Rio declarou guerra aos lugarzinhos e já se fazem contas às cabeças que vão rolar

03-11-2018
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De camisa às listas azuis e brancas, com as mangas arregaçadas e de fita laranja-PSD ao pescoço, Rui Rio deixou o recado àqueles que têm torpedeado a sua liderança na comunicação social. “Há seguramente quem esteja a fazer isto porque quer defender o seu lugarzinho ou o lugarzinho do seu amigo. Defender o seu lugarzinho ou o lugarzinho do amigo é lícito, mas comigo [os lugarzinhos] defendem[-se] com trabalho e lealdade, não é com conspiração nem intrigas nos jornais. Aí não defendem! Podem ter a certeza, não defendem!”, avisou o presidente social-democrata.

Estávamos a 1 de setembro e Rio aproveitava a rentrée do partido, na reconfigurada Festa do Pontal, em Querença (Loulé), para avisar os críticos, especialmente os que, na sua perspetiva, servem “interesses pessoais”, de que bem “podem esperar sentados”: cumprirá o mandato até ao final, enfrentará António Costa nas legislativas do próximo ano e as listas para deputados serão feitas à sua medida.

Do seu círculo mais restrito, afiançam à VISÃO que o líder “não é homem de guardar rancores”, mas garantem, de igual modo, que “aqueles que andam a agir por maldade e a dizer mal de tudo vão ser arrumados”. Dito de outra forma, Rio deverá operar uma revolução nas listas de candidatos à Assembleia da República e várias cabeças deverão rolar.

Ainda que ninguém consiga antever a magnitude da limpeza, entre apoiantes e opositores existe a convicção de que Rio quererá ter uma bancada menos hostil, introduzindo também pessoas da sua confiança, política e pessoal, nas listas que irão a votos no outono de 2019. Por isso, além dos deputados que optarem por sair voluntariamente – e o número pode surpreender –, a direção nacional deverá empurrar vários passistas para fora.

Um indefetível de Pedro Passos Coelho, questionado sobre o futuro próximo, encolhe os ombros e desabafa: “Isto vai ser o clube de amigos do Rio…” Essa fonte já dá como garantidas as saídas de cena de vários membros do anterior governo, até porque, como é tradição no PSD, o presidente tem a prerrogativa de escolher os cabeças de lista. Outro deputado não hesita em afirmar que existe uma estratégia de silenciamento de grande parte dos antigos membros desse executivo, para que uma razia no próximo ano acabe por ser mais discreta.

Uma outra fonte passista refuta a tese de que haja tensão entre Rio e a bancada chefiada por Fernando Negrão. “Não há braço de ferro, quem manda é a direção, ponto final.” Um quarto social-democrata, com assento na Assembleia da República, critica mesmo o desprezo da cúpula social-democrata pelo grupo parlamentar, que ilustra com o facto de Rio só se ter reunido uma vez com os deputados desde que foi eleito e, claro, com as desautorizações públicas ao próprio Negrão ou ao coordenador da comissão de Saúde, Ricardo Baptista Leite.

Uns saem pelo próprio pé, outros serão proscritos

Em contraponto, um elemento muito próximo da atual direção do PSD coloca-se na pele de Rio. “Se eu fosse líder do partido e tivesse pessoas a criticar-me desta forma, essas pessoas voltariam a ser deputadas? Claro que não. Out [fora]!”, vinca. No entanto, o mesmo interlocutor nega que Rio pretenda fazer uma “lista dos decapitados”, um cordão sanitário ou traçar cruzes sobre as caras daqueles que têm sido mais contestatários. “Uns sairão pelo próprio pé, outros serão mandados embora. Faz parte…”, resume.

Olhando para as escolhas de Passos em 2015, quando o PSD foi a votos de mãos dadas com o CDS na coligação Portugal à Frente, há figuras que poucos acreditam que venham a manter as posições na corrida ao hemiciclo – ou que sejam, sequer, consideradas para a “dança dos lugarzinhos”: José Pedro Aguiar Branco (cabeça de lista no Porto), Carlos Abreu Amorim (número um em Viana do Castelo), Teresa Morais (que liderou a lista em Leiria), Paula Teixeira da Cruz (número dois em Lisboa, logo atrás do ex-primeiro-ministro), Hugo Soares (quarto candidato do partido em Braga), Nilza de Sena (antiga vice-presidente do PSD, que Passos impôs como cabeça de lista às estruturas de Beja) ou Sérgio Azevedo (vice-presidente da bancada com Luís Montenegro e Hugo Soares e um dos principais suspeitos na Operação Tutti Frutti, que em janeiro avisara os órgãos locais e distritais do partido de que pretendia sair do Parlamento).

