Diário do Porto. Pizarro: debate sobre a rutura com Moreira “terá de ser feito em altura própria”

29-09-2017
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Principais partidos fecham campanha a norte. António Costa, Passos Coelho e Catarina Martins vão estar no Porto. Pizarro começou o dia a falar da cisão com Moreira. O autarca pressionou a ERC a agir.

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Os líderes dos principais partidos subiram ao Porto para gastar os últimos cartuchos no sprint final para as autárquicas de domingo. Depois de descer o Chiado, em Lisboa, com Fernando Medina, António Costa continua com a farda de secretário-geral do PS e junta-se ao candidato socialista, Manuel Pizarro, no comício de encerramento da campanha, ao final da tarde, no Académico Futebol Clube. Pedro Passos Coelho também estará na cidade durante o dia, com Álvaro Almeida. Mas, à hora que o PS fecha a campanha no Porto, o presidente do PSD vai estar a cerca de 46 quilómetros dali, em Felgueiras, num jantar comício.

Rui Moreira começou o dia com uma arruada entre os Aliados e a Baixa do Porto e encerra a campanha com um jantar-comício no Palácio de Cristal. Catarina Martins vai à Alfândega do Porto. Mas, antes de se juntar ao encerramento de campanha de João Teixeira Lopes, a coordenadora do Bloco de Esquerda participa numa arruada que tem início marcado para a Rua de Santa Catarina. A eurodeputada Marisa Matias também vai integrar a comitiva do Bloco.

A CDU, que não contará com a presença do secretário-geral do PCP (Jerónimo de Sousa vai correr vários concelhos do distrito de Lisboa), vai juntar os elementos que estiveram consigo nos últimos meses num jantar de encerramento de campanha com todos os candidatos da CDU ao distrito, entre os quais Ilda Figueiredo, na corrida à câmara municipal. Vão estar no centro de trabalho do PCP na Boavista.

Ontem, o dia de campanha no Porto foi assim:

Passos Coelho: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto”

A frase: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto. Parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido”, disse Passos.

A (outra) frase: “Não quisemos agir na escolha do candidato do Porto com calculismo”, disse também o líder social-democrata.

O que correu mal: A organização do última dia de campanha social-democrata no Porto. Álvaro Almeida teve ao seu lado Pedro Passos Coelho e o partido apostou tudo numa visita aos Clérigos, onde o único murmúrio de encorajamento que os dois ouviram foi o de quem queria subir à Torre — murmúrio de encorajamento entre os visitantes que se queixavam, entredentes, do tempo de de espera.

O que (também) correu mal: Álvaro Almeida. O candidato do PSD percebeu (bem) que evitar a maioria absoluta de Rui Moreira seria importante para o partido. Se a estratégia é boa, a forma como a comunica, nem por isso. “[É preciso] evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, explicou. Pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

“Discreto: que tem ou denota discrição, que não chama a atenção, que revela simplicidade, que mostra comedimento, que tem cautela nas ações e afirmações, que sabe guardar um segredo ou que tem pouca intensidade”. Qualquer uma destas entradas no dicionário priberam serviria bem para descrever a passagem de Pedro Passos Coelho pelo Porto no último dia de campanha eleitoral: a visita do líder do PSD à cidade passou praticamente despercebida, limitou-se a uma visita à Torre dos Clérigos, foi comedida, cautelosa e pouco intensa. E só não ficou no segredo dos deuses graças à presença da comunicação social e dos poucos que o receberam e se cruzaram com ele.

Com Rui Moreira a acabar o dia com um jantar-comício no Palácio de Cristal, com PS a apostar tudo no Porto com a presença de António Costa no encerramento da campanha, com o Bloco a fazer desfilar ao lado de João Teixeira Lopes figuras como Catarina Martins, Francisco Louçã, Marisa Matias e Mariana Mortágua, com a CDU na rua com o aparelho comunista bem oleado, a presença de Pedro Passos Coelho ao lado de Álvaro Almeida era aguardada com grande expectativa. Mas foi só isso mesmo: expectativa.

