Um governo à lupa

17-10-2019
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Mas alguém esperava que houvesse uma revolução completa no Governo apresentado por António Costa? O partido do governo não é o mesmo? O primeiro-ministro não é o mesmo? Os resultados eleitorais não justificam a continuidade? É evidente que o pretexto eleitoral forneceu a António Costa a oportunidade para uma significativa remodelação – mas nada mais do que isso e, sobretudo, nada no sentido em que os observadores esperavam – leia-se a substituição de ministros como Tiago Brandão Rodrigues, Educação, ou Marta Themido, Saúde. Já lá iremos.

As novidades orgânicas

Pedro Siza Vieira sobe a n.º 2 do Governo, ultrapassando Augusto Santos Silva e deixando Mário Centeno onde estava. Porquê? Em primeiro lugar, porque é um elemento da total confiança, pessoal e política, o primeiro-ministro. Aliás, os problemas de eventuais incompatibilidades para o exercício do cargo de ministro, que afetaram, ao início, este amigo pessoal de Costa, foram, não por acaso, entregues ao juízo da PGR, cujo veredito o “absolveu”. Com a presidência da União Europeia prevista para daqui a pouco tempo, ele substituirá, nas funções mais quotidianas do plano interno, o próprio António Costa, sendo o chefe do Governo de facto. E não poderia ser de outra maneira: Augusto Santos Silva e Mário Centeno – se este ainda for ministro… – também estarão muito envolvidos nessa presidência e Mariana Vieira da Silva, o 4.º elemento com o estatuto de ministra de Estado, é demasiado nova. Siza Vieira, que nunca foi político, acaba de se tornar, assim, um verdadeiro vice-primeiro-ministro. E as suas funções – Economia e Transição Digital – passam, portanto, a ser prioritárias na legislatura, em detrimento, por exemplo, das Finanças Públicas, que parecem estar em velocidade de cruzeiro.

As novidades em estreia

Entre os cinco ministros estreantes há quatro mulheres. O reforço da paridade é uma clara intenção de António Costa, mas entre estas mulheres há uma “mais igual do que as outras”: chama-se Alexandra Leitão e fica em 8.º lugar – acima do meio da tabela… – na hierarquia governamental. Combativa, academicamente preparada, uma espécie de furacão a entrar por dentro dos meandros da Administração Pública, cuja tutela “rouba” a Mário Centeno. Elogiada, há vários anos, quando prestou provas de mestrado, por Marcelo Rebelo de Sousa, como “um talento promissor”, estava como secretária de Estado da Educação e foi a má da fita das negociações com os professores. A sua ascensão é um aviso de António Costa a toda a Administração Pública, que exaspera por descongelamentos de carreiras…

O nome de guerra de Ana Abrunhosa esconde os apelidos Trigueiros de Aragão, com origem no clã dos condes da Idanha. Mas a sua presença no Governo está longe de corresponder a uma espécie de quota aristocrática no Executivo socialista… Parte com a “glória” de liderar o único ministério cuja criação recebeu o elogio do PSD: o da Coesão Territorial. Ex-presidente da CCDR do centro, cargo que agora abandona, esteve no olho do furacão das polémicas da reconstrução das casas ardidas nos incêndios de Pedrogão. Com pensamento próprio – nem sempre consensual… – sobre os problemas da interioridade, Ana Abrunhosa é uma garantia de polémica e, espera-se, de competência. Já Ana Mendes Godinho, a campeã dos prémios de turismo conquistados por Portugal – foram-no durante o seu consulado como secretária de Estado do setor – leva uma grande promoção, ao substituir o peso-pesado Vieira da Silva, no Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Numa análise mais fina, tal pasta não surpreende. Afinal, é a sua área profissional. Já a ribatejana (abrantina) Maria do Céu Albuquerque, com origens familiares ligadas à ruralidade, pode ser a maior incógnita do Governo. A Ricardo Serrão Santos, o único homem dos(as) governantes estreantes, bastar-lhe-á dar continuidade ao razoável lugar desempenhado por Ana Paula Vitorino.

Os recados às corporações

O sinal de não cedência às corporações – ou, pelo menos, a “estas” corporações… – está na manutenção de Tiago Brandão Rodrigues, na Educação e de Marta Themido na Saúde. Os primeiros destinatários são os professores e os enfermeiros. Só há uma interpretação – para além da avaliação positiva que o chefe de Governo possa fazer, relativamente ao trabalho destes dois fiéis colaboradores: a substituição de qualquer deles seria imediatamente reivindicada pelos sindicatos como uma vitória. E os seus substitutos, portanto, entrariam condicionados à partida. Bem analisado, a verdade é que António Costa não tinha outro remédio senão mantê-los…

Duas notas finais: os parentescos à mesa do Conselho de Ministros deixaram de se verificar. Ana Paula Vitorino, ex-ministra do Mar e mulher de Eduardo Cabrita (Administração Interna) foi a principal sacrificada – Vieira da Silva, pai de Mariana Vieira da Silva, há muito tinha anunciado a sua “reforma”. Noutro aspeto, este Governo vai ter de ser excecional, se quiser que os portugueses relevem o facto de ser o mais extenso desde 1976, o que dá sempre azo a conversas sobre “tachos e tachinhos”… No plano do simbolismo, Costa deu um mau sinal.

