O que aparentava ser grave acabava de se tornar gravíssimo. A partir daqui, vários órgãos republicaram a notícia, dando-lhe cobertura e difusão. A TVI decidiu entrevistar a fonte, que recusou a obrigação de fornecer as provas de que dispõe à investigação criminal em curso.

Nesta mesma noite, no Jornal da Noite, numa infografia cuja pertinência acabou por ser muito discutida, a SIC apurou que a lista da empresária continha várias imprecisões, como nomes repetidos, e reafirmou a notícia do Expresso: 64 mortes diretas. 1 morte indireta. Acrescentou ainda a possibilidade de se considerar um novo caso, de uma pessoa que veio a morrer um mês depois, vítima de pneumonia. Bernardo Ferrão, subdirector da estação, dirigindo-se ao governo, pede que “não atirem areia para os olhos.” “Esclareçam tudo. O erro foi não o terem feito logo de início” – acrescentou. Henrique Raposo, no Expresso, defende que “ocultar o número de mortos de Pedrógão para assim não prejudicar a imagem do Governo e da proteção civil já está para além da amoralidade maquiavélica da política.” Exige a queda do governo.

Na terça-feira de manhã, dia 25, o jornal i noticia que a lista já contava apenas com 69 nomes, excluindo assim as imprecisões entretanto detectadas.

Ao final desse dia, a Procuradoria-Geral da República lançou um comunicado onde divulga a lista oficial de vítimas do incêndio de Pedrógão Grande e onde confirma as imprecisões na lista de Isabel Monteiro, que entretanto circulou: “Da análise dos elementos recolhidos apurou-se a existência de diversas imprecisões quanto à identificação das pessoas indicadas na referida lista, bem como repetição de nomes em, pelo menos, seis situações”. 64. É este o número de mortos que constam na investigação ao Incêndio.

Na sua edição de hoje, a direção do i passa estranhamente ao lado do comunicado do Ministério Público. Não contesta. Não reafirma as suas diferentes versões de segunda e terça. Também não corrige. Não pede desculpa aos leitores. E decide dar um sentido curioso ao comunicado: “Ministério Público cede à pressão política.” – ignorando que a pressão era, fundamentalmente, mediática. Ignorando que essa pressão mediática tinha como um dos atores principais o próprio i. Desresponsabilizando-se e afastando-se de um caso onde esteve envolvido desde início.

Já o Expresso opta pelo auto-elogio e entende que o comunicado “confirma todas as informações reveladas” pela edição de sábado. Mas como podem considerar que o Ministério Público dá razão à sua versão quando o comunicado diz, literalmente, que “no âmbito deste inquérito [ao incêndio de Pedrógão Grande] foram identificadas, até ao momento, 64 vítimas mortais.” Não há uma contradição entre “foram identificadas 64 vítimas mortais” e “lista de 64 exclui vítimas”, como dizia a manchete de sábado? Tal como o jornal i, o Expresso também atribui à pressão política (neste caso, mais concretamente, ao PSD) a responsabilidade da divulgação do MP.

No fim de tudo isto, e no sentido de clarificar o caos que se viveu nos últimos dias, as atenções voltam-se para Isabel Monteiro, a empresária a quem parte da imprensa atribuiu, aparentemente, uma credibilidade excessiva, num caso sensível e que merecia ser abordado de forma especialmente cuidada. Diversas informações têm vindo a surgir que poderiam ter afectado a idoneidade da fonte. Elas não foram atendidas pelo jornal i e pela TVI, por exemplo. Mas será o Expresso uma exceção?

Não sabemos. Sabemos apenas que, apesar de ter optado por nunca citar diretamente a empresária Isabel Monteiro e de não assumir a fonte, o Expresso tê-la-á ouvido e considerado no processo de investigação. Poucas horas depois de o jornal estar nas bancas, às 9:25 da manhã, Isabel Monteiro usa o seu facebook pessoal para agradecer à jornalista Christiana Martins, primeira autora da notícia, “por ter acreditado.”