Passos chegou ao Porto passavam sensivelmente dez minutos das 15 horas, cumprimentou a pequena comitiva que o esperava, trocou um aperto de mão e algumas palavras de circunstância com Pedro Duarte, candidato à Assembleia Municipal do Porto e possível apoiante de Rui Rio numa eventual disputa interna — “Olá, estás bom?” — reuniu-se à porta fechada com o candidato do PSD na reitoria da Universidade do Porto, daí saiu para os Clérigos, trocou umas breves palavras com o responsável, subiu à Torre, desceu, falou aos jornalistas e zarpou.

Bandeiras do PSD? Contavam-se quatro ou cinco. Militantes e simpatizantes? Talvez 30, se tanto. Onda social-democrata para receber o líder? A maré estava vaza. Não houve arruada, não houve contacto com a população, não houve gritos de “Pêê–e–Ss–Dêe”, “Pêê–e–Ss–Dêe”, não houve bombos, não houve festa, nem euforia. Só a normalidade de uma visita institucional.

Mesmo sendo já a terceira visita do líder social-democrata ao Porto, o ambiente desta última ação de campanha de Pedro Passos Coelho na cidade contrastou em absoluto com a demonstração de força de Rui Rio ao lado de Álvaro Almeida, na grande — e única — ação de rua da candidatura do PSD no Porto nestas duas semanas de campanha eleitoral. Nesse dia, o aparelho social-democrata não faltou à chamada e fez-se ouvir. Desta vez, nem por isso. Desafiado a comentar se retirava daí alguma leitura política, Passos Coelho evitou entrar em comparações.

“Não sei, não faço ideia. Não estive a fazer a comparações dessa natureza. Portanto, acho que não tenho de fazer nenhum comentário particular sobre isso”, começou por dizer Passos. Para o líder social-democrata, aliás, o reconhecimento de Rui Rio no Porto é “natural”.

“Posso, quanto muito, dizer uma coisa que já disse: Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto, exerceu esse mandato por 12 anos, deixou uma obra assinalável no Porto, parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido até por essa sua obra que teve no Porto, que nos orgulha a todos no PSD”, explicou Passos.

Quanto à escolha de Álvaro Almeida para candidato do PSD ao Porto, o ex-primeiro-ministro reiterou a posição do partido, dizendo-se seguro e confiante com a candidatura do economista.

“Estou confiante de que fizemos uma boa escolha, queria reafirmar isso aqui hoje. Reafirmar não apenas a confiança, mas a segurança, com que escolhemos Álvaro Almeida para esta eleição. Tenho a certeza que se ele vier a merecer a confiança da maioria dos eleitores do Porto, será um excelente presidente da Câmara. Não tenho dúvidas sobre isso. Essa foi a principal razão porque o escolhemos. A segunda foi porque não quisemos agir nesta matéria com nenhum calculismo. Quisemos apresentar realmente uma alternativa para o Porto”, argumentou Passos.

Nota curiosa: durante a visita à Torre dos Clérigos, Passos quedou-se numa obra em particular que retratava a traição de Judas a Jesus Cristo. “Ainda ele falava, quando apareceu Judas… O traidor tinha-lhes dado esse sinal: ‘Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o'”, podia ler-se. O líder social-democrata escusou-se a fazer qualquer comentário, não fosse alguém retirar qualquer leitura política.

Álvaro Almeida acabaria por explicar a escolha da Universidade do Porto e da Torre dos Clérigos para encerrar a campanha argumentando que aqueles eram dois dos símbolos que faziam do Porto uma cidade autêntica e única. Sobre sondagens e prognósticos, o candidato social-democrata arrumou a questão em três ideias: as sondagens valem o que valem, a coligação Porto Autêntico é a única que representa a alternativa para a cidade e as eleições de domingo vão traduzir-se num “excelente resultado” para o PSD.

“As sondagens não nos preocupam. O PSD tem uma tradição e uma história na cidade do Porto que está a acima de qualquer sondagem. Continuámos confiantes que no domingo vamos ter um excelente resultado. Esperamos uma votação muito forte, porque os portuenses sabem que só o voto no Porto Autêntico é um voto útil porque é um voto que permite evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, afirmou Álvaro Almeida. O candidato do PSD só se esqueceu de um pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

Pizarro sobre as razões da rutura com Moreira: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”

A frase: “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

O que correu bem: Começar o último dia de campanha com a abertura do bloquista João Teixeira Lopes para um possível entendimento na Câmara ajuda Pizarro, que tem apostado em passar uma imagem de conciliador e aberto ao diálogo.

