Novo Parlamento. Um regresso, três estreias e a saia que tornou o dia menos maçador

27-10-2019
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Rui Rio. O regresso à casa da democracia Não foi uma estreia, mas o regresso após uma prolongada ausência: esta sexta-feira foi o dia de Rui Rio voltar a percorrer os corredores do Parlamento, 18 anos depois de ter deixado o cargo de deputado. “É mais ou menos como da primeira vez”, resumiu simplesmente ao chegar à sala do grupo parlamentar social-democrata. Com uma diferença assinalável: desta feita, não só é presidente do partido como pretende acumular a função com a liderança da bancada parlamentar até março, data do próximo congresso (depois não, porque “ambos [os cargos] têm tanto que fazer que não dá para ser só uma pessoa”). Uma oportunidade para controlar uma das maiores frentes de incêndio do início do seu mandato: “É evidente que um dos maiores problemas que eu tive foi a bancada”, reconheceu. Com uma bancada mais do que renovada - e varrida de críticos -, espera agora “lealdade” e “consonância” com a direção do partido.

TIAGO MIRANDA

As explicações de Rio foram dadas à chegada enquanto ao seu lado esperava Fernando Negrão, o homem que liderou a bancada nesses tempos conturbados… e que será agora substituído pelo presidente. Da sala social-democrata, Rio seguiu para o hemiciclo, onde fez questão de cumprimentar Ferro Rodrigues - que ao subir à mesa para presidir à sessão recebeu aplausos de muito poucos sociais-democratas, Rio incluído -, Ana Catarina Mendes, Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins. Ao sentar-se na Sala das Sessões, no lugar a partir do qual interrogará o primeiro-ministro durante os debates quinzenais, Rio ficou separado apenas por um assento de André Silva, que com a eleição de um grupo parlamentar ganhou direito a honras de primeira fila e que ao início da sessão celebrava a novidade tirando selfies com a líder da recém-criada bancada do PAN, Inês Sousa Real. Como será a relação de Rio com os outros partidos, agora que terá uma maior proximidade com todos, a partir do Parlamento? “Do ponto de vista pessoal não tenho problemas com ninguém, desde que sejam pessoas educadas”, rematou, antes de se encaminhar para o Salão Nobre, onde fez a sua ‘matrícula’ no Parlamento - quase duas décadas depois, foi preciso atualizar dados biográficos, registos de interesses, declarações de património e tirar fotografias novas. André Ventura. Afinal, não foi assim tão mau O líder e deputado único do Chega fez um filme completo à político em dia de tomada de posse. Com uma agenda pré-definida, começou o dia a ir à Igreja, aquela que frequentava quando era estudante, acompanhado pela mulher, que esteve com o comentador desportivo durante todo o dia e foi, inclusive, com ele ao Parlamento. André Ventura era só um, mas arrastava uma legião de jornalistas atrás de si enquanto passava pelos Passos Perdidos.

