Refúgios de Felicidade: Coisas dos outros

04-09-2019
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Os outros dizem para mudar o corte de cabelo, ir para o ginásio, sair à noite, vestir roupa colorida, ver filmes, telefonar sempre que quiser, aparecer para jantar, comprar tralha, ver montras, mudar os quadros de parede e a mesa de lugar.
Os outros repetem que vai passar, que o tempo trata de tudo, que daqui a um ano já nem me lembro de nada, que não vale a pena, que eu não mereço, que não tem sentido, que é irreal, que é em vão.
Os outros mandam ir ao médico, comer mais, dormir cedo, falar a verdade, não ligar, rir mesmo sem vontade, olhar para o lado, olhar para a frente, pensar no meu filho, pensar só em mim, pensar menos, não pensar sequer.
Os outros acreditam que é uma fase, uma mania, uma teimosia, uma ideia, uma doença, uma crise, uma invenção.
Os outros dão ideias, fazem sugestões, convidam, insistem, incentivam, desvalorizam, dão as respostas certas, dão as mesmas respostas três vezes, listam tudo o que tenho, fazem avisos, pesam o que há e o que falta numa balança viciada.
Os outros acham que devo esquecer, passar à frente, não repetir asneiras, olhar para o lado bom das coisas, acreditar em mim, ver bem como sou, ser mais assim e menos assado, ouvir bem o que dizem, o que repetem, as ordens que dão e tudo o que acham.

Mas isso são os outros e não sou eu.

Ilustração - André Neves

Os outros dizem para mudar o corte de cabelo, ir para o ginásio, sair à noite, vestir roupa colorida, ver filmes, telefonar sempre que quiser, aparecer para jantar, comprar tralha, ver montras, mudar os quadros de parede e a mesa de lugar.
Os outros repetem que vai passar, que o tempo trata de tudo, que daqui a um ano já nem me lembro de nada, que não vale a pena, que eu não mereço, que não tem sentido, que é irreal, que é em vão.
Os outros mandam ir ao médico, comer mais, dormir cedo, falar a verdade, não ligar, rir mesmo sem vontade, olhar para o lado, olhar para a frente, pensar no meu filho, pensar só em mim, pensar menos, não pensar sequer.
Os outros acreditam que é uma fase, uma mania, uma teimosia, uma ideia, uma doença, uma crise, uma invenção.
Os outros dão ideias, fazem sugestões, convidam, insistem, incentivam, desvalorizam, dão as respostas certas, dão as mesmas respostas três vezes, listam tudo o que tenho, fazem avisos, pesam o que há e o que falta numa balança viciada.
Os outros acham que devo esquecer, passar à frente, não repetir asneiras, olhar para o lado bom das coisas, acreditar em mim, ver bem como sou, ser mais assim e menos assado, ouvir bem o que dizem, o que repetem, as ordens que dão e tudo o que acham.

Mas isso são os outros e não sou eu.

Ilustração - André Neves

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