Expresso e i disseram que faltavam nomes à lista de 64. Outros órgãos deram cobertura à mesma tese. Agora, depois de alguns dias agitados e com uma lista oficial publicada, é preciso que a imprensa responda categoricamente às questões que ela própria levantou: Que nomes faltam a estes 64 nomes agora apresentados pelo Ministério Púbico? O Governo ocultou ou não ocultou nomes da lista de vítimas que constam da investigação ao incêndio?

Face ao silêncio e às omissões de alguns órgãos, que agora optam por deixar cair o assunto que criaram, parece que as conclusões, mais uma vez, têm de ficar a cargo dos leitores. Se o que se passou nos últimos dias é informação, em que é que esta difere da confusão?

J.Manuel Cordeiro » blog Aventar

https://aventar.eu

***

Porquê? Porque ele adora

Passos testa em Loures as hipóteses de um Geert Wilders português.

Em 2011, Passos apresentou-se a eleições com um discurso por muitos considerado novo e fresco: ia acabar com a preguiça, com a dependência do Estado, com a intromissão do Estado na Economia, com as gorduras do Estado, com a ditadura do ensino público e da saúde pública e demais “frescuras” que, a par com mentiras descaradas como a não necessidade de cortar salários nem pensões face a um pedido de resgate por ele desejado, apesar da situação financeira nacional bem conhecida, convenceu demasiados incautos a votarem nele. Acresceu a esta estratégia o desgaste do adversário através da campanha ad hominem mais agressiva de que há memória, aqui com a ajuda dos amigos do CDS e da Justiça. Pois bem, ganhou. Manteve depois, no governo, a linguagem acusatória da preguiça (esquecendo e fazendo demasiada gente esquecer que ele próprio é um exemplo de chupismo que o deveria manter tímido, no mínimo, no desafio aos portugueses para que se desenvencilhassem, trabalhando mais, de preferência indo embora). Enfim. Quanto ao Estado na economia, viram-se e veem-se cada vez mais os extraordinários benefícios para os clientes das vendas que fez das maiores empresas e o parco contributo dessas vendas para a resolução dos problemas financeiros do país. As gorduras foram afinal um colossal aumento de impostos. Além disso, por alegadamente não querer saber dos bancos (sendo ele o Estado), nem dos privados nem do público, passou várias pesadas facturas aos portugueses cujo interesse dizia defender.

Foi corrido por intermédio de uma coligação adversa, aliás nunca por cá vista, que só mesmo um grande descalabro governativo como o amargamente constatado conseguiria pôr de pé e manter.

Mas continua por aí, o Passos.

Acusado, e bem, de ser, uns dias, zombie, outros dias uma triste Cassandra agoirenta ou um decadente profeta da desgraça, descobriu na recente tragédia dos incêndios e na vetustez comprovada das instalações militares (que pelos vistos desconhecia) uma poção energética milagrosa e bebeu-a, andando desde então a falar mais do que seria sempre aconselhável, pois não é raro estender-se ao comprido com frases incompreensíveis, grotescas, popularucho-atamancadas ou simplesmente mentirosas e falhadas. E a coisa andava assim. Pseudo-aguerrida a direita, mas triste como sempre.

Mas eis que entra em cena André Ventura, o candidato à Câmara de Loures. André Ventura representa a nova frescura por que Passos desesperava. É a sua fuga para a frente. Onde Cristas viu um potencial criador de ódios e problemas com vantagens políticas duvidosas, retirando-se, Passos viu um provocador corajoso, populista até mais não, mas que, falando melhor do que ele (parece que tem mais estudos), é talvez capaz de lhe abrir um caminho de oportunidade.