TIAGO MIRANDA

O que fez com que o caminho, desde a sala de acolhimento até ao seu gabinete, fosse longo de fazer. É que o jurista e comentador da CMTV parava de três em três metros. Ora era para cumprimentar conhecidos (esteve uns minutos à conversa com Constança Urbano de Sousa, do PS, e em amena cavaqueira com André Pinotes Batista, também do PS e também comentador da CMTV). Ora era para entrar em direto nas rádios e nas televisões, ora era para dar declarações "exclusivas" aos jornalistas a explicar as ideias para o país e os projetos de lei que pretende apresentar. Era André Ventura em versão estadista. E logo ali, nos Passos Perdidos, depois dos primeiros minutos no Parlamento como deputado, o líder do Chega viu que, afinal, eram infudados os receios de ser mal recebido que tinha demonstrado de manhã, ao sair da Igreja. "Não sei se terei muito apoio hoje", comentou quando o Expresso lhe perguntou se levava claque de apoio. Na tomada de posse, estavam além da mulher e de dirigentes do Chega, muitos amigos e apoiantes. O mais conhecido da comitiva era Hugo Ernano, o militar da GNR condenado por matar um adolescente durante uma perseguição policial em 2008 e escolhido para número um pelo Porto. "Daqui a quatro anos podem construir um portão", comentou um dos dirigentes do Chega sobre o facto de a AR ponderar mandar fazer uma porta extra para André Ventura entrar no hemiciclo sem ter de obrigar os centristas a levantarem-se. Uma das imagens do dia foi, precisamente, a sua entrada para a bancada que até ontem era exclusiva do CDS. André Ventura entrou, atrasado porque esteve a falar com apoiantes, e obrigou a centrista Ana Rita Bessa a levantar-se para o deixar sentar. E, como bom conhecedor de televisão que é, André Ventura saboreou o momento. "É ridículo os políticos estarem-se a preocupar com essas coisas", lá foi dizendo pelos corredores sempre que o questionavam pelo lugar (e questionaram-no muita vez). Joacine Katar Moreira. A saia (quase) tomou conta dos media Uma mega-operação mediática rodeou o "momento histórico" em que o Livre ganhou um lugar no Parlamento. Joacine Katar Moreira saiu de casa, nos Anjos, em Lisboa, acompanhada por um jornalista. À chegada à creche onde deixou a filha de 3 anos, recebeu um novo orgão de comunicação social e, outro ainda, quando entrou no Metro que a levou até próximo do Parlamento. Ainda não tinha entrado na Assembleia da República e já tinha dado três entrevistas, fora as que se seguiram ao longo de toda a manhã parlamentar (e foram muitas). A pausa mediática só aconteceu logo após o fim da (curta) sessão de abertura do hemiciclo e para que a deputada do Livre tivesse as honras de uma visita às instalações, seguida de pequeno-almoço, dada pelo secretário geral da Assembleia da República.

TIAGO MIRANDA

Joacine é uma estrela que o Parlamento fez questão de tratar nas palminhas. Até porque, à partida, era um 'jackpot' de interesse jornalístico: a primeira negra eleita como cabeça de lista, para mais vinda de um partido nunca visto no Parlamento, feminista radical e gaga em último grau, só podia ter os olhos todos postos nela. Mas Joacine acrescentou motivos para captar as atenções. Ou para as multiplicar. Rafael Martins, o assessor principal da deputada, acompanhou-a sempre formalmente vestido em tons de cinzento, só que de saia de pregas a toda a volta. Pediu autorização e Joacine até tinha optado por uma solução mais radical: uma saia mais exuberante, em tom de azul metálico, que o assessor preferiu deixar para outras ocasiões. O impacto visual da dupla foi óbvio e marcou grande parte das conversas de corredor. "Visto-me assim", disse Rafael ao Expresso. Doutorando em Literatura pela Universidade de Oxford, habituou-se a que a diferença faz parte da vida. "Em Londres é normal". Em São Bento se verá. João Cotrim Figueredo. O ano letivo vai começar É mais ou menos como o primeiro dia de aulas. Foi assim que o deputado eleito pela Iniciativa Liberal descreveu o seu estado de espírito esta sexta-feira no arranque dos trabalhos na Assembleia da República. Pouco antes da hora marcada, João Cotrim Figueiredo chegou ao Parlamento, acompanhado por Rodrigo Saraiva, responsável pela comunicação e fundador do partido, com a naturalidade que é própria de quem participou em audições parlamentares enquanto presidente do conselho diretivo do Turismo de Portugal, e já visitou o espaço. Mas faltava-lhe conhecer os cantos à casa. “Estou mais curioso do que nervoso e com as expectativas elevadas para esta legislatura. Isto é quase como o arranque do ano letivo, é tudo novo”, confessou ao Expresso o deputado da Iniciativa Liberal, que conquistou a 6 de outubro um lugar no Parlamento na primeira vez em que concorreu às eleições legislativas.