Contudo, há casos mais bicudos, em que as desconfianças de Rio podem colidir com a vontade do aparelho. Maria Luís Albuquerque, por exemplo, é intocável em Setúbal e um braço de ferro poderia fazer com que a distrital, cujo presidente, Bruno Vitorino, defendeu publicamente a candidatura de Miguel Pinto Luz à liderança, lhe virasse definitivamente as costas. Manuel Frexes, apoiante de Pedro Santana Lopes, foi reeleito líder da distrital de Castelo Branco em julho e terá também argumentos de peso para sobrepor a sua vontade à da direção nacional, cenário em tudo idêntico ao de Maurício Marques, este último em Coimbra.

Mas há mais: Feliciano Barreiras Duarte, o homem que Rio escolheu para secretário-geral do PSD, no Congresso de fevereiro, e que foi forçado a demitir-se por ter forjado o currículo, continua a ter peso na máquina de Leiria; Aveiro está órfã de candidato, dado que Luís Montenegro não tenciona regressar ao Parlamento; Braga já não conta com Jorge Moreira da Silva, uma vez que o ex-ministro do Ambiente foi nomeado diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE; Teresa Leal Coelho, Nuno Serra e Duarte Marques têm a cabeça a prémio em Santarém – João Moura é o novo presidente e quererá ser deputado; e Luís Leite Ramos, eleito por Vila Real, estará a equacionar mudar de vida. Miguel Morgado, ex-assessor político de Passos, que foi eleito pelo Porto, poderá ter dificuldades perante a nova relação de forças no distrito (Alberto Machado ascendeu recentemente a presidente da estrutura distrital).

Braço de ferro com o aparelho

Já Rio tem os estatutos do seu lado. É à Comissão Política que cabe submeter ao Conselho Nacional os nomes dos candidatos a deputados, mesmo que a maioria resulte de indicações das secções concelhias e das distritais. Pequeno detalhe, que poderá forçar negociações ou determinar algumas operações de cosmética: Rio não tem a maioria dos conselheiros consigo.

Seja como for, não é líquido que não compre uma ou outra guerra com o aparelho, para mostrar quem manda, isto é, para deixar claro que, com ele, a forma convencional de fazer política tem os dias contados. Rio quer falar para o País e a estratégia está traçada: afrontar a máquina laranja pode valer créditos junto do eleitorado que abomina os partidos e que tem em má conta instituições e órgãos de soberania como a Assembleia da República.

A adensar as incertezas estão mais duas variáveis. Por um lado, os apoiantes de Rio também vão reclamar os respetivos lugares ao sol – assentos no Parlamento, leia-se; por outro, caso se confirme que o PSD venha a perder alguns deputados, como as sondagens indicam por esta altura, estreita-se o caminho do líder para fazer grandes arranjos. A imposição de mais do que os 18 cabeças de lista poderia ser lida como uma declaração de guerra e, assim, criar novas frentes de combate entre sociais-democratas.

Os perigos de uma purga similar à que Manuela Ferreira Leite fez em 2009, quando excluiu Passos Coelho e Miguel Relvas, são reais. “Vai haver renovação, isso vai, mas não se pode cortar o pescoço a toda a gente”, adverte um dirigente que lhe é leal, que enfatiza ainda que no verão do próximo ano, quando forem conhecidas as listas, perceber-se-á o “grau de tolerância” do líder às divergências internas.

Certo é que as movimentações nos bastidores intensificam-se. E os apelos a Rio ganham forma. O primeiro, em declarações à VISÃO, é feito pelo presidente da distrital do Porto. “Tenho a expectativa de que seja ele o nosso cabeça de lista. E será, se assim o entender. Eu ficaria muito contente se Rui Rio quisesse”, diz Alberto Machado. Para Lisboa, começam a circular os nomes de Nuno Morais Sarmento e de David Justino como putativos cabeças de lista, ao passo que Paulo Mota Pinto será uma forte hipótese para liderar a candidatura “laranjinha” em Coimbra.

Tenha Rui Rio maior ou menor propensão para tratar dos assuntos da designada pequena política, a verdade é que vai ter de lidar com ela. E no aparelho estão todos à espera do teste do algodão à frase proferida a 13 de janeiro, quando superou Santana Lopes nas diretas: “O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos nem foi pensado para ser uma agremiação de interesses individuais.”

