Ministra da Saúde (e candidata) debate na universidade contra pequenos e segundas linhas

25-09-2019
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Para um debate que começou pelo escritor Alexandre Herculano e a ausência de desejo, não faltou vontade a nenhum dos intervenientes. “Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer”, citou Pedro Santos, um dos responsáveis pelo encontro que juntou seis dos candidatos às próximas eleições legislativas na Universidade de Coimbra. PS, PSD, CDU, Aliança, Iniciativa Liberal e Chega! fizeram-se representar num evento dirigido por e para estudantes, e que partiu da pergunta que lhes anda sempre colada à pele: “Abstenção, és tu?”

“Entristece-me que acusem os jovens de não se interessarem e depois não apareçam quando são chamados”, lamenta o mesmo Pedro Santos, presidente do Núcleo de Estudantes de Gestão da Associação Académica de Coimbra, que teve a ideia em maio, depois das eleições europeias, e demorou meses a pô-la em prática. “Todos os partidos alegam problemas de agenda”, como os ausentes CDS e PAN. O outro faltoso de peso, o Bloco de Esquerda, recusou fazer parte desta mesa “por causa de outros candidatos”, adianta Pedro. Nem o facto de o cabeça de lista do partido pelo círculo de Coimbra ser professor desta mesma Faculdade de Economia foi suficiente. José Manuel Pureza dá aulas noutro núcleo, o de Relações Internacionais, e foi o único deputado eleito pelo Bloco em Coimbra nas eleições de há quatro anos. Ficou fora deste debate, que teve assim dois candidatos à esquerda e quatro à direita. “Convidamos toda a gente, não recusamos ninguém, nem temos preferências”, reforça Santos.

“Eu queria dizer que a saúde em Portugal é extraordinária”, disse André Ventura, líder do Chega!. Mas querer nem sempre é poder. “O caos que se vive na saúde provavelmente não tem paralelo na Europa”, acentuou Ventura, dirigindo-se diretamente à ministra da pasta, Marta Temido. Sentada à direita de Ventura, a responsável do Governo pela Saúde queria que a tratassem como candidata (que é, pelo PS em Coimbra), e não como governante (que também é, como ministra). Queria, mas não conseguiu. “O atual Governo fez-se com um discurso de mudar a página, mas não mudou nada. É um discurso cor de rosa”, como a cor do partido que Fátima Ramos acusa. “O PS fala em devoluções, mas à custa de quê? De falta de investimento”, insiste a candidata, quarta na lista do PSD na mesma cidade (Mónica Quintela, número um da lista social-democrata foi a anunciada, mas também não compareceu). Fátima Ramos queria ver um país com “melhores salários”, mas quer sobretudo que os jovens votem. “Não querer saber é o mais fácil.”

O que não é tão fácil é saber de que é que os jovens querem saber. Admitindo que política não é tema de conversa entre eles, Pedro Santos e Jorge Rocha, este último vice-presidente do mesmo núcleo, acreditam no poder dos debates nas universidades. Recordam a enchente no encontro subordinado ao tema “Brasil: e agora?”, logo após a eleição de Jair Bolsonaro como Presidente do país, em outubro do ano passado. Ou o encontro sobre canábis, que Carlos Guimarães Pinto também recorda — “estava cá mais gente”, atira o líder da Iniciativa Liberal e cabeça de lista pelo círculo do Porto. Os responsáveis também queriam ter o auditório cheio, mas dos pouco mais de 200 lugares disponíveis, estavam cerca de “120, 130 ocupados”, arrisca Jorge.

No debate, Guimarães Pinto insistiu na ideia de que “Portugal está estagnado há 20 anos” e que “há uma geração inteira que não sabe o que é um aumento de salário”. O líder da Iniciativa Liberal foi à história: à sua e à do país. “Antigamente havia em Portugal uma coisa chamada novos-ricos. Hoje só há novos pobres. E uma geração que não acredita em subir na vida através do trabalho. Tenho 36 anos, essa é a minha geração.” É a mesma geração de outro homem na mesa. André Ventura também nasceu em 1983 e já sabe qual é a primeira proposta que vai fazer se chegar ao Parlamento: reduzir o número de deputados. “Se, na altura dos trabalhos, ligássemos o canal Parlamento a esta hora”, e são agora perto de 17h, “quantos deputados lá estariam?”. O auditório da Faculdade de Economia tem duas televisões, ambas desligadas. Já o Parlamento tem lugar para 230 deputados, nove eleitos por Coimbra. Em 2015, foram o já citado Pureza, pelo BE, e os outros oito divididos irmãmente entre PS (4) e PSD (4).

