"Assim, sim." Rio partilha tweet com estudo sobre racismo, mas continua em silêncio sobre ameaças

08-09-2020
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"Se quiserem discutir o racismo a sério, ou seja, para além dos acontecimentos e agendas, leiam primeiro o mais recente trabalho do Tiago Santos que é das investigações mais honestas que têm sido feitas em Portugal sobre o racismo", escreveu Justino. "Assim, sim", comentou o líder do PSD.

Enquanto todos os partidos condenaram as ameaças racistas que visaram deputadas e ativistas, Rui Rio remeteu-se ao silêncio. Apesar de se encontrar de férias no Minho, o líder social-democrata já fez uma pausa para comentar, na rede social Twitter, o novo contrato polémico do Novo Banco ou a lotação da "Festa do Avante!". Sem comentar o caso da vigília de extrema-direita, o líder do PSD limitou-se a partilhar na sua conta um post do seu vice-presidente David Justino, a recomendar a leitura de um estudo sobre racismo.

Contactada pelo Expresso esta sexta-feira (antes de o tweet ser publicado), a assessoria de Rio explicou que não havia nada a comentar, uma vez que o "Ministério Público está a investigar o caso".

Do mais próximos de Rui Rio, quem reagiu mais cedo à parada racista, logo no dia 11 de agosto, foi o vice da bancada parlamentar André Coelho Lima: "Mas o que vem a ser isto!??", escreveu, também no Twitter. "Porventura Portugal agora é um país intolerante a outra raças?? Após séculos de História a demonstrar o contrário?? Não se transforme o meu país em algo que ele nunca foi e - já agora - se se querem manifestar por algo, assumam-no! Aqui pode-se!!" E também o deputado Duarte Marques, que falou à TSF num caso que é "uma ameaça inadmissível" e um "caso de polícia, além de revelar uma grande cobardia". Segundo este ex-líder da JSD, "os partidos políticos e os portugueses devem estar todos ao lado das pessoas que estão ameaçadas".

O estudo partilhado por Rui Rio, não permite, no entanto, perceber o que pensa o líder do PSD da vigília da extrema-direita contra o SOS Racismo ou das ameaças às deputadas e ativistas. Na conclusão do estudo de Tiago Santos, membro do Observatório das Migrações - citado pelo vice-presidente do PSD - define-se o perfil das camadas sociais com mais tendência para o racismo, ou seja, será um fenómeno não estrutural como Rio defende: "Coisa vocalizada sobretudo de pessoas mais velhas, pobres, pouco educadas, isoladas nas margens das grandes cidades, e avessas à mudança. Numa palavra, o perfil assim revelado corresponde ao das pessoas que no referendo realizado no Reino Unido a 23 de junho de 2016 votaram a favor do Brexit". Para Tiago Santos, o racismo "é um aspeto parcelar de um todo mais abrangente" e cita Plauto e a "regra segundo a qual 'um homem é um lobo, não um homem, para outro homem que ele ainda não conheceu'", e a seguir remata: "Mas o pessimismo antropológico, como vimos, vai de par com o racismo, pelo que é melhor não irmos por aí".

Quem ontem não ignorou este silêncio foi a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), que disse que este caso deve envergonhar quem admite dialogar com outras forças que "normalizam criminosos". Sem mencionar inicialmente o nome de Rui Rio, Catarina Martins referia-se ao líder do PSD que não fecha a porta a acordos com o Chega.

"Tenho reparado nos últimos tempos que houve responsáveis políticos que acharam que podiam ser complacentes com o crime e normalizar o crime. Quem atenta contra os Direitos Humanos é criminoso e, portanto, sim. Este é um caso de polícia e só envergonha as pessoas que na política tentaram normalizar criminosos", declarou esta sexta-feira Catarina Martins à margem de uma reunião com trabalhadores da Ryanair no Porto.

Perante a insistência dos jornalistas, a coordenadora do Bloco sublinhou que se estava a referir àqueles que "acham que podem dialogar com forças que apelam ao ódio ou à violência ou que usam intimidação como arma política. Julgo que haverá agora no PSD quem se arrependa do que tem vindo a dizer e a normalizar até agora."

Catarina Martins disse, contudo, acreditar que Rui Rio – que nega a existência de racismo estrutural no país à semelhança de André Ventura ou do PCP – não teria "perceção do que estava a acontecer", não acreditando que fosse "complacente com o crime".

Partidos unânimes na condenação às ameaças

O PAN repudiou de imediato as ameaças racistas a deputadas e ativistas e pediu uma "punição exemplar" a todos os responsáveis. Numa reação a pedido do Expresso, o partido liderado por André Silva manifestou a sua "total solidariedade" para com todos os alvos destas ameaças e apelou às autoridades competentes para garantirem a sua segurança.

"Não podemos tolerar que por via do medo se tente o silenciamento de titulares de cargos políticos, de ativistas, de partidos políticos e de associações que atuem no respeito pela Constituição e pelas regras do jogo democrático", afirma o PAN.