A promessa: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”, disse, sobre as razões da rutura do acordo por parte de Rui Moreira.

“É preciso uma câmara que promova a natalidade”, disse bem disposto Manuel Pizarro, à porta do elevador do Centro Materno Infantil do Norte, que o próprio ajudou a lançar quando era secretário de Estado da Saúde. Já no exterior, Pizarro voltou a insistir que também é preciso uma câmara que promova o diálogo.

E o primeiro sinal de diálogo surgiu esta manhã, por parte de João Teixeira Lopes. À TSF, o candidato do Bloco de Esquerda mostrou-se disponível para um possível entendimento caso o vencedor seja o PS. “Confirma o que eu já tinha dito”, comentou Pizarro, sobre a importância de “dialogar com todos” para garantir uma governação tranquila.

Aos resultados da Eurosondagem, para o Expresso — que dão ao socialista 30,8% das intenções de voto, menos 10 pontos percentuais do que Rui Moreira, que surge com 40,8% — Pizarro reagiu com ponderação. “As sondagens valem o que valem, mas não posso deixar de destacar que ela confirma uma grande subida do PS.” Está tudo aberto para domingo, acredita.

No jantar de apoio de quinta-feira à noite, Manuel Pizarro disse uma frase que pairou na sala. Que a rutura do acordo com Rui Moreira ainda estaria por explicar. Questionado esta manhã, sorriu. “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria.”

Naquele que é o último dia de campanha eleitoral, Pizarro deverá acentuar o mais que conseguir o isolamento de Rui Moreira e a sua independência, na esperança de desviar alguns dos votos que o separam do atual autarca para si. Foi o que voltou a fazer no Centro Materno Infantil, referindo-se à presença de habituais votantes sociais-democratas no seu jantar de apoio. “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

Moreira desafia ERC a pronunciar-se sobre sondagem da Católica até abertura das urnas

A frase: “Estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas.”

A (outra) frase: “Não é possível, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes.”

O que correu bem: Rui Moreira. À medida que a campanha se aproxima do fim e que a vitória parece assegurada, o autarca está visivelmente menos tenso. Não é o mais efusivo dos candidatos, mantém o seu registo discreto, mas tem sempre uma palavra simpática para quem o aborda.

O que correu mal: As gargantas desafinadas da comitiva de Rui Moreira. Não cometeram exatamente um crime de lesa-música, mas um pozinho a mais de afinação e ficava no ponto.

Eis o último dia de campanha eleitoral. Rui Moreira aproveitou a manhã de sexta-feira para fazer uma pequena arruada desde os Aliados até à Baixa do Porto, onde encontrou um mar de gente que aproveitava os convidativos raios de sol para passear numa das zonas mais emblemáticas da cidade. O mar de gente estava lá, de facto, mas a comitiva de Rui Moreira navegou grande parte do tempo em águas internacionais: portugueses, quase nem vê-los; turistas, aos magotes e boquiabertos com aquele grupo fardado de tshirts brancas e chapéus de palha que seguia o homem de fato impecavelmente engomado.

Não faltou, ainda assim, animação. Os apoiantes de Rui Moreira fizeram a festa, lançaram os foguetes e apanharam as canas, num dia em que as sondagens são definitivamente mais risonhas e colocam o candidato independente perto da maioria absoluta. O possível empate com Manuel Pizarro parece coisa do passado e a campanha entrou, definitivamente, em modo de descompressão.

A melhor parte: ainda bem que a metáfora da pirotecnia é só isso mesmo, uma metáfora; se fosse um espetáculo de fogo de artifício sincronizado, alguém ficaria com os dedos chamuscados, tal a falta de sentido rítmico demonstrada pelos simpatizantes do presidente da Câmara do Porto.

— “Moreiraaaa!! Moreiraaaa!!”

— “Não, assim não. Forçaaaa Moreira! Força Moreiraa! Forçaaaa Moreira!”

— “E a outra?”

— “O Porto vai votar e Moreira vai ganhaaar! O Porto vai votar e o Moreria vai ganhaaaar”

— “Mas como é que é o hino mesmo?