TIAGO MIRANDA

Rui Rio. O regresso à casa da democracia Não foi uma estreia, mas o regresso após uma prolongada ausência: esta sexta-feira foi o dia de Rui Rio voltar a percorrer os corredores do Parlamento, 18 anos depois de ter deixado o cargo de deputado. “É mais ou menos como da primeira vez”, resumiu simplesmente ao chegar à sala do grupo parlamentar social-democrata. Com uma diferença assinalável: desta feita, não só é presidente do partido como pretende acumular a função com a liderança da bancada parlamentar até março, data do próximo congresso (depois não, porque “ambos [os cargos] têm tanto que fazer que não dá para ser só uma pessoa”). Uma oportunidade para controlar uma das maiores frentes de incêndio do início do seu mandato: “É evidente que um dos maiores problemas que eu tive foi a bancada”, reconheceu. Com uma bancada mais do que renovada - e varrida de críticos -, espera agora “lealdade” e “consonância” com a direção do partido.

TIAGO MIRANDA

As explicações de Rio foram dadas à chegada enquanto ao seu lado esperava Fernando Negrão, o homem que liderou a bancada nesses tempos conturbados… e que será agora substituído pelo presidente. Da sala social-democrata, Rio seguiu para o hemiciclo, onde fez questão de cumprimentar Ferro Rodrigues - que ao subir à mesa para presidir à sessão recebeu aplausos de muito poucos sociais-democratas, Rio incluído -, Ana Catarina Mendes, Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins. Ao sentar-se na Sala das Sessões, no lugar a partir do qual interrogará o primeiro-ministro durante os debates quinzenais, Rio ficou separado apenas por um assento de André Silva, que com a eleição de um grupo parlamentar ganhou direito a honras de primeira fila e que ao início da sessão celebrava a novidade tirando selfies com a líder da recém-criada bancada do PAN, Inês Sousa Real. Como será a relação de Rio com os outros partidos, agora que terá uma maior proximidade com todos, a partir do Parlamento? “Do ponto de vista pessoal não tenho problemas com ninguém, desde que sejam pessoas educadas”, rematou, antes de se encaminhar para o Salão Nobre, onde fez a sua ‘matrícula’ no Parlamento - quase duas décadas depois, foi preciso atualizar dados biográficos, registos de interesses, declarações de património e tirar fotografias novas. André Ventura. Afinal, não foi assim tão mau O líder e deputado único do Chega fez um filme completo à político em dia de tomada de posse. Com uma agenda pré-definida, começou o dia a ir à Igreja, aquela que frequentava quando era estudante, acompanhado pela mulher, que esteve com o comentador desportivo durante todo o dia e foi, inclusive, com ele ao Parlamento. André Ventura era só um, mas arrastava uma legião de jornalistas atrás de si enquanto passava pelos Passos Perdidos.