Também o PCP condenou a manifestação que ocorreu no sábado junto à sede da associação SOS Racismo, em Lisboa, assim como as ameaças de que foram alvo deputadas e ativistas. E apelou à “intervenção firme” no combate à intolerância e ao racismo. "A ação fascizante que se desenvolve há anos, que tem no racismo uma expressão, é hoje inseparável da promoção dada a forças reacionárias e populistas", afirmou ao Expresso fonte oficial do PCP.

Para os comunistas, a situação exige uma "intervenção determinada e firme de combate à intolerância e às ações de confronto com valores e princípios democráticos e com a própria Constituição da República”.

Do lado do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu que os grupos de extrema-direita com as suas agendas racistas e xenófobas “não podem ser tolerados” no país e lamentou ainda que recentemente alguns partidos tenham tentado normalizar “discursos bárbaros”, em linha com Catarina Martins. “O resultado está à vista”, observou o líder centrista.

"Uns e outros, que instrumentalizam estes fenómenos para sua afirmação, apesar de representarem uma franja ultraminoritária da nossa sociedade, devem ser corajosamente reprimidos e censurados", insistiu.

Também o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo manifestou “solidariedade” para com as deputadas que foram alvo de ameaças e pediu celeridade na investigação.

Nem mesmo André Ventura deixou de comentar o caso. Inicialmente desvalorizou as ameaças às três deputadas, afirmando que quando ele ou o seu partido são ameaçados ninguém se preocupa. "Quando são estes coitadinhos, toda a gente chora e grita. Miserável país!", escreveu o líder do Chega no Twitter. Mas depois, recuou e, em declarações à Lusa, disse que todas as ameaças dirigidas a deputados ou outros agentes políticos "merecem a mais viva reprovação" do Chega,"tenham ou não teor racista".

Em causa está o email que foi enviado a três deputadas e a mais sete ativistas e dirigentes de associações antirracistas: Danilo Moreira, Mamadou Ba, Jonathan Costa, Rita Osório, Vasco Santos, Luís Lisboa e Melissa Rodrigues em que a "Nova Ordem de Avis - Resistência Nacional" fez ameaças diretas aos visados e aos seus familiares.

A mensagem referia que os visados teriam 48 horas para abandonar o país e que agosto será "o mês do reerguer nacionalista". O caso já está a ser investigado pelo Ministério Público.

Notícia atualizada com a informação sobre o post de André Coelho Lima às 12h20 e depois com as declarações de Duarte Marques.

"Se quiserem discutir o racismo a sério, ou seja, para além dos acontecimentos e agendas, leiam primeiro o mais recente trabalho do Tiago Santos que é das investigações mais honestas que têm sido feitas em Portugal sobre o racismo", escreveu Justino. "Assim, sim", comentou o líder do PSD.

Enquanto todos os partidos condenaram as ameaças racistas que visaram deputadas e ativistas, Rui Rio remeteu-se ao silêncio. Apesar de se encontrar de férias no Minho, o líder social-democrata já fez uma pausa para comentar, na rede social Twitter, o novo contrato polémico do Novo Banco ou a lotação da "Festa do Avante!". Sem comentar o caso da vigília de extrema-direita, o líder do PSD limitou-se a partilhar na sua conta um post do seu vice-presidente David Justino, a recomendar a leitura de um estudo sobre racismo.

Contactada pelo Expresso esta sexta-feira (antes de o tweet ser publicado), a assessoria de Rio explicou que não havia nada a comentar, uma vez que o "Ministério Público está a investigar o caso".

Do mais próximos de Rui Rio, quem reagiu mais cedo à parada racista, logo no dia 11 de agosto, foi o vice da bancada parlamentar André Coelho Lima: "Mas o que vem a ser isto!??", escreveu, também no Twitter. "Porventura Portugal agora é um país intolerante a outra raças?? Após séculos de História a demonstrar o contrário?? Não se transforme o meu país em algo que ele nunca foi e - já agora - se se querem manifestar por algo, assumam-no! Aqui pode-se!!" E também o deputado Duarte Marques, que falou à TSF num caso que é "uma ameaça inadmissível" e um "caso de polícia, além de revelar uma grande cobardia". Segundo este ex-líder da JSD, "os partidos políticos e os portugueses devem estar todos ao lado das pessoas que estão ameaçadas".