— “É assim: ‘Força Porto, és “Forçaaaaa Porto, faz toooodo o sentiiiido, a nossaaaa força, o nosso partidoooo ééééée ooooo Poooortto.”

Com uma ou outra garganta desafinada — várias, aliás –, os simpatizantes de Rui Moreira lá acabariam por encontrar o ritmo certo no hino da candidatura. Outro dado positivo: com a campanha eleitoral a aproximar-se do fim, os riscos para a saúde auditiva dos portuenses também diminuem — e isto é transversal a todas as candidaturas.

Rui Moreira lá seguia caminho, indiferente aos cânticos, costas hirtas, com os longos braços colados ao corpo, a balançarem ao ritmo da caminhada, sorrindo amavelmente para trás de quando em vez e cumprimentando todas as pessoas que o abordavam. “Tchau, filhinho! Boa sorte!”, desejou-lhe uma menina na casa dos 70 anos. “As pessoas do Porto são incríveis, não são?”, comentava o autarca, visivelmente bem-disposto.

Quanto ao tema do dia — o estudo de opinião da Eurosondagem que o coloca no limiar da maioria absoluta — poucas palavras. “Não comento sondagens. A única coisa que digo é que não é possível e confunde as pessoas é, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes. Não pode haver”, começou por dizer Rui Moreira.

Sobre a controversa sondagem do Centro de Estudos da Universidade Católica, Rui Moreira desafiou a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a pronunciar-se sobre o caso até à abertura das urnas.

“Relativamente à sondagem que a nosso ver tem truques, estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas. É isso que se espera de um regulador. Naturalmente, não vamos pressionar ninguém”, afirmou Rui Moreira. Para o autarca, “a pior consequência” que sondagens com “aspetos fraudulentos” podem “é desacreditar a política” e a própria democracia.

Em jeito de balanço destas duas semanas de campanha eleitoral, Rui Moreira mostrou-se satisfeito com o “apoio que encontrou nas ruas” e fez um apelo ao voto no dia das eleições: “Normalmente os maus políticos são eleitos por bons eleitores que ficaram em casa no dia das eleições. Todos nós temos de estar preocupados com a abstenção. Mas espero que seja uma votação à Porto. Que as pessoas que vão votar façam as suas escolhas livremente”, rematou o candidato independente.

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Principais partidos fecham campanha a norte. António Costa, Passos Coelho e Catarina Martins vão estar no Porto. Pizarro começou o dia a falar da cisão com Moreira. O autarca pressionou a ERC a agir.

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Os líderes dos principais partidos subiram ao Porto para gastar os últimos cartuchos no sprint final para as autárquicas de domingo. Depois de descer o Chiado, em Lisboa, com Fernando Medina, António Costa continua com a farda de secretário-geral do PS e junta-se ao candidato socialista, Manuel Pizarro, no comício de encerramento da campanha, ao final da tarde, no Académico Futebol Clube. Pedro Passos Coelho também estará na cidade durante o dia, com Álvaro Almeida. Mas, à hora que o PS fecha a campanha no Porto, o presidente do PSD vai estar a cerca de 46 quilómetros dali, em Felgueiras, num jantar comício.

Rui Moreira começou o dia com uma arruada entre os Aliados e a Baixa do Porto e encerra a campanha com um jantar-comício no Palácio de Cristal. Catarina Martins vai à Alfândega do Porto. Mas, antes de se juntar ao encerramento de campanha de João Teixeira Lopes, a coordenadora do Bloco de Esquerda participa numa arruada que tem início marcado para a Rua de Santa Catarina. A eurodeputada Marisa Matias também vai integrar a comitiva do Bloco.

A CDU, que não contará com a presença do secretário-geral do PCP (Jerónimo de Sousa vai correr vários concelhos do distrito de Lisboa), vai juntar os elementos que estiveram consigo nos últimos meses num jantar de encerramento de campanha com todos os candidatos da CDU ao distrito, entre os quais Ilda Figueiredo, na corrida à câmara municipal. Vão estar no centro de trabalho do PCP na Boavista.

Ontem, o dia de campanha no Porto foi assim:

Passos Coelho: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto”

A frase: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto. Parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido”, disse Passos.

A (outra) frase: “Não quisemos agir na escolha do candidato do Porto com calculismo”, disse também o líder social-democrata.