TIAGO MIRANDA

O que fez com que o caminho, desde a sala de acolhimento até ao seu gabinete, fosse longo de fazer. É que o jurista e comentador da CMTV parava de três em três metros. Ora era para cumprimentar conhecidos (esteve uns minutos à conversa com Constança Urbano de Sousa, do PS, e em amena cavaqueira com André Pinotes Batista, também do PS e também comentador da CMTV). Ora era para entrar em direto nas rádios e nas televisões, ora era para dar declarações "exclusivas" aos jornalistas a explicar as ideias para o país e os projetos de lei que pretende apresentar. Era André Ventura em versão estadista. E logo ali, nos Passos Perdidos, depois dos primeiros minutos no Parlamento como deputado, o líder do Chega viu que, afinal, eram infudados os receios de ser mal recebido que tinha demonstrado de manhã, ao sair da Igreja. "Não sei se terei muito apoio hoje", comentou quando o Expresso lhe perguntou se levava claque de apoio. Na tomada de posse, estavam além da mulher e de dirigentes do Chega, muitos amigos e apoiantes. O mais conhecido da comitiva era Hugo Ernano, o militar da GNR condenado por matar um adolescente durante uma perseguição policial em 2008 e escolhido para número um pelo Porto. "Daqui a quatro anos podem construir um portão", comentou um dos dirigentes do Chega sobre o facto de a AR ponderar mandar fazer uma porta extra para André Ventura entrar no hemiciclo sem ter de obrigar os centristas a levantarem-se. Uma das imagens do dia foi, precisamente, a sua entrada para a bancada que até ontem era exclusiva do CDS. André Ventura entrou, atrasado porque esteve a falar com apoiantes, e obrigou a centrista Ana Rita Bessa a levantar-se para o deixar sentar. E, como bom conhecedor de televisão que é, André Ventura saboreou o momento. "É ridículo os políticos estarem-se a preocupar com essas coisas", lá foi dizendo pelos corredores sempre que o questionavam pelo lugar (e questionaram-no muita vez). Joacine Katar Moreira. A saia (quase) tomou conta dos media Uma mega-operação mediática rodeou o "momento histórico" em que o Livre ganhou um lugar no Parlamento. Joacine Katar Moreira saiu de casa, nos Anjos, em Lisboa, acompanhada por um jornalista. À chegada à creche onde deixou a filha de 3 anos, recebeu um novo orgão de comunicação social e, outro ainda, quando entrou no Metro que a levou até próximo do Parlamento. Ainda não tinha entrado na Assembleia da República e já tinha dado três entrevistas, fora as que se seguiram ao longo de toda a manhã parlamentar (e foram muitas). A pausa mediática só aconteceu logo após o fim da (curta) sessão de abertura do hemiciclo e para que a deputada do Livre tivesse as honras de uma visita às instalações, seguida de pequeno-almoço, dada pelo secretário geral da Assembleia da República.

TIAGO MIRANDA

Joacine é uma estrela que o Parlamento fez questão de tratar nas palminhas. Até porque, à partida, era um 'jackpot' de interesse jornalístico: a primeira negra eleita como cabeça de lista, para mais vinda de um partido nunca visto no Parlamento, feminista radical e gaga em último grau, só podia ter os olhos todos postos nela. Mas Joacine acrescentou motivos para captar as atenções. Ou para as multiplicar. Rafael Martins, o assessor principal da deputada, acompanhou-a sempre formalmente vestido em tons de cinzento, só que de saia de pregas a toda a volta. Pediu autorização e Joacine até tinha optado por uma solução mais radical: uma saia mais exuberante, em tom de azul metálico, que o assessor preferiu deixar para outras ocasiões. O impacto visual da dupla foi óbvio e marcou grande parte das conversas de corredor. "Visto-me assim", disse Rafael ao Expresso. Doutorando em Literatura pela Universidade de Oxford, habituou-se a que a diferença faz parte da vida. "Em Londres é normal". Em São Bento se verá. João Cotrim Figueredo. O ano letivo vai começar É mais ou menos como o primeiro dia de aulas. Foi assim que o deputado eleito pela Iniciativa Liberal descreveu o seu estado de espírito esta sexta-feira no arranque dos trabalhos na Assembleia da República. Pouco antes da hora marcada, João Cotrim Figueiredo chegou ao Parlamento, acompanhado por Rodrigo Saraiva, responsável pela comunicação e fundador do partido, com a naturalidade que é própria de quem participou em audições parlamentares enquanto presidente do conselho diretivo do Turismo de Portugal, e já visitou o espaço. Mas faltava-lhe conhecer os cantos à casa. “Estou mais curioso do que nervoso e com as expectativas elevadas para esta legislatura. Isto é quase como o arranque do ano letivo, é tudo novo”, confessou ao Expresso o deputado da Iniciativa Liberal, que conquistou a 6 de outubro um lugar no Parlamento na primeira vez em que concorreu às eleições legislativas.

TIAGO MIRANDA

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