O estudo partilhado por Rui Rio, não permite, no entanto, perceber o que pensa o líder do PSD da vigília da extrema-direita contra o SOS Racismo ou das ameaças às deputadas e ativistas. Na conclusão do estudo de Tiago Santos, membro do Observatório das Migrações - citado pelo vice-presidente do PSD - define-se o perfil das camadas sociais com mais tendência para o racismo, ou seja, será um fenómeno não estrutural como Rio defende: "Coisa vocalizada sobretudo de pessoas mais velhas, pobres, pouco educadas, isoladas nas margens das grandes cidades, e avessas à mudança. Numa palavra, o perfil assim revelado corresponde ao das pessoas que no referendo realizado no Reino Unido a 23 de junho de 2016 votaram a favor do Brexit". Para Tiago Santos, o racismo "é um aspeto parcelar de um todo mais abrangente" e cita Plauto e a "regra segundo a qual 'um homem é um lobo, não um homem, para outro homem que ele ainda não conheceu'", e a seguir remata: "Mas o pessimismo antropológico, como vimos, vai de par com o racismo, pelo que é melhor não irmos por aí".

Quem ontem não ignorou este silêncio foi a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), que disse que este caso deve envergonhar quem admite dialogar com outras forças que "normalizam criminosos". Sem mencionar inicialmente o nome de Rui Rio, Catarina Martins referia-se ao líder do PSD que não fecha a porta a acordos com o Chega.

"Tenho reparado nos últimos tempos que houve responsáveis políticos que acharam que podiam ser complacentes com o crime e normalizar o crime. Quem atenta contra os Direitos Humanos é criminoso e, portanto, sim. Este é um caso de polícia e só envergonha as pessoas que na política tentaram normalizar criminosos", declarou esta sexta-feira Catarina Martins à margem de uma reunião com trabalhadores da Ryanair no Porto.

Perante a insistência dos jornalistas, a coordenadora do Bloco sublinhou que se estava a referir àqueles que "acham que podem dialogar com forças que apelam ao ódio ou à violência ou que usam intimidação como arma política. Julgo que haverá agora no PSD quem se arrependa do que tem vindo a dizer e a normalizar até agora."

Catarina Martins disse, contudo, acreditar que Rui Rio – que nega a existência de racismo estrutural no país à semelhança de André Ventura ou do PCP – não teria "perceção do que estava a acontecer", não acreditando que fosse "complacente com o crime".

Partidos unânimes na condenação às ameaças

O PAN repudiou de imediato as ameaças racistas a deputadas e ativistas e pediu uma "punição exemplar" a todos os responsáveis. Numa reação a pedido do Expresso, o partido liderado por André Silva manifestou a sua "total solidariedade" para com todos os alvos destas ameaças e apelou às autoridades competentes para garantirem a sua segurança.

"Não podemos tolerar que por via do medo se tente o silenciamento de titulares de cargos políticos, de ativistas, de partidos políticos e de associações que atuem no respeito pela Constituição e pelas regras do jogo democrático", afirma o PAN.

Também o PCP condenou a manifestação que ocorreu no sábado junto à sede da associação SOS Racismo, em Lisboa, assim como as ameaças de que foram alvo deputadas e ativistas. E apelou à “intervenção firme” no combate à intolerância e ao racismo. "A ação fascizante que se desenvolve há anos, que tem no racismo uma expressão, é hoje inseparável da promoção dada a forças reacionárias e populistas", afirmou ao Expresso fonte oficial do PCP.

Para os comunistas, a situação exige uma "intervenção determinada e firme de combate à intolerância e às ações de confronto com valores e princípios democráticos e com a própria Constituição da República”.

Do lado do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu que os grupos de extrema-direita com as suas agendas racistas e xenófobas “não podem ser tolerados” no país e lamentou ainda que recentemente alguns partidos tenham tentado normalizar “discursos bárbaros”, em linha com Catarina Martins. “O resultado está à vista”, observou o líder centrista.

"Uns e outros, que instrumentalizam estes fenómenos para sua afirmação, apesar de representarem uma franja ultraminoritária da nossa sociedade, devem ser corajosamente reprimidos e censurados", insistiu.

Também o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo manifestou “solidariedade” para com as deputadas que foram alvo de ameaças e pediu celeridade na investigação.

Nem mesmo André Ventura deixou de comentar o caso. Inicialmente desvalorizou as ameaças às três deputadas, afirmando que quando ele ou o seu partido são ameaçados ninguém se preocupa. "Quando são estes coitadinhos, toda a gente chora e grita. Miserável país!", escreveu o líder do Chega no Twitter. Mas depois, recuou e, em declarações à Lusa, disse que todas as ameaças dirigidas a deputados ou outros agentes políticos "merecem a mais viva reprovação" do Chega,"tenham ou não teor racista".

Em causa está o email que foi enviado a três deputadas e a mais sete ativistas e dirigentes de associações antirracistas: Danilo Moreira, Mamadou Ba, Jonathan Costa, Rita Osório, Vasco Santos, Luís Lisboa e Melissa Rodrigues em que a "Nova Ordem de Avis - Resistência Nacional" fez ameaças diretas aos visados e aos seus familiares.

A mensagem referia que os visados teriam 48 horas para abandonar o país e que agosto será "o mês do reerguer nacionalista". O caso já está a ser investigado pelo Ministério Público.

Notícia atualizada com a informação sobre o post de André Coelho Lima às 12h20 e depois com as declarações de Duarte Marques.

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