De camisa às listas azuis e brancas, com as mangas arregaçadas e de fita laranja-PSD ao pescoço, Rui Rio deixou o recado àqueles que têm torpedeado a sua liderança na comunicação social. “Há seguramente quem esteja a fazer isto porque quer defender o seu lugarzinho ou o lugarzinho do seu amigo. Defender o seu lugarzinho ou o lugarzinho do amigo é lícito, mas comigo [os lugarzinhos] defendem[-se] com trabalho e lealdade, não é com conspiração nem intrigas nos jornais. Aí não defendem! Podem ter a certeza, não defendem!”, avisou o presidente social-democrata.

Estávamos a 1 de setembro e Rio aproveitava a rentrée do partido, na reconfigurada Festa do Pontal, em Querença (Loulé), para avisar os críticos, especialmente os que, na sua perspetiva, servem “interesses pessoais”, de que bem “podem esperar sentados”: cumprirá o mandato até ao final, enfrentará António Costa nas legislativas do próximo ano e as listas para deputados serão feitas à sua medida.

Do seu círculo mais restrito, afiançam à VISÃO que o líder “não é homem de guardar rancores”, mas garantem, de igual modo, que “aqueles que andam a agir por maldade e a dizer mal de tudo vão ser arrumados”. Dito de outra forma, Rio deverá operar uma revolução nas listas de candidatos à Assembleia da República e várias cabeças deverão rolar.

Ainda que ninguém consiga antever a magnitude da limpeza, entre apoiantes e opositores existe a convicção de que Rio quererá ter uma bancada menos hostil, introduzindo também pessoas da sua confiança, política e pessoal, nas listas que irão a votos no outono de 2019. Por isso, além dos deputados que optarem por sair voluntariamente – e o número pode surpreender –, a direção nacional deverá empurrar vários passistas para fora.

Um indefetível de Pedro Passos Coelho, questionado sobre o futuro próximo, encolhe os ombros e desabafa: “Isto vai ser o clube de amigos do Rio…” Essa fonte já dá como garantidas as saídas de cena de vários membros do anterior governo, até porque, como é tradição no PSD, o presidente tem a prerrogativa de escolher os cabeças de lista. Outro deputado não hesita em afirmar que existe uma estratégia de silenciamento de grande parte dos antigos membros desse executivo, para que uma razia no próximo ano acabe por ser mais discreta.

Uma outra fonte passista refuta a tese de que haja tensão entre Rio e a bancada chefiada por Fernando Negrão. “Não há braço de ferro, quem manda é a direção, ponto final.” Um quarto social-democrata, com assento na Assembleia da República, critica mesmo o desprezo da cúpula social-democrata pelo grupo parlamentar, que ilustra com o facto de Rio só se ter reunido uma vez com os deputados desde que foi eleito e, claro, com as desautorizações públicas ao próprio Negrão ou ao coordenador da comissão de Saúde, Ricardo Baptista Leite.

Uns saem pelo próprio pé, outros serão proscritos

Em contraponto, um elemento muito próximo da atual direção do PSD coloca-se na pele de Rio. “Se eu fosse líder do partido e tivesse pessoas a criticar-me desta forma, essas pessoas voltariam a ser deputadas? Claro que não. Out [fora]!”, vinca. No entanto, o mesmo interlocutor nega que Rio pretenda fazer uma “lista dos decapitados”, um cordão sanitário ou traçar cruzes sobre as caras daqueles que têm sido mais contestatários. “Uns sairão pelo próprio pé, outros serão mandados embora. Faz parte…”, resume.

Olhando para as escolhas de Passos em 2015, quando o PSD foi a votos de mãos dadas com o CDS na coligação Portugal à Frente, há figuras que poucos acreditam que venham a manter as posições na corrida ao hemiciclo – ou que sejam, sequer, consideradas para a “dança dos lugarzinhos”: José Pedro Aguiar Branco (cabeça de lista no Porto), Carlos Abreu Amorim (número um em Viana do Castelo), Teresa Morais (que liderou a lista em Leiria), Paula Teixeira da Cruz (número dois em Lisboa, logo atrás do ex-primeiro-ministro), Hugo Soares (quarto candidato do partido em Braga), Nilza de Sena (antiga vice-presidente do PSD, que Passos impôs como cabeça de lista às estruturas de Beja) ou Sérgio Azevedo (vice-presidente da bancada com Luís Montenegro e Hugo Soares e um dos principais suspeitos na Operação Tutti Frutti, que em janeiro avisara os órgãos locais e distritais do partido de que pretendia sair do Parlamento).