O que correu mal: A organização do última dia de campanha social-democrata no Porto. Álvaro Almeida teve ao seu lado Pedro Passos Coelho e o partido apostou tudo numa visita aos Clérigos, onde o único murmúrio de encorajamento que os dois ouviram foi o de quem queria subir à Torre — murmúrio de encorajamento entre os visitantes que se queixavam, entredentes, do tempo de de espera.

O que (também) correu mal: Álvaro Almeida. O candidato do PSD percebeu (bem) que evitar a maioria absoluta de Rui Moreira seria importante para o partido. Se a estratégia é boa, a forma como a comunica, nem por isso. “[É preciso] evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, explicou. Pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

“Discreto: que tem ou denota discrição, que não chama a atenção, que revela simplicidade, que mostra comedimento, que tem cautela nas ações e afirmações, que sabe guardar um segredo ou que tem pouca intensidade”. Qualquer uma destas entradas no dicionário priberam serviria bem para descrever a passagem de Pedro Passos Coelho pelo Porto no último dia de campanha eleitoral: a visita do líder do PSD à cidade passou praticamente despercebida, limitou-se a uma visita à Torre dos Clérigos, foi comedida, cautelosa e pouco intensa. E só não ficou no segredo dos deuses graças à presença da comunicação social e dos poucos que o receberam e se cruzaram com ele.

Com Rui Moreira a acabar o dia com um jantar-comício no Palácio de Cristal, com PS a apostar tudo no Porto com a presença de António Costa no encerramento da campanha, com o Bloco a fazer desfilar ao lado de João Teixeira Lopes figuras como Catarina Martins, Francisco Louçã, Marisa Matias e Mariana Mortágua, com a CDU na rua com o aparelho comunista bem oleado, a presença de Pedro Passos Coelho ao lado de Álvaro Almeida era aguardada com grande expectativa. Mas foi só isso mesmo: expectativa.

Passos chegou ao Porto passavam sensivelmente dez minutos das 15 horas, cumprimentou a pequena comitiva que o esperava, trocou um aperto de mão e algumas palavras de circunstância com Pedro Duarte, candidato à Assembleia Municipal do Porto e possível apoiante de Rui Rio numa eventual disputa interna — “Olá, estás bom?” — reuniu-se à porta fechada com o candidato do PSD na reitoria da Universidade do Porto, daí saiu para os Clérigos, trocou umas breves palavras com o responsável, subiu à Torre, desceu, falou aos jornalistas e zarpou.

Bandeiras do PSD? Contavam-se quatro ou cinco. Militantes e simpatizantes? Talvez 30, se tanto. Onda social-democrata para receber o líder? A maré estava vaza. Não houve arruada, não houve contacto com a população, não houve gritos de “Pêê–e–Ss–Dêe”, “Pêê–e–Ss–Dêe”, não houve bombos, não houve festa, nem euforia. Só a normalidade de uma visita institucional.

Mesmo sendo já a terceira visita do líder social-democrata ao Porto, o ambiente desta última ação de campanha de Pedro Passos Coelho na cidade contrastou em absoluto com a demonstração de força de Rui Rio ao lado de Álvaro Almeida, na grande — e única — ação de rua da candidatura do PSD no Porto nestas duas semanas de campanha eleitoral. Nesse dia, o aparelho social-democrata não faltou à chamada e fez-se ouvir. Desta vez, nem por isso. Desafiado a comentar se retirava daí alguma leitura política, Passos Coelho evitou entrar em comparações.

“Não sei, não faço ideia. Não estive a fazer a comparações dessa natureza. Portanto, acho que não tenho de fazer nenhum comentário particular sobre isso”, começou por dizer Passos. Para o líder social-democrata, aliás, o reconhecimento de Rui Rio no Porto é “natural”.

“Posso, quanto muito, dizer uma coisa que já disse: Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto, exerceu esse mandato por 12 anos, deixou uma obra assinalável no Porto, parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido até por essa sua obra que teve no Porto, que nos orgulha a todos no PSD”, explicou Passos.

Quanto à escolha de Álvaro Almeida para candidato do PSD ao Porto, o ex-primeiro-ministro reiterou a posição do partido, dizendo-se seguro e confiante com a candidatura do economista.