O raciocínio deve ser o seguinte: Ventura começa pelos ciganos (tema que não interessa assim tanto, pois são poucos e há sempre uma maneira airosa de o artista recuar um pouco), faz-se notado, Passos adora, dá-lhe o seu total apoio (no fundo, é o seu ídolo, o seu balão de oxigénio) e rapidamente ali está um aliado para ressuscitar o discurso dos preguiçosos, o único que conhece, mas que lamentavelmente nunca dirige a si mesmo. Muito em breve lá virão todos os subsídio-dependentes, os funcionários públicos e etc. Ventura é bem capaz de dizer o que nem o Passos ousa. Aliás, já começou: acusou António Costa de se imiscuir na campanha de um candidato autárquico, quando na realidade Costa o que fez foi acusar Passos Coelho de apoiar candidatos racistas. Impante com o sucesso junto das hordas passistas, Ventura aconselhou Costa a ir-se embora. Como é possível Passos não o adorar? Como seria possível retirar-lhe o apoio? Ventura é o seu alter-ego mais refinado e ousado.

O holandês lá acima referido não se deu particularmente bem nas últimas eleições com o seu discurso xenófobo e de incitamento ao ódio, o que é de assinalar tendo em conta o peso da imigração muçulmana nos Países Baixos. Por cá, exceptuando os ciganos, há as pessoas de origem africana, que ninguém ousará, penso eu, ofender. Não vejo, pois, que desenvolvimentos ou alvos poderá vir a ter este tipo de discurso. Mas, a nível nacional, Passos, para cujo peditório já demos, pode aproveitar o Ventura para criar uma extrema-direita toda fresca e acompanhar assim os tempos. É a única saída que lhe resta. Uma fuga em frente para fora do PSD. Ou será que o PSD acha tudo isto muito fresco e também adora?

Penélope, in Blog AspirinaB

http://aspirinab.com/

*

“Quem está cansado é um desistente e não um combatente e um criativo como ele (António Costa), que colocou o problema que havia acontecido em Tancos no seu devido lugar…”.

Carlos César, líder parlamentar do PS e empregador público de toda a família, em entrevista ao Expresso de 22.07.2017, pág. 9.

Ora aí está, por vezes até lhe foge a língua para a verdade.

Mas eu até diria mais: além de criativo, um prestidigitador e ilusionista, que pôs os chefes militares a verem sucata no que antes afirmavam como material bélico.

Pinho Cardão » blog Quarta República

http://quartarepublica.blogspot.pt/

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O que se passou nos últimos dias apresenta todos os contornos de uma campanha orquestrada entre comunicação social e políticos. A página dos truques faz a resenha, que aqui fica para memória futura. Creio não errar ao afirmar estarmos perante o mais rasca lixo humano, político e jornalístico a que assistimos na política pós-25 de Abril. Faltou referir o episódio do suicídio, bem como o patético ultimato do líder para lamentar do PSD e a sua vanglória pelos resultados (?) alcançados. Merece esta gente um lugar no Parlamento? Eu acho que não.

A cobertura mediática da tragédia de Pedrógão Grande foi logo desde o início bastante discutida. Câmaras a captar testemunhos sem filtro e em momentos inapropriados, diretos ao lado de cadáveres, drones que sobrevoavam a (rapidamente denominada) ‘Estrada da Morte’, o estranhíssimo caso do correspondente do El Mundo – Sebastião Pereira, a não-queda do Canadair… No fundo, um espetáculo intenso e com uma carga emocional invulgar, que se traduziu inevitavelmente em notícias com contornos que até agora desconhecíamos.

Poderíamos dizer, em resumo, que para além de toda a tragédia de Pedrógão Grande, este foi, também, um laboratório com alguns dos maiores desafios contemporâneos que a imprensa tradicional enfrenta: perante a turbilhão informativo do twitter, perante os lives do facebook, perante o acesso franco do público à opinião de inúmeros especialistas e “especialistas”, perante as fontes e as “fontes” que surgiam, ainda mais, de todo o lado…

Ao longo das últimas semanas, têm sido diversas as reflexões produzidas em torno do sucedido e as opiniões são mais ou menos convergentes num ponto: houve jornalistas e órgãos que tiveram prestações exemplares (demos aqui o exemplo de José António Pereira, da RTP) e houve quem tivesse reagido com grande dificuldade. Houve casos de aproveitamento explícito, especulação, propagação de notícias falsas e sensacionalismo.