Guimarães Pinto quer diferente para as próximas gerações e tem um plano: “O liberalismo funciona”, disse e repetiu. Menos Estado e menos “preconceito em relação aos liberais”, no que foi secundado pelo adversário à sua esquerda (fisicamente), João Navega, cabeça de lista do Aliança em Coimbra. “Os partidos novos surgiram porque as nomenclaturas se fecham sobre si próprias e porque a legislação não beneficia o contacto [entre elas e a população]”. O candidato disse que “não há que ter medo de dizer que o Aliança é um partido de direita” e que defende valores que, naquela plateia, “podem soar antiquados: pátria e identidade nacional”, por exemplo. Navega sugeriu que os jovens sejam trabalhadores e estudantes ao mesmo tempo, porque o trabalho “e a participação cívica abrem fronteiras”.

À esquerda (ideologicamente), Marta Temido e Manuel Pires da Rocha, cabeça de lista da CDU na cidade, tiveram de se defender. A primeira, do legado de quatro anos de Governo PS, apoiado pela esquerda da qual o segundo faz parte. Pires da Rocha por causa do “longo inverno soviético” e dos “100 milhões de mortos do comunismo”. O candidato da CDU respondeu: “Podemos fazer um debate só sobre comunismo, mas os comunistas portugueses deram a vida para todos poderem votar.” Numa plateia nascida perto do início do século, houve mais do que um recuo a 1974. “Foi quando eu nasci e apanhei reflexos da grande alegria que se vivia no país após o 25 de abril”, lembrou Marta Temido. Outros tempos, quando, não muito longe dali, a conimbricense “andava no jardim escola e já se ouvia falar de eleições”. Pedro Santos sabe que hoje não é assim, mas acredita que, pelo menos aqueles 120 ou 130 jovens, não vão engrossar os números da abstenção e que, só por isso, já valeu a pena organizar um debate.

Para um debate que começou pelo escritor Alexandre Herculano e a ausência de desejo, não faltou vontade a nenhum dos intervenientes. “Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer”, citou Pedro Santos, um dos responsáveis pelo encontro que juntou seis dos candidatos às próximas eleições legislativas na Universidade de Coimbra. PS, PSD, CDU, Aliança, Iniciativa Liberal e Chega! fizeram-se representar num evento dirigido por e para estudantes, e que partiu da pergunta que lhes anda sempre colada à pele: “Abstenção, és tu?”

“Entristece-me que acusem os jovens de não se interessarem e depois não apareçam quando são chamados”, lamenta o mesmo Pedro Santos, presidente do Núcleo de Estudantes de Gestão da Associação Académica de Coimbra, que teve a ideia em maio, depois das eleições europeias, e demorou meses a pô-la em prática. “Todos os partidos alegam problemas de agenda”, como os ausentes CDS e PAN. O outro faltoso de peso, o Bloco de Esquerda, recusou fazer parte desta mesa “por causa de outros candidatos”, adianta Pedro. Nem o facto de o cabeça de lista do partido pelo círculo de Coimbra ser professor desta mesma Faculdade de Economia foi suficiente. José Manuel Pureza dá aulas noutro núcleo, o de Relações Internacionais, e foi o único deputado eleito pelo Bloco em Coimbra nas eleições de há quatro anos. Ficou fora deste debate, que teve assim dois candidatos à esquerda e quatro à direita. “Convidamos toda a gente, não recusamos ninguém, nem temos preferências”, reforça Santos.