“Estou confiante de que fizemos uma boa escolha, queria reafirmar isso aqui hoje. Reafirmar não apenas a confiança, mas a segurança, com que escolhemos Álvaro Almeida para esta eleição. Tenho a certeza que se ele vier a merecer a confiança da maioria dos eleitores do Porto, será um excelente presidente da Câmara. Não tenho dúvidas sobre isso. Essa foi a principal razão porque o escolhemos. A segunda foi porque não quisemos agir nesta matéria com nenhum calculismo. Quisemos apresentar realmente uma alternativa para o Porto”, argumentou Passos.

Nota curiosa: durante a visita à Torre dos Clérigos, Passos quedou-se numa obra em particular que retratava a traição de Judas a Jesus Cristo. “Ainda ele falava, quando apareceu Judas… O traidor tinha-lhes dado esse sinal: ‘Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o'”, podia ler-se. O líder social-democrata escusou-se a fazer qualquer comentário, não fosse alguém retirar qualquer leitura política.

Álvaro Almeida acabaria por explicar a escolha da Universidade do Porto e da Torre dos Clérigos para encerrar a campanha argumentando que aqueles eram dois dos símbolos que faziam do Porto uma cidade autêntica e única. Sobre sondagens e prognósticos, o candidato social-democrata arrumou a questão em três ideias: as sondagens valem o que valem, a coligação Porto Autêntico é a única que representa a alternativa para a cidade e as eleições de domingo vão traduzir-se num “excelente resultado” para o PSD.

“As sondagens não nos preocupam. O PSD tem uma tradição e uma história na cidade do Porto que está a acima de qualquer sondagem. Continuámos confiantes que no domingo vamos ter um excelente resultado. Esperamos uma votação muito forte, porque os portuenses sabem que só o voto no Porto Autêntico é um voto útil porque é um voto que permite evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, afirmou Álvaro Almeida. O candidato do PSD só se esqueceu de um pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

Pizarro sobre as razões da rutura com Moreira: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”

A frase: “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

O que correu bem: Começar o último dia de campanha com a abertura do bloquista João Teixeira Lopes para um possível entendimento na Câmara ajuda Pizarro, que tem apostado em passar uma imagem de conciliador e aberto ao diálogo.

A promessa: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”, disse, sobre as razões da rutura do acordo por parte de Rui Moreira.

“É preciso uma câmara que promova a natalidade”, disse bem disposto Manuel Pizarro, à porta do elevador do Centro Materno Infantil do Norte, que o próprio ajudou a lançar quando era secretário de Estado da Saúde. Já no exterior, Pizarro voltou a insistir que também é preciso uma câmara que promova o diálogo.

E o primeiro sinal de diálogo surgiu esta manhã, por parte de João Teixeira Lopes. À TSF, o candidato do Bloco de Esquerda mostrou-se disponível para um possível entendimento caso o vencedor seja o PS. “Confirma o que eu já tinha dito”, comentou Pizarro, sobre a importância de “dialogar com todos” para garantir uma governação tranquila.

Aos resultados da Eurosondagem, para o Expresso — que dão ao socialista 30,8% das intenções de voto, menos 10 pontos percentuais do que Rui Moreira, que surge com 40,8% — Pizarro reagiu com ponderação. “As sondagens valem o que valem, mas não posso deixar de destacar que ela confirma uma grande subida do PS.” Está tudo aberto para domingo, acredita.

No jantar de apoio de quinta-feira à noite, Manuel Pizarro disse uma frase que pairou na sala. Que a rutura do acordo com Rui Moreira ainda estaria por explicar. Questionado esta manhã, sorriu. “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria.”

Naquele que é o último dia de campanha eleitoral, Pizarro deverá acentuar o mais que conseguir o isolamento de Rui Moreira e a sua independência, na esperança de desviar alguns dos votos que o separam do atual autarca para si. Foi o que voltou a fazer no Centro Materno Infantil, referindo-se à presença de habituais votantes sociais-democratas no seu jantar de apoio. “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

Moreira desafia ERC a pronunciar-se sobre sondagem da Católica até abertura das urnas

A frase: “Estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas.”

A (outra) frase: “Não é possível, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes.”

O que correu bem: Rui Moreira. À medida que a campanha se aproxima do fim e que a vitória parece assegurada, o autarca está visivelmente menos tenso. Não é o mais efusivo dos candidatos, mantém o seu registo discreto, mas tem sempre uma palavra simpática para quem o aborda.