Mais de um mês depois, quando já tudo parecia ter assentado, a polémica reacendeu, desta vez em torno do número de mortos do incêndio. É certo que desde 24 de Junho víamos este assunto aflorado nas redes sociais, através de muitos apontamentos individuais que sugeriam “isto e aquilo” com elevado grau de certeza, mas reduzido grau de credibilidade. Foi, no entanto, no passado sábado, 23 de Julho, que o caso ganhou outra robustez. O Expresso fez manchete com “Lista de 64 mortos exclui vítimas de Pedrógão” e estava prometido um escândalo com proporções inimagináveis.

Já aqui falámos, no próprio dia da publicação do jornal, de como este título planta a dúvida em relação ao número de vítimas, sem apresentar depois factos que confirmem a afirmação que faz. O Expresso diz na primeira página que o número era superior no plural, mas na própria peça menciona apenas mais um caso no singular, que não sendo considerado como “morte direta”, acabaria por nem pertencer à lista. Depois, afirmava que se tratava de uma lista “que o governo não queria divulgar”, sendo que ela pertencia ao Ministério Público e, estando sob segredo de justiça, era apenas ao próprio Ministério Público que cabia a possibilidade de a tornar pública. Por fim, ignorava que os critérios que determinavam os conceitos de “morte direta” e “morte indireta” eram oficiais e muito anteriores à tragédia.

“Durante semanas, o Expresso vasculhou o terreno, confrontou nomes e locais e foi construindo, passo a passo, uma lista própria e que acabou por ser confirmada como idêntica à oficial.” – Entre a manchete, o título da notícia e o seu conteúdo há uma contradição nos termos, explícita para qualquer leitor.

É esta a primeira vez que os rumores de semanas ganham forma de notícia, e logo através de um dos jornais mais lidos do país.

No mesmo dia, o jornal i lança no online uma notícia de última hora: “Incêndios. Empresária contou mais de 80 mortos em Pedrógão Grande”. Segundo a notícia, uma empresária de Lisboa, Isabel Monteiro, fez uma lista provisória com os nomes das vítimas a fim de criar um memorial de homenagem. A lista contava com mais de 80 nomes e, segundo contou ao i, o número podia ainda ser muito superior. A empresária tinha 73 vítimas mortais confirmadas pelas famílias, com nomes, moradas e local da morte.

O caso ganhava densidade à medida que outros órgãos juntavam fontes aparentemente novas e diversas à suspeita lançada pela manchete do Expresso. Mesmo considerando que essa manchete era posta em causa pela própria notícia, ela lançava a lebre, e o caso era excessivamente grave para ficar ali resolvido. Os leitores exigiam esclarecimentos.

Na segunda-feira, dia 24, o i faz manchete em papel com uma investigação que “aponta para um número de mortes muito superior ao anunciado pelo governo” e cita diversas fontes. Mais de 80, dizem uns. Pelo menos 95, dizem outros. 73 foi o número assumido pelo jornal, confirmado através da lista de Isabel Monteiro. Já não estava em causa a questão do critério para considerar “mortes diretas.” Entre estes 7 novos casos, garantia o i, havia quem tivesse morrido diretamente por força do fogo. O que aparentava ser grave acabava de se tornar gravíssimo. A partir daqui, vários órgãos republicaram a notícia, dando-lhe cobertura e difusão. A TVI decidiu entrevistar a fonte, que recusou a obrigação de fornecer as provas de que dispõe à investigação criminal em curso.

Nesta mesma noite, no Jornal da Noite, numa infografia cuja pertinência acabou por ser muito discutida, a SIC apurou que a lista da empresária continha várias imprecisões, como nomes repetidos, e reafirmou a notícia do Expresso: 64 mortes diretas. 1 morte indireta. Acrescentou ainda a possibilidade de se considerar um novo caso, de uma pessoa que veio a morrer um mês depois, vítima de pneumonia. Bernardo Ferrão, subdirector da estação, dirigindo-se ao governo, pede que “não atirem areia para os olhos.” “Esclareçam tudo. O erro foi não o terem feito logo de início” – acrescentou. Henrique Raposo, no Expresso, defende que “ocultar o número de mortos de Pedrógão para assim não prejudicar a imagem do Governo e da proteção civil já está para além da amoralidade maquiavélica da política.” Exige a queda do governo.

