momentos: Continuamos em diferido

09-10-2019
marcar artigo


A educação e as políticas educativas adoptadas pelos governos de Carlos César e José Sócrates executadas por protagonistas que, quer num caso, quer noutro, foram substituídos no início das presentes legislaturas procurando induzir a ideia de uma mudança de paradigma. Houve quem acreditasse que sim e tivesse concedido um período probatório, também conhecido por estado de graça, a Lina Mendes e Isabel Alçada mas, cedo se verificou que afinal nada tinha mudado. A operação foi de simples cosmética pois nem a esfíngica Secretária nem a finória Ministra possuem requisitos intrínsecos para se afirmarem dentro dos governos onde regras são impostas pelos “chefe” e, se os anteriores titulares da pasta da Educação, na Região e na República, eram possuidores de forte personalidade – num caso afável e aparentemente dialogante, noutro granítica e incapaz de cogitar estratégias que, ao menos se parecessem como uma espécie de diálogo com os seus interlocutores -; personalidade que lhes permitiu construir imagens junto da opinião pública regional e nacional de protagonistas da reforma que impuseram no sistema educativo.Lina Mendes e Isabel Alçada constituem-se, assim, como meros acessórios de governos cujas políticas educativas estão a contribuir para a perpetuação do atraso cultural e da desvalorização do papel da educação que caracteriza o povo português, herança de 48 anos de ditadura mas ainda com efeitos bem visíveis na Região, no País e na diáspora, atente-se aos estudos feitos junto das comunidades portuguesas no estrangeiro sobre os percursos escolares dos jovens descendentes de imigrantes.Se é verdade que a qualificação académica e profissional não é, por si só, suficiente para debelar os efeitos da crise em que Portugal e o Mundo mergulharam, não é menos verdade que quando falamos de emprego, ou do seu contrário, se constata que os cidadãos possuidores de maiores qualificações são os menos vulneráveis.O ano escolar iniciou-se esta semana com a renovação das críticas dos educadores e professores e dos seus sindicatos a quem cabe, por direito próprio, fazer tais pronúncias sobre o que consideram ser mais perverso no sistema educativo (regional e nacional), um direito que também assiste a qualquer cidadão.No território continental e a fazer fé nas declarações de Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, à comunicação social e cito: - "Há famílias com problemas de desemprego de um dos membros do agregado e não conseguem manter os seus filhos no ensino particular e cooperativo"; por outro lado afirma, Álvaro Almeida dos Santos presidente do Conselho de Escolas (ensino público), e passo a citar: - "Há, de facto, uma maior procura no ensino público e o que é necessário, na minha perspectiva, é estabelecer um trabalho efectivo em rede, que permita que as escolas encontrem as soluções".A realidade é que há crianças que não têm lugar em nenhuma das escolas pretendidas e há também, muitas outras, que ficaram colocadas muito longe do seu local de residência, isto tudo porque a subida na procura das escolas públicas fez esgotar as vagas.Por cá foi inaugurado o Colégio do Castanheiro, iniciativa privada considerada de elevado interesse público e, por conseguinte financiada com dinheiros públicos.Não é novidade que os efeitos positivos ou negativos que ocorrem fora da Região chegam aqui com algum atraso, isto apesar dos avanços tecnológicos que se verificam no acesso à comunicação e informação, este é apenas mais um exemplo de que continuamos em diferido.Ponta Delgada, 13 de Setembro de 2010
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de Setembro de 2010, Angra do Heroísmo


A educação e as políticas educativas adoptadas pelos governos de Carlos César e José Sócrates executadas por protagonistas que, quer num caso, quer noutro, foram substituídos no início das presentes legislaturas procurando induzir a ideia de uma mudança de paradigma. Houve quem acreditasse que sim e tivesse concedido um período probatório, também conhecido por estado de graça, a Lina Mendes e Isabel Alçada mas, cedo se verificou que afinal nada tinha mudado. A operação foi de simples cosmética pois nem a esfíngica Secretária nem a finória Ministra possuem requisitos intrínsecos para se afirmarem dentro dos governos onde regras são impostas pelos “chefe” e, se os anteriores titulares da pasta da Educação, na Região e na República, eram possuidores de forte personalidade – num caso afável e aparentemente dialogante, noutro granítica e incapaz de cogitar estratégias que, ao menos se parecessem como uma espécie de diálogo com os seus interlocutores -; personalidade que lhes permitiu construir imagens junto da opinião pública regional e nacional de protagonistas da reforma que impuseram no sistema educativo.Lina Mendes e Isabel Alçada constituem-se, assim, como meros acessórios de governos cujas políticas educativas estão a contribuir para a perpetuação do atraso cultural e da desvalorização do papel da educação que caracteriza o povo português, herança de 48 anos de ditadura mas ainda com efeitos bem visíveis na Região, no País e na diáspora, atente-se aos estudos feitos junto das comunidades portuguesas no estrangeiro sobre os percursos escolares dos jovens descendentes de imigrantes.Se é verdade que a qualificação académica e profissional não é, por si só, suficiente para debelar os efeitos da crise em que Portugal e o Mundo mergulharam, não é menos verdade que quando falamos de emprego, ou do seu contrário, se constata que os cidadãos possuidores de maiores qualificações são os menos vulneráveis.O ano escolar iniciou-se esta semana com a renovação das críticas dos educadores e professores e dos seus sindicatos a quem cabe, por direito próprio, fazer tais pronúncias sobre o que consideram ser mais perverso no sistema educativo (regional e nacional), um direito que também assiste a qualquer cidadão.No território continental e a fazer fé nas declarações de Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, à comunicação social e cito: - "Há famílias com problemas de desemprego de um dos membros do agregado e não conseguem manter os seus filhos no ensino particular e cooperativo"; por outro lado afirma, Álvaro Almeida dos Santos presidente do Conselho de Escolas (ensino público), e passo a citar: - "Há, de facto, uma maior procura no ensino público e o que é necessário, na minha perspectiva, é estabelecer um trabalho efectivo em rede, que permita que as escolas encontrem as soluções".A realidade é que há crianças que não têm lugar em nenhuma das escolas pretendidas e há também, muitas outras, que ficaram colocadas muito longe do seu local de residência, isto tudo porque a subida na procura das escolas públicas fez esgotar as vagas.Por cá foi inaugurado o Colégio do Castanheiro, iniciativa privada considerada de elevado interesse público e, por conseguinte financiada com dinheiros públicos.Não é novidade que os efeitos positivos ou negativos que ocorrem fora da Região chegam aqui com algum atraso, isto apesar dos avanços tecnológicos que se verificam no acesso à comunicação e informação, este é apenas mais um exemplo de que continuamos em diferido.Ponta Delgada, 13 de Setembro de 2010
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de Setembro de 2010, Angra do Heroísmo

marcar artigo