O que correu mal: As gargantas desafinadas da comitiva de Rui Moreira. Não cometeram exatamente um crime de lesa-música, mas um pozinho a mais de afinação e ficava no ponto.

Eis o último dia de campanha eleitoral. Rui Moreira aproveitou a manhã de sexta-feira para fazer uma pequena arruada desde os Aliados até à Baixa do Porto, onde encontrou um mar de gente que aproveitava os convidativos raios de sol para passear numa das zonas mais emblemáticas da cidade. O mar de gente estava lá, de facto, mas a comitiva de Rui Moreira navegou grande parte do tempo em águas internacionais: portugueses, quase nem vê-los; turistas, aos magotes e boquiabertos com aquele grupo fardado de tshirts brancas e chapéus de palha que seguia o homem de fato impecavelmente engomado.

Não faltou, ainda assim, animação. Os apoiantes de Rui Moreira fizeram a festa, lançaram os foguetes e apanharam as canas, num dia em que as sondagens são definitivamente mais risonhas e colocam o candidato independente perto da maioria absoluta. O possível empate com Manuel Pizarro parece coisa do passado e a campanha entrou, definitivamente, em modo de descompressão.

A melhor parte: ainda bem que a metáfora da pirotecnia é só isso mesmo, uma metáfora; se fosse um espetáculo de fogo de artifício sincronizado, alguém ficaria com os dedos chamuscados, tal a falta de sentido rítmico demonstrada pelos simpatizantes do presidente da Câmara do Porto.

— “Moreiraaaa!! Moreiraaaa!!”

— “Não, assim não. Forçaaaa Moreira! Força Moreiraa! Forçaaaa Moreira!”

— “E a outra?”

— “O Porto vai votar e Moreira vai ganhaaar! O Porto vai votar e o Moreria vai ganhaaaar”

— “Mas como é que é o hino mesmo?

— “É assim: ‘Força Porto, és “Forçaaaaa Porto, faz toooodo o sentiiiido, a nossaaaa força, o nosso partidoooo ééééée ooooo Poooortto.”

Com uma ou outra garganta desafinada — várias, aliás –, os simpatizantes de Rui Moreira lá acabariam por encontrar o ritmo certo no hino da candidatura. Outro dado positivo: com a campanha eleitoral a aproximar-se do fim, os riscos para a saúde auditiva dos portuenses também diminuem — e isto é transversal a todas as candidaturas.

Rui Moreira lá seguia caminho, indiferente aos cânticos, costas hirtas, com os longos braços colados ao corpo, a balançarem ao ritmo da caminhada, sorrindo amavelmente para trás de quando em vez e cumprimentando todas as pessoas que o abordavam. “Tchau, filhinho! Boa sorte!”, desejou-lhe uma menina na casa dos 70 anos. “As pessoas do Porto são incríveis, não são?”, comentava o autarca, visivelmente bem-disposto.

Quanto ao tema do dia — o estudo de opinião da Eurosondagem que o coloca no limiar da maioria absoluta — poucas palavras. “Não comento sondagens. A única coisa que digo é que não é possível e confunde as pessoas é, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes. Não pode haver”, começou por dizer Rui Moreira.

Sobre a controversa sondagem do Centro de Estudos da Universidade Católica, Rui Moreira desafiou a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a pronunciar-se sobre o caso até à abertura das urnas.

“Relativamente à sondagem que a nosso ver tem truques, estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas. É isso que se espera de um regulador. Naturalmente, não vamos pressionar ninguém”, afirmou Rui Moreira. Para o autarca, “a pior consequência” que sondagens com “aspetos fraudulentos” podem “é desacreditar a política” e a própria democracia.

Em jeito de balanço destas duas semanas de campanha eleitoral, Rui Moreira mostrou-se satisfeito com o “apoio que encontrou nas ruas” e fez um apelo ao voto no dia das eleições: “Normalmente os maus políticos são eleitos por bons eleitores que ficaram em casa no dia das eleições. Todos nós temos de estar preocupados com a abstenção. Mas espero que seja uma votação à Porto. Que as pessoas que vão votar façam as suas escolhas livremente”, rematou o candidato independente.

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