Contudo, há casos mais bicudos, em que as desconfianças de Rio podem colidir com a vontade do aparelho. Maria Luís Albuquerque, por exemplo, é intocável em Setúbal e um braço de ferro poderia fazer com que a distrital, cujo presidente, Bruno Vitorino, defendeu publicamente a candidatura de Miguel Pinto Luz à liderança, lhe virasse definitivamente as costas. Manuel Frexes, apoiante de Pedro Santana Lopes, foi reeleito líder da distrital de Castelo Branco em julho e terá também argumentos de peso para sobrepor a sua vontade à da direção nacional, cenário em tudo idêntico ao de Maurício Marques, este último em Coimbra.

Mas há mais: Feliciano Barreiras Duarte, o homem que Rio escolheu para secretário-geral do PSD, no Congresso de fevereiro, e que foi forçado a demitir-se por ter forjado o currículo, continua a ter peso na máquina de Leiria; Aveiro está órfã de candidato, dado que Luís Montenegro não tenciona regressar ao Parlamento; Braga já não conta com Jorge Moreira da Silva, uma vez que o ex-ministro do Ambiente foi nomeado diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE; Teresa Leal Coelho, Nuno Serra e Duarte Marques têm a cabeça a prémio em Santarém – João Moura é o novo presidente e quererá ser deputado; e Luís Leite Ramos, eleito por Vila Real, estará a equacionar mudar de vida. Miguel Morgado, ex-assessor político de Passos, que foi eleito pelo Porto, poderá ter dificuldades perante a nova relação de forças no distrito (Alberto Machado ascendeu recentemente a presidente da estrutura distrital).

Braço de ferro com o aparelho

Já Rio tem os estatutos do seu lado. É à Comissão Política que cabe submeter ao Conselho Nacional os nomes dos candidatos a deputados, mesmo que a maioria resulte de indicações das secções concelhias e das distritais. Pequeno detalhe, que poderá forçar negociações ou determinar algumas operações de cosmética: Rio não tem a maioria dos conselheiros consigo.

Seja como for, não é líquido que não compre uma ou outra guerra com o aparelho, para mostrar quem manda, isto é, para deixar claro que, com ele, a forma convencional de fazer política tem os dias contados. Rio quer falar para o País e a estratégia está traçada: afrontar a máquina laranja pode valer créditos junto do eleitorado que abomina os partidos e que tem em má conta instituições e órgãos de soberania como a Assembleia da República.

A adensar as incertezas estão mais duas variáveis. Por um lado, os apoiantes de Rio também vão reclamar os respetivos lugares ao sol – assentos no Parlamento, leia-se; por outro, caso se confirme que o PSD venha a perder alguns deputados, como as sondagens indicam por esta altura, estreita-se o caminho do líder para fazer grandes arranjos. A imposição de mais do que os 18 cabeças de lista poderia ser lida como uma declaração de guerra e, assim, criar novas frentes de combate entre sociais-democratas.

Os perigos de uma purga similar à que Manuela Ferreira Leite fez em 2009, quando excluiu Passos Coelho e Miguel Relvas, são reais. “Vai haver renovação, isso vai, mas não se pode cortar o pescoço a toda a gente”, adverte um dirigente que lhe é leal, que enfatiza ainda que no verão do próximo ano, quando forem conhecidas as listas, perceber-se-á o “grau de tolerância” do líder às divergências internas.

Certo é que as movimentações nos bastidores intensificam-se. E os apelos a Rio ganham forma. O primeiro, em declarações à VISÃO, é feito pelo presidente da distrital do Porto. “Tenho a expectativa de que seja ele o nosso cabeça de lista. E será, se assim o entender. Eu ficaria muito contente se Rui Rio quisesse”, diz Alberto Machado. Para Lisboa, começam a circular os nomes de Nuno Morais Sarmento e de David Justino como putativos cabeças de lista, ao passo que Paulo Mota Pinto será uma forte hipótese para liderar a candidatura “laranjinha” em Coimbra.

Tenha Rui Rio maior ou menor propensão para tratar dos assuntos da designada pequena política, a verdade é que vai ter de lidar com ela. E no aparelho estão todos à espera do teste do algodão à frase proferida a 13 de janeiro, quando superou Santana Lopes nas diretas: “O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos nem foi pensado para ser uma agremiação de interesses individuais.”

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