Mas alguém esperava que houvesse uma revolução completa no Governo apresentado por António Costa? O partido do governo não é o mesmo? O primeiro-ministro não é o mesmo? Os resultados eleitorais não justificam a continuidade? É evidente que o pretexto eleitoral forneceu a António Costa a oportunidade para uma significativa remodelação – mas nada mais do que isso e, sobretudo, nada no sentido em que os observadores esperavam – leia-se a substituição de ministros como Tiago Brandão Rodrigues, Educação, ou Marta Themido, Saúde. Já lá iremos.

As novidades orgânicas

Pedro Siza Vieira sobe a n.º 2 do Governo, ultrapassando Augusto Santos Silva e deixando Mário Centeno onde estava. Porquê? Em primeiro lugar, porque é um elemento da total confiança, pessoal e política, o primeiro-ministro. Aliás, os problemas de eventuais incompatibilidades para o exercício do cargo de ministro, que afetaram, ao início, este amigo pessoal de Costa, foram, não por acaso, entregues ao juízo da PGR, cujo veredito o “absolveu”. Com a presidência da União Europeia prevista para daqui a pouco tempo, ele substituirá, nas funções mais quotidianas do plano interno, o próprio António Costa, sendo o chefe do Governo de facto. E não poderia ser de outra maneira: Augusto Santos Silva e Mário Centeno – se este ainda for ministro… – também estarão muito envolvidos nessa presidência e Mariana Vieira da Silva, o 4.º elemento com o estatuto de ministra de Estado, é demasiado nova. Siza Vieira, que nunca foi político, acaba de se tornar, assim, um verdadeiro vice-primeiro-ministro. E as suas funções – Economia e Transição Digital – passam, portanto, a ser prioritárias na legislatura, em detrimento, por exemplo, das Finanças Públicas, que parecem estar em velocidade de cruzeiro.

As novidades em estreia

Entre os cinco ministros estreantes há quatro mulheres. O reforço da paridade é uma clara intenção de António Costa, mas entre estas mulheres há uma “mais igual do que as outras”: chama-se Alexandra Leitão e fica em 8.º lugar – acima do meio da tabela… – na hierarquia governamental. Combativa, academicamente preparada, uma espécie de furacão a entrar por dentro dos meandros da Administração Pública, cuja tutela “rouba” a Mário Centeno. Elogiada, há vários anos, quando prestou provas de mestrado, por Marcelo Rebelo de Sousa, como “um talento promissor”, estava como secretária de Estado da Educação e foi a má da fita das negociações com os professores. A sua ascensão é um aviso de António Costa a toda a Administração Pública, que exaspera por descongelamentos de carreiras…

O nome de guerra de Ana Abrunhosa esconde os apelidos Trigueiros de Aragão, com origem no clã dos condes da Idanha. Mas a sua presença no Governo está longe de corresponder a uma espécie de quota aristocrática no Executivo socialista… Parte com a “glória” de liderar o único ministério cuja criação recebeu o elogio do PSD: o da Coesão Territorial. Ex-presidente da CCDR do centro, cargo que agora abandona, esteve no olho do furacão das polémicas da reconstrução das casas ardidas nos incêndios de Pedrogão. Com pensamento próprio – nem sempre consensual… – sobre os problemas da interioridade, Ana Abrunhosa é uma garantia de polémica e, espera-se, de competência. Já Ana Mendes Godinho, a campeã dos prémios de turismo conquistados por Portugal – foram-no durante o seu consulado como secretária de Estado do setor – leva uma grande promoção, ao substituir o peso-pesado Vieira da Silva, no Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Numa análise mais fina, tal pasta não surpreende. Afinal, é a sua área profissional. Já a ribatejana (abrantina) Maria do Céu Albuquerque, com origens familiares ligadas à ruralidade, pode ser a maior incógnita do Governo. A Ricardo Serrão Santos, o único homem dos(as) governantes estreantes, bastar-lhe-á dar continuidade ao razoável lugar desempenhado por Ana Paula Vitorino.

Os recados às corporações

O sinal de não cedência às corporações – ou, pelo menos, a “estas” corporações… – está na manutenção de Tiago Brandão Rodrigues, na Educação e de Marta Themido na Saúde. Os primeiros destinatários são os professores e os enfermeiros. Só há uma interpretação – para além da avaliação positiva que o chefe de Governo possa fazer, relativamente ao trabalho destes dois fiéis colaboradores: a substituição de qualquer deles seria imediatamente reivindicada pelos sindicatos como uma vitória. E os seus substitutos, portanto, entrariam condicionados à partida. Bem analisado, a verdade é que António Costa não tinha outro remédio senão mantê-los…

Duas notas finais: os parentescos à mesa do Conselho de Ministros deixaram de se verificar. Ana Paula Vitorino, ex-ministra do Mar e mulher de Eduardo Cabrita (Administração Interna) foi a principal sacrificada – Vieira da Silva, pai de Mariana Vieira da Silva, há muito tinha anunciado a sua “reforma”. Noutro aspeto, este Governo vai ter de ser excecional, se quiser que os portugueses relevem o facto de ser o mais extenso desde 1976, o que dá sempre azo a conversas sobre “tachos e tachinhos”… No plano do simbolismo, Costa deu um mau sinal.

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