Na terça-feira de manhã, dia 25, o jornal i noticia que a lista já contava apenas com 69 nomes, excluindo assim as imprecisões entretanto detectadas.

Ao final desse dia, a Procuradoria-Geral da República lançou um comunicado onde divulga a lista oficial de vítimas do incêndio de Pedrógão Grande e onde confirma as imprecisões na lista de Isabel Monteiro, que entretanto circulou: “Da análise dos elementos recolhidos apurou-se a existência de diversas imprecisões quanto à identificação das pessoas indicadas na referida lista, bem como repetição de nomes em, pelo menos, seis situações”. 64. É este o número de mortos que constam na investigação ao Incêndio.

Na sua edição de hoje, a direção do i passa estranhamente ao lado do comunicado do Ministério Público. Não contesta. Não reafirma as suas diferentes versões de segunda e terça. Também não corrige. Não pede desculpa aos leitores. E decide dar um sentido curioso ao comunicado: “Ministério Público cede à pressão política.” – ignorando que a pressão era, fundamentalmente, mediática. Ignorando que essa pressão mediática tinha como um dos atores principais o próprio i. Desresponsabilizando-se e afastando-se de um caso onde esteve envolvido desde início.

Já o Expresso opta pelo auto-elogio e entende que o comunicado “confirma todas as informações reveladas” pela edição de sábado. Mas como podem considerar que o Ministério Público dá razão à sua versão quando o comunicado diz, literalmente, que “no âmbito deste inquérito [ao incêndio de Pedrógão Grande] foram identificadas, até ao momento, 64 vítimas mortais.” Não há uma contradição entre “foram identificadas 64 vítimas mortais” e “lista de 64 exclui vítimas”, como dizia a manchete de sábado? Tal como o jornal i, o Expresso também atribui à pressão política (neste caso, mais concretamente, ao PSD) a responsabilidade da divulgação do MP.

No fim de tudo isto, e no sentido de clarificar o caos que se viveu nos últimos dias, as atenções voltam-se para Isabel Monteiro, a empresária a quem parte da imprensa atribuiu, aparentemente, uma credibilidade excessiva, num caso sensível e que merecia ser abordado de forma especialmente cuidada. Diversas informações têm vindo a surgir que poderiam ter afectado a idoneidade da fonte. Elas não foram atendidas pelo jornal i e pela TVI, por exemplo. Mas será o Expresso uma exceção?

Não sabemos. Sabemos apenas que, apesar de ter optado por nunca citar diretamente a empresária Isabel Monteiro e de não assumir a fonte, o Expresso tê-la-á ouvido e considerado no processo de investigação. Poucas horas depois de o jornal estar nas bancas, às 9:25 da manhã, Isabel Monteiro usa o seu facebook pessoal para agradecer à jornalista Christiana Martins, primeira autora da notícia, “por ter acreditado.”

Expresso e i disseram que faltavam nomes à lista de 64. Outros órgãos deram cobertura à mesma tese. Agora, depois de alguns dias agitados e com uma lista oficial publicada, é preciso que a imprensa responda categoricamente às questões que ela própria levantou: Que nomes faltam a estes 64 nomes agora apresentados pelo Ministério Púbico? O Governo ocultou ou não ocultou nomes da lista de vítimas que constam da investigação ao incêndio?

Face ao silêncio e às omissões de alguns órgãos, que agora optam por deixar cair o assunto que criaram, parece que as conclusões, mais uma vez, têm de ficar a cargo dos leitores. Se o que se passou nos últimos dias é informação, em que é que esta difere da confusão?

J.Manuel Cordeiro » blog Aventar

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