“Eu queria dizer que a saúde em Portugal é extraordinária”, disse André Ventura, líder do Chega!. Mas querer nem sempre é poder. “O caos que se vive na saúde provavelmente não tem paralelo na Europa”, acentuou Ventura, dirigindo-se diretamente à ministra da pasta, Marta Temido. Sentada à direita de Ventura, a responsável do Governo pela Saúde queria que a tratassem como candidata (que é, pelo PS em Coimbra), e não como governante (que também é, como ministra). Queria, mas não conseguiu. “O atual Governo fez-se com um discurso de mudar a página, mas não mudou nada. É um discurso cor de rosa”, como a cor do partido que Fátima Ramos acusa. “O PS fala em devoluções, mas à custa de quê? De falta de investimento”, insiste a candidata, quarta na lista do PSD na mesma cidade (Mónica Quintela, número um da lista social-democrata foi a anunciada, mas também não compareceu). Fátima Ramos queria ver um país com “melhores salários”, mas quer sobretudo que os jovens votem. “Não querer saber é o mais fácil.”

O que não é tão fácil é saber de que é que os jovens querem saber. Admitindo que política não é tema de conversa entre eles, Pedro Santos e Jorge Rocha, este último vice-presidente do mesmo núcleo, acreditam no poder dos debates nas universidades. Recordam a enchente no encontro subordinado ao tema “Brasil: e agora?”, logo após a eleição de Jair Bolsonaro como Presidente do país, em outubro do ano passado. Ou o encontro sobre canábis, que Carlos Guimarães Pinto também recorda — “estava cá mais gente”, atira o líder da Iniciativa Liberal e cabeça de lista pelo círculo do Porto. Os responsáveis também queriam ter o auditório cheio, mas dos pouco mais de 200 lugares disponíveis, estavam cerca de “120, 130 ocupados”, arrisca Jorge.

No debate, Guimarães Pinto insistiu na ideia de que “Portugal está estagnado há 20 anos” e que “há uma geração inteira que não sabe o que é um aumento de salário”. O líder da Iniciativa Liberal foi à história: à sua e à do país. “Antigamente havia em Portugal uma coisa chamada novos-ricos. Hoje só há novos pobres. E uma geração que não acredita em subir na vida através do trabalho. Tenho 36 anos, essa é a minha geração.” É a mesma geração de outro homem na mesa. André Ventura também nasceu em 1983 e já sabe qual é a primeira proposta que vai fazer se chegar ao Parlamento: reduzir o número de deputados. “Se, na altura dos trabalhos, ligássemos o canal Parlamento a esta hora”, e são agora perto de 17h, “quantos deputados lá estariam?”. O auditório da Faculdade de Economia tem duas televisões, ambas desligadas. Já o Parlamento tem lugar para 230 deputados, nove eleitos por Coimbra. Em 2015, foram o já citado Pureza, pelo BE, e os outros oito divididos irmãmente entre PS (4) e PSD (4).

Guimarães Pinto quer diferente para as próximas gerações e tem um plano: “O liberalismo funciona”, disse e repetiu. Menos Estado e menos “preconceito em relação aos liberais”, no que foi secundado pelo adversário à sua esquerda (fisicamente), João Navega, cabeça de lista do Aliança em Coimbra. “Os partidos novos surgiram porque as nomenclaturas se fecham sobre si próprias e porque a legislação não beneficia o contacto [entre elas e a população]”. O candidato disse que “não há que ter medo de dizer que o Aliança é um partido de direita” e que defende valores que, naquela plateia, “podem soar antiquados: pátria e identidade nacional”, por exemplo. Navega sugeriu que os jovens sejam trabalhadores e estudantes ao mesmo tempo, porque o trabalho “e a participação cívica abrem fronteiras”.

À esquerda (ideologicamente), Marta Temido e Manuel Pires da Rocha, cabeça de lista da CDU na cidade, tiveram de se defender. A primeira, do legado de quatro anos de Governo PS, apoiado pela esquerda da qual o segundo faz parte. Pires da Rocha por causa do “longo inverno soviético” e dos “100 milhões de mortos do comunismo”. O candidato da CDU respondeu: “Podemos fazer um debate só sobre comunismo, mas os comunistas portugueses deram a vida para todos poderem votar.” Numa plateia nascida perto do início do século, houve mais do que um recuo a 1974. “Foi quando eu nasci e apanhei reflexos da grande alegria que se vivia no país após o 25 de abril”, lembrou Marta Temido. Outros tempos, quando, não muito longe dali, a conimbricense “andava no jardim escola e já se ouvia falar de eleições”. Pedro Santos sabe que hoje não é assim, mas acredita que, pelo menos aqueles 120 ou 130 jovens, não vão engrossar os números da abstenção e que, só por isso, já valeu a pena organizar um debate.

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